Há poucas provas capazes de evocar a história da Fórmula 1 tão bem quanto o GP de Itália em Monza. O “templo da velocidade” continua a fazer jus ao seu nome, sem que tenha tido de sacrificar a sua natureza com as inevitáveis mudanças por segurança (pese embora já não haver qualquer utilização da oval que atravessa a floresta, cuja estrutura apenas serve agora como atração turística).
Composta por grandes retas intercaladas por sequências de travagens a fundo para curvas lentas, Monza está no seu nível de dificuldade mais elevado quando está em piso molhado (que o diga Sebastian Vettel, que venceu pela primeira vez nessas condições em 2008) mas tem sido em piso seco que se tem assistido à consagração de pilotos da Ferrari no terreno caseiro da equipa. Schumacher, Alonso e Leclerc são alguns dos exemplos.
Esta trata-se da segunda prova do ano em território italiano, agora que o circuito de Imola também desponta no calendário (com a curiosidade que a única vez em que o GP de Itália não foi em Monza foi justamente em Imola) como GP da Emilia Romagna. Com a Ferrari em alta, as expectativas dos fãs da casa seria para uma vitória Ferrari, ainda que as caraterísticas da pista devessem beneficiar os rivais Red Bull.
Algumas semanas antes do Grande Prémio ficou-se a saber que Antonio Giovinazzi, afastado há um ano da F1, regressaria com uma sessão de treinos livres em Monza pela Haas (e outra em Austin). Esta notícia reavivou os rumores de que o italiano poderá estar nas contas da Haas para substituir Mick Schumacher em 2023 como piloto oficial. Também Nyck de Vries competiu no primeiro treino livre pela Aston Martin, antes de ir para a qualificação com a Williams (Alexander Albon teve uma apendicite).
Destaque ainda para o anúncio da Red Bull e Porsche sobre não terem conseguido chegar a acordo para 2026, abandonando negociações. A equipa austríaca não aceitou a ideia dos alemães de controlarem 50% da estrutura, ficando agora no ar a ideia de um eventual acordo para o regresso da Honda (enquanto que para a Porsche resta tentar acordos com outra equipa ou com uma entrada nova, em aliança com a Andretti).
Yuki Tsunoda partiu para Monza sabendo que iria perder 10 lugares na grelha devido à situação de remoção indevida de cintos em Zandvoort. Mas não estava sozinho. Lewis Hamilton e Valtteri Bottas acompanharam-no no fim, para além de penalizações múltiplas para os Haas e Carlos Sainz, além de 10 lugares para Sergio Pérez e 5 para Max Verstappen.
Ronda 16 – Grande Prémio de Itália 2022
Com a Ferrari a apresentar-se em casa com uma nova pintura de celebração de 75 anos, os tiffosi estavam muito esperançados numa vitória caseira para complementar a celebração e a equipa deu o seu melhor para corresponder.
Em qualificação sabiam ter a vantagem de ambos os Red Bull irem ser penalizados, mas havia o desejo de os bater em pista. E foi isso que Charles Leclerc conseguiu, por umas décimas de segundo e depois de ter visto Carlos Sainz à sua frente a maior parte do fim-de-semana. A Mercedes, ameaçadora nas corridas anteriores, deu um recuo a olhos vistos em Monza.
A chuva de penalizações pós-qualificação levou a que se passassem horas sem que as equipas ou pilotos soubessem de onde partiriam. Quando os resultados finalmente saíram via-se o caos total: George Russell que se qualificara em 6º acompanharia Leclerc na primeira linha, seguidos dos dois McLaren, Pierre Gasly e Fernando Alonso.
Vale a pena destacar a performance do estreante Nyck de Vries, primeiro piloto a guiar por duas equipas num GP desde Harald Ertl no GP de Itália 1978, que bateu um cada vez mais apertado colega de equipa Nicholas Latifi. Com as mudanças na grelha, garantiu um 8º lugar.
Se isto parecia estar a alinhar as coisas para uma corrida promissora, a verdade é que até acabou por se desenrolar sem grande ação. Com uma certa inevitabilidade, Verstappen não demorou nada a despachar os carros mais lentos e a colocar-se diretamente atrás de Leclerc. A Ferrari procurou aproveitar um SC Virtual provocado por Sebastian Vettel a ficar sem travões para parar, mas ele terminou antes do fim do pitstop e deixou Leclerc preso a uma estratégia de duas paragens (que provou ser a errada).
