Porsche com [quase] vitória dupla – ePrix Misano 2024

14 04 2024

Depois de um acidente em cadeia na prova do ano anterior e de críticas de anos recentes, a Fórmula E viu-se mesmo colocada na posição de ter que deixar cair uma das suas provas mais populares em Roma. Enquanto os organizadores tentam descobrir uma alternativa em território romano, a categoria optou por não perder a ligação a Itália e organizou em conjunto com o circuito de Misano um ePrix alternativo.

Palco habitual do GP de San Marino do MotoGP, Misano dificilmente recolheu grande entusiasmo ao ser anunciado. Território extremamente plano, traçado sinuoso e descrito como não particularmente inspirador de conduzir, o circuito ainda tinha a desvantagem de ser uma adição de circuito permanente a uma categoria que pretendia definir-se como casa de circuitos citadinos.

Fundado em 1972, foram as motas que desde cedo deram proeminência a Misano e que o forçaram a realizar alterações quando foi alongado para cumprir a distância mínima obrigatória do mundial de motas (1993). Pequenas modificações adicionais foram sendo realizadas durante os anos seguintes, desde melhorias dos complexos de boxes até apertar a segunda curva.

Ronda 6 – ePrix de Misano (1) 2024

Com um vencedor diferente em cada uma das provas iniciais, havia a expectativa de saber, a continuar a tendência, quem seria o “estreante” seguinte para a lista.

Mitch Evans (Jaguar) bateu Jean-Éric Vergne (DS Penske) na final de qualificação, com a surpresa principal a ser a intrusão do ABT de Nico Müller nas meias-finais. António Félix da Costa (Porsche) em 13º e Jake Dennis (Andretti) em 18º foram os pilotos do pelotão da frente mais deslocados, e que teriam enormes provas pela frente.

Desde o primeiro momento que Misano provou ser uma prova de caos completo, até mesmo pelos padrões da Fórmula E. Uma pista mais larga que o usual e a tentação dos vários pilotos em segurar posição para não liderar significaram que a mobilidade de posições era de uma enormidade gritante. Oliver Rowland (Nissan) provou isto ao navegar quase livremente entre 12º e 1º ao longo da corrida.

O contacto entre pilotos, até por padrões FE, foi elevado, com Vergne a terminar a sua prova em 7º com uma asa dianteira torta e um dos apêndices traseiros em falta. E houve outros pilotos que terminaram a sua prova mais cedo com o mesmo problema (como Nick Cassidy da Jaguar).

No geral, os líderes sucederam-se mas os grandes destaques foram Félix da Costa, Rowland e Dennis. Os três, juntamente com Vergne, começaram a escapar-se ao pelotão de trás até que Vergne serviu de tampão a Dennis nas voltas finais e Félix da Costa começou a gastar a energia extra armazenada que tinha para segurar o ataque final de Rowland. Um emocionado português festejou efusivamente, naquilo que foi um relançar do seu campeonato. Ou seria, não tivesse sido desclassificado várias horas após o fim da corrida e quando a própria categoria já tinha igualmente efusivamente partilhado fotos do piloto a festejar…

A causa foi uma peça do acelerador de Félix da Costa não estar em conformidade com os regulamentos e promoveu Rowland à sua primeira vitória do ano com a Nissan. Dan Ticktum brilhou com o seu ERT (quando tinha começado 16º), acabando logo atrás de Maximilian Günther (Maserati). Melhor sorte que Sette Câmara que foi penalizado em 50 segundos por consumo excessivo.

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Qualificação: 1. Evans \ 2. Vergne \ 3. Wehrlein \ 4. Müller \ 5. Rowland (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Rowland \ 2. Dennis \ 3. Günther \ 4. Ticktum \ 5. Evans \ 6. Vergne \ 7. Nato \ 8. Vandoorne \ 9. Fenestraz \ 10. di Grassi (Ver melhores momentos)

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Ronda 7 – ePrix de Misano (2) 2024

Ainda de ressaca da eliminação da prova anterior e com a Porsche a defender o seu piloto da desclassificação, a marca alemã chegou ao domingo desertinha de vingar-se da derrota na secretaria que lhe fora imposta. Mas para isto não pôde contar com Félix da Costa, que viu a sua melhor tentativa de qualificação ser eliminada, partindo de último, recuperando até 11º, e acabando por perder a asa da frente na confusão e terminando em último…

Assim, coube a Wehrlein representar a marca de Estugarda numa luta pela vitória que novamente se quedou principalmente com o Andretti de Dennis, com participação especial do Jaguar de Cassidy. Wehrlein segurou os rivais para vencer em Misano, enquanto que Rowland (que andou nos lugares da frente novamente) se viu sem energia na penúltima volta e abdicou da possibilidade de sair líder destacado de Itália.

Assim, quem conseguiu terminar em 4º lugar foi Nico Müller, que ao contrário de no sábado conseguiu segurar rivais com equipamento consideravelmente melhor para dar pontos preciosos à ABT. Sacha Fenestraz desta vez conseguiu estar uns furos mais próximo do ritmo do seu líder de equipa Nissan (Rowland), seguido de perto de Sérgio Sette Câmara que completou um fim-de-semana positivo para a ERT.

A McLaren voltou a provar que simplesmente não tem ritmo de corrida comparável ao seu de qualificação, com destaque para o facto de Jake Hughes ter caído de pole até 8º lugar, seguido de um Jehan Daruvala a pontuar pela primeira vez este ano e do colega de equipa Sam Bird.

O campeonato permanece mais interessante que nunca, ainda que dificilmente a reputação da categoria tenha evitado um golpe depois de mais uma desclassificação de um piloto vitorioso por motivos supérfluos.

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Qualificação: 1. Hughes \ 2. Vergne \ 3. Wehrlein \ 4. Müller \ 5. Bird (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Cassidy \ 4. Müller \ 5. Fenestraz \ 6. Sette Câmara \ 7. Vergne \ 8. Hughes \ 9. Daruvala \ 10. Bird (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (89) \ 2. Dennis (89) \ 3. Rowland (80) \ 4. Cassidy (76) \ 5. Günther (63) —– 1. Jaguar (128) \ 2. Andretti (112) \ 3. Porsche (109) \ 4. Nissan (100) \ 5. DS Penske (75)

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Maserati atira-se à luta pelo título – ePrix Tóquio 2024

30 03 2024

O sonho dos organizadores da Fórmula E para um ePrix japonês na capital são antigos, tão antigos quanto a própria categoria. O tradicional conservadorismo japonês relativo a inovações, a preocupação com perturbar o trânsito no país, a ambivalência da Câmara da cidade, tudo levou a avanços e recuos permanentes nas negociações para a criação da prova.

Mas 2024, com a ajuda de já ter visto em ação a categoria em locais como Jakarta, Tóquio faz a sua primeira aparição na FE. A pista será centrado no Centro de Exibições Internacional de Tóquio e fará também uso de estradas regulares, numa clara inspiração pela estratégia já utilizada por Londres na sua própria prova.

A verdadeira atração principal será a proximidade do centro de uma das mais famosas cidades do mundo, que também trará uma prova caseira para a Nissan na categoria (que anunciou alguns dias antes, o seu comprometimento com continuar na categoria para além desta geração).

ABT e Porsche viram as suas negociações não chegarem a bom porto, enquanto que a Lola e Yamaha já anunciaram a sua aliança para uma estreia na Fórmula E em 2025.

Ronda 5 – ePrix de Tóquio 2024

Desde o princípio do fim-de-semana que dava para ver que a Maserati tinha em Maximilian Günther um sério candidato a obter pela primeira vez a vitória em 2024. O alemão tinha feito o seu caminho em qualificação, liderando o seu grupo e depois encaminhando-se até à final. O duelo com o Nissan da casa de Oliver Rowland foi uma competição incrivelmente renhida, que terminou com 24 milésimas de segundo de vantagem sobre Günther.

Um contratempo piorado por uma partida mais fraca para a corrida, em que Edoardo Mortara (Mahindra) conseguiu ultrapassá-lo. Com um ritmo forte no seu Maserati, Günther teve uma prova de paciência pela frente, acabando por conseguir em diferentes momentos ultrapassar primeiro Mortara e depois Rowland para vencer o primeiro ePrix de Tóquio.

