Pelo segundo ano, dobradinha neozelandesa – ePrix Mónaco 2024

27 04 2024

Quando a Fórmula E passou a utilizar em 2021 a versão longa do circuito de Monte-Carlo, estaria longe ainda de perceber o verdadeiro impacto que isto teria. Com um índice de ultrapassagens extremamente baixo em todas as categorias que por ali passavam, Mónaco provou não ter de todo este problema na categoria elétrica, com a primeira prova de 2021 a ter um número enorme de passagens e a vitória a ser decidida por uma manobra na última volta.

Tendo-se popularizado como a jóia da coroa da F1, a pista do Mónaco é dos raros exemplos de circuitos que quase não sofreram alterações às suas curvas desde o início em 1929 (com a evidente exceção das barreiras muito mais seguras que ladeiam a pista, em oposição a fardos de feno). Ainda assim, o Grade 1 de segurança FIA é considerado pouco credível, dado que a maioria das pistas modernas possuem infraestruturas francamente melhores.

Localizado nas ruas que circundam os casinos e porto da cidade, o circuito é um dos pouquíssimos sobreviventes das pistas que proliferavam nos calendários de F1 dos anos 50. É notório este caráter quando se tem em conta o quão apertado é o espaço de circulação, os desníveis e um certo nível de segurança mais reduzido que aquele a que provas modernos nos habituaram. Justamente por isso, vencer uma prova em Monte-Carlo continua a ser um dos maiores feitos da carreira de qualquer piloto que o consiga.

Com uma mão partida no primeiro treino livre, Sam Bird (McLaren) teve que ser substituído pelo estreante Taylor Barnard para o resto do evento, ao passo que a Jaguar, dias antes da corrida, confirmou a sua inscrição para a Geração 4 de monolugares da categoria elétrica.

Ronda 8 – ePrix do Mónaco 2024

Para a ronda que marcou o meio da temporada, a Fórmula E assistiu a mais um capítulo daquilo que tem sido um duelo privado Jaguar-Porsche com participações ocasionais da Nissan e da DS Penske. Stoffel Vandoorne (DS Penske) e Pascal Wehrlein (Porsche) encontraram-se na final, onde o segundo foi quem conseguiu arrancar a pole position, sendo que ambos derrotaram os dois Jaguar nas suas meias-finais.

Foi impossível a Taylor Barnard (McLaren) fazer melhor do que o último lugar da grelha de partida, ao passo que Jehan Daruvala (Maserati) nunca esteve tão perto do seu colega de equipa (e dos quartos-de-final de qualificação) e António Félix da Costa (Porsche) conseguiu atingir os quartos-de-final pela primeira vez em 2024.

Na corrida, não ocorreram grandes surpresas na partida, com os carros a manterem na sua grande maioria as posições, pelo menos até começarem a desenrolar-se os momentos de Attack Mode. Pelo menos, até Sérgio Sette Câmara (ERT) decidir arriscar e colocar-se no interior de Sébastien Buemi (Envision) em Casino Square, atirando com o suíço contra o muro. No processo, Félix da Costa ficou brevemente preso atrás do Envision (caindo quase até último).

Algumas voltas depois, Edoardo Mortara (Mahindra) perdeu o controlo na chicane rápida do porto e terminou na barreira de pneus, criando um Safety Car. Na travagem dos vários pilotos para o ritmo mais lento ainda houve tempo e trapalhice suficientes para que Jake Hughes (McLaren) perdesse a sua asa da frente.

Daí para a frente, pela liderança, foi uma prova de jogo de equipa. Os dois Jaguar descobriram-se na frente, após Vandoorne ativar o AM, e protegeram-se mutuamente para tratarem dos seus próprios AM. Se se temia uma luta dos dois pilotos rapidamente se percebeu não haver motivo para preocupações: Nick Cassidy (Jaguar) pediu uma clarificação da situação e avisou que não tinha problemas de seguir em formação até ao fim.

E assim foi, com a vitória a ficar no colo de Evans seguido do colega Cassidy (quando em 2023 tinha sido exatamente pela ordem inversa) e de Vandoorne (primeiro pódio do belga desde que se sagrou campeão em 2022). O vencedor de hoje já acumulava 2º lugares no Principado, tendo merecido a honra.

Jean-Éric Vergne (DS Penske) ficou em 4º lugar, seguido de um desiludido Wehrlein. O outro Porsche de Félix da Costa fez uma boa recuperação de 19º até ao 7º lugar final, finalmente colocando o português no Top 10 do campeonato.

Falando em recuperações, vale a pena destacar o 6º e 8º lugares dos pilotos da Nissan (que partiram de 15º e 14º), Maximilian Günther (Maserati) a voltar a ser um par de mãos seguras em 9º, assim como o pontuador final: Norman Nato, que saltou de 19º à partida no seu Andretti até 10º.

Foi este o resultado da corrida, desde que os comissários não descubram uma vírgula fora de sítio em algum formulário sem qualquer relevância para a performance do carro. Que valeria desclassificação direta, como sabemos…

—–

Qualificação: 1. Wehrlein \ 2. Vandoorne \ 3. Cassidy \ 4. Evans \ 5. Vergne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Cassidy \ 3. Vandoorne \ 4. Vergne \ 5. Wehrlein \ 6. Rowland \ 7. Félix da Costa \ 8. Fenestraz \ 9. Günther \ 10. Nato (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (102) \ 2. Cassidy (95) \ 3. Dennis (89) \ 4. Rowland (88) \ 5. Evans (77) —– 1. Jaguar (172) \ 2. Porsche (128) \ 3. Andretti (113) \ 4. Nissan (112) \ 5. DS Penske (102)

—–

Corrida anterior: ePrix Misano 2024
Corrida seguinte: ePrix Berlim 2024

ePrix Mónaco anterior: 2023

—–

Fontes:
FE \ Bird substituído por Barnard
FIA \ Jaguar confirma inscrição para Geração 4





Porsche com [quase] vitória dupla – ePrix Misano 2024

14 04 2024

Depois de um acidente em cadeia na prova do ano anterior e de críticas de anos recentes, a Fórmula E viu-se mesmo colocada na posição de ter que deixar cair uma das suas provas mais populares em Roma. Enquanto os organizadores tentam descobrir uma alternativa em território romano, a categoria optou por não perder a ligação a Itália e organizou em conjunto com o circuito de Misano um ePrix alternativo.

Palco habitual do GP de San Marino do MotoGP, Misano dificilmente recolheu grande entusiasmo ao ser anunciado. Território extremamente plano, traçado sinuoso e descrito como não particularmente inspirador de conduzir, o circuito ainda tinha a desvantagem de ser uma adição de circuito permanente a uma categoria que pretendia definir-se como casa de circuitos citadinos.

Fundado em 1972, foram as motas que desde cedo deram proeminência a Misano e que o forçaram a realizar alterações quando foi alongado para cumprir a distância mínima obrigatória do mundial de motas (1993). Pequenas modificações adicionais foram sendo realizadas durante os anos seguintes, desde melhorias dos complexos de boxes até apertar a segunda curva.

Ronda 6 – ePrix de Misano (1) 2024

Com um vencedor diferente em cada uma das provas iniciais, havia a expectativa de saber, a continuar a tendência, quem seria o “estreante” seguinte para a lista.

Mitch Evans (Jaguar) bateu Jean-Éric Vergne (DS Penske) na final de qualificação, com a surpresa principal a ser a intrusão do ABT de Nico Müller nas meias-finais. António Félix da Costa (Porsche) em 13º e Jake Dennis (Andretti) em 18º foram os pilotos do pelotão da frente mais deslocados, e que teriam enormes provas pela frente.

Desde o primeiro momento que Misano provou ser uma prova de caos completo, até mesmo pelos padrões da Fórmula E. Uma pista mais larga que o usual e a tentação dos vários pilotos em segurar posição para não liderar significaram que a mobilidade de posições era de uma enormidade gritante. Oliver Rowland (Nissan) provou isto ao navegar quase livremente entre 12º e 1º ao longo da corrida.

O contacto entre pilotos, até por padrões FE, foi elevado, com Vergne a terminar a sua prova em 7º com uma asa dianteira torta e um dos apêndices traseiros em falta. E houve outros pilotos que terminaram a sua prova mais cedo com o mesmo problema (como Nick Cassidy da Jaguar).

