A merecida primeira de Norris – GP Miami 2024

6 05 2024

Ainda o paddock não se tinha habituado bem à presença de Miami como segunda corrida americana do calendário quando surgiu uma terceira em Las Vegas, o que, pelo menos a curto prazo, parece ter feito o muitos esquecerem as dificuldades associadas a montar pela primeira vez uma corrida no Estado da Florida. Foram anos de negociações, para a escolha do local, até se chegar ao traçado semi-citadino ao redor do Hard Rock Stadium.

Sim, foi relativamente fácil de fazer pouco dos organizadores quando se viu o pequeno “lago” interior, que não passava de contraplacado impresso para imitar água e onde iates foram colocados para fãs endinheirados verem a prova, mas a verdade é que o post mortem das duas primeiras edições apenas suportou a teoria de que os norte-americanos estão com um apetite voraz por F1.

Tendo já recebido em 2015 uma ronda de Fórmula E, a capital do estado da Florida apresentou um traçado bem diferente nesta oportunidade, seguindo o modelo padrão de Jeddah (e outras adições recentes ao calendário) de retas grandes, chicanes técnicas e curvas de alta velocidade (de modo a aumentar a média de velocidade por volta).

Nas duas semanas entre corridas as novidades a nível de pessoal na F1 foram significativas. Adrian Newey e a Red Bull anunciaram que o seu vínculo terminará no início de 2025, restando ainda saber se o famoso projetista se prepara para rumar a outra estrutura ou fazer um período sabático (com Ferrari e Aston Martin muito interessadas); Nico Hülkenberg tornou-se o primeiro dominó a cair no plano da Audi, ao anunciar que irá pilotar pela Sauber a partir de 2025; e David Sanchez, depois de uma brevíssima passagem pela McLaren terminada por comum acordo, será o novo Diretor Técnico Executivo da Alpine.

Destaque ainda para o facto de a Ferrari ter anunciado a HP como novo patrocinador principal e para os desenvolvimentos na Andretti. Os americanos continuam a avançar com as suas instalações e prometeram criar estruturas de F2 e F3 (ao que Bruno Michel já fez saber que só se comprarem estruturas atuais). E ainda nem se viu em que vai dar a carta ameaçadora que Membros do Congresso dos EUA enviaram à FOM sobre a rejeição da entrada da Andretti…

A Alpine trouxe atualizações relativas ao peso do carro que permitiram aos franceses colocarem-se muito perto do peso mínimo obrigatório pela primeira vez em 2024, ao passo que a McLaren trouxe uma lista interminável de atualizações que esperavam permitir-lhes dar um salto decisivo na aproximação à Red Bull.

Ronda 6 – Grande Prémio de Miami 2024

Com alguma preocupação dos pilotos quanto aos níveis de aderência que poderiam esperar do circuito de Miami, a sessão de qualificação para o sprint começou com um Valtteri Bottas (Kick Sauber) muito distraído a quase provocar um acidente na primeira curva com Oscar Piastri (McLaren). Ambos escaparam, mas Bottas ficou logo pelo caminho no Q1.

Já no Q2, foram os dois Mercedes a ficar fora de combate, cortesia de duas brilhantes qualificações de Daniel Ricciardo (RB) e Nico Hülkenberg (Haas). Ricciardo foi particularmente impressionante ao terminar 4º. Já Lando Norris (McLaren) parecia ter tudo para, no seu carro cheio de atualizações, fazer pole position mas falhou por completo o primeiro setor e ficou fora dos 5 primeiros.

No dia seguinte, Norris também duraria muito pouco. Quando Lewis Hamilton (Mercedes) se atirou para o interior na primeira curva, Fernando Alonso (Aston Martin) reagiu de instinto e bateu no seu colega de equipa (Lance Stroll), que por sua vez acertou em Norris. Assim, Norris e Stroll ficaram logo fora de combate e o Safety Car entrou em pista, com ambos os Haas a aproveitarem o caos para se colocarem em 7º e 8º lugares.

Max Verstappen (Red Bull) foi agressivo na partida e segurou o avanço de Charles Leclerc (Ferrari), a partir daí gerindo as distâncias para o rival, ainda que com menos segurança que o usual. O piloto neerlandês queixou-se dos pneus traseiros e Leclerc conseguiu manter a distância sempre abaixo dos 3 segundos. Ricciardo passou Sergio Pérez (Red Bull) brevemente, mas fez melhor defesa contra Carlos Sainz (Ferrari) e somou os primeiros pontos do ano.

Para mais ação, foi preciso recuar até ao 8º posto, onde Kevin Magnussen (Haas) foi penalizado umas incríveis 3 vezes em 10 segundos por ofensas várias (desde sair de pista e ganhar vantagem até defesas demasiado agressivas a Hamilton). Hamilton acabaria passado por Yuki Tsunoda (RB) na confusão, recuperando a posição depois na última volta de forma corajosa (e para nada, uma vez que foi penalizado por exceder a velocidade máxima no pitlane).

Na qualificação da verdadeira corrida, impedimentos eram a palavra do dia. Quase todos na grelha se queixaram de ter as suas tentativas impedidas na qualificação, mas os comissários tiveram mão leve sobre quase todos. Ainda que valha a pena destacar que Magnussen (19º) foi particularmente tramado na antepenúltima curva…

As atualizações da Alpine relativamente ao peso mínimo pareceram surtir efeito, com ambos os carros a passarem ao Q2 pela primeira vez em 2024, ao passo que a Aston Martin caiu de rendimento e ficou com os franceses na segunda sessão. Os beneficiados foram os dois Mercedes, que receberam a companhia de Hülkenberg (sempre ele) e Tsunoda no Q3.

A ordem aqui não foi muito diferente da qualificação que tivera lugar na sexta-feira, com Verstappen e Leclerc a bloquearem a primeira linha da grelha, mas com Sainz a conseguir levar a melhor sobre Pérez na segunda fila.

Na partida de domingo houve espaço para dinâmicas de “combate” interessantes, principalmente com um início terrível de Pérez, que queimou a travagem da primeira curva e quase colheu o seu líder de equipa. Quem aproveitou a confusão espalhada foi Piastri, que ascendeu várias posições até estar colado à traseira de Leclerc (que também passou para subir a 2º).

Pérez acabaria por ser o primeiro dos líderes a parar nas boxes, por volta da altura da corrida em que Hamilton parecia entretido nas suas lutas Hülkenberg e Tsunoda. Um por um os principais pilotos estavam a mudar para os pneus mais duros da Pirelli, até sobrar apenas Norris por parar. Só que havia um detalhe importante: o inglês continuava a ganhar tempo a todos em pista a partir do momento que se viu com pista livre, reforçando a ideia de que a Red Bull parara antes de tempo. Outro detalhe interessante já tinha sido o facto de Piastri nunca ter deixado Verstappen fugir para mais de 3 segundos de distância.

Estava no ar a ideia que o McLaren poderia ser um rival à altura do Red Bull quando Logan Sargeant (Williams) ignorou a presença de Magnussen no seu interior e causou um acidente que o eliminou de prova (os comissários discordam desta análise) e o SC fez a sua aparição. A McLaren imediatamente parou nas boxes com Norris, que conservou o comando da corrida.

No recomeço é difícil saber de quem terá sido o maior choque ao ver Norris afastar-se lenta mas decididamente de Verstappen. Daí até ao fim não houve um único erro que impedisse o piloto da McLaren de vencer pela primeira vez na categoria, e devolver a Nick Heidfeld o recorde de maior número de pódios sem vitórias na F1. Os Ferrari não estiveram nada longe de Verstappen, mas pareceu ainda faltar qualquer coisa para verdadeiramente ameaçarem.

Sainz envolveu-se numa azeda disputa com Piastri, que culminou numa asa partida para o australiano. Depois de parar nas boxes e trocar de asa, o piloto foi avisado pela McLaren para não arriscar nas ultrapassagens para não causar um SC que desse problemas a Norris.

Pérez pareceu sempre sem ritmo ao longo da corrida e teve dificuldades em segurar Hamilton (que pareceu o mais à vontade que já esteve o ano todo, passando por fora Tsunoda). A RB sumou novamente pontos, cortesia de um sólido Tsunoda, enquanto que a Aston Martin conseguiu evitar sair a zeros de Miami graças a Alonso, que foi ultrapassando rivais até ao 9º lugar.

A Alpine também ficou satisfeita com as suas atualizações, com Esteban Ocon a acabar com o jejum de pontos da equipa ao lutar com unhas e dentes pelo seu 10º lugar (um justo prémio). Apenas Kick Sauber e Williams continuam a zeros em 2024.