Rowland dificilmente terá ficado demasiado preocupado. Regressado à Nissan este ano, o britânico acumula dois pódios consecutivos que o deixam a apenas 9 pontos do novo líder do campeonato (Pascal Wehrlein da Porsche) e ajudam a Nissan a subir a 4ª no campeonato de equipas.

Wehrlein, vencedor da primeira prova do ano, tem conseguido pontuar em todas as restantes provas, parecendo estar a adotar uma estratégia de consistência que o viu terminar em 5º e recuperar a liderança do campeonato. O colega, António Félix da Costa, passou a prova dele bem próximo e até ameaçou conseguir um pódio, só que não escolheu o melhor momento de atacar Rowland, sendo novamente passado por Jake Dennis (Andretti), sendo 4º no final.

Norman Nato (Andretti) terminou 6º, enquanto que a segunda linha da grelha (Mortara e Sergio Sette Câmara [ERT]) teve vida bem mais difícil na corrida. Mortara não viu a bandeira de xadrez, enquanto que Sette Câmara viu a falta de ritmo da ERT explorada a fundo pelos rivais (mas conseguindo ainda segurar o último ponto).

Nick Cassidy (Jaguar) acabou por minimizar os estragos de uma qualificação em 19º ao chegar em 8º, especialmente importante dado o abandono do colega Mitch Evans que perdeu a frente quando arriscou em demasia numa manobra de ultrapassagem. Destaque ainda para a forma como Nico Müller se qualificou e classificou em 7º, permitindo à ABT abrir a conta do ano (antes mesmo da fornecedora de propulsores, a Mahindra).

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Qualificação: 1. Rownlad \ 2. Günther \ 3. Mortara \ 4. Sette Câmara \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Günther \ 2. Rowland \ 3. Dennis \ 4. Félix da Costa \ 5. Wehrlein \ 6. Nato \ 7. Müller \ 8. Cassidy \ 9. Frijns \ 10. Sette Câmara (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (63) \ 2. Cassidy (61) \ 3. Rowland (54) \ 4. Dennis (53) \ 5. Günther (48) —– 1. Jaguar (100) \ 2. Porsche (83) \ 3. Andretti (70) \ 4. Nissan (62) \ 5. DS Penske (57)

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Corrida seguinte: ePrix Misano 2024

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Fontes:
FE \ Nissan junta-se à Gen 4
Grande Prêmio \ Porsche e ABT não se entendem
Motorsport BR \ Lola e Yamaha juntam-se em 2025
Racing Circuits \ Tóquio





O décimo round da Fórmula E

7 01 2024

A décima temporada da história da Fórmula E começa dentro de uma semana e é seguro dizer que desde a primeira temporada que não se questionava de forma tão aberta o caminho que a categoria tem vindo a seguir.

A remoção de Roma do calendário por troca com um circuito permanente como Misano foi comunicada como uma ótima novidade, mas recebida com consternação. Sendo normal haverem substituições temporárias nas pistas, não escapou a ninguém que Portland está a começar a ter um ar permanente quando deveria ser um mero substituto provisório de Nova Iorque. Cidade do Cabo, Hiderabade e Jakarta caíram do ano passado para este. A China, palco da primeira corrida da categoria, está de regresso no circuito permanente de Shanghai.

Algumas das estruturas já fizeram saber que não apreciam que das 10 localizações do próximo ano tenhamos 4 em circuitos regulares em vez de citadinos. Quando a FE se tem conseguido destacar positivamente pela presença massiva de construtoras automóveis (depois do susto da saída de Audi e Mercedes), fariam bem em perceber as queixas. Dois dias de testes de pré-temporada interrompidos por um estranho incêndio de garagem também causaram estranheza.

Nem tudo são más notícias. O título mundial de Jake Dennis foi popular dentro do paddock e conseguido apenas na última ronda dupla, por uma equipa privada, reanimando os ânimos de que é possível a quase qualquer estrutura (com o orçamento e capacidade técnica certos, claro) conseguir ser bem-sucedida na categoria elétrica.

E corridas de pelotão à parte, houve momentos altos da ação em pista dos novos Fórmula E de 3ª geração em 2023. O segundo ano promete mais.

Que vida para os protagonistas de 2023?

Se haviam dúvidas sobre como Porsche e Jaguar lidariam com verem as suas clientes (Andretti e Envision, respetivamente) baterem-nas, a resposta parece ter sido simples: consolidação. A Porsche manteve a sua dupla de Pascal Wehrlein e António Félix da Costa, tentando saber manter o ritmo de desenvolvimento do seu motor elétrico. A Jaguar segurou Mitch Evans e foi “roubar” Nick Cassidy à sua cliente, procurando ter dois pilotos fortes no seu seio.

A julgar pelos testes, em que ficaram com o Top 3 da classificação em Valência, promete dar certo a sua aposta. Para Andretti e Envision, trata-se agora de uma questão de conseguir não perder o “comboio” que têm vindo a utilizar desde o início do ano passado (e até um pouco antes).

A Andretti tem como trunfo o campeão em título (Jake Dennis) e foi buscar Norman Nato à Nissan, de forma substituir o errático André Lotterer. Nos testes a aclimatização não foi inteiramente ideal, com um 9º e 12º lugares. Já a Envision perdeu o seu melhor trunfo, mas manteve um rejuvenescido Sébastien Buemi e foi buscar um ex-piloto sob a forma de Robin Frijns. Ambos colocaram-se no Top 10 de Valência.

O meio da tabela

Atrás destas 4 equipas ficaram duas estruturas do grupo Stellantis, que apostam em continuidade. A DS teve um primeiro ano moderadamente positivio com a Penske e a dupla de campeões manter-se-á em 2024 (Jean-Éric Vergne e Stoffel Vandoorne) à espera de melhores oportunidades.

Já a colega Maserati, também em primeira ano de parceria (com a Venturi) teve que proceder a alterações inesperadas. Edoardo Mortara, de pedra e cal há vários anos, teve que sair por uma completa incapacidade em obter resultados relevantes (será substituído pelo estreante Jehan Daruvala) e Maximilian Günther apanhou todo o paddock de surpresa com um brilhante ano (recompensado pela sua manutenção).

Os testes foram inconclusivos para ambas.

Já a Nissan e a sua cliente McLaren chegam com ambições mistas para 2024. A Nissan fez uma cópia da Envision, por assim dizer: perdeu o seu piloto principal (Nato) e segurou a prata da casa (Sacha Fenestraz), indo buscar um ex-piloto da sua casa que já viu melhores dias (Oliver Rowland, que regressa amassado da sua experiência na Mahindra).

A McLaren, a usar motores dos japoneses, até tinha começado bem 2023 (ou não fosse a “reencarnação” da estrutura oficial da Mercedes) mas foi perdendo ritmo ao longo do ano. Começar bem 2024 é prioritário, sendo por isso que foram buscar um experiente Sam Bird para acompanhar um Jake Hughes que fez boa figura na sua estreia de laranja no ano passado.

Rowland foi o único a conseguir colocar-se no Top 10 nos testes, mas os sinais não foram maus.

Quem precisa de reformular tudo

Assim, sobra quem teve anos terríveis em 2023. Ou, pelo menos, continuações de períodos de performances pouco impressionantes.

A grande derrotada foi mesmo a Mahindra, que percebeu que seriam necessárias alterações enormes. A primeira preocupação é garantir que não volta a suceder nada com a gravidade da falha do sistema de suspensão da Cidade do Cabo, ainda que as regras de homologação de monolugar lhes possa dificultar a vida. Não foi por acaso que perderam ambos os pilotos, com Lucas di Grassi a terminar o seu contrato antes de tempo.

Para 2024 apostaram numa dupla de pilotos que ao longo do último ano deixaram bastante a desejar em 2023 mas que quer voltar a mostrar serviço: Edoardo Mortara, que se perdeu na Maserati, e Nyck de Vries, que nunca se encontrou na F1 com a AlphaTauri. O talento dos dois é mais que suficiente, no entanto resta ver como se recuperam. O Top 10 nos testes de Mortara é um sinal positivo.

