Se fosse necessário prever que circuitos integrariam o calendário da Fórmula 1 na década de 20 deste século, dificilmente a segunda vida do circuito de Imola figuraria entre as possibilidades mais prováveis. Mas, com a China a atrasar o seu regresso pós-pandémico à categoria, as autoridades da região italiana da Emilia Romagna compreenderam desde cedo o potencial de conseguir um acordo a médio prazo para uma segunda prova italiana na F1 (Portugal, infelizmente, não compreendeu e Portimão continua fora das contas…).
Tendo largado o ridículo nome de “Made in Italy and Emilia-Romagna Grand Prix” de 2021, a pista desta vez contou com provas de apoio da F2 e F3 pela primeira vez desde 2006. Tendo-se tornado algo ínfame pelos acidentes fatais de 1994, Imola é atualmente um circuito seguro (graças a alterações, como as da curva Tamburello) e bem ao gosto dos pilotos. Pelo menos, em qualificação. A presença de um sprint em 2022 seria sempre um dos testes mais difíceis à capacidade dos novos regulamentos em permitirem a ocorrência de ultrapassagens no circuito.
Imola possui associações com velocidade desde há muito tempo antes do circuito lá se encontrar: a região já teve provas romanos de chariots gladiatoriais. A disposição original da pista tinha muito pouco a ver com o traçado atual, que tem o nome de Autodromo Enzo e Dino Ferrari (em homenagem ao fundador e filho do fundador, respetivamente, da Ferrari) e que se viu fora do calendário no final de 2006 para dar espaço à expansão asiática da F1 nos anos 10.
Com a fábrica da AlphaTauri a apenas 16 km de distância, a equipa italiana tem feito nos últimos anos vários testes, shakedowns e sessões de filmagens no circuito.
Na pausa de 2 semanas entre provas houve espaço suficiente para que a necessidade de ocupar os sites de notícias se sobrepusesse à sensatez de o fazer. Primeiro foi a FIA, que não gostou de ouvir os pilotos a referirem-se ao Safety Car Aston Martin como mais lento que o Mercedes após o GP da Austrália, reforçando que são as normas de segurança que ditam a velocidade do SC e que escolheram carros adequados para o efeito.
Depois foi o organizador da prova de Melbourne (Andrew Westacott), que exigiu depois da corrida que os pilotos parassem de “choramingar” nas suas reclamações sobre a corrida ser um evento standalone e não conjugado com outras corridas. Como aumento do calendário, as reclamações não só foram pertinentes como também a sugestão de que o GP devia ser conjugado com outra prova asiática mais tarde na época foi acertada, apesar de Westacott dizer que “a altura da F1 na Austrália é no início da temporada” (quando o GP já foi prova final durante 11 anos no circuito de Adelaide e esteve previsto em 2021 para essa altura)…
Ronda 4 – Grande Prémio da Emilia Romagna 2022

Com um carro competitivo numa visita a Imola pela primeira vez desde 2006, a Ferrari carregou nos seus ombros uma pressão enorme durante este fim-de-semana. E não lidou com ela da melhor forma.
Em qualificação Charles Leclerc não conseguiu a pole position devido à variedade de bandeiras vermelhas no Q3 mas estava em boa posição. Definitivamente melhor que a do outro Ferrari, de Carlos Sainz (apesar de ter renovado contrato até 2024), que se despistou sozinho no Q2 quando já tinha a passagem ao Q3 quase garantida.
No sprint as coisas ainda se alinharam, com uma boa recuperação de Sainz até 4º, mas a corrida trouxe apenas más notícias para Maranello. Sainz sofreu um toque de Daniel Ricciardo na primeira curva e terminou (pelo segundo GP seguido) preso na gravilha, o que o deixa quase garantidamente como segundo piloto até ao fim do ano. Leclerc teve uma prova mais mista, perdendo muitas posições no começo, perseguindo sem sucesso Sergio Pérez a maior parte da prova e cometendo um erro crasso na Variante Alta que o obrigou a mudar a asa dianteira, resultando num desapontante 6º lugar (com o monegasco a pedir desculpas à Scuderia e ao público).
Outra equipa que preferiria esquecer o GP da Emilia Romagna foi a Mercedes, especialmente Lewis Hamilton. O britânico andou sempre meio perdido durante o fim-de-semana, um par de décimas de segundo atrás do colega de equipa, e não só não passou o Q2 (tal como o outro Mercedes) como também pareceu incapaz de realizar ultrapassagens ao longo da prova (ao contrário de George Russell num ótimo 4º lugar) e terminou em 14º, sempre a olhar para a traseira de Pierre Gasly.