ATUALIZAÇÃO 06/05 – A investigação ao incidente Piastri-Sainz deu origem a uma penalização de 5 segundos para Sainz, que o fez perder uma posição.

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Quali Sprint: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Pérez \ 4. Ricciardo \ 5. Sainz (Ver melhores momentos)

Sprint: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Pérez \ 4. Ricciardo \ 5. Sainz \ 6. Piastri \ 7. Hülkenberg \ 8. Tsunoda (Ver melhores momentos)

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Sainz \ 4. Pérez \ 5. Norris (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Norris \ 2. Verstappen \ 3. Leclerc \ 4. Pérez \ 5. Sainz \ 6. Hamilton \ 7. Tsunoda \ 8. Russell \ 9. Alonso \ 10. Ocon (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (136) \ 2. Pérez (103) \ 3. Leclerc (98) \ 4. Norris (83) \ 5. Sainz (83) —– 1. Red Bull (239) \ 2. Ferrari (187) \ 3. McLaren (124) \ 4. Mercedes (64) \ 5. Aston Martin (42)

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Corrida anterior: GP China 2024
Corrida seguinte: GP Emilia Romagna 2024

GP Miami anterior: 2023

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Fontes:
Autosport PT \ Alpine anuncia David Sanchez como Diretor Técnico Executivo
Grande Prêmio \ F2 e F3 descartam Andretti
HP \ Ferrari anuncia patrocínio HP
Motorsport \ Sauber anuncia Hülkenberg
Red Bull \ Adrian Newey abandona Red Bull





Problema crescente para a Williams em dia de glória para Red Bull – GP Japão 2024

9 04 2024

Poucos circuitos podem receber a honra de carregarem tanto simbolismo histórico na Fórmula 1 quanto o GP do Japão em Suzuka. Famosamente a única pista em “8” (um “8” bem torto, mas ainda assim…) e a primeira corrida asiática da histórica da categoria, a quase totalidade das curvas da pista são desafiantes e historicamente significativas para a F1. A 130R onde Alonso ultrapassou Schumacher por fora, a chicane final onde Senna e Prost decidiram o campeonato de 1990, a primeira curva onde Räikkonen ultrapassou Fisichella na última volta para vencer,…

Criada em 1962 pela Honda como local principal de testes para os seus carros de competição, a pista pouco mudou nos anos desde a sua criação, até porque o seu desenho inicial procurou fazer das colinas e estradas regionais de forma a exigir o mínimo de terraplanagem possível. O arquiteto original, John Hugenholtz, ainda expressou preocupação com os produtores de arroz, mas Soichiro Honda simplesmente pagou aos agricultores e atribui-lhes novas terras. A primeira prova no traçado foi de carros desportivos, vencida por Peter Warr num Lotus 23.

A F1 até visitou o autódromo de Fuji primeiro para o GP do Japão inaugural, mas apenas em 2 edições nos 1970s e outras 2 nos 2000s. Nas restantes, muitas vezes como prova final do campeonato, foi Suzuka quem recebeu as suas provas. Já em 2024, pela primeira vez, veremos o GP japonês na fase inicial do calendário.

Alguns dias antes do fim-de-semana, a Liberty Media anunciou que avançará com a compra da MotoGP para juntar ao seu porfólio de automobilismo que já inclui a F1. A empresa já deixou claro que não pretende juntar as duas categorias num mesmo fim-de-semana de competição e que está confiante de a compra não ser bloqueado por excessiva concentração de poder.

Ronda 4 – Grande Prémio do Japão 2024

Como se não bastassem constantes perguntas sobre a utilização dos seus chassis extra e de reparações dos seus carros, a Williams viu todos os seus piores cenários confirmarem-se em Suzuka. Com um carro reparado, Logan Sargeant tratou de o destruir logo no primeiro treino livre. Depois, na partida, Alexander Albon envolveu-se num incidente aparatoso com Daniel Ricciardo (que até valeu uma bandeira vermelha). Como se não bastasse, Sargeant ainda foi à gravilha e danificou o chão em corrida.

Não foi por acaso que o comentador Will Buxton fez questão de indiretamente perguntar a James Vowles se na China a equipa contaria com os dois carros…

Ricciardo também não teve um bom fim-de-semana, voltando a perder o duelo de qualificação para o colega da RB, Yuki Tsunoda, e depois sendo o principal responsável pelo acidente com Albon (sem penalização). O australiano já tratou de dar a entender à imprensa que tem estado a pedir para experimentar um novo chassis, como potencial causa da sua má performance.

Tsunoda, a correr em caso, voltou a colocar o seu RB no Q3 e a fazer uma ótima e sólida performance em corrida, com direito a diversas ultrapassagem por fora e a somar mais um valioso ponto para a equipa italiana. Ainda está longe de poder ser considerado um candidato ao segundo Red Bull, mas está a dar importantes passos para garantir a sua continuidade.

Longe das dificuldades de Melbourne, e mesmo com a necessidade de realizar duas partidas, a Red Bull acabou por passear por completo no Japão, tendo assegurado a primeira linha da grelha em qualificação e a dobradinha liderada por Max Verstappen (o que significa que todas as 4 provas do ano terminaram em dobradinhas).

A juntar-se aos Red Bull no pódio ficou Carlos Sainz, agradavelmente surpresa quando se apercebeu que não só conseguia ter mais ritmo de corrida que os McLaren como ainda suficiente para ameaçar o segundo Red Bull de Sergio Pérez. Lando Norris ainda tentou dar luta, só que já parece mais claro que se os pilotos da McLaren até conseguem disfarçar a falta de ritmo para a Ferrari em qualificação, em corrida a tarefa é muitos mais difícil.

Charles Leclerc (Ferrari) teve uma qualificação incaracteristicamente menos bem conseguida, mas foi o único a fazer funcionar uma estratégia de uma única paragem nas boxes que lhe valeu o 4º lugar, enquanto que Fernando Alonso (Aston Martin) usou a distância DRS para Oscar Piastri (McLaren) como defesa contra uma investida final de George Russell (Mercedes).

A Mercedes continua em grandes dificuldades para fazer os seus carros estarem melhor que 4ª força do campeonato, numa altura em que ainda assim parecem convencidos de que se trata do tratamento dos pneus que é a limitação do W15 (e não uma falta de downforce).

Destaque ainda para mais um péssimo fim-de-semana de Kick Sauber e Alpine. A primeira continua a sua vaga de problemas de fiabilidade, enquanto a segunda esteve bem longe de qualquer rival (culminando com a equipa a pedir a Esteban Ocon para puxar pelo carro e a ouvir a resposta incrédulo do piloto em como já estava no máximo…).

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Norris \ 4. Sainz \ 5. Alonso (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Sainz \ 4. Leclerc \ 5. Norris \ 6. Alonso \ 7. Russell \ 8. Piastri \ 9. Hamilton \ 10. Tsunoda (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (77) \ 2. Pérez (64) \ 3. Leclerc (59) \ 4. Sainz (55) \ 5. Norris (37) —– 1. Red Bull (141) \ 2. Ferrari (120) \ 3. McLaren (69) \ 4. Mercedes (34) \ 5. Aston Martin (33)

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Corrida anterior: GP Austrália 2024
Corrida seguinte: GP China 2024

GP Japão anterior: 2023

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Fonte:
Sapo \ Liberty Media compra MotoGP





Regresso vitorioso para Sainz – GP Austrália 2024

25 03 2024

Desde 1996 palco tradicional do início de temporada, Melbourne até se vê de volta a uma data bastante usual dessa condição, mas agora como terceira ronda do mundial, a seguir às duas provas do Médio Oriente. Inexplicavelmente, voltou a não ser agrupada em sequência com a China, deixando o paddock com uma dispendiosa visita à Oceânia e de regresso à Europa.

O Albert Park de Melbourne é o circuito do GP da Austrália, uma pista semi-citadina à volta de um lago, que possui um traçado apertado e sinuoso sem grandes possibilidades de ultrapassagem. Para ajudar, o circuito aproveitou o período pandémico para modificar várias secções de baixa velocidade, convertendo-as para alta velocidade e criando novos pontos de ultrapassagem.

Depois de a pandemia ter impedido a realização das provas de 2020 e 2021, os últimos dois anos de regresso viram Charles Leclerc e Max Verstappen vencerem em território australiano, sendo interessante que a Ferrari já tenha vencido no país 13 vezes contra “apenas” 2 da Red Bull.

Desta vez, correram dois pilotos australianos em casa (Oscar Piastri e Daniel Ricciardo), num fim-de-semana que conta desde o ano passado com a presença das categorias F2 e F3 nas provas de apoio.