Já a ABT deve estar arrependido de se ter “atrelado” à Mahindra no seu regresso à FE, contudo manteve os préstimos de Nico Müller e foi buscar o experiente campeão Lucas di Grassi para relançar-se com novo fôlego para 2024.

A NIO, que passou a ERT, manteve a sua dupla (Dan Ticktum e Sérgio Sette Câmara) e procurará fazer de um 2023 em que voltou a pontuar com mais frequência uma base para almejar regressar a uma posição mais forte em 2024.





Dennis e Envision campeões – ePrix Londres 2023

31 07 2023

Tendo em conta as dificuldades que o original circuito de Battersea em Londres teve para criar uma presença da Fórmula E, desde a oposição fortíssima da população local até a uma curva com ressalto que danificava os carros, não deixa de ser curiosa a facilidade com que a pista do ExCeL se conseguiu destacar entre as anfitriãs do calendário.

O pavilhão ExCeL em Londres, habitualmente palco de exposições ao lado do Rio Tamisa, seria o anfitrião da categoria num traçado misto (metade debaixo da cobertura do ExCeL e metade no exterior). A localização ser próxima ao aeroporto e bons acessos a transportes públicos completaram o quadro ambientalista tão prezado pela categoria.

O traçado tem uma grande variedade de superfícies diferentes (com aderências diferentes), com dificuldades acrescidas em caso de chuva (metade com piso molhado e metade seco). A passagem de iluminação artificial para natural dá grandes dificuldades às câmaras, mas os pilotos não se têm queixado.

Ronda 15 – ePrix de Londres (1) 2023

Tendo provocado o incidente que eliminou Nick Cassidy da corrida em Roma, Mitch Evans acabou por ver a sua pole position de Londres não poder ser convertida em nada mais que 6º na grelha de partida. A melhor posição do pelotão coube, ironicamente, a Cassidy com o rival Jake Dennis e o colega Sébastien Buemi logo a seguir.

Estava a ser uma interessante prova entre os rivais até que a progressão natural dos Attack Modes levou Cassidy a estar atrás de Buemi. O neozelandês tentou ultrapassar por diversas vezes mas o suíço não facilitou. Após a prova, Buemi queixou-se de não ter recebido instruções sobre como proceder. O certo é que Cassidy acabou a danificar a frente, abandonando e sendo visto a trocar palavras azedas na garagem (até remover a câmara de TV do caminho).

Sem o rival mais direto, Dennis ainda tinha que se preocupar com o novo líder, Evans. Fazendo uso do rádio, o britânico não teve pudor em referir que se a Porsche (fornecedora de motores da Andretti) queria a ajuda dele no dia seguinte (para o mundial de construtores) o deveria ajudar na corrida. Michael Andretti terá inclusive ido à box da Porsche fazer o mesmo.

Os Porsche não pareceram demasiado interessados, especialmente António Félix da Costa que partiu de 17º mas foi recuperando terreno a pulso até estar entre os dois candidatos ao título em 2º nas voltas finais.

Depois foram necessárias duas bandeiras vermelhas, uma para um acidente de Sacha Fenestraz, a outra para um colossal engarrafamento de 4º para baixo. No final venceu um taciturno Evans, ainda a pensar na manobra de Roma, seguido de um efusivo campeão recém-coroado Dennis e de um frustrado Buemi, ainda a pensar na manobra que eliminou Cassidy.

Félix da Costa tinha acabado originalmente em 2º, mas acabou penalizado 3 minutos por ter pressões demasiado baixas num dos seus pneus quando terminou. A Porsche sinalizou que irá apelar a decisão, com o português a ironizar perguntando se Lewis Hamilton foi penalizado por pressão insuficiente no GP Reino Unido de 2020 (quando cruzou a linha sem um pneu).

Lucas di Grassi e Dan Ticktum voltaram a mostrar porque foram os talismãs das suas equipas nas posições finais do campeonato, enquanto que Sam Bird e Edoardo Mortara completaram o Top 5.

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Qualificação: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Buemi \ 4. Ticktum \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Dennis \ 3. Buemi \ 4. Bird \ 5. Mortara \ 6. di Grassi \ 7. Ticktum \ 8. Nato \ 9. Wehrlein \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)

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Ronda 16 – ePrix de Londres (2) 2023

Com um título decidido e uma chuva torrencial a cair na metade do circuito londrino que estava no exterior, o ePrix final do ano precisou de à volta de uma hora de pilotos parados a matar tempo para finalmente começar a ação em pista.

E quando esta começou… quase não houve ação em pista. Com metade do asfalto seca e a outra metade molhada, a maior parte dos pilotos optou por uma abordagem de cautela extrema, o que invalidou as possibilidades de termos uma tradicionalmente caótica prova de Fórmula E.

Cassidy fez pole e desta vez soube liderar sem percalsos, seguido sempre de bem perto por Evans. Os dois carros de motorização Jaguar afastaram-se a passos largos do resto da grelha, beneficiando de Norman Nato servir de tampão para os restantes (pelo menos até Dennis o passar para completar o pódio). Com Buemi na frente de Bird, a Envision triunfou no campeonato de equipas, significando que foram equipas-clientes as vencedoras de ambos os títulos.

Nico Müller ajudou a ABT a ser última classificada, é certo, mas com uns respeitáveis 21 pontos na estreia. Ticktum conseguiu mais dois pontinhos para a NIO. O resultado final do ano mostrou que as 4 equipas com propulsores Jaguar e Porsche ficaram nos 4 primeiros.

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Qualificação: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Nato \ 4. Dennis \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Dennis \ 4. Nato \ 5. Vandoorne \ 6. Buemi \ 7. Bird \ 8. Müller \ 9. Ticktum \ 10. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (229) \ 2. Cassidy (199) \ 3. Evans (197) \ 4. Wehrlein (149) \ 5. Vergne (107) —– 1. Envision (304) \ 2. Jaguar (292) \ 3. Andretti (252) \ 4. Porsche (242) \ 5. DS Penske (163)

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Corrida anterior: ePrix Roma 2023

ePrix Londres anterior: 2022





Evans no seu melhor e pior – ePrix Roma 2023

16 07 2023

Com posição usual nas primeiras rondas do campeonato, Roma viu-se colocado na reta final de 2023. Ronda bastante popular entre os pilotos, mudou em 2021 de traçado para aquele que atualmente é usado, procurando perturbar menos o trânsito da cidade e passando por zonas ao redor do Obelisco di Marconi (com um traçado com várias ondulações, elevações e superfícies).

O recordista de vitórias no circuito é Mitch Evans, por larga margem. Em 2022, o neozelandês conseguiu a proeza de vencer ambas as provas da ronda dupla, sobrepondo-se a Robin Frijns e Jean-Éric Vergne nas duas. Foi o início de um percurso notável do homem da Jaguar na temporada, que os rivais procurariam contrariar na edição deste ano.

Roma possui algumas caraterísticas de distinção em relação a outras provas, como curvas de raio variável ou curvas de relativamente alta velocidade, para além dos benefícios mais gerais que a Fórmula E dá aos seus anfitriões de forma indireta (por exemplo, a requalificação do asfalto).

Ronda 13 – ePrix de Roma (1) 2023

Com previsões de calor extremamente elevado para o fim-de-semana em Itália, era expectável assistir a diversas falhas mecânicas ao longo das provas, mas a primeira de todas acabaria por trazer um atrito muito elevado mas a nível de erros de pilotagem. Sam Bird (que completara uma primeira linha Jaguar em qualificação) fez um pequeno erro que o deixou no meio da pista, acabando colhido primeiro por Sébastien Buemi e depois Edoardo Mortara com mais gravidade. A bandeira vermelha saiu de imediato, mas entretanto já alguns outros pilotos como Stoffel Vandoorne ou António Félix da Costa tinham também ido para casa mais cedo, batendo no muro para evitar o Jaguar.

Quem se escapou bem foram os candidatos ao título. Mitch Evans dominou a seu bel-prazer no sábado, com direito a pole position e vitória, compensando os desaires em que não teve culpa própria no início do ano. Nick Cassidy completou (mais uma) dobradinha de neo-zelandeses e subiu novamente à liderança do campeonato, enquanto que Maximilian Günther voltou a ser pouco característico comparado com outras temporadas e mostrou uma excelente aptidão para escapar a sarilhos e foi 3º.