No geral, os líderes sucederam-se mas os grandes destaques foram Félix da Costa, Rowland e Dennis. Os três, juntamente com Vergne, começaram a escapar-se ao pelotão de trás até que Vergne serviu de tampão a Dennis nas voltas finais e Félix da Costa começou a gastar a energia extra armazenada que tinha para segurar o ataque final de Rowland. Um emocionado português festejou efusivamente, naquilo que foi um relançar do seu campeonato. Ou seria, não tivesse sido desclassificado várias horas após o fim da corrida e quando a própria categoria já tinha igualmente efusivamente partilhado fotos do piloto a festejar…

A causa foi uma peça do acelerador de Félix da Costa não estar em conformidade com os regulamentos e promoveu Rowland à sua primeira vitória do ano com a Nissan. Dan Ticktum brilhou com o seu ERT (quando tinha começado 16º), acabando logo atrás de Maximilian Günther (Maserati). Melhor sorte que Sette Câmara que foi penalizado em 50 segundos por consumo excessivo.

—–

Qualificação: 1. Evans \ 2. Vergne \ 3. Wehrlein \ 4. Müller \ 5. Rowland (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Rowland \ 2. Dennis \ 3. Günther \ 4. Ticktum \ 5. Evans \ 6. Vergne \ 7. Nato \ 8. Vandoorne \ 9. Fenestraz \ 10. di Grassi (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 7 – ePrix de Misano (2) 2024

Ainda de ressaca da eliminação da prova anterior e com a Porsche a defender o seu piloto da desclassificação, a marca alemã chegou ao domingo desertinha de vingar-se da derrota na secretaria que lhe fora imposta. Mas para isto não pôde contar com Félix da Costa, que viu a sua melhor tentativa de qualificação ser eliminada, partindo de último, recuperando até 11º, e acabando por perder a asa da frente na confusão e terminando em último…

Assim, coube a Wehrlein representar a marca de Estugarda numa luta pela vitória que novamente se quedou principalmente com o Andretti de Dennis, com participação especial do Jaguar de Cassidy. Wehrlein segurou os rivais para vencer em Misano, enquanto que Rowland (que andou nos lugares da frente novamente) se viu sem energia na penúltima volta e abdicou da possibilidade de sair líder destacado de Itália.

Assim, quem conseguiu terminar em 4º lugar foi Nico Müller, que ao contrário de no sábado conseguiu segurar rivais com equipamento consideravelmente melhor para dar pontos preciosos à ABT. Sacha Fenestraz desta vez conseguiu estar uns furos mais próximo do ritmo do seu líder de equipa Nissan (Rowland), seguido de perto de Sérgio Sette Câmara que completou um fim-de-semana positivo para a ERT.

A McLaren voltou a provar que simplesmente não tem ritmo de corrida comparável ao seu de qualificação, com destaque para o facto de Jake Hughes ter caído de pole até 8º lugar, seguido de um Jehan Daruvala a pontuar pela primeira vez este ano e do colega de equipa Sam Bird.

O campeonato permanece mais interessante que nunca, ainda que dificilmente a reputação da categoria tenha evitado um golpe depois de mais uma desclassificação de um piloto vitorioso por motivos supérfluos.

—–

Qualificação: 1. Hughes \ 2. Vergne \ 3. Wehrlein \ 4. Müller \ 5. Bird (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Cassidy \ 4. Müller \ 5. Fenestraz \ 6. Sette Câmara \ 7. Vergne \ 8. Hughes \ 9. Daruvala \ 10. Bird (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (89) \ 2. Dennis (89) \ 3. Rowland (80) \ 4. Cassidy (76) \ 5. Günther (63) —– 1. Jaguar (128) \ 2. Andretti (112) \ 3. Porsche (109) \ 4. Nissan (100) \ 5. DS Penske (75)

—–

Corrida anterior: ePrix Tóquio 2024
Corrida seguinte: ePrix Mónaco 2024





A primeira em 2 anos para Sam Bird – ePrix São Paulo 2024

16 03 2024

Já passaram dois meses desde a última vez que a temporada de 2024 da Fórmula E tinha conhecido um capítulo. O cancelamento de rondas torna ainda mais curioso que o circuito de São Paulo tenha sido um dos sobreviventes a esta tendência, dada a fama da Fórmula E em perder ePrix por todos os lados. Mas, depois de uma primeira edição bem-sucedida, o ePrix de São Paulo retornou.

Tendo já havido uma tentativa de a inaugurar em 2017, esta etapa apenas conseguiu voltar a ver a luz do dia depois do período pandémico. Um contrato de 5 anos e uma utilização da pista antiga da IndyCar em versão curta como cartão de visita para a ronda brasileira do campeonato, em pleno Sambódromo.

A chicane inicial original foi eliminada (um pedido de Lucas di Grassi) de modo a poder garantir uma velocidade de ponta superior no final da reta e criar um ponto de ultrapassagem para os carros na curva de 90º. Todo o circuito é algo atípico para os padrões da categoria, com retas abundantes que tornam mais difícil aos monolugares regenerarem energia.

Na edição inaugural a vitória tinha calhado ao Jaguar de Mitch Evans.

Ronda 4 – ePrix de São Paulo 2024

A quarta ronda do campeonato do mundo de Fórmula E trazia uma oportunidade única para vários pilotos recolocarem a sua temporada no sítio e para algumas equipas retomarem a iniciativa. Os resultados? Mistos.

A pole position de Pascal Wehrlein no seu Porsche até não fugiu muito àquilo a que estamos habituados das primeiras três provas, mas a grande novidade era mesmo que apenas o fez por 2 milésimas de segundo sobre o DS Penske de Stoffel Vandoorne (que bateu o colega de equipa, Jean-Éric Vergne, na meia-final dos duelos). Wehrlein, na sua meia-final, tinha eliminado o Maserati de Maximilian Günther (que já sabia que teria que começar do final da grelha devido a penalizações por troca indevida de componentes).

Já na corrida propriamente dita, António Félix da Costa foi o grande protagonista ao ascender de 8º (tinha sido o melhor dos que não entraram em duelos em qualificação) até 3º no final da segunda volta. Isto transformou-se na liderança quando os dois carros à sua frente ativaram Attack Mode e foram interrompidos por um Safety Car (para pedaços em pista dos carros de Norman Nato e Lucas di Grassi).

No recomeço começou a desenvolver-se uma clara luta dos 5 primeiros num ritmo significativamente superior aos restantes. Sam Bird colocou o seu McLaren na frente, mas a sofrer com o consumo excessivo de liderar e com um certo sobreaquecimento do lado esquerdo do monolugar. Mitch Evans (Jaguar), Jake Dennis (Andretti) e os dois Porsche iam trocando de posição logo atrás, com a situação mais ou menos estável até ao segundo SC (acidente aparatoso de Nick Cassidy pela Jaguar).

Os momentos finais foram de grande tensão. com Evans a assumir a dianteira e os Porsche a começarem a perder ritmo mesmo no fim. Isto significou que Oliver Rowland (que saiu de 11º) conseguiu imiscuir o seu Nissan no pódio, enquanto que Bird fez uma brilhante manobra de volta final para ganhar pela primeira vez em 2 anos.

Os DS Penske não conseguiram evitar a sua perda de performance em corrida, indo parar aos lugares pontuáveis mais baixos; ao passo que Günther foi de último até 9º e Sébastien Buemi (Envision) foi de 18º a 10º.

Mesmo a zeros, Cassidy continua líder de um campeonato em que para já as marcas da Porsche e Jaguar parecem ter concorrência acrescida de Nissan e grupo Stellantis (DS e Maserati).

—–

Qualificação: 1. Wehrlein \ 2. Vandoorne \ 3. Günther \ 4. Vergne \ 5. Evans (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Bird \ 2. Evans \ 3. Rowland \ 4. Wehrlein \ 5. Dennis \ 6. Félix da Costa \ 7. Vergne \ 8. Vandoorne \ 9. Günther \ 10. Buemi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Cassidy (57) \ 2. Wehrlein (53) \ 3. Evans (39) \ 4. Vergne (39) \ 5. Dennis (38) —– 1. Jaguar (96) \ 2. Porsche (61) \ 3. DS Penske (57) \ 4. McLaren (55) \ 5. Andretti (47)

—–

Corrida anterior: ePrix Diriyah 2024
Corrida seguinte: ePrix Tóquio 2024

ePrix São Paulo anterior: 2023

—–

Fonte:
Racing Circuits \ São Paulo





Uma vitória para cada – ePrix Diriyah 2024

29 01 2024

Tendo perdido no ano passado a condição de prova inaugural para o México, a Arábia Saudita não deverá ter grandes razões de queixa com o seu tratamento no automobilismo mundial. A apostar forte e feio em investimentos desportivos para melhorar a sua imagem mundial (execuções públicas dificilmente espelham modernidade…), o país do Médio Oriente até já é presença recorrente na Fórmula E desde 2018 e tem prova noturna desde 2021 nas ruas de Diriyah.