As duas semanas entre Jeddah e Melbourne trouxeram espaço para pequenas notícias de atualização à F1, desde a aceleração da compra da Sauber pela Audi (provavelmente preocupada com os atuais resultados em pista), a ida de Simone Resta para a Mercedes, a renovação de Zak Brown como CEO McLaren até 2030, entre outras.

Os grandes destaques num campo mais hostil foram a investigação da FIA a si mesma e ao seu Presidente ter descoberto nada de errado na conduta de Mohammed ben Sulayem (surpresa), e também a queixa criminal de Susie Wolff contra a mesma FIA pela acusação de troca de informações confidenciais de que tinha sido acusada sem fundamento no início deste ano.

Ronda 3 – Grande Prémio da Austrália 2024

Seria de pensar que nada tão dramático quanto a necessidade de substituir um piloto fosse suceder na terceira ronda do campeonato, mas rapidamente se provou que pior que não ter piloto para um carro era ter carro para um piloto.

Alexander Albon destruiu o seu Williams no primeiro treino livre e a equipa britânica foi apanhada em falso, sem nenhum carro de substituição e incapaz de reparar os estragos extensivos. A solução foi James Vowles anunciar que a decisão difícil de retirar o carro de Logan Sargeant para Albon. Sargeant afirmou compreender a decisão, mas também explicou que estava perante o dia mais difícil da sua vida. Uma vez que Albon é, desde 2022, responsável por mais de 85% dos pontos da Williams e que o meio da tabela está em luta renhida por pontos, o paddock compreendeu a lógica.

O piloto tailandês correspondeu em parte em qualificação, colocando-se em 12º, mesmo com Lewis Hamilton (Mercedes) à sua frente, com a Mercedes a voltar a mostrar alguma falta de ritmo. Falta que não parece ser sentida pela cliente McLaren, que voltou a melhorar o seu registo de qualificação de 2024, com Lando Norris em 3º e Oscar Piastri em 5º.

A luta por pole position ficou entre uma Ferrari mais próxima da frente e uma Red Bull que permanece imbatível. Max Verstappen colocou os segundos em pole, ao passo que Carlos Sainz brilhou ao meter a Ferrari na primeira linha apenas duas semanas depois da sua cirurgia. Já Sergio Pérez (Red Bull) tinha sido 3º originalmente mas foi penalizado em 3 lugares na grelha por ter impedido Nico Hülkenberg (Haas) no Q1.

Yuki Tsunoda (RB) foi o grande intruso do Q3, à frente do colega da casa (Daniel Ricciardo) que viu a sua melhor volta anulada por exceder limites de pista. Outro piloto em destaque foi Esteban Ocon (ao passar ao Q2), que parece estar a levar a má forma da equipa de maneira significativamente mais matura que Pierre Gasly.

No dia de corrida existiam grandes expectativas de que fosse possível haver uma surpresa na frente, mas dificilmente o abandono de Verstappen na terceira volta teria estado nas contas de alguém. O neerlandês abandonou com um travão traseiro direito a desintegrar-se a olhos vistos, já depois de ter sido passado por Sainz.

Com uma dinâmica de prova inteiramente diferente, Sainz teve como tarefa principal evitar ser passado nas boxes pelo colega Leclerc, algo que soube fazer mesmo na margem certa, tendo dado a ideia de que era o mais eficaz dos dois Ferrari ao longo de todo o fim-de-semana (o que também foi abordado extensivamente pelos jornalistas, uma vez que continua sem contrato para 2025). Dobradinha Ferrari no final, que os catapulta para ambas as lutas do título.

Norris completou o pódio num dia em que Piastri cometeu alguns erros pequenos mas significativos o suficiente para lhe retirar um pódio caseiro, e em que Pérez (único Red Bull em pista) não mostrou ritmo suficiente para preocupar os carros à sua frente.

A Aston Martin demonstrou ritmo suficiente para que a Mercedes tenha tido um GP em Melbourne extremamente desconfortável. Um abandono por problemas mecânicos de Hamilton causou um Safety Car Virtual, cujo grande beneficiado foi ironicamente Alonso. O espanhol passou para a frente de Russell e lá permaneceu durante a prova toda, culminando com um despiste aparatoso do Mercedes na perseguição. Já após a corrida, Alonso foi penalizado por alegadamente ter causado o acidente com um brake test, algo que categoricamente negou.

Esta penalização promoveu Stroll a 6º e, mais importantemente, Tsunoda a 7º para dar à RB os seus primeiros pontos do ano num fim-de-semana de enorme qualidade do japonês. Também a Haas voltou a mostrar serviço, culminando com uma luta direta de ambos os carros contra Albon que venceram, pontuando tanto Hülkenberg como Magnussen. Isto deixou a Williams sem recompensa pela sua troca de pilotos.

Já a Kick Sauber e a Alpine foram as piores representantes da grelha. A Kick Sauber voltou a ter problemas graves a mudar os pneus nas boxes, enquanto que a Alpine viu Pierre Gasly por duas vezes ser penalizado por cruzar a linha das boxes (um erro francamente amador).

Estes resultados relançam o interesse a um campeonato que tinha começado assustador para os rivais da Red Bull.

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Sainz \ 3. Norris \ 4. Leclerc \ 5. Piastri (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Sainz \ 2. Leclerc \ 3. Norris \ 4. Piastri \ 5. Pérez \ 6. Stroll \ 7. Tsunoda \ 8. Alonso \ 9. Hülkenberg \ 10. Magnussen (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (51) \ 2. Leclerc (47) \ 3. Pérez (46) \ 4. Sainz (40) \ 5. Piastri (28) —– 1. Red Bull (97) \ 2. Ferrari (93) \ 3. McLaren (55) \ 4. Mercedes (26) \ 5. Aston Martin (25)

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Corrida anterior: GP Arábia Saudita 2024
Corrida seguinte: GP Japão 2024

GP Austrália anterior: 2023

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Fórmula 2 (Rondas 5-6) \ Hadjar vence uma, mas levanta dois troféus

De modo a fazer uma cópia da situação de algumas horas antes na F3, a Fórmula 2 viu a sua qualificação interrompida por bandeira vermelha. Desta vez foi Jak Crawford (DAMS), com o recomeço da ação a trazer um Gabriel Bortoleto (Invicta) de faca nos dentes e, no fim, a arriscar em excesso na tentativa. O brasileiro saiu de pista e atrapalhou a volta do colega Kush Maini, que ainda assim conseguiu ir para 1º provisoriamente.

Enzo Fittipaldi (Van Amersfoort) perdeu o carro no muro, mas ainda havia margem para alguns carros acabarem as voltas. Andrea Kimi Antonelli (Prema) roubou a pole position provisório, mas depois Dennis Hauger (MP) chegou e ficou com a definitiva pole, seguido de Antonelli e Richard Verschoor (Trident).

Para o sábado de sprint, a prova começou (e decorreu) em caos constante. Isack Hadjar (Campos) partiu de forma brilhante e conseguiu assumir a dianteira, mas não sem dar um toque valente no colega de equipa (Pepe Martí) que eliminou o outro Campos e um inocente Bortoleto de prova (e trouxe o primeiro Safety Car). O resultado foi que, apesar de ter vencido triunfalmente a prova e de ser ter ouvido “A Marselhesa” no pódio, Hadjar foi penalizado e acabou 6º.

O vencedor da prova foi um esforçado Roman Staněk (Trident) a sair de pole inversa. O checo defendeu-se com unhas e dentes dos rivais mais rápidos durante a prova inteira com sucesso. Tanto sucesso que alguns adversários se atrapalharam e tiveram um incidente bizarro (como Antonelli, Verschoor e Paul Aron [Hitech]).

Ainda houve tempo para um pequeno drama entre colegas MP, com Franco Colapinto a querer a posição de Hauger e a ouvir o engenheiro de pista dizer “se estás rápido, então passa” de forma torta. Hauger não foi passado e até passou Maini de forma brilhante para o 2º lugar. Oliver Bearman (Prema) devia ter somado os primeiros pontos do ano, só que foi penalizado por correr com Joshua Dürkesen (PHM) para fora de pista.

Acabou por não ser um bom dia para os dois pilotos da dobradinha sprint no dia da feature. Staněk despistou-se e foi parar à gravilha na primeira volta, enquanto que Hauger destruiu o carro mais à frente (e causou o segundo SC Virtual, cujo grande beneficiário foi Hadjar). Maini e ambos os DAMS até estiveram nas primeiras posições mesmo até ao final, mas não tinham parado. Logo, Hadjar conseguiu vingar-se da derrota sprint com uma vitória magistral na feature.

Em geral, foi um dia de imensa ação em pista. Dürksen causou o primeiro SC Virtual com o seu abandono, Antonelli e Hauger trocaram posições na frente nas voltas iniciais e Victor Martins recuperou de 21º a 12º logo no princípio.