Jake Dennis e Sacha Fenestraz terminaram as suas provas algo frustrados, tendo estado em posições de liderança antes de caírem com uma gestão de energia duvidosa das suas equipas. As invulgares posições de Nico Müller e Sergio Sette Câmara são explicadas pelos vários abandonos, contribuíndo para que ABT e NIO, respetivamente, somassem pontos.

Jean-Éric Vergne terminou 5º e Norman Nato 7º, num dia em que o calor apenas se notou na transmissão devido ao barulho que se fazia sentir pelo paddock dos grilos nas zonas com árvores…

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Qualificação: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Fenestraz \ 4. Buemi \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Cassidy \ 3. Günther \ 4. Dennis \ 5. Vergne \ 6. Müller \ 7. Nato \ 8. Sette Câmara \ 9. Wehrlein \ 10. Fenestraz (Ver melhores momentos)

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Ronda 14 – ePrix de Roma (2) 2023

Tendo vencido na primeira prova, os olhos do paddock estavam em Mitch Evans para o dia seguinte. O piloto da Jaguar partia de 4º, com a primeira linha composta pelos seus dois rivais mais diretos (Jake Dennis e Nick Cassidy) e à sua frente o intruso Nissan de Norman Nato. Quando Evans passou Nato logo na primeira volta, todos esfregaram as mãos de contentes, com os 3 rivais do título preparados para realizarem uma corrida entre si na frente.

Mas na segunda volta terminou essa ilusão. Evans travou demasiado tarde, perdeu o controlo e levou consigo Cassidy. Estavam assim fora de combate os dois candidatos ao título com motor Jaguar, com Dennis isolado e confortável pela Andretti na frente, num dia em que Michael Andretti estava em Roma.

Dennis não teve dificuldades em triunfar depois do Safety Car, ajudado pelo facto de Nato ter conseguido eficazmente segurar durante largas porções da prova o outro Jaguar de Sam Bird.

Bird fez o terceiro pódio do ano, num dia em que os acidentados de sábado viram as suas equipas brilhantemente reparar os estragos todos, com Edoardo Mortara a fazer o melhor resultado do ano em 4º e mesmo Sébastien Buemi chegou logo atrás. Maximilian Günther e Dan Ticktum continuaram a habituar as suas equipas a pontos constantes.

Pascal Wehrlein e Stoffel Vandoorne recuperaram de 15º e 18º até 7º e 8º, respetivamente. O último ponto ficou por conta do ABT de Nico Müller.

A vitória de Dennis deixa-o com uma mão no título, com 24 pontos de vantagem sobre Cassidy em 2º quando faltam duas provas. Já nos construtores, a má temporada de André Lotterer deixa a Andretti em 4º com uma boa margem em falta, sendo a Envision a líder provisória (o que significa que na primeira temporada de Gen 3 há um sério risco de serem as privadas a levar ambos os títulos.

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Qualificação: 1. Dennis \ 2. Cassidy \ 3. Nato \ 4. Evans \ 5. Bird (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Dennis \ 2. Nato \ 3. Bird \ 4. Mortara \ 5. Buemi \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Ticktum \ 10. Müller (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (195) \ 2. Cassidy (171) \ 3. Evans (151) \ 4. Wehrlein (146) \ 5. Vergne (107) —– 1. Envision (253) \ 2. Porsche (239) \ 3. Jaguar (228) \ 4. Andretti (218) \ 5. DS Penske (153)

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Corrida seguinte: ePrix Londres 2023

ePrix Roma anterior: 2022





Brilhantes Dennis e Cassidy – ePrix Portland 2023

25 06 2023

É caso possivelmente inédito que um circuito seja construído sobre as ruínas de uma cidade, mas é precisamente essa a história do Portland International Raceway. Vanport tinha sido construída para dar alojamento a trabalhadores de docas e cresceu de forma rápida até ser a segunda cidade mais populosa do Estado do Oregon. Só que a localização em terras baixas, a proximidade ao rio Columbia e um dique que não conseguiu resistir a chuvas fortes levaram à submersão total da localização, levaram ao abandono de Vanport.

Fazendo uso da rede de estradas ainda presentes, após a compra do local por Portland em 1960, o circuito foi sendo alterado ao longo da década até serem abertas instalações de circuito permanente e o layout passar a ser bem similar ao dos nossos dias.

Com visitas de NASCAR e IndyCar em anos recentes, a Fórmula E visitou a ponto oposta dos EUA em comparação com o usual pelo simples motivo de que Nova Iorque está com obras na zona de Brooklyn, e Alejandro Agag e companhia preferiram organizar uma prova americana durante apenas 1 ano ao invés de simplesmente não passarem pelo país.

Visitas a circuitos permanentes são uma raridade na FE, ainda que alterações de colocação de muros próximos ao traçado tenham sido realizadas (tal como em Valência há dois anos).

Ronda 12 – ePrix de Portland 2023

Numa pista mais larga que o usual, Nick Cassidy conseguiu, de forma brilhante, recuperar a iniciativa no campeonato ao conseguir compensar uma qualificação mediana (10º) com uma prestação brilhante de gestão de ritmo de corrida que o deixou com a vitória final, apesar das melhores tentativas dos rivais.

Esses rivais acabaram por ser Jake Dennis e António Félix da Costa. Dennis partiu de pole position mas estava algo irritado na conferência de imprensa com o facto de que o atual modelo de gestão de energia significar que a liderança é o pior local para estar durante a maioria da prova. Ainda assim, fez uma ótima ultrapassagem sobre Félix da Costa para garantir o 2º posto.

Félix da Costa partiu de 7º, chegou a cair para 10º, mas também liderou algumas das voltas finais: o português fez o melhor uso possível da má qualificação do colega Pascal Wehrlein (que era suposto ajudar no campeonato) para lutar à vontade pela corrida, o que o ajudou a reaproximar-se do 5º no campeonato (Jean-Éric Vergne).

Vergne foi uma das “vítimas” de uma quebra grave das regras por parte da DS Penske: a estrutura foi apanhada a utilizar um scanner RFID capaz de obter dados sobre os carros de outras equipas, o que lhes valeu a desqualificação e uma multa de 25 mil euros (apesar de a equipa insistir que não queria roubar informação).

No geral, foi uma prova muito móvel, uma vez que os pilotos ficaram com classificações bem diferentes entre qualificação e corrida. Mitch Evans e Sébastien Buemi catapultaram-se de 20º e 16º para 4º e 5º, respetivamente. Wehrlein recuperou de 18º a 8º. E Lucas di Grassi conseguiu ajudar a Mahindra a recuperar do seu mau momento, com a obtenção de pontos que não obtinha desde a primeira prova do ano.

Em sentido inverso, a Nissan voltou a não conseguir ajustar o balanço entre brilharetes de qualificação com medíocre ritmo de corrida. Norman Nato ainda salvou dois pontos enquanto Sacha Fenestraz se envolveu num incidente que lhe danificou a asa dianteira.

Maximilian Günther foi dos raros casos de um piloto que quase manteve posição, e Robin Frijns resgatou um ponto para a ABT.

Destaque ainda para o abandono aparatoso de Nico Müller (que provocou Safety Car).

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Qualificação: 1. Dennis \ 2. Fenestraz \ 3. Nato \ 4. Rast \ 5. Günther (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Félix da Costa \ 4. Evans \ 5. Buemi \ 6. Günther \ 7. di Grassi \ 8. Wehrlein \ 9. Nato \ 10. Frijns (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (154) \ 2. Cassidy (153) \ 3. Wehrlein (138) \ 4. Evans (122) \ 5. Vergne (97) —– 1. Porsche (231) \ 2. Envision (225) \ 3. Jaguar (184) \ 4. Andretti (177) \ 5. DS Penske (139)

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Fontes:
Racing Circuits \ Portland





Na Alemanha só vencem neozelandeses – ePrix Berlim 2023

23 04 2023

O Aeroporto de Tempelhof já tem um lugar reservado na História do mundo, como palco da famosa ponte aérea que os norte-americanos estabeleceram em Berlim durante a Guerra Fria, mas nos últimos anos tem-se transformado num dos mais conhecidos palcos da Fórmula E, com direito a decisões de título, provas caóticas e um traçado desafiante.