A pista citadina de Diriyah fica próxima da capital do país, Riade, e tem 2,5 km e 21 curvas. Atravessando a zona histórica, o traçado foi melhorado para cumprir os critérios da FIA para a qualidade do asfalto em colaboração com a UNESCO, por a área se tratar de Património Mundial. Pequenas alterações no perfil de várias curvas foram feitas após a primeira corrida de 2018.

3 pilotos já venceram em território saudita antes deste ano, com Sam Bird, Nyck de Vries e Pascal Wehrlein a serem os que venceram mais vezes (2), com a particularidade de que Wehrlein o fez nas duas provas de 2023 naquilo que parecia um início fulgurante do piloto da Porsche.

Ronda 2 – ePrix de Diriyah (1) 2024

Com um novo intruso na luta privada da Porsche e Jaguar (a DS), a qualificação da primeira corrida de Diriyah trouxe um Jean-Éric Vergne em grande nível, que se conseguiu sobrepor aos rivais mas que em corrida, nas suas próprias palavras, sofreu a bom sofrer com a incapacidade de acompanhar o ritmo de prova de Jake Dennis e o seu Andretti.

Dennis, aliás, conseguiu a primeira vitória da sua defesa de título em grande parte com a ajuda de Vergne, cujo ritmo mais reduzido misturado com uma aguerrida defesa de posição lhe valeu ter tapado o avanço dos dois Jaguar. Mitch Evans era o ponta de lança, atacando com alguma intensidade, mas Nick Cassidy já começou a mostrar ao que vem, fazendo questão de ir pedindo à equipa ajuda do colega com os Attack Mode. No final, não precisou dessa ajuda, porque Evans lançou um ataque final mal medido que o viu cair para 5º.

Sam Bird andou bem próximo da sua antiga equipa, ajudando a McLaren neste início de ano, ao mesmo tempo que faz os possíveis por mostrar que o ano terrível de 2023 foi apenas uma pequena anomalia no seu palmarés de resto irrepreensível. Norman Nato ainda não atingiu o nível do colega mais experiente, mas conseguiu compor o resultado conjunto da Andretti com o seu 6º posto.

Mais para trás, a Porsche viu a cliente brilhar enquanto voltou a estar em posições mais diminutas (com Pascal Wehrlein em 8º e António Félix da Costa redondamente fora dos pontos), o que pode provocar novos medos dos alemães de que a corrida de desenvolvimento possa voltar a correr mal. Já Maximilian Günther deu mais um balão de oxigénio a uma Maserati que tem visto Jehan Daruvala num nível francamente inferior ao esperado.

Robin Frijns salvou o ponto final para a Envision, enquanto que Sérgio Sette Câmara arrastou o diminuto ERT até a um impressionante 4º lugar em qualificação, tendo também minimizado as suas perdas em prova com um sólido 9º lugar, rodeado de carros mais rápidos.

Destaque ainda para a ausência de incidentes, com zero intervenções do Safety Car ou de Full Course Yellow.

—–

Qualificação: 1. Vergne \ 2. Evans \ 3. Dennis \ 4. Sette Câmara \ 5. Nato (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Dennis \ 2. Vergne \ 3. Cassidy \ 4. Bird \ 5. Evans \ 6. Nato \ 7. Günther \ 8. Wehrlein \ 9. Sette Câmara \ 10. Frijns (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 2 – ePrix de Diriyah (2) 2024

A segunda corrida mostrou um padrão a começar a emergir na categoria elétrica, com um carro sem motorização Porsche ou Jaguar a fazer pole position, mas a ficar sem ritmo de corrida suficiente para vencer na prova em si. O feliz contemplado pela pole foi Oliver Rowland, num dia em que todos os monolugares da Nissan (incluíndo a McLaren) mostraram velocidade. Rowland foi passado na partida por Robin Frijns mas conseguiu o seu primeiro pódio no regresso aos japoneses.

Frijns assumiu a liderança e protagonizou uma luta mano-a-mano com Nick Cassidy a prova inteira, mas acabou por perder devido a um Attack Mode muito bem temporizado de Cassidy. A Envision perdeu assim para a sua fornecedora de motores e para o seu piloto do ano anterior, mas terá ficado bem feliz pela maneira como conseguiu minimizar os estragos num dia em que Sébastien Buemi não partiu por se ter acidentado em qualificação.

Cassidy, após a sua primeira vitória Jaguar, fez questão de avisar que tem os pés bem assentes no chão, gracejando que está à espera do dia em que as coisas comecem a correr pior para lidar com isso. Para já, é um ótimo início de ano que o vê na liderança do campeonato.

Jake Hughes fez o seu melhor resultado na categoria com um 4º lugar, mesmo na frente de Stoffel Vandoorne e Sacha Fenestraz. Os candidatos ao título tiveram qualificações para esquecer, especialmente Mitch Evans, Jake Dennis e Pascal Wehrlein que andaram na luta nos últimos lugares pontuáveis.

Jehan Daruvala teve uma boa qualificação que infelizmente terminou fora de prova, com problemas mecânicos, enquanto que António Félix da Costa voltou a ter uma ronda para esquecer.

—–

Qualificação: 1. Rowland \ 2. Frijns \ 3. Cassidy \ 4. Vandoorne \ 5. Daruvala (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Frijns \ 3. Rowland \ 4. Hughes \ 5. Vandoorne \ 6. Fenestraz \ 7. Wehrlein \ 8. Vergne \ 9. Günther \ 10. Evans (Ver melhores momentos)

Campeonato1. Cassidy (57) \ 2. Wehrlein (38) \ 3. Vergne (33) \ 4. Dennis (28) \ 5. Evans (21) —– 1. Jaguar (78) \ 2. DS Penske (47) \ 3. Porsche (38) \ 4. Andretti (37) \ 5. Envision (37)

—–

Corrida anterior: ePrix Cidade do México 2024
Corrida seguinte: ePrix São Paulo 2024

ePrix Diriyah anterior: 2022

—–

Fontes:





O décimo round da Fórmula E

7 01 2024

A décima temporada da história da Fórmula E começa dentro de uma semana e é seguro dizer que desde a primeira temporada que não se questionava de forma tão aberta o caminho que a categoria tem vindo a seguir.

A remoção de Roma do calendário por troca com um circuito permanente como Misano foi comunicada como uma ótima novidade, mas recebida com consternação. Sendo normal haverem substituições temporárias nas pistas, não escapou a ninguém que Portland está a começar a ter um ar permanente quando deveria ser um mero substituto provisório de Nova Iorque. Cidade do Cabo, Hiderabade e Jakarta caíram do ano passado para este. A China, palco da primeira corrida da categoria, está de regresso no circuito permanente de Shanghai.

Algumas das estruturas já fizeram saber que não apreciam que das 10 localizações do próximo ano tenhamos 4 em circuitos regulares em vez de citadinos. Quando a FE se tem conseguido destacar positivamente pela presença massiva de construtoras automóveis (depois do susto da saída de Audi e Mercedes), fariam bem em perceber as queixas. Dois dias de testes de pré-temporada interrompidos por um estranho incêndio de garagem também causaram estranheza.

Nem tudo são más notícias. O título mundial de Jake Dennis foi popular dentro do paddock e conseguido apenas na última ronda dupla, por uma equipa privada, reanimando os ânimos de que é possível a quase qualquer estrutura (com o orçamento e capacidade técnica certos, claro) conseguir ser bem-sucedida na categoria elétrica.

E corridas de pelotão à parte, houve momentos altos da ação em pista dos novos Fórmula E de 3ª geração em 2023. O segundo ano promete mais.

Que vida para os protagonistas de 2023?

Se haviam dúvidas sobre como Porsche e Jaguar lidariam com verem as suas clientes (Andretti e Envision, respetivamente) baterem-nas, a resposta parece ter sido simples: consolidação. A Porsche manteve a sua dupla de Pascal Wehrlein e António Félix da Costa, tentando saber manter o ritmo de desenvolvimento do seu motor elétrico. A Jaguar segurou Mitch Evans e foi “roubar” Nick Cassidy à sua cliente, procurando ter dois pilotos fortes no seu seio.