Destaque ainda para um fim-de-semana de Top 5 para Ritmo Miyata (Rodin), quando a luta pelo título se abriu para pilotos como Aron ou Hauger.

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Qualificação: 1. Hauger \ 2. Antonelli \ 3. Verschoor \ … \ 8. Hadjar \ 9. Bortoleto \ 10. Staněk

Resultado (Sprint): 1. Staněk \ 2. Hauger \ 3. Maini \ 4. Colapinto \ 5. Miyata \ 6. Hadjar \ 7. Martins \ 8. O’Sullivan (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Hadjar \ 2. Aron \ 3. Maloney \ 4. Antonelli \ 5. Miyata \ 6. Verschoor \ 7. Villagómez \ 8. Martins \ 9. Bearman \ 10. Crawford (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Maloney (62) \ 2. Aron (47) \ 3. Hauger (41) \ 4. Hadjar (34) \ 5. Maini (33) —– 1. Rodin (78) \ 2. Campos (60) \ 3. Hitech (57) \ 4. MP (54) \ 5. Invicta (48)

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Corrida anterior: Arábia Saudita 2024 \ Rondas 3-4
Corrida seguinte: Emilia Romagna 2024 \ Rondas 7-8

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Fórmula 3 (Rondas 3-4) \ Beganovic em grande

Na primeira qualificação do ano numa verdadeira sexta-feira, a Fórmula 3 viu Leonardo Fornaroli (Trident) conseguir melhorar a sua volta nos segundos finais com um tempo mais rápido que os dois rivais da Prema (Gabriele Minì e Dino Beganovic), alcançando pole position numa sessão marcada pela bandeira vermelha de Sami Meguetounif (Trident). O francês bateu no muro da última curva, destruindo o carro (algo semelhante ao que Piotr Wiśnicki da Rodin também fez com menos gravidade alguns minutos depois).

Para o sprint, a corrida acabou por ser a história dos 3 pilotos que partiram dos 3 primeiros lugares e um intruso. Laurens van Hoepen (ART) partiu de pole inversa e protagonizou a luta inicial com Martinius Stenshorne (Hitech) até o norueguês ter um ligeiro contacto com Christian Mansell (ART), que deixou Mansell com dificuldades no lado esquerdo do carro (vendo-o cair até ao último lugar pontuável).

Stenshorne acabaria por ir fugindo na liderança, onde nas voltas finais foi ameaçado por Arvid Lindblad (Prema) mas sem perder a vitória.

Para a feature, houve um pelotão de líderes claramente definido e composto por Fornaroli, Minì, Beganovic e Browning, que conseguiram acabar uma prova de desgaste rápido de pneus com uma enormidade de vantagem face ao 5º classificado (Charlie Wurz, que, não por acaso, foi o único estreante no Top 10).

Beganovic partiu 3º mas foi passando os rivais, primeiro o colega Minì e depois Fornaroli, até chegar a uma liderança que defendeu com unhas e dentes.

Wurz foi o melhor dos restantes, com Montoya a também se destacar no pelotão que caçava importantes pontos no domingo que até começou de SC (para 3 carros presos na gravilha).

Browning e Fornaroli estão agora empatados no topo, mas Minì e Beganovic estão bem próximos.

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Qualificação: 1. Fornaroli \ 2. Minì \ 3. Beganovic \ … \ 10. Mansell \ 11. Stenshorne \ 12. van Hoepen

Resultado (Sprint): 1. Stenshorne \ 2. Lindblad \ 3. van Hoepen \ 4. Boya \ 5. Goethe \ 6. Minì \ 7. Dunne \ 8. Montoya \ 9. Fornaroli \ 10. Mansell (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Beganovic \ 2. Fornaroli \ 3. Minì \ 4. Browning \ 5. Wurz \ 6. Montoya \ 7. Boya \ 8. Bedrin \ 9. Goethe \ 10. Mansell (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Browning (37) \ 2. Fornaroli (37) \ 3. Minì (32) \ 4. Beganovic (28) \ 5. Lindblad (23) —– 1. Prema (83) \ 2. Trident (60) \ 3. Hitech (47) \ 4. ART (45) \ 5. Campos (39)

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Corrida anterior: Bahrain 2024 \ Rondas 1-2
Corrida seguinte: Emilia Romagna 2024 \ Rondas 5-6





A prometida aproximação à Red Bull passará do papel?

27 02 2024

Há um clima de instabilidade no ar neste início de temporada. Não a nível de ação em pista, onde provavelmente teremos o mesmo domínio que em 2023. Mas de bastidores, muito tem acontecido. A recusa da FOM na entrada da Andretti como nova equipa (e mais especificamente os motivos que apontou para essa recusa) é apenas mais um capítulo de uma capitalização extrema do desporto pela FOM e de uma crescente tensão FIA-FOM.

As renovações dos circuitos de Suzuka e Silverstone em contratos longos foram bem recebidas, mas a assinatura de um circuito citadino em Madrid fez levantar o sobrolho de muitos fãs, cansados de ver mais e mais circuitos sem grande personalidade entrar no calendário (enquanto que locais como Alemanha, França e Malásia continuam fora).

Depois há ainda a investigação a Christian Horner por alegado comportamento inapropriado, longe de ser levada levianamente. A Ford já insistiu por transparência, uma vez que colaborará com a equipa a partir de 2026. Horner é o mais antigo chefe de equipa ativo, por larga margem, e uma potencial saída teria um enorme impacto numa Red Bull campeã do mundo (e pelo potencial de posteriores saídas, como a do projetista Adrian Newey).

De 7º a 10º, quem foge do pelotão inferior

Um fosso bastante visível foi estabelecido em 2023 entre as 4 equipas pior classificadas e as restantes 6. Fugir desta espiral é fundamental para todas, mas há uma estrutura que já sabemos que não deverá fugir: a Haas.

Fundada com o propósito explícito de promover a manufactura da marca americana Haas, Gene Haas há muito que vinha sendo acusado de não investir apropriadamente na F1. Agora que passaram 2 anos das novas regras em que a equipa apostou, o saldo foi um 8º e um 10º lugares. Absolutamente insuficiente e razão para o americano ter corrido com o líder Guenther Steiner. Ayao Komatsu tomou o lugar, mas já ficou claro que será um ano penoso, tarde demais para mudar de trajetória a curto prazo. Assim, Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen terão que lutar com o VF-24 este ano, na insegurança de saber que provavelmente um deles terá que dar lugar a Oliver Bearman no final do ano.

Mais à frente, depois de anos com duas “Alfas” na grelha, 2024 vê ambas mudar de nome. A Alfa Romeo regressou à sua forma Sauber durante os próximos dois anos até ser Audi (ou será Kick Sauber, ou Stake, ou…) e apostou fortemente num desenho de monolugar agressivo para dar um salto competitivo. Guanyu Zhou até terminou 3º no último dia de testes, mas é incerto qual o ritmo verdadeiro da nova estrutura. Valtteri Bottas também terá um ano importante, tentando convencer o paddock de que tem o que é necessário para chegar até aos próximos regulamentos.

A outra “Alfa”, a AlphaTauri, conseguiu a proeza de se ter tornado mais insípida. Passou a ser RB, que não só a confunde com a Red Bull principal, como ainda lhe retira todo o espírito Minardi que ainda detinha. Isto misturado com uma partilha reforçada de peças com a Red Bull até lhe parece ter trazido um nível de performance interessante, mas que já levou as outras 8 estruturas a pressionar para uma venda. No entretanto, resta ver quanta aproximação aos pontos terá a equipa de Yuki Tsunoda e Daniel Ricciardo (sendo que o derrotado deste duelo interno deverá sair da F1 pela porta pequena).

Por último, a Williams até contou com desenvolvimentos interessantes, mas já apanhou o seu primeiro grande choque ao aperceber-se que todos deram um passo em frente também. Já nem falando de ter sido a única que não chegou a tocar nas 300 voltas completadas na pré-temporada. Ainda assim, se Logan Sargeant estiver mais perto de Alexander Albon poderá ter uma plausível hipótese de segurar o seu 7º posto nos construtores.

O momento das grandes decisões para Alpine e Mercedes

Quem não fez em 2023 parte do grupo das estruturas em dificuldades, mas que promete poder ser (pelo menos no início do ano) é a Alpine. Os franceses mudaram praticamente tudo no seu carro, mas o resultado dos testes, apesar da boa fiabilidade, tem sido extremamente preocupante, a ponto de ambos os carros não saírem do Q1 ser uma possibilidade bastante razoável.