Utilizado pela primeira vez em 2015, o circuito foi alterado substancialmente a partir da sua segunda edição para a configuração atual (que até já foi corrida em sentido inverso). No seu total são 2,250 km de extensão e 10 curvas que os pilotos têm que negociar, com a vantagem de que têm os muros substancialmente mais longe do que nas outras provas da FE. As desvantagens são a falta de aderência e elevado consumo de pneus do traçado abrasivo.

Como ronda dupla novamente, Berlim surge no calendário como primeira prova europeia do ano e um mês após o ePrix de São Paulo (devido a alguns cancelamentos de última hora). Antes das provas de 2023, 3 pilotos partilhavam o maior número de vitórias (2): Sébastien Buemi, Lucas di Grassi e António Félix da Costa.

Ronda 7 – ePrix de Berlim (1) 2023

A qualificação para a primeira prova alemã trouxe duas caras bem familiares para o duelo final: Sébastien Buemi e Sam Bird competiram para no final ser Buemi quem levou a melhor (tornando-se o recordista absoluto da Fórmula E).

Na partida para a corrida, no entanto, foi Dan Ticktum quem surpreendeu toda a gente ao partir de 4º cheio de vontade, passando Buemi por fora na longa primeira curva para colocar a NIO na frente. Com a sucessão de Attack Modes acabaria por perder essa liderança, mas quando a prova ia a meio ainda estava em competição. Até que se esqueceu de verificar o exterior de uma curva onde Stoffel Vandoorne já se encontrava. O resultado foi que ambos terminaram aí os seus dias, ficando a discutir acesamente na berma da estrada.

Isto gerou um período de Safety Car, que viu os dois Jaguar e Buemi disputarem a vitória após o recomeço. Buemi, que também utilizava propulsores da Jaguar, ainda continuou a fazer o seu melhor para segurar um potencial primeiro triunfo com a Envision, mas acabou por sucumbir a um ataque bem temporizado de Mitch Evans. A última volta não ajudou: Sam Bird roubou o 2º posto de forma limpa e Maximilian Günther roubou de forma aparatosa o 3º.

O resultado final foi uma dobradinha bem saborosa para a Jaguar e um primeiro pódio para a Maserati, que deve ter deixado a antiga Venturi bem aliviada (até porque Edoardo Mortara também pontuou). Pascal Wehrlein ainda conseguiu limitar os estragos, enquanto que Nick Cassidy chegou em 5º, para mais um bom resultado conjunto da Envision em 2023.

António Félix da Costa partiu de 19º mas, a 8 voltas do fim, já tinha recuperado até ao 4º posto quando uma travagem completamente falhada por Jake Dennis atirou o homem da Andretti em cheio contra o Porsche do português e lhe terminou a prova.

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Qualificação: 1. Buemi \ 2. Bird \ 3. Vandoorne \ 4. Ticktum \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Günther \ 4. Buemi \ 5. Cassidy \ 6. Wehrlein \ 7. Vergne \ 8. Lotterer \ 9. Mortara \ 10. Rowland (Ver melhores momentos)

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Ronda 8 – ePrix de Berlim (2) 2023

Com piso molhado até ao final de qualificação, a segunda prova de Berlim trouxe como surpresa o facto de a ABT ter conseguido fechar a primeira linha da grelha para o ePrix, com o experiente Robin Frijns a vencer o colega de equipa Nico Müller na final. O tempo seco, no entanto, acabou por significar que os monolugares alemães começaram a cair ao longo da prova até que apenas Müller conseguiu pontos em 9º.

Fazendo uso do ritmo do seu Envision, acabou por ser Nick Cassidy quem conseguiu vencer em Berlim, depois de reclamações bem sonoras no rádio contra Buemi durante a qualificação. O neozelandês (mais uma triunfar na Alemanha em 2023) terminou na frente de alguém que precisava de compensar a sua terrível primeira prova: Jake Dennis.

A completar o pódio chegou Jean-Éric Vergne da DS Penske, que parece estar a ganhar embalo para o seu ritmo dos anos recentes Techeetah. Evans voltou a somar pontos importantes para se aproximar da luta pelo título, enquanto que os Porsche voltaram a fazer uma pontuação dupla em território caseiro.

A Maserati conseguiu pontuar pela segunda prova seguida, cortesia de Günther, enquanto que Ticktum compensou um pouco o disparate de sábado ao amealhar o último lugar pontuável de domingo.

De destacar ainda a interrupção momentânea da partida devido a protestantes que entraram em pista e tentaram interromper os procedimentos, apesar de terem sido corridos do traçado com alguma rapidez pelos seguranças. Os protestantes pelo clima conseguiram a proeza de interromper um evento de veículos elétricos que se orgulha do seu estatuto carbon neutral

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Qualificação: 1. Frijns \ 2. Müller \ 3. Buemi \ 4. Vergne \ 5. Evans (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Vergne \ 4. Evans \ 5. Félix da Costa \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Müller \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (100) \ 2. Cassidy (96) \ 3. Vergne (81) \ 4. Dennis (80) \ 5. Evans (76) —– 1. Porsche (168) \ 2. Envision (153) \ 3. Jaguar (138) \ 4. DS Penske (107) \ 5. Andretti (103)

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Muitas incógnitas na Gen 3 da Fórmula E

7 01 2023

Já são três temporadas consecutivas em que as temporadas de Fórmula E, que deveriam incluir dois anos do calendário, incluem apenas um único ano. A pandemia provocou o caos na logística da categoria elétrica e os estragos ainda se notam na idealização do calendário. Ainda não foi este ano que se viu a temporada 2022/23. O que deve ter sido motivo para grandes festejos, dado o nascimento difícil dos novos carros de FE, os Gen 3.

Uma sessão de pré-temporada em Valência nem sempre revela demasiado, uma vez que se trata de um tipo de circuito que os monolugares raramente enfrentam durante a temporada. Desta vez, no entanto, serviu para dar um alerta geral às equipas: a fiabilidade dos novos modelos está pelas ruas da amargura…

Para além das preocupações gerais com quantos carros conseguirão de facto chegar ao fim da prova da Cidade do México, os pilotos têm reportado que a potência extra e menor peso não se estão a traduzir em ganhos significativos de performance (para já) e, mais grave, já ocorreram alguns incidentes em pista de impactos fortes (para grande irritação de pilotos como Sébastien Buemi).

Nem tudo são más notícias. Estruturas novas entrarão em ação este ano, com apoios oficiais de construtoras automóveis, as credenciais verdes da categoria não param de subir, há duplas de pilotos extremamente interessantes, e uma margem de progressão potencialmente grande no que toca a desbloquear o potencial dos novos monolugares (e dos novos pneus Hankook).

A Mercedes saiu e agora?

Costuma ser incomum ver um piloto de automobilismo abandonar a categoria no ano a seguir a conquistar o título, mas ainda mais incomum é que uma equipa inteira abandone a competição como bicampeã em título.

A estrutura da equipa alemã não saiu propriamente por vontade própria, tendo que ceder o seu espaço na grelha por vontade da casa-mãe de Estugarda. Os seus dois pilotos sumiram-se (o campeão de 2022, Vandoorne, para a DS Penske e o campeão de 2021, de Vries, para a F1), mas Ian James, o chefe da equipa, pareceu decidido a não ter o mesmo fim que a Audi na FE. Negociando com a McLaren e o projeto Neom (da Arábia Saudita), James conseguiu transformar-se numa equipa cliente (os propuslores foram contratados à Nissan) e conseguiu os serviços de pilotos como René Rast e Jake Hughes para solidificar o projeto.

A recompensa por estes esforços é que a McLaren se apresentou como uma das equipas que mais impressionaram na curta sessão de testes de Valência, andando pelos lugares da frente e com uma quilometragem de fazer inveja às outras equipas. Resta ver como lidarão com não terem a vantagem das melhores unidades de potência ao seu serviço.

Como se comportarão os dragões, tridentes e estreantes?