A julgar pelos testes, em que ficaram com o Top 3 da classificação em Valência, promete dar certo a sua aposta. Para Andretti e Envision, trata-se agora de uma questão de conseguir não perder o “comboio” que têm vindo a utilizar desde o início do ano passado (e até um pouco antes).

A Andretti tem como trunfo o campeão em título (Jake Dennis) e foi buscar Norman Nato à Nissan, de forma substituir o errático André Lotterer. Nos testes a aclimatização não foi inteiramente ideal, com um 9º e 12º lugares. Já a Envision perdeu o seu melhor trunfo, mas manteve um rejuvenescido Sébastien Buemi e foi buscar um ex-piloto sob a forma de Robin Frijns. Ambos colocaram-se no Top 10 de Valência.

O meio da tabela

Atrás destas 4 equipas ficaram duas estruturas do grupo Stellantis, que apostam em continuidade. A DS teve um primeiro ano moderadamente positivio com a Penske e a dupla de campeões manter-se-á em 2024 (Jean-Éric Vergne e Stoffel Vandoorne) à espera de melhores oportunidades.

Já a colega Maserati, também em primeira ano de parceria (com a Venturi) teve que proceder a alterações inesperadas. Edoardo Mortara, de pedra e cal há vários anos, teve que sair por uma completa incapacidade em obter resultados relevantes (será substituído pelo estreante Jehan Daruvala) e Maximilian Günther apanhou todo o paddock de surpresa com um brilhante ano (recompensado pela sua manutenção).

Os testes foram inconclusivos para ambas.

Já a Nissan e a sua cliente McLaren chegam com ambições mistas para 2024. A Nissan fez uma cópia da Envision, por assim dizer: perdeu o seu piloto principal (Nato) e segurou a prata da casa (Sacha Fenestraz), indo buscar um ex-piloto da sua casa que já viu melhores dias (Oliver Rowland, que regressa amassado da sua experiência na Mahindra).

A McLaren, a usar motores dos japoneses, até tinha começado bem 2023 (ou não fosse a “reencarnação” da estrutura oficial da Mercedes) mas foi perdendo ritmo ao longo do ano. Começar bem 2024 é prioritário, sendo por isso que foram buscar um experiente Sam Bird para acompanhar um Jake Hughes que fez boa figura na sua estreia de laranja no ano passado.

Rowland foi o único a conseguir colocar-se no Top 10 nos testes, mas os sinais não foram maus.

Quem precisa de reformular tudo

Assim, sobra quem teve anos terríveis em 2023. Ou, pelo menos, continuações de períodos de performances pouco impressionantes.

A grande derrotada foi mesmo a Mahindra, que percebeu que seriam necessárias alterações enormes. A primeira preocupação é garantir que não volta a suceder nada com a gravidade da falha do sistema de suspensão da Cidade do Cabo, ainda que as regras de homologação de monolugar lhes possa dificultar a vida. Não foi por acaso que perderam ambos os pilotos, com Lucas di Grassi a terminar o seu contrato antes de tempo.

Para 2024 apostaram numa dupla de pilotos que ao longo do último ano deixaram bastante a desejar em 2023 mas que quer voltar a mostrar serviço: Edoardo Mortara, que se perdeu na Maserati, e Nyck de Vries, que nunca se encontrou na F1 com a AlphaTauri. O talento dos dois é mais que suficiente, no entanto resta ver como se recuperam. O Top 10 nos testes de Mortara é um sinal positivo.

Já a ABT deve estar arrependido de se ter “atrelado” à Mahindra no seu regresso à FE, contudo manteve os préstimos de Nico Müller e foi buscar o experiente campeão Lucas di Grassi para relançar-se com novo fôlego para 2024.

A NIO, que passou a ERT, manteve a sua dupla (Dan Ticktum e Sérgio Sette Câmara) e procurará fazer de um 2023 em que voltou a pontuar com mais frequência uma base para almejar regressar a uma posição mais forte em 2024.





Top 10 da Fórmula E 2023

6 08 2023

Não deixa de ser irónico que num ano em que apenas duas corridas não foram vencidas por monolugares equipados por Porsche ou Jaguar, ambas as marcas tenham tido um ano extremamente frustrante. É que ambos os títulos pertenceram a equipas clientes de ambas, deixando os chefes de equipa com conversas bastante constrangedoras a ter na sua avaliação de desempenho com a casa-mãe.

A Jaguar deu tiros nos próprios pés, com Sam Bird a eliminar o colega de prova duas vezes e mesmo Mitch Evans acidentou-se sozinho num momento crítico, mas a Porsche dificilmente tem uma justificação tão simples. Mesmo com a contratação de António Félix da Costa para dar a Pascal Wehrlein uma concorrência mais próxima, a equipa parece incapaz de desenvolver o seu carro ao longo de uma temporada de forma eficaz.

A Andretti foi uma estrutura de um só carro (André Lotterer foi humilhado com apenas 23 pontos contro os 229 do colega campeão, Jake Dennis), a Envision viu um título de construtores premiar a dupla mais competente do ano e a DS Penske fez um sólido primeiro ano de cooperação (vencendo a sua primeira corrida).

Mas foi também um ano de grandes desilusões. A Mahindra falhou por completo o ano, culiminando num problema de suspensão que os obrigou a abandonar uma prova antes de partir e arrastando a cliente ABT para os dois últimos lugares na grelha. Oliver Rowland bateu com a porta na Mahindra antes do ano terminar, enquanto que Robin Frijns foi anónimo na ABT (além de ter partido um pulso na ronda inaugural).

Enquanto isso, a McLaren foi procurando arranjar o seu espaço fora da esfera Mercedes, a Nissan e NIO parecem finalmente estar no caminho da recuperação e a Maserati transformou o seu início penoso numa estrutura capaz de pontuar com regularidade e até vencer (ainda que Edoardo Mortara tenha sido um surpreendente peso morto).

1 – Nick Cassidy

Geralmente uma presença discreta ao lado de rivais mais badalados, Nick Cassidy estreou-se na Fórmula E em 2021 com a Envision ao lado do cotado Robin Frijns e foi construindo o seu espaço com 2 pódios e 2 poles. Mesmo entre os estreantes do ano, Cassidy não passou para o topo da lista de ninguém, e apesar da primeira vitória na categoria em 2022, o neozelandês voltou a ser batido internamente por Frijns.

A saída do neerlandês pela entrada do campeão Sébastien Buemi e o estatuto de equipa privada da Jaguar por parte da Envision pareciam limitar naturalmente a progressão de Cassidy. Mas alguém se esqueceu de informar o piloto disso.

Com uma consistência de pontuações notável, o neozelandês perdeu pontos para Buemi nas 3 primeiras provas, mas depois arrumou o novo colega a um canto dentro de pista (5 pódios em 6 provas contra 0 em 6) e fora de pista (a maneira como gozou com o suíço pela rádio depois de um incidente entre ambos foi um golpe de mestre, dada a irritabilidade fácil de Buemi). Vitórias em Berlim, Mónaco e Portland colocaram-no firmemente na luta pelo título, e apenas em Jakarta pareceu perder a compostura.

Nas 3 provas finais foram 2 abandonos e uma vitória de ponta a ponta. Nenhum dos dois abandonos foi culpa própria: num foi eliminado por Mitch Evans e no outro pelo colega de equipa. Sem estes contratempos teria muito provavelmente sido campeão.

2 – Jake Dennis

Ninguém esperaria que o título de campeão na primeira temporada da terceira geração de carros de Fórmula E terminasse com uma disputa entre dois pilotos de equipas privadas, e muito menos que a primeira prova do ano caísse nas mãos de uma Andretti como nova cliente da Porsche.

Habituado a ser subestimado desde a sua primeira temporada na categoria, Jake Dennis voltou a ser o líder indiscutível dos americanos, com uma sequência impressionante de terminar no pódio todas as corridas em que pontuou (com exceção da primeira prova de Roma). Não que isto tenha sido sempre por consistência pura. Ao longo do ano foi visível a frustração do britânico com os constantes pódios sem vitória e com a gestão de energia necessária para se manter em disputa pela vitória.

Mas foram precisamente os pódios constantes e a boa gestão de consumo que deixaram Dennis sempre na frente do campeonato ou próximo, enquanto os rivais tropeçavam constantemente. Quando a hecatombe da segunda prova de Roma eliminou os seus rivais, também foi assim que soube estar em posição perfeita para vencer pela primeira vez desde a prova inaugural.