Esteban Ocon já mostrou o seu jeito para o desenrascanço, mencionando que tecnicamente ainda é um jovem Mercedes. Resta ver como será a paciência de Pierre Gasly.

A vaga a que Ocon se autocandidatou foi precisamente na Mercedes, em que a saída de Lewis Hamilton já anunciada para 2025 vai condicionar por inteiro o mercado de pilotos. Apesar da mudança de conceito radical já em curso, e que até pareceu prometer uma pequena reaproximação aos líderes, a Mercedes vai viver um ano de olhos postos no futuro. George Russell será o novo líder absoluto, mas resta ver que género de colega de equipa o acompanhará. Se mostrar serviço este ano, Russell pode comandar Brackley como Norris ou Leclerc já comandam as suas atuais equipas. Se não mostrar… Um Alonso poderá levar o volante a seu lado.

Temos ou não aproximação à Red Bull?

Aston Martin e McLaren, com os seus motores Mercedes, fizeram uma pré-temporada pacata. Mas preocupam a Mercedes oficial. Isto porque foram cumprindo o seu programa sem qualquer problema e pareciam imensamente satisfeitas no final.

A McLaren quer continuar a ser a mais direta perseguidora da Red Bull e já fechou por completo o seu lineup para os próximos anos, aguentando para o longo prazo os préstimos de Lando Norris e Oscar Piastri. Já a Aston Martin tem uma âncora sob a forma de Lance Stroll, mas também um talento enorme sob a forma de Fernando Alonso (que está em ano final de contrato e com inúmeras possibilidades pela frente) e a promessa de que compreendeu bem os caminhos errados de desenvolvimento de 2023.

Se ambas conseguirem provar que serem estruturas clientes não as impossibilita de voos mais altos, poderão realmente conseguir pregar sustos valentes às estruturas cimeiras.

Começando pela primeira dessas, a Ferrari está claramente a apostar forte para o seu futuro. A contratação milionário de Lewis Hamilton para ao lado do talentoso Charles Leclerc é uma declaração formal de ambições elevadas. O facto de ter definido o seu carro como 95% novo também ajuda a embalar os ânimos para um bom 2024, assim como ter ficado líder do segundo e terceiro dias.

Mas isto foi com um asterisco bem grande. A Red Bull.

Os austríacos poderiam ter sentido a pressão de ganhos decrescentes por terem acertado com o seu conceito de carro. Mas como o RB20 trocaram as voltas aos rivais: mudaram de conceito, para algo ainda mais arrojado (e hilariantemente parecido com o conceito “falhado” da Mercedes). Adrian Newey criou um modelo arriscado que já viu Max Verstappen fazê-lo voar (e Sergio Pérez pelo menos planar), mesmo, alegamente, sem puxar a sério por ele.

Apenas uma quebra interna, como é a investigação Horner, poderá fazer a equipa temer algo das rivais. Ou, pelo menos, assim parece.

Destaque ainda para a redução da demora de ativação de DRS de 2 para 1 volta, a atribuição de mais uma unidade de potência por ano às equipas (já perto do início do ano, o que levou as marcas a apostarem em durabilidade que agora não precisarão por completo, permitindo correr os motores mais fortes), e ainda a modificação do fim-de-semana de sprints para algo um pouco mais lógico.

F2 – Novo monolugar em ano de pressão máximo para Antonelli

Já é tradicional haverem queixas sobre a falta de progressão da F2 para a F1, e o facto de pela primeira vez na história não ter havido rotatividade na F1 não augurava nada de bom. Mas a F2 está em mudança. Um novo monolugar, mais adaptado às regras pós-2022 da categoria principal, com prometidas melhorias de ultrapassagens é um bom princípio e tem um efeito secundário bem interessante: o efeito experiência dos pilotos a entrar nos seus terceiros e quartos anos de categoria é diminuído.

Os estreantes estão, assim, com grandes hipóteses de conseguir fazer o impensável e evitar que pilotos favoritos como Victor Martins ou Oliver Bearman sejam os únicos candidatos ao título. O que traz um elemento adicional de pressão a alguém que já chega cheia dela: Andrea Kimi Antonelli. O italiano é apontado com possibilidades da vaga F1 de Hamilton na Mercedes, mas terá que mostrar serviços rapidamente na F2, quanto já tem a desvantagem de a Mercedes o ter feito saltar a F3. Se já houve maiores expectativas num piloto, talvez apenas a Verstappen…

Estreantes como Gabriel Bortoleto e Pepe Martí também terão uma chance bem jeitosa para mostrar serviço, inseridos que estão agora em equipas Junior de estruturas oficiais de F1. Só que segundos anos como Jak Crawford, Zane Maloney, Franco Colapinto ou Isack Hadjar também terão uma palavra a dizer.

Vem aí um entusiasmante ano de F2…

F3 – Duelo privado Prema ou algo mais?

Geralmente composta exclusivamente de caos total, a Fórmula 3 não deve fugir à regra em 2024. Vários jovens deram o salto para a categoria logo acima, mas dois permanecerem e são pilotos Prema: Dino Beganovic e Gabriele Minì (das academias Ferrari e Alpine, respetivamente). O título é quase certo de pertencer a um deles, sendo que o terceiro piloto (Arvid Lindblad) terá que lutar muito por não passar despercebido.

Mas há vida para além deste duelo. A sempre presente Trident não tem filiados de academias, mas tem talento sob a forma de Leonardo Fornaroli, Sami Meguetounif e Santiago Ramos. A MP corre com dois jovens Red Bull de bom gabarito (Tim Tramnitz e Kacper Sztuka). Luke Browning, uma das grandes surpresas de 2023, corre pela Hitech com possibilidades interessantes no seu futuro, agora com a academia Williams.

Mais atrás ainda, chegou uma ART com um 2023 para esquecer e deserta de se provar novamente, provando que não é apenas nas equipas teoricamente cimeiras que a luta ficará restrita.

Resta ver o que sairá deste caos vagamente organizado.





Lançamentos 2024 – RB VCARB 01

9 02 2024

Com uma sequência absolutamente nojenta de letras quase sem sentido, a antiga Minardi, antiga Toro Rosso e antiga AlphaTauri tem agora facilmente o seu pior nome de sempre. A designação oficial de Visa Cash App RB F1 Team esconde um nome de inscrição de Racing Bulls S.p.A, que por sua vez esconde um chassis chamado RB. RB de Racing Bulls, certo? Não. Fontes da equipa dizem ser uma sigla sem significado oficial.

Bem-vindos à apresentação da equipa mais artificial da história da categoria.

Nem tudo são más notícias, no entanto. O azul menos escuro que da Red Bull, com detalhes em branco e vermelho, é uma simpática quebra da fibra de carbono exposta dos carros novos de 2024. Uma dose saudável de patrocínios, um carro com mais partilha de peças com a Red Bull que nunca e uma das duplas de pilotos mais experientes da sua história mostram que esta RB vem com ambições de subir de ritmo a olhos vistos (Zak Brown da McLaren já tem levantado muito questões sobre que partilha de dados tem havido entre as estruturas).

Um design agressivo leva vários comentadores a acreditarem estarmos perante uma boa base, mas apenas os testes o dirão. Daniel Ricciardo e Yuki Tsunoda continuam aos comandos do RB em corrida, com Liam Lawson à espreita como piloto de testes oficial (depois de já ter feito boa figura em prova em 2023).

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Fonte:
The Race \ RB VCARB 01





Encaixando as peças – GP Abu Dhabi 2023

26 11 2023

O entusiasmo que Abu Dhabi consegue provocar no pública da Fórmula 1 tem uma correlação extremamente direta com se ainda existe um título para decidir na ronda final. Pista de poucas ultrapassagens, Yas Marina consegue produzir corridas tensas no melhor sentido da palavra quando há muito em jogo (2010, 2016, 2021) mas conseguem produzir níveis enormes de sono quando nada está em disputa.

Construído de raiz para receber a categoria de automobilismo, o emirado dos EAU gastou uma enormidade de dinheiro para se tornar um dos circuitos mais bem apetrechados e seguros do calendário (e outra enormidade estimado em 70 milhões de euros em pagamentos anuais à FOM). Só que a configuração da pista nunca entusiasmou ninguém. O problema teve uma solução parcial em 2021, quando certas secções lentas foram alteradas para secções de média velocidade.

Com um título mais que decidido, a Fórmula 2 teve que dar o seu contributo para que no Médio Oriente ainda houvesse um título em discussão.

Ainda assim, vale a pena referir que o complexo é descrito como extremamente prazeroso para fãs ao vivo: uma prova que começa à tarde e acaba de noite, o Ferrari World com a mais rápida montanha russa do mundo ao lado, ótimo catering e vários hotéis de grande qualidade (um deles por cima da pista).