Verstappen cruzou a linha em 1º lugar pela quinta vez seguida, ainda sob SC devido ao abandono de Daniel Ricciardo. O australiano vinha a fazer uma corrida competente até o motor morrer e deixar os comissários com a estranha decisão de não declarar bandeira vermelha para ainda haverem algumas voltas de corrida. Hamilton, Wolff e companhia agradeceram a oportunidade para lamber as feridas de Abu Dhabi…
A Mercedes viu Russell terminar bem mais longe dos dois primeiros que na corrida anterior, mas Hamilton também conseguiu recuperar bem posições, na frente de um Sergio Pérez que teve que gerir os seus travões estarem com vontade de pegar fogo.
Alonso teria minimizado os estragos para uma McLaren em boa forma mas abandonou com um problema eletrónico. Já Pierre Gasly soube acompanhar o ritmo de Norris de perto, mesmo na frente de Nyck de Vries. O holandês foi votado piloto do dia e ficou cheio de dores nos ombros, mas deve ter acabado de garantir a consideração da Williams para o lugar de Latifi em 2023 ao segurar um comboio de carros encabeçado por Zhou para o melhor resultado do ano para a equipa.
Agora sobra a Verstappen esperar para quando poderá acumular o segundo título. Pode ser já em Singapura (improvável) mas não deverá passar do Japão, daqui a um mês. Entretanto, faltam 6 corridas e com apenas mais 2 vitórias o piloto igualará o recorde de vitórias numa só temporada que pertence a Michael Schumacher (2004) e Sebastian Vettel (2013).
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Qualificação: 1. Leclerc \ 2. Russell \ 3. Norris \ 4. Ricciardo \ 5. Gasly (Ver melhores momentos)
Resultado: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Russell \ 4. Sainz \ 5. Hamilton \ 6. Pérez \ 7. Norris \ 8. Gasly \ 9. de Vries \ 10. Zhou (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Verstappen (335) \ 2. Leclerc (219) \ 3. Pérez (210) \ 4. Russell (203) \ 5. Sainz (187) —– 1. Red Bull (545) \ 2. Ferrari (406) \ 3. Mercedes (371) \ 4. Alpine (125) \ 5. McLaren (107)
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Corrida anterior: GP Holanda 2022
Corrida seguinte: GP Singapura 2022
GP Itália anterior: 2021
GP Itália seguinte: 2023
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Fórmula 2 (Rondas 25-26) \ Nada pára o título de Drugovich
Sem um piloto suspenso, a DAMS anunciou o regresso do experiente Luca Ghiotto à F2 para Monza, enquanto os olhos de todos se focavam na possibilidade de Felipe Drugovich despachar o campeonato logo no sprint. Sem dúvida que tudo conspirava nesse sentido. Ayumu Iwasa perdeu o controlo na Parabolica e terminou a qualificação mais cedo para todos, o que foi ótimo para Drugovich (já que Théo Pourchaire estava fora do Top 10).
Mesmo uma penalização de 5 lugares por ignorar bandeiras amarelas não afetava muito o líder do campeonato. O que afetou foi ter feito contacto com um Van Amersfoort logo na primeira volta, sendo eliminado de prova. Forçado a ver a corrida das boxes, Drugovich não precisava de se preocupar: Pourchaire não estava nos seus dias e acabou fora dos pontos. O título merecido caiu no colo do piloto brasileiro, que ainda não tem nada firmado para a F1.
A ultrapassagem de Jüri Vips ao pole position inverso, Frederik Vesti, provou ser fulcral para lhe assegurar o triunfo, enquanto que Jehan Daruvala conseguiu um pódio (ao qual não ia há algum tempo).
A prova feature, com pilotos já sem nada a perder, foi um caos total. Pourchaire foi eliminado por Boschung, com o inocente Ghiotto também apanhado. Já o pole position Jack Doohan partiu mal (depois de já quase não ter saído na volta de formação) e acabou envolvido num incidente terminal com Logan Sargeant. O SC veio à pista, enquanto que Hauger era penalizado por a Prema não lhe ter montado os pneus antes do aviso dos 3 minutos. Teria que voltar à pista para um despiste de Calan Williams.
O resto da prova viu alguns invulgares stop and go (para Vips por incidente com Lawson e para Armstrong por exceder a velocidade no pitlane), mas acabou por ser relativamente calmo, com a vitória a cair para Jehan Daruvala, acompanhado de Vesti e Iwasa no pódio. Na Van Amersfoort houve uma desobediência de ordens de equipa da parte de David Beckmann.