Não é só a McLaren a aparecer de cara lavada em 2023.

Aparecendo como equipa privada que incomoda as de fábrica ao longo dos últimos anos, foram poucas as pessoas que não tenham ficado com uma forte expectativa de ver o que a antiga Venturi conseguiria fazer nesta transformação para estrutura oficial da Maserati (grupo Stellantis). A avaliar pelos testes de Dezembro, há razões de sobra para as rivais se preocuparem. Os italianos não só contaram com o sempre excepcional Edoardo Mortara no seu nível habitual, como ainda viram Maximilian Günther a mostrar que a sua forma no ano passado na Nissan não era motivo para preocupação.

Outra estrutura que parece não ter perdido nada com as mudanças foi a “vizinha” da Stellantis, a DS. Campeã durante 2 anos com a Techeetah, a marca francesa mudou-se para a Dragon Penske do fundo da grelha para a formar uma DS Penske que conseguiu atrair dois campeões de Fórmula E: Jean-Éric Vergne e o atual campeão, Stoffel Vandoorne. Quase nada da antiga equipa americana parece sobrar, resultando numa pré-temporada bem conseguida.

Finalmente, depois de um ano fora de competição, a ABT decidiu regressar à categoria elétrica do zero. Habituada a ser a estrutura oficial da Audi, a equipa alemã teve de se contentar desta vez em ser uma mera cliente da Mahindra, ainda que até neste ponto já tenham os olhos no futuro: a Cupra (Seat) será patrocinadora e possivelmente uma eventual fornecedora de motores. Aos comandos dos ABT andarão o consistente Robin Frijns e a incógnita Nico Müller.

Jaguar e Porsche tentam o salto definitivo

Não deixa de ser curioso que a Jaguar continue a vários níveis com a imagem de ainda não se ter juntado ao grupo das grandes estruturas da Fórmula E, quando já são alguns anos consecutivos a vencer provas na categoria e dois em que tem lutado pelo título. Das poucas equipas que não alteraram quase nada na sua estrutura para 2023, a marca britânica espera dar o passo final. Para isso conta com o piloto com mais vitórias de 2022, Mitch Evans, e espera contar com o Sam Bird confiante que esteve desaparecido nos últimos doze meses.

Pela primeira vez contarão com uma equipa cliente nas suas fileiras, tendo assinado com a Envision (depois de um longo relacionamento destes com a Audi). A Envision tem perdido algum do seu brilho de equipa da frente em anos recentes, assim como a sua ótima dupla Bird-Frijns. Mas nem tudo são más notícias: Nick Cassidy continua na equipa com que triunfou no ano passado, e o campeão Sébastien Buemi mudou de ares para recuperar a sua forma.

Já os motivos pelos quais a Porsche ainda não foi considerada uma equipa da frente não são difíceis de descortinar. Habituada a entrar numa competição e não demorar quase tempo nenhum até vencer, a Porsche apenas venceu pela primeira vez em 2022 e depois caiu de forma. Com os novos regulamentos deste ano, os alemães contam ajudar Pascal Wehrlein e o novo recruta António Félix da Costa a lutar pelos lugares cimeiros.

André Lotterer, que tinha até ao ano passado integrado a equipa, optou por se juntar a Jake Dennis na Andretti (fornecida agora pela Porsche). Os americanos têm conseguido lidar bem com a passagem de equipa oficial para equipa cliente, de tal forma que provaram a sua mais-valia para a Porsche. O que deixa no ar a ideia, conseguirão eles assumir o papel de estragar a festa à equipa principal (à semelhança da Venturi com a Mercedes).

A fugir ao fundo

Sendo verdade que as performances das novas unidades motrizes da Nissan não poderão ser questionadas, uma vez que a McLaren tem feito boa figura nos testes, perduram muitas dúvidas quanto à estrutura da equipa principal dos japoneses (principalmente desde que a DAMS abandonou os comandos ao grupo Renault). Quebrando por completo com o caminho que vinha a ser trilhado desde o início, a equipa apostou numa dupla completamente diferente para 2023, com Norman Nato (que já mostrou flashes de velocidade na categoria) e Sacha Fenestraz (que se estreará a tempo inteiro na FE, depois de ter mostrado muito valor nas categorias de promoção japonesas).

As capacidades de ambos os pilotos não estão em questão para este ano, já a habilidade de ambos para fazer ressuscitar o projeto Nissan na Fórmula E poderá ser mais complexo.

Quem não deverá contar com preocupações neste quesito é a Mahindra, que assinou com o campeão Lucas di Grassi no seu ataque às novas regras (onde se juntará à contratação do ano passado, Oliver Rowland). A equipa indiana tem procurado (com ocasional sucesso) ser produtora dos seus próprios motores de forma a ameaçar as grandes construtoras e tem vindo a aumentar as suas aspirações (como se vê pelo fornecimento à ABT). Resta ver se terão orçamento para aguentar estes desejos.

Tendo em conta tudo isto, parece difícil que não seja a NIO 333 a mais séria candidata ao fundo da grelha. A “prata da casa” que era Oliver Turvey não continuou a sua presença, mantendo-se antes Dan Ticktum (que terá internamente somado alguns pontos ao longo de 2022) com a adição de Sérgio Sette Câmara. Apesar de a qualidade de ambos não ser questionável, no contexto da Fórmula E não mostraram ainda o suficiente para poderem ser considerados pilotos de topo. Juntando a isto os baixos quilómetros acumulados em Dezembro, parece difícil que a equipa ambicione muito mais do que tem vindo a conseguir.

A nova cara da Fórmula E

Já é tradição que uma temporada de Fórmula E só esteja verdadeiramente definida quando a última corrida se avizinha, e 2023 traz mais do mesmo. As adições da Cidade do Cabo e Hiderabade tiveram os seus traçados oficiais por oficializar até menos de um mês de se realizarem as suas provas. As diversas tentativas de realizar provas em território chinês continuam a redundar em fracasso devido às políticas Covid do Governo do país. As provas de Nova Ioque tiveram que ser substituídas por uma ronda em Toronto devido a expansões nos terminais do ferry.

O resultado é um calendário com 16 em vez de 18 corridas como originalmente projetado, mas com ainda mais rondas duplas que as que idealmente gostariam.

Restando ainda ver os efeitos práticos dos novos monolugares na primeira prova do ano, sabemos já a nova imagem da Fórmula E num sentido literal, com o novo logotipo apresentado no final de 2022, que simboliza muitas das mudanças que a categoria tem feito para se legitimar (e cujo principal expoente é o fim do Fan Boost).

Para 2023, as incógnitas são muitas. Veremos quem sairá por cima na próxima semana na Cidade do México.





Mercedes segue forte e DS mostra as garras – e-Prix Roma 2021

10 04 2021

O regresso do e-Prix de Roma ao calendário da Fórmula E marca a primeira vez em mais de 1 ano e meio que a categoria está de regresso à Europa (desde o e-Prix de Berna de 2018/19). Extremamente afetada pela pademia no que toca à sua realização de provas em circuitos citadinos, a Fórmula E cancelou a ronda de Paris e optou pelo circuito italiano como o seu palco de regresso.

Realizada pela primeira vez em 2018, a corrida atraiu na época uns 45 mil espectadores às suas bancadas num circuito que utilizava localizações como a Via Cristoforo Colombo e a área à volta do Obelisco di Marconi, ficando a apenas 20 minutos de distância do aeroporto Leonardo da Vinci (a facilidade de acessos ajuda a explicar os números). A prova em si foi vencida por Sam Bird com alguma agitação, enquanto que a do ano seguinte foi igualmente de emoções fortes com a vitória da Jaguar com Mitch Evans.

Para 2021, Roma traz um sabor diferente com um circuito extremamente modificado, ainda que se situe na mesma zona da cidade e utilize certas secções em comum. Com o objetivo principal de reduzir o impacto no tráfego da cidade, a pista utiliza agora uma parcela muito menor da Via Cristoforo Colombo e viu como conselheiros no seu design os pilotos Lucas di Grassi, Jérôme d’Ambrosio e Oliver Rowland. O novo traçado procurou, apesar disso, manter o caráter do anterior, ou seja, continua com ondulações, elevações e diferentes superfícies.