Russell também se queixou de dores de peito, tal era a intensidade do porpoising da Mercedes, enquanto que Hamilton recebeu um pedido de desculpas por rádio de Toto Wolff pela qualidade fraca do material à disposição.
Colado a Russell terminou Valtteri Bottas, que parece renascido após a saída da Mercedes para a Alfa Romeo. Bottas até parece ter melhorado a nível de ultrapassagens, um “calcanhar de Aquiles” que lhe era anteriormente apontado.
Assim, sobrou a Red Bull para fazer a sua primeira dobradinha em 6 anos. Afastando as preocupações com fiabilidade, os austríacos pareceram estar a dever alguma velocidade face aos Ferrari mas a portarem-se muito bem no que toca a desgaste de pneus. Isto foi visível quando Max Verstappen foi passado no sprint por Leclerc mas recuperou a posição com alguma facilidade no final. No domingo Verstappen não largou a liderança durante uma única volta, somando a vitória inquestionável a uma pole obtida durante uma bandeira amarela (em que abrandou no único setor que a tinha). Já Sergio Pérez até se qualificou mal (7º) mas recuperou durante o sprint e alcançou o 2º lugar na partida da corrida completa, de onde protegeu Verstappen dos ataques de Leclerc com autoridade.
A completar o pódio ficou um impressionante Lando Norris, que continuou o seu hábito de arrumar Ricciardo a um canto, e foi durante todo o fim-de-semana o melhor carro com motor Mercedes na grelha. A McLaren conseguiu assim reforçar o seu 4º lugar nos construtores, especialmente porque a Alpine logo atrás falhou por completo o GP, parecendo ter problemas mecânicos (novamente) e falta de ritmo de corrida.
Yuki Tsunoda esteve em grande plano na corrida caseira da AlphaTauri, em permanente ascensão depois de uma eliminação no Q1. O sprint viu-o recuperar até à porta dos pontos e depois foi fazendo ótimas ultrapassagens até ao 7º lugar final, que o deixa pela primeira vez à frente do colega Pierre Gasly. A Aston Martin também teve, finalmente, um momento alto em 2022, com Sebastian Vettel em grande forma para manter carros mais rápidos atrás de si em 8º lugar (depois de ter chegado ao Q3) e Lance Stroll a segurar Hamilton durante o início de prova.
Destaque ainda para Kevin Magnussen, que pontuou no sábado e no domingo (e conseguiu manter o Haas a funcionar quando se despistou em qualificação); para as dificuldades da Williams, que viu o travão traseiro esquerdo de Alexander Albon explodir em qualificação; e para o comportamento errático de Mick Schumacher, que até tinha chegado em 10º no sprint mas perdeu controlo do carro sozinho na primeira volta e ainda destruiu o sidepod (e corrida) de Fernando Alonso.
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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Norris \ 4. Magnussen \ 5. Alonso (Ver melhores momentos)
Sprint: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Pérez \ 4. Sainz \ 5. Norris \ 6. Ricciardo \ 7. Bottas \ 8. Magnussen (Ver melhores momentos)
Resultado: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Norris \ 4. Russell \ 5. Bottas \ 6. Leclerc \ 7. Tsunoda \ 8. Vettel \ 9. Magnussen \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Leclerc (86) \ 2. Verstappen (59) \ 3. Pérez (54) \ 4. Russell (49) \ 5. Sainz (38) —– 1. Ferrari (124) \ 2. Red Bull (113) \ 3. Mercedes (77) \ 4. McLaren (46) \ 5. Alfa Romeo (25)
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Corrida anterior: GP Austrália 2022
Corrida seguinte: GP Miami 2022
GP Emilia Romagna anterior: 2021
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Fórmula 2 (Rondas 5-6) \ Vips não aproveita pole, Pourchaire vence

Com David Beckmann ainda no lugar do lesionado Cem Bölükbaşı, a F2 regressou em terras italianas para ver Jüri Vips fazer a sua primeira pole position na categoria. Com a inversão de posições para a corrida sprint, foi a vez de Logan Sargeant partir de 1º, só que o americano teve um péssimo arranque e quem ficou na frente foi Marcus Armstrong até à bandeira de xadrez (mesmo com a pressão de Jehan Daruvala).
Mesmo assim, melhor que Amaury Cordeel que se acidentou a caminho da grelha e que está a 3 pontos de penalização de receber uma suspensão…
Roy Nissany passou a prova inteira a segurar o 4º lugar contra o trio de Sargeant, Drugovich e Pourchaire, mas a poupança de pneus valeu-lhe espaço para respirar e atacar o pódio no final. Nissany voltou a brilhar na prova feature ao fazer uma brilhante partida que o levou de 6º a 1º na primeira curva. Mesmo o Safety Car para o despiste de Vips deixou-o com uma paragem gratuita, só que aí o israelita já teve o seu próprio embate no muro para acabar mais cedo a prova.