O título mundial foi um justo prémio para a sua consistência de ouro.

3 – Maximilian Günther

É difícil identificar um piloto com a cotação tão baixa quanto a de Maximilian Günther no início deste ano. Tendo provado ser capaz do melhor e do pior na BMW e tendo sido batido em toda a linha por Sébastien Buemi na Nissan em 2022, o alemão só conseguiu um lugar na nova estrutura Maserati porque Nyck de Vries foi chamado para a Fórmula 1. E mesmo assim, só por um ano. Quando na primeira metade do ano o Maserati provou ser lento e pouco fiável, ninguém se surpreendeu de ver o piloto a zeros.

Mas quando a marca italiana começou a mostrar rendimento a meio do ano, começando em Berlim, muitos ficaram surpresos por ver que o primeiro pódio da marca histórica não pertenceu ao sempre consistente Edoardo Mortara, mas sim a Günther. Com a exceção de um abandono desnecessário (incidente com Ticktum) no Mónaco, Günther classificou-se entre os 6 primeiros em 4 das 5 corridas que se seguiram, com direito a 3 pódios e à primeira vitória Maserati em Jakarta.

Com mais de metade dos pontos de Mortara, Günther colocou um problema à Maserati, que apenas o tinha preso a um contrato de um ano e agora terá que correr para o renovar sob pena de ficar com um Mortara bastante desmotivado apenas.

4 – Jean-Éric Vergne

Em quase permanente ligação com as marcas francesas do grupo Stellantis, Jean-Éric Vergne acompanhou a DS na sua saída da Techeetah em favor da pouco competitiva Penske. Seria sempre expectável que a nova DS Penske tivesse uma melhoria da sua performance, mas também que os dois campeões (Vergne e o colega Stoffel Vandoorne) tivessem dificuldade em simplesmente continuarem nos lugares cimeiros.

O que ninguém teria esperado era que, depois de três provas a roçar o fundo da tabela de pontuação, Vergne mostrasse tenacidade suficiente para segurar uma porção significativa dos pilotos do grid em fila única atrás de si em Hiderabade para dar à DS a única vitória do ano.

O resto de ano foi feito de conquistas um pouco mais modestas mas igualmente notáveis, com 2 pódios adicionais e pontuando em mais de metade das provas. O facto de ter terminado com mais de metade dos pontos do colega (que era o campeão em título e melhor piloto dos últimos dois anos) só demonstra bem a dimensão da temporada de Vergne. Assim que tiver carro para mais nos próximos anos deverá ser uma dor de cabeça séria para todos os rivais.

5 – Mitch Evans

Foi talvez o ano mais frustrante da carreira de FE de Mitch Evans, o que é dizer algo. Depois de 6 anos em que integrou uma equipa Jaguar a aproximar-se pouco a pouco da luta pelos lugares da frente, o neo-zelandês foi 3º em 2021, vice-campeão em 2022 (com mais 3 vitórias que o campeão) e em 2023 poderia muito bem ter sido a vez do homem da Jaguar.

Mas as coisas não correram dessa forma. Os enormes talentos de Evans voltaram a estar à vista de todos, com 3 vitórias e 5 pódios, assim como a maneira como voltou a arredar Sam Bird a um canto (acabando com a carreira do colega na equipa, quando havia chegado como um dos melhores da categoria). A má forma no início do ano da equipa e o facto de Bird o ter eliminado em 2 (!) corridas diferentes ditaram mais um título escapado.

Porquê não estar mais acima nesta tabela? Simples. Ao contrário dos outros anos, houve quem mostrasse mais consistência e, especialmente, sangue frio. Depois de uma vitória na primeira corrida de Roma, Evans via-se numa luta a 3 com Dennis e Cassidy quando deitou tudo a perder com uma travagem mal calculada na segunda volta, que entregou o título de bandeja. Mais frieza para evitar um erro imperdoável destes é necessária.

6 – Pascal Wehrlein

Há muito à espera da oportunidade de conseguir estar com consistência entre os primeiros classificados da categoria, Pascal Wehrlein viu-se nas primeiras 4 provas do ano com um Porsche que conseguiu aproveitar extremamente bem as novas regras para dominar e não desapontou: foram 2 vitórias e 3 pódios.

Deveria ter sido o momento certo para começar a fugir no campeonato, até porque o principal rival era Jake Dennis com propulsores da Porsche também, mas o alemão acabaria por sofrer com uma performance muito difícil do carro em qualificação. Os carros da marca alemã até tinham ótimo ritmo de corrida que permitia recuperar posições, mas a desvantagem deixava Wehrlein a não conseguir imiscuir-se no Top 6. E assim os rivais retomaram a iniciativa.

O facto de o novo colega, António Félix da Costa, ter pontuado melhor nesta fase difícil não abonou a favor de Wehrlein. Ainda assim, uma nova vitória em Jakarta ajudou a retomar a iniciativa no combate pelo título. Mas a maneira como se foi tornando mais anónimo à medida que a Porsche perdia rendimento deixa um ponto de interrogação.

7 – António Félix da Costa

Qualquer possibilidade que pudesse existir de António Félix da Costa conseguir competir pelo título em 2023 desapareceu ao fim de 3 corridas, Ainda a adaptar-se na sua estreia com uma equipa nova (e ainda por cima regulamentos diferentes), o português viu o seu colega na Porsche (Wehrlein) assumir os comandos da estrutura com 2 vitórias e um segundo lugar em 3 provas. No mesmo período, tinha apenas pontuado 6 pontos na primeira prova do ano.

Era preciso reagir, e Félix da Costa conseguiu dissipar dúvidas sobre o seu nível de performance com uma vitória na estreia da Cidade do Cabo no calendário, conseguindo vencer com a equipa alemã ao fim 5 cirrudas quando o homem que substituiu (Lotterer) não o fez em 3 anos. A partir daqui o ritmo dos dois pilotos equilibrou por completo, mas a distância na tabela de classificação tornava inevitável a secundarização do português até ao final do ano.

Mesmo quando admitiu publicamente necessitar de ser segundo piloto até ao final do ano, Félix da Costa deixou claro que não seria a qualquer custo. Quando Wehrlein circulava no final do Top 10 em Portland, o colega não se deixou preocupar: atacou Dennis e Cassidy até ao final pela vitória, encurtando pouco a pouco a distância para o outro Porsche no campeonato.

As 4 rondas finais acabaram por ser dolorosas (uma delas literalmente com um acidente em Roma), particularmente a desclassificação por motivos técnicos de Londres quando tinha recuperado de 17º a 2º.

8 – Dan Ticktum

De temperamento explosivo, rasgos ocasionais de grande velocidade, uma inteligência táctica por vezes questionada e ao volante de um NIO 333 que fora penúltimo em 2022, Dan Ticktum não estava no radar de muitos na antevisão de 2023.

Só que o britânico acabou mesmo por ser um dos pilotos mais impressionantes do ano. Ainda sem ritmo para grandes voos, mas marginalmente melhor que o antecessor, o NIO conseguiu almejar lutar por pontos com alguma frequência nas mãos de Ticktum. Um pequeno 10º lugar na terceira prova do ano foi para abrir o apetite, mas chegou ainda um ótimo 6º na Cidade do Cabo. Após Berlim voltou a haver espaço para um novo 6º, a segurar o pelotão.

E nas 3 provas finais, uma delas sob chuva torrencial, 3 pontuações com um 9º, um 7º e outro 9º. Isto permitiu a Ticktum acabar com o dobro dos pontos do colega Sérgio Sette Câmara (e a maioria dos pontos deste vieram de um único resultado), sendo líder incontestado e garantindo o melhor resultado da NIO no campeonato desde 2017-18.

Porquê tão para baixo? Simples: Ticktum continua a ser o seu pior inimigo fora de pista. Quando as coisas não corriam bem, o piloto não hesitou em culpar a equipa (uma das vezes gritando com o engenheiro pelo rádio, enquanto dizia que não compareceria no briefing e pedindo um táxi…). Uma estratégia que vai dificultar as suas possibilidades de obter um lugar melhor na categoria.

9 – Sébastien Buemi

Havia muito a provar para Sébastien Buemi em 2023. Desde a primeiríssima temporada da categoria elétrica que o suíço estava envolvido na estrutura da DAMS sob as suas formas Renault e Nissan, pelo que a mudança para a Envision era interessante por si só. Juntando a isto o facto de há duas temporadas o rendimento de Buemi estar bem abaixo do esperado, depois de já ter sido campeão (2015-16) e vice-campeão (3 vezes), e era grande a expectativa de ver como reagiria.