Ronda 22 – Grande Prémio de Abu Dhabi 2023

Inesperadamente, a chegada aos Emirados trouxe vários pontos de interesse longe do campeonato de equipas. Ferrari e Mercedes tinham muito poucos pontos entre si, a McLaren e Aston Martin ainda tinham contas a ajustar pelo 4º lugar do campeonato e o 7º posto da Williams poderia facilmente ser tomado de assalto pelas rivais abaixo.

Em termos de luta pela vitória… não existiu luta. Max Verstappen fez pole e no início da corrida fugiu na frente (até porque Charles Leclerc foi demasiado simpático nas suas tentativas de ultrapassagem), dando-se até ao luxo de oferecer prioridade na ida às boxes a Sergio Pérez. No final, nem cansado parecia quando venceu (estabelecendo um novo recorde de 19).

Atrás chegou Pérez, que recuperou de 9º para 2º, mas que perdeu o pódio devido a um incidente perfeitamente evitável com Lando Norris (que lhe valeu 5 segundos de penalização). Mesmo assim, Leclerc ainda tentou ajudar, deixando-o passar para tentar garantir que o mexicano terminava com vantagem suficiente para terminar na frente de George Russell (e dar o 2º nos construtores à Ferrari). Uma manobra inteligente mas insuficiente, ficando a Mercedes com o 2º posto no campeonato.

Parte da razão para a proximidade da classificação final teve a ver com um baixo 9º posto de Lewis Hamilton, com direito a uma luta agressiva com Fernando Alonso (que voltou a fazer os seus muito “modestos” comentários sobre o assunto. A boa performance do espanhol não conseguiu evitar que a Aston perdesse em toda a linha para os McLaren (em 5º e 6º), que por sua vez anunciou ter renovado contrato de fornecimento de motores com a Mercedes até 2030.

Atrás de Alonso chegou um impressionante Yuki Tsunoda, que conseguiu preocupar momentaneamente a Williams quanto ao 7º lugar nos construtores. O japonês lutou contra rivais melhor equipados para somar 4 pontos e dar um belo presente a Franz Tost na última prova como líder da AlphaTauri.

A corrida em si foi tão pouco movimentada que os comentadores (David Coulthard e Jolyon Palmer) passaram a maior parte do tempo a falar sobre como faziam o seu coast and lift quando pilotavam F1.

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Piastri \ 4. Russell \ 5. Norris (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Russell \ 4. Pérez \ 5. Norris \ 6. Piastri \ 7. Alonso \ 8. Tsunoda \ 9. Hamilton \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (575) \ 2. Pérez (285) \ 3. Hamilton (234) \ 4. Alonso (206) \ 5. Leclerc (206) —– 1. Red Bull (860) \ 2. Mercedes (409) \ 3. Ferrari (406) \ 4. McLaren (302) \ 5. Aston Martin (280)

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Corrida anterior: GP Las Vegas 2023
Corrida seguinte: GP Bahrain 2024

GP Abu Dhabi anterior: 2022

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Fórmula 2 (Rondas 25-26) \ Pourchaire campeão na última ronda

A gigante pausa entre a penúltima e última provas da Fórmula 2 acabou por gerar a sua habitual mini-dança de cadeiras, com alguns pilotos que se tinham destacado na Fórmula 3 a estrearem-se na categoria imediatamente acima. Foram os casos de Franco Colapinto na MP, no lugar de Jehan Daruvala, e de Paul Aron na Trident, no lugar de Clément Novalak.

Ayumu Iwasa ainda tinha chegado ao Médio Oriente ainda com uma muito remota possibilidade de título mas rapidamente perdeu-a, deixando Théo Pourchaire e Frederik Vesti numa luta privada. Vesti qualificou-se mal, mas isso até o deixou em 2º para a partida do sprint. Aí o piloto fez questão de receber a informação de que não havia nada a perder na luta pela vitória. O pole inverso, Enzo Fittipaldi, até disse o mesmo, só que Vesti estava com uma velocidade diabólica e conseguiu assumir a dianteira.

Vitória sprint para Vesti deixou-o com possibilidade (remota) de ainda ser campeão, numa prova em que Pourchaire também recuperou um bocadinho até aos pontos inferiores.

Na manhã de domingo foi a vez de Jack Doohan brilhar (depois de já ter sido pole position na sexta-feira. O australiano venceu e ascendeu a 3º no campeonato, mostrando que se tivesse conseguido ser mais regular ainda poderia ter aspirado a mais. Resta ver se continuará na categoria para mais um ataque na 3ª tentativa ou não.

Atrás, Vesti e Pourchaire foram recuperando em estratégias distintas, culminando com ambos a lutarem agressivamente (mas de forma justa) pelo 5º posto durante várias voltas. Com pneus mais frescos Vesti passou e até se envolveu num incidente com Zane Maloney, mas sem consequências. 3º lugar para Vesti e título de F2 para Pourchaire. Nenhum dos dois, para já, conseguirá ascender à F1.

O título de F2 regressou à ART.

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Qualificação: 1. Doohan \ 2. Martins \ 3. Vesti \ … \ 8. Hadjar \ 9. Vesti \ 10. Fittipaldi

Resultado (Sprint): 1. Vesti \ 2. Fittipaldi \ 3. Verschoor \ 4. Hauger \ 5. Hadjar \ 6. Doohan \ 7. Pourchaire \ 8. Iwasa (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Doohan \ 2. Martins \ 3. Vesti \ 4. Iwasa \ 5. Pourchaire \ 6. Leclerc \ 7. Hauger \ 8. Hadjar \ 9. Maini \ 10. Crawford (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Pourchaire (203) \ 2. Vesti (192) \ 3. Doohan (168) \ 4. Iwasa (165) \ 5. Martins (150) —– 1. ART (353) \ 2. Prema (322) \ 3. Rodin Carlin (220) \ 4. DAMS (214) \ 5. Virtuosi (176)

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Corrida anterior: Itália 2023 \ Rondas 23-24
Corrida seguinte: Bahrain 2024 \ Rondas 1-2





Photo Finish – GP São Paulo 2023

6 11 2023

Sendo quase difícil de acreditar que o seu futuro esteve muito recentemente em jogo, o circuito de Interlagos está agora de pedra e cal no calendário (ainda que as movimentações anteriores do Rio de Janeiro tenham levado a que a pista recebesse o GP de São Paulo, ao invés do GP do Brasil). Alterado no início dos anos 90 para a sua configuração atual, Interlagos é um dos traçados favoritos dos pilotos.

Esta atração é simples: o traçado tem uma reta da meta extremamente curva seguida de uma sequência de nomes extraordinariamente bem conhecidos a nível mundial, como o S de Senna, a Reta Oposta, Descida do Lago, Laranjinha, Junção, etc. O caráter de alta velocidade, as oportunidades de ultrapassagem e um público entusiasmadíssimo por automobilismo tratam de completar o cenário.

Tendo começado a receber corridas oficiais de F1 a partir dos anos 70, Interlagos acabaria por ter um breve período sem F1 nos anos 80, quando a pista de Jacarepaguá aproveitou o descontentamento com a ausência de obras de melhoramento de São Paulo para roubar brevemente a prova. No regresso, com o nome de Autódromo José Carlos Pace, a pista foi recebendo melhorias constantes (a última das quais em 2014).

Ronda 20 – Grande Prémio de São Paulo 2023

De regresso a um dos circuitos mais adorados do calendário, a F1 foi pela sexta e última vez testar um dos formatos menos adorados entre os fãs do paddock: o sprint. Com um tempo substancialmente melhor que no dia anterior, Interlagos teve uma qualificação para o sprint bastante interessante, com direito a um acidente nos instantes finais.

Fernando Alonso saiu do caminho de um rápido Esteban Ocon após o S de Senna, quando o francês perdeu o controlo do carro e foi chocar com o espanhol (Ocon insistiu que a culpa era de Alonso e que não perdera controlo quando tudo indica que, de facto, foi precisamente o que sucedeu). Ocon perdeu várias peças no muro e Alonso precisou de reparações extensivas à sua suspensão dianteira.

O resto da sessão foi mais simples, com Lando Norris a conseguir terminar em 1º, algumas centésimas na frente de Max Verstappen. Na largada, algumas horas depois, Norris não conseguiu segurar o Red Bull da frente e até perdeu uma posição para George Russell. Passar Russell não demorou muito e o McLaren lançou-se em perseguição de Verstappen, mas o neerlandês teve sempre a situação facilmente sob controlo.

Mais atrás o destaque foi para a boa forma dos AlphaTauri, com Yuki Tsunoda a passar Lewis Hamilton para terminar num ótimo 6º posto e Daniel Ricciardo a manter-se em lutas bem interessantes com Carlos Sainz, Oscar Piastri e os Alpine (ainda que os pontos o tenham iludido por uma posição).

