Problema crescente para a Williams em dia de glória para Red Bull – GP Japão 2024

9 04 2024

Poucos circuitos podem receber a honra de carregarem tanto simbolismo histórico na Fórmula 1 quanto o GP do Japão em Suzuka. Famosamente a única pista em “8” (um “8” bem torto, mas ainda assim…) e a primeira corrida asiática da histórica da categoria, a quase totalidade das curvas da pista são desafiantes e historicamente significativas para a F1. A 130R onde Alonso ultrapassou Schumacher por fora, a chicane final onde Senna e Prost decidiram o campeonato de 1990, a primeira curva onde Räikkonen ultrapassou Fisichella na última volta para vencer,…

Criada em 1962 pela Honda como local principal de testes para os seus carros de competição, a pista pouco mudou nos anos desde a sua criação, até porque o seu desenho inicial procurou fazer das colinas e estradas regionais de forma a exigir o mínimo de terraplanagem possível. O arquiteto original, John Hugenholtz, ainda expressou preocupação com os produtores de arroz, mas Soichiro Honda simplesmente pagou aos agricultores e atribui-lhes novas terras. A primeira prova no traçado foi de carros desportivos, vencida por Peter Warr num Lotus 23.

A F1 até visitou o autódromo de Fuji primeiro para o GP do Japão inaugural, mas apenas em 2 edições nos 1970s e outras 2 nos 2000s. Nas restantes, muitas vezes como prova final do campeonato, foi Suzuka quem recebeu as suas provas. Já em 2024, pela primeira vez, veremos o GP japonês na fase inicial do calendário.

Alguns dias antes do fim-de-semana, a Liberty Media anunciou que avançará com a compra da MotoGP para juntar ao seu porfólio de automobilismo que já inclui a F1. A empresa já deixou claro que não pretende juntar as duas categorias num mesmo fim-de-semana de competição e que está confiante de a compra não ser bloqueado por excessiva concentração de poder.

Ronda 4 – Grande Prémio do Japão 2024

Como se não bastassem constantes perguntas sobre a utilização dos seus chassis extra e de reparações dos seus carros, a Williams viu todos os seus piores cenários confirmarem-se em Suzuka. Com um carro reparado, Logan Sargeant tratou de o destruir logo no primeiro treino livre. Depois, na partida, Alexander Albon envolveu-se num incidente aparatoso com Daniel Ricciardo (que até valeu uma bandeira vermelha). Como se não bastasse, Sargeant ainda foi à gravilha e danificou o chão em corrida.

Não foi por acaso que o comentador Will Buxton fez questão de indiretamente perguntar a James Vowles se na China a equipa contaria com os dois carros…

Ricciardo também não teve um bom fim-de-semana, voltando a perder o duelo de qualificação para o colega da RB, Yuki Tsunoda, e depois sendo o principal responsável pelo acidente com Albon (sem penalização). O australiano já tratou de dar a entender à imprensa que tem estado a pedir para experimentar um novo chassis, como potencial causa da sua má performance.

Tsunoda, a correr em caso, voltou a colocar o seu RB no Q3 e a fazer uma ótima e sólida performance em corrida, com direito a diversas ultrapassagem por fora e a somar mais um valioso ponto para a equipa italiana. Ainda está longe de poder ser considerado um candidato ao segundo Red Bull, mas está a dar importantes passos para garantir a sua continuidade.

Longe das dificuldades de Melbourne, e mesmo com a necessidade de realizar duas partidas, a Red Bull acabou por passear por completo no Japão, tendo assegurado a primeira linha da grelha em qualificação e a dobradinha liderada por Max Verstappen (o que significa que todas as 4 provas do ano terminaram em dobradinhas).

A juntar-se aos Red Bull no pódio ficou Carlos Sainz, agradavelmente surpresa quando se apercebeu que não só conseguia ter mais ritmo de corrida que os McLaren como ainda suficiente para ameaçar o segundo Red Bull de Sergio Pérez. Lando Norris ainda tentou dar luta, só que já parece mais claro que se os pilotos da McLaren até conseguem disfarçar a falta de ritmo para a Ferrari em qualificação, em corrida a tarefa é muitos mais difícil.

Charles Leclerc (Ferrari) teve uma qualificação incaracteristicamente menos bem conseguida, mas foi o único a fazer funcionar uma estratégia de uma única paragem nas boxes que lhe valeu o 4º lugar, enquanto que Fernando Alonso (Aston Martin) usou a distância DRS para Oscar Piastri (McLaren) como defesa contra uma investida final de George Russell (Mercedes).