E a reação foi positiva. No novo ambiente de equipa privada, Buemi começou o ano com 6 pontuações diferentes e 7 corridas, aproveitando a boa forma da nova equipa, além de se ter começado a restabelecer como piloto confiável e regular durante o resto do ano.

Como pontos negativos, pode-se falar de ter sido amplamente batido por Cassidy (que não se deixou intimidar com as reclamações do suíço) e de não ter chegado ao pódio. Mas ter sido um eficaz segundo piloto quando Dennis teve que se contentar com Lotterer já é um grande feito para quem vinha de temporadas tão ineficazes. Agora resta construir um 2024 mais promissor com base num sólido 2023.

10 – Norman Nato

Tendo competido como estreante na Venturi em 2021, com um início particularmente difícil, Norman Nato viu uma vitória na corrida final do ano ser recompensado com… ficar sem lugar. Fazendo uma “perninha” nas duas rondas finais em 2022 pela Jaguar, Nato acabou por merecer o seu regresso com a Nissan para este ano.

Parecia uma excelente prenda, este lugar numa equipa de fábrica com um colega quase estreante, só que podia muito bem ter sido um cálice envenenado com a estrutura que já fora campeã a perder ritmo há várias temporadas e a ficar sem ambos os pilotos no fim de 2022. A primeira corrida até começou com um abandono num incidente em que Robin Frijns ficou com um pulso partido.

Acumulando pontos como pôde na primeira metade do ano, e com a cliente da Nissan (McLaren) a pontuar melhor, Nato soube gerir de forma brilhante as suas provas até que um ótimo 5º lugar em Jakarta provou ser a sua rampa de lançamento para não voltar a largar os pontos. Inclusivamente obteve em Roma o primeiro pódio da Nissan em dois anos, acabando o ano com quase o dobro dos pontos do colega.

A Nissan viu-se assim na frente da McLaren e Nato poderá conseguir ainda melhores resultados em 2024 se a equipa prosseguir a sua trajetória ascendente.





Dennis e Envision campeões – ePrix Londres 2023

31 07 2023

Tendo em conta as dificuldades que o original circuito de Battersea em Londres teve para criar uma presença da Fórmula E, desde a oposição fortíssima da população local até a uma curva com ressalto que danificava os carros, não deixa de ser curiosa a facilidade com que a pista do ExCeL se conseguiu destacar entre as anfitriãs do calendário.

O pavilhão ExCeL em Londres, habitualmente palco de exposições ao lado do Rio Tamisa, seria o anfitrião da categoria num traçado misto (metade debaixo da cobertura do ExCeL e metade no exterior). A localização ser próxima ao aeroporto e bons acessos a transportes públicos completaram o quadro ambientalista tão prezado pela categoria.

O traçado tem uma grande variedade de superfícies diferentes (com aderências diferentes), com dificuldades acrescidas em caso de chuva (metade com piso molhado e metade seco). A passagem de iluminação artificial para natural dá grandes dificuldades às câmaras, mas os pilotos não se têm queixado.

Ronda 15 – ePrix de Londres (1) 2023

Tendo provocado o incidente que eliminou Nick Cassidy da corrida em Roma, Mitch Evans acabou por ver a sua pole position de Londres não poder ser convertida em nada mais que 6º na grelha de partida. A melhor posição do pelotão coube, ironicamente, a Cassidy com o rival Jake Dennis e o colega Sébastien Buemi logo a seguir.

Estava a ser uma interessante prova entre os rivais até que a progressão natural dos Attack Modes levou Cassidy a estar atrás de Buemi. O neozelandês tentou ultrapassar por diversas vezes mas o suíço não facilitou. Após a prova, Buemi queixou-se de não ter recebido instruções sobre como proceder. O certo é que Cassidy acabou a danificar a frente, abandonando e sendo visto a trocar palavras azedas na garagem (até remover a câmara de TV do caminho).

Sem o rival mais direto, Dennis ainda tinha que se preocupar com o novo líder, Evans. Fazendo uso do rádio, o britânico não teve pudor em referir que se a Porsche (fornecedora de motores da Andretti) queria a ajuda dele no dia seguinte (para o mundial de construtores) o deveria ajudar na corrida. Michael Andretti terá inclusive ido à box da Porsche fazer o mesmo.

Os Porsche não pareceram demasiado interessados, especialmente António Félix da Costa que partiu de 17º mas foi recuperando terreno a pulso até estar entre os dois candidatos ao título em 2º nas voltas finais.

Depois foram necessárias duas bandeiras vermelhas, uma para um acidente de Sacha Fenestraz, a outra para um colossal engarrafamento de 4º para baixo. No final venceu um taciturno Evans, ainda a pensar na manobra de Roma, seguido de um efusivo campeão recém-coroado Dennis e de um frustrado Buemi, ainda a pensar na manobra que eliminou Cassidy.

Félix da Costa tinha acabado originalmente em 2º, mas acabou penalizado 3 minutos por ter pressões demasiado baixas num dos seus pneus quando terminou. A Porsche sinalizou que irá apelar a decisão, com o português a ironizar perguntando se Lewis Hamilton foi penalizado por pressão insuficiente no GP Reino Unido de 2020 (quando cruzou a linha sem um pneu).

Lucas di Grassi e Dan Ticktum voltaram a mostrar porque foram os talismãs das suas equipas nas posições finais do campeonato, enquanto que Sam Bird e Edoardo Mortara completaram o Top 5.

—–

Qualificação: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Buemi \ 4. Ticktum \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Dennis \ 3. Buemi \ 4. Bird \ 5. Mortara \ 6. di Grassi \ 7. Ticktum \ 8. Nato \ 9. Wehrlein \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 16 – ePrix de Londres (2) 2023

Com um título decidido e uma chuva torrencial a cair na metade do circuito londrino que estava no exterior, o ePrix final do ano precisou de à volta de uma hora de pilotos parados a matar tempo para finalmente começar a ação em pista.

E quando esta começou… quase não houve ação em pista. Com metade do asfalto seca e a outra metade molhada, a maior parte dos pilotos optou por uma abordagem de cautela extrema, o que invalidou as possibilidades de termos uma tradicionalmente caótica prova de Fórmula E.

Cassidy fez pole e desta vez soube liderar sem percalsos, seguido sempre de bem perto por Evans. Os dois carros de motorização Jaguar afastaram-se a passos largos do resto da grelha, beneficiando de Norman Nato servir de tampão para os restantes (pelo menos até Dennis o passar para completar o pódio). Com Buemi na frente de Bird, a Envision triunfou no campeonato de equipas, significando que foram equipas-clientes as vencedoras de ambos os títulos.

Nico Müller ajudou a ABT a ser última classificada, é certo, mas com uns respeitáveis 21 pontos na estreia. Ticktum conseguiu mais dois pontinhos para a NIO. O resultado final do ano mostrou que as 4 equipas com propulsores Jaguar e Porsche ficaram nos 4 primeiros.

—–

Qualificação: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Nato \ 4. Dennis \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Dennis \ 4. Nato \ 5. Vandoorne \ 6. Buemi \ 7. Bird \ 8. Müller \ 9. Ticktum \ 10. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (229) \ 2. Cassidy (199) \ 3. Evans (197) \ 4. Wehrlein (149) \ 5. Vergne (107) —– 1. Envision (304) \ 2. Jaguar (292) \ 3. Andretti (252) \ 4. Porsche (242) \ 5. DS Penske (163)

—–

Corrida anterior: ePrix Roma 2023

ePrix Londres anterior: 2022





Evans no seu melhor e pior – ePrix Roma 2023

16 07 2023

Com posição usual nas primeiras rondas do campeonato, Roma viu-se colocado na reta final de 2023. Ronda bastante popular entre os pilotos, mudou em 2021 de traçado para aquele que atualmente é usado, procurando perturbar menos o trânsito da cidade e passando por zonas ao redor do Obelisco di Marconi (com um traçado com várias ondulações, elevações e superfícies).

O recordista de vitórias no circuito é Mitch Evans, por larga margem. Em 2022, o neozelandês conseguiu a proeza de vencer ambas as provas da ronda dupla, sobrepondo-se a Robin Frijns e Jean-Éric Vergne nas duas. Foi o início de um percurso notável do homem da Jaguar na temporada, que os rivais procurariam contrariar na edição deste ano.