A partida da feature também viu Jack Doohan e Dennis Hauger atabalhoadamente destruirem as suas corridas, enquanto que Théo Pourchaire foi o grande beneficiado com a sua vitória na frente de Enzo Fittipaldi e Ralph Boschung.
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Qualificação: 1. Vips \ 2. Iwasa \ 3. Doohan \ … \ 8. Daruvala \ 9. Armstrong \ 10. Sargeant
Resultado (Sprint): 1. Armstrong \ 2. Daruvala \ 3. Hauger \ 4. Nissany \ 5. Drugovich \ 6. Sargeant \ 7. Pourchaire \ 8. Lawson (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Pourchaire \ 2. Fittipaldi \ 3. Boschung \ 4. Novalak \ 5. Iwasa \ 6. Vesti \ 7. Sargeant \ 8. Beckmann \ 9. Daruvala \ 10. Drugovich (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Pourchaire (52) \ 2. Drugovich (50) \ 3. Daruvala (36) \ 4. Lawson (35) \ 5. Verschoor (32) —– 1. MP (62) \ 2. ART (60) \ 3. Hitech (58) \ 4. Carlin (53) \ 5. Prema (50)
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Corrida anterior: Arábia Saudita 2022 \ Rondas 3-4
Corrida seguinte: Espanha 2022 \ Rondas 7-8
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Fórmula 3 (Rondas 3-4) \ 3 pontos separam os 5 primeiros

O regresso da Fórmula 3 foi repleto de mudanças nos monolugares, com Juan Manuel Correa de fora na ART por lesão, David Schumacher de regresso na Charouz no lugar de Ayrton Simmons, Federico Malvestiti na Jenzer no lugar de Niko Kari, e Oliver Rasmussen no lugar de Jonny Evans (por doença) na Trident.
A prova sprint viu Caio Collet liderar quase toda a extensão da prova mas a ser ultrapassado por Franco Colapinto na volta final, e a desentender-se com Isack Hadjar na mesma curva (terminando na gravilha a sua prova). A correr sem cores no seus capacete (em fibra de carbono exposta), Colapinto conseguiu voltar a impressionar ao serviço da Van Amersfoort e venceu seguido de Victor Martins e Jak Crawford.
Oliver Bearman foi penalizado durante a corrida e também saiu de pista diversas vezes, um prenúncio do que estaria por vir na prova feature, em que lutou com destreza contra Roman Staněk pela vitória mas acabou por perder controlo do seu Prema e eliminou um inocente Grégoire Saucy (o que lhe valeu uma penalização que o atirou para fora dos pontos).
A feature foi extremamente interessante, tendo começado com metade da pista bastante molhada. Isto levou pilotos como Collet, Colapinto e os Campos a apostarem em usar pneus de chuva e a chegarem à frente da prova, só que os Safety Car constantes do início tramaram-nos. Isto deixou o pole Maloney de volta à frente mas o piloto da Trident fez um erro terrível num dos reinícios de SC e abandonou, o que entregaria a vitória (após passar Bearman) a Staněk.
Arthur Leclerc, David Vidales e David Schumacher recuperaram mais de 12 posições durante a corrida.
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Qualificação: 1. Maloney \ 2. Staněk \ 3. Crawford \ … \ 10. Maini \ 11. Cohen \ 12. Colapinto
Resultado (Sprint): 1. Colapinto \ 2. Martins \ 3. Crawford \ 4. Staněk \ 5. Hadjar \ 6. Maloney \ 7. Rasmussen \ 8. Smolyar \ 9. Villagómez \ 10. Pizzi (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Staněk \ 2. Crawford \ 3. Hadjar \ 4. Leclerc \ 5. Maini \ 6. O’Sullivan \ 7. Frederick \ 8. Vidales \ 9. Martins \ 10. Alatalo (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Martins (36) \ 2. Leclerc (36) \ 3. Staněk (33) \ 4. Crawford (32) \ 5. Hadjar (31) —– 1. Prema (85) \ 2. ART (65) \ 3. Trident (50) \ 4. Hitech (41) \ 5. MP (25)
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Corrida anterior: Bahrain 2022 \ Rondas 1-2
Corrida seguinte: Espanha 2022 \ Rondas 5-6
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Fontes:
– GP Blog \ Organizador da Austrália quer menos “choramingas”
– Grande Prêmio \ FIA sobre SC “lento”
– Racing Circuits \ Imola