As alterações procuraram também reforçar uma das vantagens da Fórmula E: as restaurações de certos pontos de asfalto também ajudarão o dia-a-dia dos cidadãos da cidade.

Ronda 3 – e-Prix Roma (1) 2021

Depois do pódio retirado no e-Prix de Diriyah, Jean-Éric Vergne recuperou da melhor forma possível na primeira prova de Roma, marcada pela pista molhada, com a vitória. Se é certo que foi beneficiado por estar nos últimos grupos de qualificação e do abandono de Lucas di Grassi (com que disputou a liderança durante a prova toda), a verdade é que o francês mostrou ao longo do Sábado todas as razões pelas quais é um bicampeão da categoria na estreia do novo carro da DS. O colega de equipa, Félix da Costa, partiu das posições inferiores e até tinha feito uma corrida de recuperação até ao 10º lugar, mas infelizmente sofreu um furo com um toque de René Rast.

O abandono de di Grassi acabou por ser a ponta do icebergue para as equipas alemãs. Di Grassi tinha mostrado uma enorme quantidade de inteligência até aí, tanto na sua defesa de posição como na maneira como escolhia ativar os seus attack modes, e poderia ter-nos dado uma ótima luta final com Vergne.

Já os dois primeiros da qualificação, Stoffel Vandoorne e André Lotterer, engalfinharam-se na primeira volta (com Lotterer a apanhar 5 segundos de penalização) e passaram o resto da prova a tentar recuperar o terreno perdido. Vandoorne, tal como o colega de equipa de Vries, mostrara o ritmo dos Mercedes ao entrar no Top 5 na fase final da corrida, só que apanhou di Grassi a abrandar na curva cega do circuito de Roma e para o evitar perdeu o controlo do monolugar, destruíndo a traseira do carro e provocando o Safety Car com que a prova acabou. De Vries não conseguiu evitar o colega e o muro, terminando também a sua prova.

Isto elevou com tranquilidade os dois Jaguar aos dois últimos lugares do pódio, o que lhes deu a liderança do mundial de construtores, numa demonstração eficaz de trabalho de equipa bem coordenado, com Sam Bird e Mitch Evans a não serem agressivos um com o outro. 2021 promete ser o ano de revelação da equipa britânica.

Quem também conseguiu andar com grande regularidade entre os primeiros foi Robin Frijns, sempre preparado para arrastar o Virgin até aos lugares de topo, enquanto o colega Nick Cassidy finalmente somou o primeiro ponto do ano (graças à penalização de Lotterer). No outro extremo ficaram Oliver Rowland e Sérgio Sette Câmara, que receberam drive throughs por consumo excessivo de energia.

A primeira prova de Roma, em que várias equipas mostraram os seus novos carros, também mostrou uma convergência de performance fascinante entre as equipas, com os 14 primeiros a terem chegado a estar separados por apenas 6 segundos. Mostrou também uma tremenda confusão nos treinos, quando 4 carros (incluindo o do eventual vencedor) tiveram um acidente ao não perceberem que os pilotos à frente estavam em marcha lenta. Oliver Turvey acabaria por ser considerado culpado e penalizado para a prova seguinte.

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Resultado: 1. Vergne \ 2. Bird \ 3. Evans \ 4. Frijns \ 5. Buemi \ 6. Rast \ 7. Wehrlein \ 8. Lynn \ 9. Günther \ 10. Cassidy (Ver melhores momentos)

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Ronda 4 – e-Prix Roma (2) 2021

A chuva voltou a fazer das suas na cidade italiana pelo segundo dia consecutivo, baralhando a ordem o suficiente para que os dois DS Techeetah e Lucas di Grassi começassem de trás e para que dois estreantes (Nick Cassidy e Norman Nato) partilhassem a primeira grelha. Cassidy estragou tudo logo na primeira curva, quando falhou a travagem, e acabaria por se envolver num acidente com o Nissan de Rowland que terminou as suas aspirações a um resultado de relevo.

Nato, por outro lado, fez uma ótima corrida, geralmente sempre entre os cinco primeiros, e tinha terminado originalmente no 3º lugar, até uma irregularidade com o consumo de energia o atirar para a desclassificação.

Sem Cassidy na liderança, Pascal Wehrlein (que partira de 3º) aproveitou para ultrapassar Nato. O seu rival ao longo da prova acabou por ser o Mercedes de Vandoorne. Azarado durante a maioria do ano, Vandoorne acabou por ter sorte no timing da bandeira amarela, que obrigou o rival da Porsche a abrandar durante o seu attack mode. Depois, no reinício, Alexander Sims surpreendeu Wehrlein e conseguiu servir de tampão aos ataques do homem da Porsche, deixando Vandoorne tranquilo na frente (com exceção da última volta após um Safety Car devido a acidente de René Rast. E assim acabaram os 3 nos 3 primeiros lugares.

Mais atrás, Edoardo Mortara voltou a mostrar todo o seu talento ao arrastar o Venturi para um resultado duplo ótimo (até à desclassificação de Nato). António Félix da Costa acabaria por ter de fazer uma corrida de recuperação novamente, saltando do 16º lugar para 7º ao final. Apesar do português ter sido ultrapassado por Mitch Evans mesmo antes do SC, a verdade é que deverá estar satisfeito com os pontos conquistados tendo em conta que quase foi eliminado na volta final, quando de Vries, Bird e Rowland se envolveram numa carambolada.

O resultado de Evans coloca-o logo atrás do líder do campeonato (o colega Bird), com o neo-zelândes a apostar na regularidade depois de a falta dela lhe ter complicado as contas do título no ano passado. Buemi poderia ter almejado melhores resultados, especialmente se o colega da Nissan, Rowland, tivesse trabalhado um pouco mais em equipa. Já Blomqvist e Müller escaparam à confusão para somar mais alguns importantes pontos para a NIO e Dragon Penske, respetivamente.

Com a Jaguar a mostrar regularidade e a Mercedes a provar ter a capacidade de vencer em ritmo puro, a DS Techeetah terá de trabalhar melhor em equipa para manter o seu título de campeã, conquistado nos dois últimos anos.

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Resultado: 1. Vandoorne \ 2. Sims \ 3. Wehrlein \ 4. Mortara \ 5. Günther \ 6. Evans \ 7. Félix da Costa \ 8. Blomqvist \ 9. Müller \ 10. Buemi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Bird (43) \ 2. Evans (39) \ 3. Frijns (34) \ 4. Vandoorne (33) \ 5. de Vries (32) —– 1. Jaguar (82) \ 2. Mercedes (65) \ 3. DS Techeetah (46) \ 4. Virgin (37) \ 5. Porsche (32)

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Fontes:
Racing Circuits \ Circuito Cittadino dell’EUR





Toques, falhas e emoção – e-Prix Diriyah 2021

27 02 2021

Apesar da confiança da FIA ao anunciar os calendários de Fórmula 1 e Fórmula E para 2021 como se conseguissem escapar incólumes aos adiamentos e cancelamentos que fustigaram as provas de 2020, foi necessário reorganizar com alguma severidade (pelo menos) as primeiras provas das categorias que programaram a abertura das suas temporadas para os primeiros meses do ano.

Atirado para a condição de prova inaugural pelo cancelamento do e-Prix de Santiago, a pista de Diriyah aproveitou a ocasião para se tornar a primeira prova noturna dos 7 anos da categoria elétrica. Sediado pela primeira vez em 2018 (com uma vitória de António Félix da Costa com a BMW Andretti), o e-Prix fez parte de um acordo de 10 anos da FAAS (Federação Automobilismo da Arábia Saudita) com a Fórmula E e marca uma tendência dos últimos anos do país em utilizar o automobilismo como publicidade positiva para o país, sempre fustigado com acusações de desrespeito de direitos humanos.

A pista citadina de Diriyah fica próxima da capital do país, Riade, e tem 2,5 km e 21 curvas. Atravessando a zona histórica, o traçado foi melhorado para cumprir os critérios da FIA para a qualidade do asfalto em colaboração com a UNESCO, por a área se tratar de Património Mundial. Pequenas alterações no perfil de várias curvas foram feitas após a primeira corrida de 2018.