Roma possui algumas caraterísticas de distinção em relação a outras provas, como curvas de raio variável ou curvas de relativamente alta velocidade, para além dos benefícios mais gerais que a Fórmula E dá aos seus anfitriões de forma indireta (por exemplo, a requalificação do asfalto).

Ronda 13 – ePrix de Roma (1) 2023

Com previsões de calor extremamente elevado para o fim-de-semana em Itália, era expectável assistir a diversas falhas mecânicas ao longo das provas, mas a primeira de todas acabaria por trazer um atrito muito elevado mas a nível de erros de pilotagem. Sam Bird (que completara uma primeira linha Jaguar em qualificação) fez um pequeno erro que o deixou no meio da pista, acabando colhido primeiro por Sébastien Buemi e depois Edoardo Mortara com mais gravidade. A bandeira vermelha saiu de imediato, mas entretanto já alguns outros pilotos como Stoffel Vandoorne ou António Félix da Costa tinham também ido para casa mais cedo, batendo no muro para evitar o Jaguar.

Quem se escapou bem foram os candidatos ao título. Mitch Evans dominou a seu bel-prazer no sábado, com direito a pole position e vitória, compensando os desaires em que não teve culpa própria no início do ano. Nick Cassidy completou (mais uma) dobradinha de neo-zelandeses e subiu novamente à liderança do campeonato, enquanto que Maximilian Günther voltou a ser pouco característico comparado com outras temporadas e mostrou uma excelente aptidão para escapar a sarilhos e foi 3º.

Jake Dennis e Sacha Fenestraz terminaram as suas provas algo frustrados, tendo estado em posições de liderança antes de caírem com uma gestão de energia duvidosa das suas equipas. As invulgares posições de Nico Müller e Sergio Sette Câmara são explicadas pelos vários abandonos, contribuíndo para que ABT e NIO, respetivamente, somassem pontos.

Jean-Éric Vergne terminou 5º e Norman Nato 7º, num dia em que o calor apenas se notou na transmissão devido ao barulho que se fazia sentir pelo paddock dos grilos nas zonas com árvores…

—–

Qualificação: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Fenestraz \ 4. Buemi \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Cassidy \ 3. Günther \ 4. Dennis \ 5. Vergne \ 6. Müller \ 7. Nato \ 8. Sette Câmara \ 9. Wehrlein \ 10. Fenestraz (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 14 – ePrix de Roma (2) 2023

Tendo vencido na primeira prova, os olhos do paddock estavam em Mitch Evans para o dia seguinte. O piloto da Jaguar partia de 4º, com a primeira linha composta pelos seus dois rivais mais diretos (Jake Dennis e Nick Cassidy) e à sua frente o intruso Nissan de Norman Nato. Quando Evans passou Nato logo na primeira volta, todos esfregaram as mãos de contentes, com os 3 rivais do título preparados para realizarem uma corrida entre si na frente.

Mas na segunda volta terminou essa ilusão. Evans travou demasiado tarde, perdeu o controlo e levou consigo Cassidy. Estavam assim fora de combate os dois candidatos ao título com motor Jaguar, com Dennis isolado e confortável pela Andretti na frente, num dia em que Michael Andretti estava em Roma.

Dennis não teve dificuldades em triunfar depois do Safety Car, ajudado pelo facto de Nato ter conseguido eficazmente segurar durante largas porções da prova o outro Jaguar de Sam Bird.

Bird fez o terceiro pódio do ano, num dia em que os acidentados de sábado viram as suas equipas brilhantemente reparar os estragos todos, com Edoardo Mortara a fazer o melhor resultado do ano em 4º e mesmo Sébastien Buemi chegou logo atrás. Maximilian Günther e Dan Ticktum continuaram a habituar as suas equipas a pontos constantes.

Pascal Wehrlein e Stoffel Vandoorne recuperaram de 15º e 18º até 7º e 8º, respetivamente. O último ponto ficou por conta do ABT de Nico Müller.

A vitória de Dennis deixa-o com uma mão no título, com 24 pontos de vantagem sobre Cassidy em 2º quando faltam duas provas. Já nos construtores, a má temporada de André Lotterer deixa a Andretti em 4º com uma boa margem em falta, sendo a Envision a líder provisória (o que significa que na primeira temporada de Gen 3 há um sério risco de serem as privadas a levar ambos os títulos.

—–

Qualificação: 1. Dennis \ 2. Cassidy \ 3. Nato \ 4. Evans \ 5. Bird (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Dennis \ 2. Nato \ 3. Bird \ 4. Mortara \ 5. Buemi \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Ticktum \ 10. Müller (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (195) \ 2. Cassidy (171) \ 3. Evans (151) \ 4. Wehrlein (146) \ 5. Vergne (107) —– 1. Envision (253) \ 2. Porsche (239) \ 3. Jaguar (228) \ 4. Andretti (218) \ 5. DS Penske (153)

—–

Corrida anterior: ePrix Portland 2023
Corrida seguinte: ePrix Londres 2023

ePrix Roma anterior: 2022





A primeira da Maserati e a recuperação Porsche – ePrix Jakarta 2023

4 06 2023

Depois de uma pequena interrupção europeia a um calendário de 2023 particularmente internacional, a Fórmula E regressa a um país onde se estreou no ano passado: a Indonésia. A capital Jakarta recebeu desta vez uma ronda dupla, depois de ter estado como individual, no seu traçado que utiliza o subúrbio de Ancol.

O desenho do circuito citadino até nem segue os ângulos retos geralmente usados por outras pistas, caraterizada por uma longa reta da meta e secções mais sinuosas, como a das curvas 9-12 e 15, 16 e 17. Mitch Evans foi quem chegou ao país asiático como primeiro e único vencedor, tendo batido Jean-Éric Vergne e Edoardo Mortara para o fazer.

Os bastidores da organização do evento têm sido plenos em dificuldades, desde adiamentos devido à pandemia, cortes indevidos de árvores, fees pagas com valores demasiado elevadas, até várias porções do circuito terem sofrido desastres naturais (como ventos fortes a destruírem porções de bancada ou incêndios).

Nas semanas que antecederam o ePrix houve espaço para uma saída esperada e duas bem inesperadas: André Lotterer, com compromissos nas 24 Horas de Le Mans, foi temporariamente substituído na Andretti por David Beckmann; Jack Nicholls, comentador da categoria desde o seu início, viu o seu contrato terminado após uma investigação por “comportamento inapropriado” ter concluído a sua culpabilidade por incidentes ocorridos (Ben Edwards substituiu-o); e Oliver Rowland bateu com a porta na Mahindra e chegou a mútuo acordo para sair (Roberto Merhi substituiu-o).

Ronda 10 – ePrix de Jakarta (1) 2023

Fazendo uso de um traçado constantemente a levantar poeira, a Fórmula E assistiu no primeiro dos dois dias a uma prova quase pacata, considerando os usuais padrões de ultrapassagens e incidentes na categoria.

Os únicos abandonos acabaram por vir de ambos os Jaguar. Pela segunda vez este ano, Sam Bird calculou mal uma travagem e bateu em Mitch Evans, eliminando o neozelandês. Para piorar a sua situação dentro da equipa, o britânico ainda foi atrás do prejuízo tentar caçar António Félix da Costa, mas no desespero de passar fechou a porta quando não devia a Robin Frijns e acabou no muro. O briefing pós-corrida não deve ter sido fácil…

Falando em Félix da Costa, o português até fez uma boa prova de recuperação de 15º até 8º, mas já começam a ser muitas corridas em que o Porsche parte de demasiado atrás na grelha. Isto quando o colega Pascal Wehrlein continua a terminar consistentemente na frente.

Nesta corrida, aliás, foi o vencedor do ePrix, tendo conseguido ultrapassar Jake Dennis e Maximilian Günther na primeira metade da prova e na segunda defendeu-se das investidas de Dennis. Günther e o outro Maserati de Edoardo Mortara têm finalmente conseguido fazer a sua temporada verdadeiramente arrancar com pontos mais constantes (à semelhança da outra marca do grupo Stellantis, a DS Penske em 4º e 5º).

Destaque ainda para a maneira hábil como Nick Cassidy conseguiu evitar um despiste, somando pontos importantes para se manter na frente do campeonato; para Robin Frijns que conseguiu colocar a ABT nos pontos; e para a recuperação de 20º a 10º do McLaren de Jake Hughes.