Já para o principal evento, os acontecimentos foram mais perturbados. O céu escuro (preto, mesmo) ditou o fim da sessão antecipadamente, mas a pole position foi mais uma vez Verstappen. Charles Leclerc seguiu-se e depois uns surpreendentes Aston Martin (ainda mais surpreendentemente liderados por Lance Stroll).

No dia de corrida o caos que ocorreu não teve nada a ver com a chuva e tudo a ver com incidentes em pista. Na partida, Nico Hülkenberg viu-se espremido entre Alexander Albon e Kevin Magnussen, acabando por não conseguir evitar o contacto que eliminou os outros dois, além de dar sérios danos a Oscar Piastri e Daniel Ricciardo. Bandeira vermelha para reparações e nova partida, desta vez sem eventos de nota.

Verstappen ainda viu Norris a tentar atacar nas voltas de começo mas rapidamente fez pleno uso do seu Red Bull para se afastar, com ambos os pilotos a terem uma corrida particular várias milhas na frente de todos nos dois primeiros lugares sem mudarem de ordem. Já o outro Red Bull viu-se envolvido numa luta de corrida inteira com Fernando Alonso que teve o seu climax na volta final, quando Pérez passou Alonso mas viu-se passado novamente, culminando num photo finish na linha de chegada em que o Aston Martin saiu vitorioso (e felicíssimo).

Stroll perdeu duas posições, mas fez uma sólida corrida com Carlos Sainz logo atrás. O outro Ferrari de Leclerc teve um incidene caricato, com uma falha hidráulica na volta de aquecimento a levá-lo contra o muro e a abanonar.

Pierre Gasly chegou em 7º, na frente de ambos os Mercedes que definharam por inteiro em ritmo de corrida (com Russell a ter inclusive que abanonar antes do fim), com Hamilton, Tsunoda e Ocon a completarem os lugares pontuáveis (a AlphaTauri ainda tem boas hipóteses de repassar a Williams nos construtores).

Apenas 14 carros terminaram, com os dois Alfa Romeo arrumados também.

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Quali Sprint: 1. Norris \ 2. Verstappen \ 3. Pérez \ 4. Russell \ 5. Hamilton (Ver melhores momentos)

Sprint: 1. Verstappen \ 2. Norris \ 3. Pérez \ 4. Russell \ 5. Leclerc \ 6. Tsunoda \ 7. Hamilton \ 8. Sainz (Ver melhores momentos)

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Stroll \ 4. Alonso \ 5. Hamilton (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Norris \ 3. Alonso \ 4. Pérez \ 5. Stroll \ 6. Sainz \ 7. Gasly \ 8. Hamilton \ 9. Tsunoda \ 10. Ocon (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (524) \ 2. Pérez (258) \ 3. Hamilton (226) \ 4. Alonso (198) \ 5. Norris (195) —– 1. Red Bull (782) \ 2. Mercedes (382) \ 3. Ferrari (362) \ 4. McLaren (282) \ 5. Aston Martin (261)

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Corrida anterior: GP México 2023
Corrida seguinte: GP Las Vegas 2023

GP São Paulo anterior: 2022





Pesadelo para Pérez, recorde para Verstappen – GP México 2023

29 10 2023

O regresso do GP do México ao calendário em 2015 foi recebido com um sentimento misto. Por um lado, tratava-se do regresso de um dos países mais interessantes ao calendário. Por outro, era difícil de ignorar que o circuito Hermanos Rodríguez seria totalmente modificado (de forma subtil nalguns sectores) para fazer face às novas exigências de segurança da F1.

A famosa Peraltada foi a que mais sofreu, transformando-se metade dela numa secção lenta (para criar um pequeno estádio, que entretanto se tornou, à sua própria medida, icónico), mas também no miolo da pista, que passou a ter curvas mais apertadas.

Criado em 1959, com o aproveitamento das estradas de Magdalena Mixiuhca, a pista sediou algumas provas de F1 nos anos 60, altura em que os irmãos que dão atualmente o nome ao traçado (Pedro e Ricardo) correram. Problemas com a obediência do público em não invadir e outros problemas de segurança afastaram a prova do calendário, até a fama de Sergio Pérez (o terceiro mexicano a vencer GPs) ajudar a reavivá-la.

Ronda 19 – Grande Prémio do México 2023

Havia uma certa inevitabilidade no ar quanto ao que esperar de Sergio Pérez no seu Grande Prémio caseiro. Os rumores da sua possível saída antecipada estavam a aumentar de tom e a qualificação viu o mexicano colocar-se em 5º lugar atrás do AlphaTauri de Daniel Ricciardo, era necessário reagir. Quando domingo chegou e a partida estava a correr bem com o piloto ao lado de Max Verstappen e Charles Leclerc no exterior.

Mas Pérez queria mais, queria sair na frente da primeira curva e decidiu atirar-se como Verstappen havia feito em 2021. Só que calculou mal e Leclerc não tinha como fugir ao contacto que chegou. O monegasco perdeu uma pequena parte da sua asa da frente, mas Pérez voou e partiu componentes vitais do seu carro, sendo óbvio o seu desespero com a situação quando foi às boxes abandonar.

Do outro lado da garagem Max Verstappen prosseguiu com o seu regime habitual. Tendo-se qualificado em 3º, o neerlandês teve a sorte de o fazer numa das pistas com maior distância para a primeira curva. Indo para o interior de Leclerc, Verstappen assumiu a liderança de onde não saiu até ao fim, mesmo com uma segunda partida a meio após bandeira vermelha. 16ª vitória do ano e novo recorde para o homem da Red Bull.

Desta vez sem ser desclassificado, chegou Lewis Hamilton atrás com um ritmo que foi superior com facilidade ao pole position Charles Leclerc, que voltou a mostrar a falta de ritmo da Ferrari em corrida (e que ainda teve que se defender dos apupos da audiência mexicana por ter “eliminado” Pérez). Sainz chegou em 4º.

Num impressionante 5º lugar chegou Lando Norris. Impressionante porque o inglês cometeu um erro em qualificação que o forçou a partir de 18º, mas com garra e ritmo diabólico conseguiu subir posição atrás de posição. A última destas foi contra Daniel Ricciardo, que soube gerir o ritmo do seu diminuto AlphaTauri muito bem e deu à equipa italiana o seu melhor resultado do ano. Isto num fim-de-semana em que Yuki Tsunoda pareceu frustrado de estar atrás e perdeu a cabeça a tentar passar Oscar Piastri, deitando por terra preciosos pontos de um eventual 8º lugar…

George Russell teve uma prova algo anónima em 6º lugar, enquanto que Alexander Albon (que tinha feito brilharetes em treino livre mas falhou a entrada no Q3) chegou em 9º lugar, seguido de Esteban Ocon.

Foi um péssimo dia para a Haas: Nico Hülkenberg, no seu 200º GP, não conseguiu manter-se nos pontos; Kevin Magnussen perdeu controlo do seu carro e provocou uma bandeira vermelha (pareceu ter sido falha mecânica e não erro humano); a boa forma da AlphaTauri no México deixou a Haas como a nova última classificada do campeonato.

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Qualificação: 1. Leclerc \ 2. Sainz \ 3. Verstappen \ 4. Ricciardo \ 5. Pérez (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Hamilton \ 3. Leclerc \ 4. Sainz \ 5. Norris \ 6. Russell \ 7. Ricciardo \ 8. Piastri \ 9. Albon \ 10. Ocon (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (491) \ 2. Pérez (240) \ 3. Hamilton (220) \ 4. Sainz (183) \ 5. Alonso (183) —– 1. Red Bull (731) \ 2. Mercedes (371) \ 3. Ferrari (349) \ 4. McLaren (256) \ 5. Aston Martin (236)

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Corrida anterior: GP EUA 2023
Corrida seguinte: GP São Paulo 2023

GP México anterior: 2022





McLaren bate na trave novamente – GP EUA 2023

23 10 2023

Entre 2008 e 2011 a F1 não contou com qualquer prova nos EUA, obrigando o GP do Canadá a ser a prova utilizada por todos os envolvidos na categoria como substituta mais direta para contactos empresariais com a maior economia mundial. Esta era uma situação que não poderia continuar, dado o desperdício de oportunidade evidente. Mas também tinha sido até então difícil de avivar o interesse dos americanos pela F1.

Até que chegou 2012, com o regresso do GP num circuito construído num enorme terreno do estado do Texas, idealizado de propósito para sediar a categoria. Muito se falou negativamente sobre o projeto, desde o facto de haverem já vários outros circuitos no país de boa qualidade, passando pelo facto de que a pista não só tinha criado declives artificiais como também copiou diversas passagens de algumas das pistas mais conhecidas do mundo.

