Correr no país mais associado ao negócio do petróleo sempre foi um dos golpes publicitários favoritos da Fórmula E. Dificilmente a categoria teria previsto a importância que a realização da prova teria para os seus calendários severamente limitados pelos e-Prix cancelados devido à pandemia. Se bem que a própria Fórmula E provavelmente não estaria a contar com o agudizar das críticas da comunidade internacional ao país do Médio Oriente, apesar de as pressões se terem concentrado na F1 ao invés da FE.
O local onde os carros elétricos têm competido desde o primeiro e-Prix em 2018 situa-se nos arredores da capital da Arábia Saudita, Riade. Zona de património da Humanidade, Diriyah tem, regra geral, sido elogiado como um circuito desafiante e com bons espaços para ultrapassagens ao longo das suas 21 curvas. De momento, Sam Bird é o único piloto com mais do que 1 vitória em território saudita (a última somada na anterior edição).
A chegada a Diriyah de 2022 é feita sob circunstâncias bem diferentes das de 2021. Há um ano a Fórmula E chegava para inaugurar a sua temporada num fim-de-semana em que deveria já ter estado na sua segunda prova do ano (a primeira foi cancelada) e era ainda incerto por onde andaria a categoria no resto do ano. Desta vez tudo parece mais assente, num ano em que Alejandro Agag estará bem desejoso de ver o seu desporto de volta ao tempo de crescimento imparável.
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Ronda 1 – e-Prix de Diriyah (1) 2022
A primeira grande boa notícia trazida pelo primeiro e-Prix do ano foi mesmo que o sistema de qualificação estreado funciona muito bem nos objetivos a que se propôs. Os fãs apreciaram o sistema de eliminação a lembrar a volta única da F1 em 2005, e as equipas têm uma maior estabilidade de performances fim-de-semana a fim-de-semana com que trabalhar.
A segunda boa notícia foi a boa performance das equipas privadas, apesar dos abandonos das suas fornecedoras de motores. Assim, o abandono da Audi não impediu a Envision de ver Nick Cassidy e Robin Frijns lutarem pelos pontos, e o abandono da BMW não impediu a Andretti de conseguir colocar Jake Dennis uma corrida inteira na perseguição da vitória.
Dennis foi mesmo a única concorrência digna de nome à Mercedes na primeira prova, sendo que ter tido o azar de ficar várias voltas atrás do errático André Lotterer provavelmente lhe custou uma possibilidade de ascender mais alto no pódio.
Já azar dos grandes saiu mais uma vez a Stoffel Vandoorne. O pole position partiu bem e foi seguido pelo colega de equipa da Mercedes, Nyck de Vries, quando, no momento de ativação do segundo Attack Mode, não acertou por completo nos pontos de deteção, custando-lhe a posição e vitória para o campeão de Vries.
Mais atrás, Oliver Rowland desentendeu-se com Frijns (abandono no muro para o primeiro, penalização pós-corrida para o segundo), Sam Bird ficou sem energia na linha mas ainda conseguiu segurar o 4º lugar contra Lucas di Grassi (numa ótima estreia pela Venturi), António Félix da Costa não conseguiu durar mais que uma volta, e os estreantes sofreram para ganhar ritmo (se bem que Askew ainda conseguiu somar dois pontinhos).
De destacar que em Portugal, no canal aberto, a Eurosport acabaria por não mostrar a qualificação como referira na sua programação, continuando a mostrar um jogo de snooker.
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Resultado: 1. de Vries \ 2. Vandoorne \ 3. Dennis \ 4. Bird \ 5. di Grassi \ 6. Mortara \ 7. Cassidy \ 8. Vergne \ 9. Askew \ 10. Evans (Ver melhores momentos)
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Ronda 2 – e-Prix de Diriyah (2) 2022
Se haviam medos de domínio Mercedes após a primeira prova, a segunda tratou de retirar em certa medida essa preocupação. Pelo menos a equipa cliente da Mercedes está disponível para se opor.
Com o campeão de 2016-17, di Grassi, a complementar o rapidíssimo Edoardo Mortara, a Venturi assumiu a iniciativa durante a segunda corrida de Diriyah, sempre a atacar o pole de Vries no seu Mercedes oficial (com o “intruso” Frijns pelo meio). Uma ultrapassagem musculada de di Grassi a de Vries durante um Attack Mode ajudou muito Mortara a assumir a liderança, que não voltou a largar até ao final da corrida atrás de Safety Car.
De Vries acabaria atirado para o fim dos lugares pontuáveis por contacto de Jean-Éric Vergne durante a ultrapassagem do francês no ponto mais crítico do circuito (Curvas 18 e 19), enquanto que Frijns aproveitou uma distração do segundo Venturi de di Grassi para ascender ao 2º lugar. Lotterer conseguiu ser agressivo sem passar o limite e foi o mais eficaz dos dois Porsche, sempre seguido de perto por Vergne e Dennis na tentativa de alcançar os 4 primeiros classificados.
Félix da Costa deixou muito a desejar, caíndo várias posições no início e parecendo algo apático ao longo da corrida (especialmente em comparação com o colega da Techeetah).
O SC acabaria por causar alguma confusão às equipas, devido à nova regra de energia durante esses períodos de interrupção. Alexander Sims bateu no muro e foi resgatado (devagar e com carros a circular bem perto) por uma grua móvel. Este ano por cada minuto de SC, eram acrescentados 45 segundos à prova (em vez de retirar energia). Só que existe uma exceção para os 3 minutos finais de prova. Ora, como o SC começou antes desses 3 minutos, os construtores ficaram em dúvido sobre o procedimento (que acabou por ser retirado durante a última volta, não permitindo mais competição).
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Resultado: 1. Mortara \ 2. Frijns \ 3. di Grassi \ 4. Lotterer \ 5. Dennis \ 6. Vergne \ 7. Vandoorne \ 8. Rowland \ 9. Wehrlein \ 10. de Vries (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Mortara (33) \ 2. de Vries (29) \ 3. Vandoorne (28) \ 4. di Grassi (25) \ 5. Dennis (25) —– 1. Venturi (58) \ 2. Mercedes (57) \ 3. Andretti (27) \ 4. Envision (25) \ 5. Porsche (14)
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Corrida anterior: e-Prix Berlim 2021
Corrida seguinte: e-Prix Cidade do México 2022
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