—–

Qualificação: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Wehrlein \ 4. Vergne \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Günther \ 4. Vandoorne \ 5. Vergne \ 6. Mortara \ 7. Cassidy \ 8. Félix da Costa \ 9. Frijns \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 11 – ePrix de Jakarta (2) 2023

No segundo dia de ação na Indonésia, Günther aprendeu com as lições que a derrota do dia anterior lhe tinha dado. O piloto da Maserati voltou a bater a concorrência em qualificação, mas, desta vez, soube segurar os ataques de Dennis (que ainda conseguiu liderar após um período de Attack Mode) para dar à equipa italiana a sua primeira vitória na categoria (apesar de já ter ganho antes como Venturi).

O mau dia anterior de Sam Bird acabou por ter um novo capítulo no domingo, com o britânico a nem sequer partir devido a problemas mecânicos. Outro piloto que também não terá gostado nem um pouco do fim-de-semana foi Nick Cassidy, que até tinha feito bem para se manter fora de sarilhos no sábado mas perdeu a asa da frente num rival no domingo.

Tendo-se qualificado em 10º e 12º, a Nissan surpreendeu na corrida com recuperações até ao 4º e 5º lugar, numa altura em que parece inverter de forma com a cliente McLaren (que tem tido cada vez mais dificuldade em chegar aos pontos).

A Porsche concluiu um fim-de-semana positivo com 6º e 7º, ainda que Félix da Costa tenha que melhorar as suas performances em qualificação se quer almejar a algo mais do que segundo piloto de Wehrlein no que ainda falta deste ano, enquanto que Mortara garantiu uma pontuação dupla para a Maserati e Sébastien Buemi evitou que a Envision saísse sem pontos do dia.

Vale a pena ressalvar que a DS Penske pareceu perder todo e qualquer ritmo na segunda metade da prova, tendo que lutar com tudo para ainda garantir dois pontos com Vandoorne.

Os resultados de Jakarta recolocaram a Porsche no comando de ambos os campeonatos.

—–

Qualificação: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Evans \ 4. Mortara \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Evans \ 4. Fenestraz \ 5. Nato \ 6. Wehrlein \ 7. Félix da Costa \ 8. Mortara \ 9. Vandoorne \ 10. Buemi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (134) \ 2. Dennis (133) \ 3. Cassidy (128) \ 4. Evans (109) \ 5. Vergne (97) —– 1. Porsche (212) \ 2. Envision (190) \ 3. Jaguar (171) \ 4. Andretti (156) \ 5. DS Penske (139)

—–

Corrida anterior: ePrix Mónaco 2023
Corrida seguinte: ePrix Portland 2023

ePrix Jakarta anterior: 2022

—–

Fontes:
Deadline \ Jack Nicholls com contrato terminado
Grande Prêmio \ Oliver Rowland substituído por Roberto Merhi





Na Alemanha só vencem neozelandeses – ePrix Berlim 2023

23 04 2023

O Aeroporto de Tempelhof já tem um lugar reservado na História do mundo, como palco da famosa ponte aérea que os norte-americanos estabeleceram em Berlim durante a Guerra Fria, mas nos últimos anos tem-se transformado num dos mais conhecidos palcos da Fórmula E, com direito a decisões de título, provas caóticas e um traçado desafiante.

Utilizado pela primeira vez em 2015, o circuito foi alterado substancialmente a partir da sua segunda edição para a configuração atual (que até já foi corrida em sentido inverso). No seu total são 2,250 km de extensão e 10 curvas que os pilotos têm que negociar, com a vantagem de que têm os muros substancialmente mais longe do que nas outras provas da FE. As desvantagens são a falta de aderência e elevado consumo de pneus do traçado abrasivo.

Como ronda dupla novamente, Berlim surge no calendário como primeira prova europeia do ano e um mês após o ePrix de São Paulo (devido a alguns cancelamentos de última hora). Antes das provas de 2023, 3 pilotos partilhavam o maior número de vitórias (2): Sébastien Buemi, Lucas di Grassi e António Félix da Costa.

Ronda 7 – ePrix de Berlim (1) 2023

A qualificação para a primeira prova alemã trouxe duas caras bem familiares para o duelo final: Sébastien Buemi e Sam Bird competiram para no final ser Buemi quem levou a melhor (tornando-se o recordista absoluto da Fórmula E).

Na partida para a corrida, no entanto, foi Dan Ticktum quem surpreendeu toda a gente ao partir de 4º cheio de vontade, passando Buemi por fora na longa primeira curva para colocar a NIO na frente. Com a sucessão de Attack Modes acabaria por perder essa liderança, mas quando a prova ia a meio ainda estava em competição. Até que se esqueceu de verificar o exterior de uma curva onde Stoffel Vandoorne já se encontrava. O resultado foi que ambos terminaram aí os seus dias, ficando a discutir acesamente na berma da estrada.

Isto gerou um período de Safety Car, que viu os dois Jaguar e Buemi disputarem a vitória após o recomeço. Buemi, que também utilizava propulsores da Jaguar, ainda continuou a fazer o seu melhor para segurar um potencial primeiro triunfo com a Envision, mas acabou por sucumbir a um ataque bem temporizado de Mitch Evans. A última volta não ajudou: Sam Bird roubou o 2º posto de forma limpa e Maximilian Günther roubou de forma aparatosa o 3º.

O resultado final foi uma dobradinha bem saborosa para a Jaguar e um primeiro pódio para a Maserati, que deve ter deixado a antiga Venturi bem aliviada (até porque Edoardo Mortara também pontuou). Pascal Wehrlein ainda conseguiu limitar os estragos, enquanto que Nick Cassidy chegou em 5º, para mais um bom resultado conjunto da Envision em 2023.

António Félix da Costa partiu de 19º mas, a 8 voltas do fim, já tinha recuperado até ao 4º posto quando uma travagem completamente falhada por Jake Dennis atirou o homem da Andretti em cheio contra o Porsche do português e lhe terminou a prova.

—–

Qualificação: 1. Buemi \ 2. Bird \ 3. Vandoorne \ 4. Ticktum \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Günther \ 4. Buemi \ 5. Cassidy \ 6. Wehrlein \ 7. Vergne \ 8. Lotterer \ 9. Mortara \ 10. Rowland (Ver melhores momentos)

—–

Ronda 8 – ePrix de Berlim (2) 2023

Com piso molhado até ao final de qualificação, a segunda prova de Berlim trouxe como surpresa o facto de a ABT ter conseguido fechar a primeira linha da grelha para o ePrix, com o experiente Robin Frijns a vencer o colega de equipa Nico Müller na final. O tempo seco, no entanto, acabou por significar que os monolugares alemães começaram a cair ao longo da prova até que apenas Müller conseguiu pontos em 9º.

Fazendo uso do ritmo do seu Envision, acabou por ser Nick Cassidy quem conseguiu vencer em Berlim, depois de reclamações bem sonoras no rádio contra Buemi durante a qualificação. O neozelandês (mais uma triunfar na Alemanha em 2023) terminou na frente de alguém que precisava de compensar a sua terrível primeira prova: Jake Dennis.

A completar o pódio chegou Jean-Éric Vergne da DS Penske, que parece estar a ganhar embalo para o seu ritmo dos anos recentes Techeetah. Evans voltou a somar pontos importantes para se aproximar da luta pelo título, enquanto que os Porsche voltaram a fazer uma pontuação dupla em território caseiro.

A Maserati conseguiu pontuar pela segunda prova seguida, cortesia de Günther, enquanto que Ticktum compensou um pouco o disparate de sábado ao amealhar o último lugar pontuável de domingo.

De destacar ainda a interrupção momentânea da partida devido a protestantes que entraram em pista e tentaram interromper os procedimentos, apesar de terem sido corridos do traçado com alguma rapidez pelos seguranças. Os protestantes pelo clima conseguiram a proeza de interromper um evento de veículos elétricos que se orgulha do seu estatuto carbon neutral

—–

Qualificação: 1. Frijns \ 2. Müller \ 3. Buemi \ 4. Vergne \ 5. Evans (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Vergne \ 4. Evans \ 5. Félix da Costa \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Müller \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (100) \ 2. Cassidy (96) \ 3. Vergne (81) \ 4. Dennis (80) \ 5. Evans (76) —– 1. Porsche (168) \ 2. Envision (153) \ 3. Jaguar (138) \ 4. DS Penske (107) \ 5. Andretti (103)

—–

Corrida anterior: ePrix São Paulo 2023
Corrida seguinte: ePrix Mónaco 2023

ePrix Berlim anterior: 2022
ePrix Berlim seguinte: 2024