ATUALIZAÇÃO 12/09: Iwasa foi desclassificado por motivos técnicos.
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Qualificação: 1. Doohan \ 2. Lawson \ 3. Armstrong \ … \ 8. Vips \ 9. Sargeant \ 10. Vesti
Resultado (Sprint): 1. Vips \ 2. Vesti \ 3. Daruvala \ 4. Sargeant \ 5. Verschoor \ 6. Lawson \ 7. Doohan \ 8. Beckmann (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Daruvala \ 2. Vesti \ 3. Fittipaldi \ 4. Hauger \ 5. Beckmann \ 6. Drugovich \ 7. Cordeel \ 8. Novalak \ 9. Verschoor \ 10. Vips (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Drugovich (241) \ 2. Pourchaire (164) \ 3. Sargeant (135) \ 4. Doohan (126) \ 5. Daruvala (126) —– 1. MP (281) \ 2. ART (281) \ 3. Carlin (258) \ 4. Prema (224) \ 5. Hitech (201)
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Corrida anterior: Holanda 2022 \ Rondas 23-24
Corrida seguinte: Abu Dhabi 2022 \ Rondas 27-28
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Fórmula 3 (Rondas 17-18) \ Corrida interrompida deixa campeão incerto durante largos minutos
Com a porta giratória do Charouz número 15 em pleno funcionamento (Alessandro Famularo assumiu os comandos para Monza), a Fórmula 3 só tinha olhos para a disputa pelo título que seria resolvida nestas últimas corridas. Muito cotado pelo paddock, Isack Hadjar implodiu por completo em qualificação, quando puxou demasiado e perdeu o controlo na Parabolica. O resultado foi partir de 16º e ficar arredado do título.
No sprint até parecia que Victor Martins confirmaria a sua liderança no campeonato, mas o francês envolveu-se num acidente com Arthur Leclerc na partida que deixou ambos nos lugares pontuáveis finais. Isto deixou Franco Colapinto na frente mas a ter que gerir muito bem as distâncias para um Oliver Bearman em grande forma.
Mas foi na corrida feature que as grandes atrações se viram. Desta vez Martins manteve a sua cabeça fria e o seu carro fora de incidentes. Zane Maloney despachou o pole position Alexander Smolyar no começo mas, após um período breve de Safety Car, recomeçou demasiado cedo e caiu para 3º. Martins aproveitou oara assumir a liderança. Só que Maloney reagiu e recuperou a liderança, sendo seguido de perto por Bearman. Em 3º, Martins ainda tinha o título, até porque William Alatalo em 4º estava a segurar o pelotão.
Um despiste de Kush Maini mudou a prova. Colhido pelo inocente Brad Benavides, ambos abandonaram e geraram um SC que se transformou em bandeira vermelha, que por sua vez se transformou numa prova terminada mais cedo. E depois chegou o anúncio de que Martins teria 5 segundos de penalização por exceder limites de pista. Reinava a tensão na ART, enquanto se esperavam confirmações de resultado (e título) durante largos minutos. Afinal, haviam mais pilotos penalizados, incluíndo Alatalo: Martins era na mesma 4º e portanto campeão de F3.
Maloney e Bearman fizeram excelentes finais de época que por pouco não lhes deram o título. Já Leclerc e Hadjar pareceram diminuir de forma nestas rondas finais. À Prema coube o título de equipas, que nuna pareceu estar em dúvida.
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Qualificação: 1. Smolyar \ 2. Maloney \ 3. Staněk \ … \ 10. Martí \ 11. Collet \ 12. Colapinto
Resultado (Sprint): 1. Colapinto \ 2. Bearman \ 3. Collet \ 4. Maloney \ 5. Edgar \ 6. Saucy \ 7. Crawford \ 8. Leclerc \ 9. Martí \ 10. Martins (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Maloney \ 2. Bearman \ 3. Crawford \ 4. Martins \ 5. Leclerc \ 6. Staněk \ 7. Alatalo \ 8. Edgar \ 9. Hadjar \ 10. Ushijima (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Martins (139) \ 2. Maloney (134) \ 3. Bearman (132) \ 4. Hadjar (123) \ 5. Staněk (117) —– 1. Prema (355) \ 2. Trident (301) \ 3. ART (208) \ 4. MP (195) \ 5. Hitech (150)
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Corrida anterior: Holanda 2022 \ Rondas 15-16
Corrida seguinte: Bahrain 2023 \ Rondas 1-2
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Fontes:
– F1 \ Giovinazzi testa com Haas