O resultado deste monstro de Frankenstein (no melhor sentido possível) foram corridas geralmente interessantes em que os pilotos são desafiados a nível técnico, com boas ultrapassagens e com números cada vez mais recorde de público. Tudo se conjugou, portanto, para dar razão ao projetista Hermann Tilke, sendo um dos seus projetos mais adorados pelo paddock.

Duas semanas após os eventos do Qatar, a F1 teve vários notícias sobre intervenientes passados e futuros. Em relação ao passado, Bernie Ecclestone declarou-se culpado perante os tribunais britânicos de ter mentido sobre não possuir ativos estrangeiros às aturidades fiscais do seu país no valor de 400 milhões de libras. O resultado foi uma multa de 652 milhões de libras e uma pena suspensa de 17 meses de prisão (tendo pesado a sua idade de 92 anos).

Em relação ao futuro: Daniel Ricciardo esteve de volta aos comandos do seu AlphaTauri, a Bélgica renovou contrato com a FOM para ter um Grande Prémio até 2025 e a Pirelli renovou o seu fornecimento de pneus à F1 até 2027.

Ronda 18 – Grande Prémio dos EUA 2023

Com uma gravidade muito menos severa que no Qatar, a qualificação de Austin trouxe uma pequena diversão para a prova de domingo: os limites de pista fizeram como principal vítima Max Verstappen, que se viu a partir de 6º por eliminação da sua volta mais rápida. A reação do neerlandês? Disse que a corrida se tornava mais interessante…

Quem assumiu que arriscou um pouco para garantir a pole position foi Charles Leclerc, num dia em que a Ferrari e a Mercedes pareceram estar com ritmo para dar luta e com Lando Norris pelo meio a tentar algo surpreendente. O público mexicano no Texas ainda viu Sergio Pérez sofrer para entrar no Q3, enquanto que a Aston Martin e a Williams limitaram-se a sofrer em geral (ambas caíram no Q1).

Antes do grande evento foi necessário atravessar um dos sprints com menos ação do ano. Verstappen não repetiu o erro anterior e partir de primeiro. Na partida espremeu agressivamente Leclerc, depois demorou a colocar os pneus na “janela” correta e teve a companhia de Lewis Hamilton, mas no final simplesmente desapareceu com a vitória na pequena prova.

Carlos Sainz foi o único a escolher pneus macios, o que foi uma decisão errada e o levou a perder posições, e George Russell passou fora de pista Oscar Piastri (valendo-lhe uma penalização).

Se o sábado não trouxe grande ação, o domingo deu uma bela compensação. Leclerc partiu pior que Norris na primeira fila e perdeu a liderança, com o piloto da McLaren a conseguir controlar a primeira metade da prova relativamente bem até que o inevitável começou a suceder: Verstappen foi passando rivais um a um até montar pneus médios e apanhar Norris. O inglês, em pneus duros, ainda aguentou várias voltas até perder posição, tendo dado o tudo por tudo para acompanhar o neerlandês.

Infelizmente, Norris pareceu chegar aos limites do seu carro e acabou por também ser passado por Hamilton. O homem da Mercedes fez uma estratégia alternativa e ainda assustou Verstappen (com problemas de travões) até à última volta. O vencedor ainda pareceu mais assustado que o usual, Hamilton mais otimista, mas Norris pareceu mais desanimado que nunca por perder por tão pouco (chegando a ironicamente dizer que o prémio do Piloto do Dia era melhor que a vitória…).

Mais atrás Leclerc teve que ceder posição ao colega de equipa e terminou apenas 6º, avisando a Ferrari que precisariam de falar após a prova. Pérez terminou 5º, com o “seu” público mexicano a apupar os hinos de vencedor de Verstappen no final como se estivesse realmente a haver uma luta pelo título, enquanto que Stroll e Tsunoda deram às suas equipas alguma margem para respirar com os seus pontos finais.

Ocon e Piastri tiveram um embate na primeira volta que acabou com as corridas de ambos, enquanto que a Williams ficou bem perto dos pontos com ambos os carros.

ATUALIZAÇÃO 23/10: Devido a desgaste excessivo das pranchas inferiores, Hamilton e Leclerc foram desclassificados da prova.

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Quali Sprint: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Hamilton \ 4. Norris \ 5. Piastri (Ver melhores momentos)

Sprint: 1. Verstappen \ 2. Hamilton \ 3. Leclerc \ 4. Norris \ 5. Pérez \ 6. Sainz \ 7. Gasly \ 8. Russell (Ver melhores momentos)

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Qualificação: 1. Leclerc \ 2. Norris \ 3. Hamilton \ 4. Sainz \ 5. Russell (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Norris \ 3. Sainz \ 4. Pérez \ 5. Russell \ 6. Gasly \ 7. Stroll \ 8. Tsunoda \ 9. Albon \ 10. Sargeant (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (466) \ 2. Pérez (240) \ 3. Hamilton (201) \ 4. Alonso (183) \ 5. Sainz (171) —– 1. Red Bull (706) \ 2. Mercedes (344) \ 3. Ferrari (322) \ 4. McLaren (242) \ 5. Aston Martin (236)

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Corrida anterior: GP Qatar 2023
Corrida seguinte: GP México 2023

GP EUA anterior: 2022

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Fontes:
Autosport PT \ Pirelli renova até 2027
BBC \ Ricciardo de regresso
Financial Times \ Ecclestone declara-se culpado
Sports Media \ Bélgica renova até 2025





De Vries: a decisão que assombra a AlphaTauri

30 09 2023

Quando os rumores de que seriam anunciados os pilotos da AlphaTauri em Suzuka começaram a ser ouvidos dias antes do GP do Japão, tornou-se claro em quem recaíria a escolha. Era impossível acreditar que a Red Bull cometeria o suicídio de relações públicas de remover o seu piloto japonês na sua corrida caseira. E no outro lado da garagem estava uma escolha óbvia: Daniel Ricciardo tem provas dadas no seu passado com a equipa e um apelo de marketing gigante.

Com ambas as vagas preenchidas, restou sem “cadeira” o neo-zelandês Liam Lawson. Inacreditável, considerando que o piloto tem sido o mais eficaz da AlphaTauri, mesmo com apenas 4 corridas de experiência.

Os efeitos de uma decisão precipitada

A verdade é que a escolha de Nyck de Vries no final de 2022 parece fazer menos sentido à medida que o tempo passa. De Vries, campeão de Fórmula E em 2021 e de Fórmula 2 em 2019, pareceu à Red Bull uma boa opção para substituir Pierre Gasly, especialmente logo a seguir ao brilharete do neerlandês no GP de Itália pela Williams. Só que mesmo antes de o piloto ser um flop em 2023, já se questionava a escolha quando pilotos já na esfera Red Bull estavam disponíveis.

Ricciardo e Lawson tiveram que esperar pela sua oportunidade, mas quando chegou o momento de substituir de Vries não foi um instante pacífico. Rumores circularam de que Lawson teria tido preferência no lugar vago a meio do ano, mas que a cúpula Red Bull forçou o regresso de Ricciardo à última da hora.

A mão partida de Ricciardo na sua terceira prova, acabou por dar a oportunidade a Lawson na mesma. O neo-zelandês teve que estrear com quase zero treino em Zandvoort em chuva torrencial e chegou ao fim da prova. Em Itália, falhou os pontos por pouco. Em Singapura navegou o caos para dar à equipa o seu melhor resultado do ano (9º lugar). No Japão, foi 11º. 4 provas, todas terminadas na frente de Tsunoda.

Antes da F1, foi 3º classificado do campeonato de F2 (depois de ter sido 9º na estreia, respeitável feito) na frente de Logan Sargeant (que chegou à F1), vice-campeão no DTM na estreia (num campeonato em que foi eliminado por um rival na última corrida) e com vice-campeonatos na F4 Alemã e (provisoriamente este ano) na Superformula Japonesa.

E, no entanto, não conseguiu um lugar na equipa B da Red Bull, numa altura em que a equipa principal deverá estar à procura de um novo colega para Max Verstappen em 2025. Está agora dependente de conseguir roubar um lugar na Williams ao antigo colega de equipa na Carlin na F2 (Sargeant).

Porque está a AlphaTauri tão reticente? Desconfiam da ideia de promover alguém que fez um brilharete a substituir um piloto a meio do ano, mas que pode não ter a consistência de ano inteiro necessária. Porque o último caso foi… Nyck de Vries.

A quantidade de problemas que uma promoção de Lawson no início de 2023 teria evitado não deixa de impressionar…