Ronda 1 – e-Prix Diriyah (1) 2021

Não se contentando em dominar a Fórmula 1, a Mercedes mostrou que veio para triunfar também na Fórmula E. Se a última temporada já tinha demonstrado a excelente evolução da equipa que apenas foi fundada em 2018, 2021 mostrou uns flechas de prata como a referência do grid com o tempo mais rápido de todas as sessões da primeira ronda em Diriyah.

Nyck de Vries, campeão da Fórmula 2 em 2018, começou o seu segundo ano na categoria como o mais rápido de todas as sessões de sexta-feira e durante a prova apenas esteve sob ataque durante algumas voltas contra Pascal Wehrlein. De resto, nem dois Safety Car conseguiram incomodar o holandês que venceu um e-Prix pela primeira vez. O colega de equipa, Stoffel Vandoorne, teve problemas na qualificação mas fez uma ótima recuperação de 15º até 8º com direito à volta mais rápida da corrida.

Falando de recuperações, o campeão em título, António Félix da Costa, viu a Techeetah mostrar falta de andamento ao longo do fim-de-semana mas soube aproveitar a confusão à sua frente para recuperar de 18º até 11º, mesmo à beira dos pontos. Lucas di Grassi também fez uma recuperação similar, saltando de 16º até 8º, conseguindo ainda pontuar. A somar pontos importantes na prova encontraram-se também os ingleses Alexander Sims (pela sua nova equipa Mahindra) e Oliver Turvey (que já colocou a NIO num ano melhor que o passado, em que os chineses nem pontuaram).

Duas equipas que saíram da Ronda 1 provavelmente satisfeitas serão a Venturi e a Jaguar. A Venturi viu, mais uma vez, Edoardo Mortara a mostrar todo o seu talento e a colocar os carros monegascos nos lugares cimeiros, com direito a uma excelente ultrapassagem a Mitch Evans e Wehrlein. O pódio foi mais uma conquista do suíço que já merecia melhor equipamento. Já a Jaguar viu-se finalmente com dois pilotos capazes de extrair o melhor dos monolugares ingleses. Evans completou o pódio atrás de Mortara, enquanto que Sam Bird teria terminado logo atrás não tivesse visto Alex Lynn fechar-lhe a porta quando o tentava ultrapassar, num incidente que provocou o primeiro SC.

O incidente que provocou o segundo SC acabou por ser Maximilian Günther a destruir o seu BMW contra o muro numa das secções rápidas da pista. Circulando nos pontos na altura, Günther acabou com as hipóteses da equipa poder terminar com pontos da primeira prova. De resto, vale a pena destacar a inteligente e consistente prova de René Rast no seu Audi, o ótima qualificação e corrida razoável de Wehrlein na sua estreia pela Porsche (que está apenas na sua segunda temporada na categoria) e Oliver Rowland, que tem mostrado nas suas temporadas pela Nissan a capacidade de acumular pontos quando o carro não está no seu melhor (ganhando reputação separadamente a ser colega do campeão Buemi).

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Resultado: 1. de Vries \ 2. Mortara \ 3. Evans \ 4. Rast \ 5. Wehrlein \ 6. Rowland \ 7. Sims \ 8. Vandoorne \ 9. di Grassi \ 10. Turvey (Ver melhores momentos)

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Ronda 2 – e-Prix Diriyah (2) 2021

Se a Ronda 1 tinha corrido de feição à Mercedes, a Ronda 2 trouxe grandes dissabores. Começou tudo nos treinos livres quando Edoardo Mortara teve um forte acidente e foi levado por precaução para o hospital. A Mercedes, em coordenação com a FIA, mandou retirar os seus carros (e da Venturi) da sessão de qualificação. Depois da Mercedes ter identificado uma falha num sistema de segurança, responsável por bloquear as rodas traseiras em caso os travões dianteiros não funcionarem, a equipa fez as alterações necessárias para correr, ainda que dos últimos lugares. Mortara acabou por não poder correr, não por incapacidade física (apesar de se ter queixado de dores), mas por a Venturi não ter conseguido reparar o seu carro a tempo.

Houve também espaço para mais incidentes estranhos na prova de Sábado, o maior dos quais a ser o que não foi mostrado pelas câmaras. O estado de saúde de Alex Lynn foi incerto durante algum tempo, até a Mahindra partilhar que o piloto estava consciente e a comunicar, a caminho do hospital. Algo que não impediu a Fórmula E de continuar sem referências a transmissão do pódio, uma decisão questionável.

Questionável por motivos diferentes foi aquilo que Pascal Wehrlein estava a pensar quando teve o seu acidente com Jake Dennis, que acabou com a corrida de Dennis e deu a Wehrlein um drive-through. Foi um mau dia para a BMW, porque o colega de Dennis, Maximilian Günther, calculou mal uma travagem no final da prova e colheu um inocente NIO pelo caminho. Os alemães são a única equipa a 0 pontos no campeonato.

A prova acabou vencida por Sam Bird, que mantém o seu impressionante recorde de ter vencido pelo menos uma corrida em cada temporada de Fómula E. O britânico venceu pela Jaguar pela primeira vez, depois de uma luta que durou a corrida inteira contra o ex-colega de equipa Robin Frijns, que tinha feito pole position e conduzido de maneira brilhante, em que foram várias as vezes que trocaram de posição. O colega estreante, Nick Cassidy soube ganhar posições para terminar num ótimo 5º lugar.

Atrás deles chegaram os dois Techeetah que, depois de se terem qualificado na metade inferior do Top 10, começaram a engolir os carros mais lentos à sua frente e chegaram-se aos dois líderes. Apenas o fim antecipado por bandeira vermelha da prova (devido a Lynn) os impediu de ameaçar mais Bird e Frijns. Isso e uma sequência de curvas em que se tocaram algumas vezes que poderia ter terminado mal (com a agravante de que nenhum dos dois pilotos quis aceitar culpas pelo incidente)…

Vale a pena destacar as duas equipas que terminaram 2019-20 nas duas últimas posições que, com motores novos para este ano, conseguiram qualificar-se com os 4 carros nos 5 primeiros, atrás de Frijns. A NIO e a Dragon Penske iriam sempre ter dificuldade em manter-se nesses lugares durante a prova, mas a verdade é que até aguentaram melhor do que seria de esperar. Sérgio Sette Câmara e Nico Müller deram à Dragon Penske o 6º e 7º lugares, respetivamente (com especial destaque para a inteligência de Sette Câmara nas lutas pelos lugares cimeiros); enquanto que Oliver Turvey mostrou porque tem há vários anos a confiança da NIO, com mais 4 pontos acumulados. Rowland e Rast completaram os lugares pontuáveis, ajudando a Nissan e Audi a conseguirem qualquer coisa das primeiras provas, ainda que bem longe da sua forma nas primeiras temporadas de Fórmula E.

Atualização 27/02 – 23h37: Uma série de penalizações pós-corrida, principalmente focadas no facto de vários pilotos não terem usado o segundo boost (por a corrida ter terminado demasiado cedo com a bandeira vermelha) e incumprimentos de abrandamento sob bandeira amarela. Entre os penalizados incluem-se: Vergne, Cassidy, Rast, Blomqvist e Sims.

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Resultado: 1. Bird \ 2. Frijns \ 3. da Costa \ 4. Câmara \ 5. Müller \ 6. Turvey \ 7. Rowland \ 8. di Grassi \ 9. de Vries \ 10. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. de Vries (32) \ 2. Bird (25) \ 3. Frijns (22) \ 4. Mortara (18) \ 5. da Costa (15) —– 1. Jaguar (40) \ 2. Mercedes (36) \ 3. Virgin (22) \ 4. Dragon Penske (22) \ 5. Audi (19)

Corrida seguinte: e-Prix Roma 2021

e-Prix Diriyah seguinte: 2022

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Fontes:
Autosport \ Nyck de Vries não dá hipótese, Félix da Costa faz grande recuperação
Globo Esporte \ Fórmula E: em prova com acidente feio no fim, Sam Bird vence na Arábia; Sette Câmara é sexto
Racing Circuits \ Ad Diriyah
The Race \ Vergne loses podium amid eight post-race Formula E penalties