A Mercedes continua em grandes dificuldades para fazer os seus carros estarem melhor que 4ª força do campeonato, numa altura em que ainda assim parecem convencidos de que se trata do tratamento dos pneus que é a limitação do W15 (e não uma falta de downforce).

Destaque ainda para mais um péssimo fim-de-semana de Kick Sauber e Alpine. A primeira continua a sua vaga de problemas de fiabilidade, enquanto a segunda esteve bem longe de qualquer rival (culminando com a equipa a pedir a Esteban Ocon para puxar pelo carro e a ouvir a resposta incrédulo do piloto em como já estava no máximo…).

—–

Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Norris \ 4. Sainz \ 5. Alonso (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Sainz \ 4. Leclerc \ 5. Norris \ 6. Alonso \ 7. Russell \ 8. Piastri \ 9. Hamilton \ 10. Tsunoda (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (77) \ 2. Pérez (64) \ 3. Leclerc (59) \ 4. Sainz (55) \ 5. Norris (37) —– 1. Red Bull (141) \ 2. Ferrari (120) \ 3. McLaren (69) \ 4. Mercedes (34) \ 5. Aston Martin (33)

—–

Corrida anterior: GP Austrália 2024
Corrida seguinte: GP China 2024

GP Japão anterior: 2023

—–

Fonte:
Sapo \ Liberty Media compra MotoGP





Maserati atira-se à luta pelo título – ePrix Tóquio 2024

30 03 2024

O sonho dos organizadores da Fórmula E para um ePrix japonês na capital são antigos, tão antigos quanto a própria categoria. O tradicional conservadorismo japonês relativo a inovações, a preocupação com perturbar o trânsito no país, a ambivalência da Câmara da cidade, tudo levou a avanços e recuos permanentes nas negociações para a criação da prova.

Mas 2024, com a ajuda de já ter visto em ação a categoria em locais como Jakarta, Tóquio faz a sua primeira aparição na FE. A pista será centrado no Centro de Exibições Internacional de Tóquio e fará também uso de estradas regulares, numa clara inspiração pela estratégia já utilizada por Londres na sua própria prova.

A verdadeira atração principal será a proximidade do centro de uma das mais famosas cidades do mundo, que também trará uma prova caseira para a Nissan na categoria (que anunciou alguns dias antes, o seu comprometimento com continuar na categoria para além desta geração).

ABT e Porsche viram as suas negociações não chegarem a bom porto, enquanto que a Lola e Yamaha já anunciaram a sua aliança para uma estreia na Fórmula E em 2025.

Ronda 5 – ePrix de Tóquio 2024

Desde o princípio do fim-de-semana que dava para ver que a Maserati tinha em Maximilian Günther um sério candidato a obter pela primeira vez a vitória em 2024. O alemão tinha feito o seu caminho em qualificação, liderando o seu grupo e depois encaminhando-se até à final. O duelo com o Nissan da casa de Oliver Rowland foi uma competição incrivelmente renhida, que terminou com 24 milésimas de segundo de vantagem sobre Günther.

Um contratempo piorado por uma partida mais fraca para a corrida, em que Edoardo Mortara (Mahindra) conseguiu ultrapassá-lo. Com um ritmo forte no seu Maserati, Günther teve uma prova de paciência pela frente, acabando por conseguir em diferentes momentos ultrapassar primeiro Mortara e depois Rowland para vencer o primeiro ePrix de Tóquio.

Rowland dificilmente terá ficado demasiado preocupado. Regressado à Nissan este ano, o britânico acumula dois pódios consecutivos que o deixam a apenas 9 pontos do novo líder do campeonato (Pascal Wehrlein da Porsche) e ajudam a Nissan a subir a 4ª no campeonato de equipas.

Wehrlein, vencedor da primeira prova do ano, tem conseguido pontuar em todas as restantes provas, parecendo estar a adotar uma estratégia de consistência que o viu terminar em 5º e recuperar a liderança do campeonato. O colega, António Félix da Costa, passou a prova dele bem próximo e até ameaçou conseguir um pódio, só que não escolheu o melhor momento de atacar Rowland, sendo novamente passado por Jake Dennis (Andretti), sendo 4º no final.

Norman Nato (Andretti) terminou 6º, enquanto que a segunda linha da grelha (Mortara e Sergio Sette Câmara [ERT]) teve vida bem mais difícil na corrida. Mortara não viu a bandeira de xadrez, enquanto que Sette Câmara viu a falta de ritmo da ERT explorada a fundo pelos rivais (mas conseguindo ainda segurar o último ponto).

Nick Cassidy (Jaguar) acabou por minimizar os estragos de uma qualificação em 19º ao chegar em 8º, especialmente importante dado o abandono do colega Mitch Evans que perdeu a frente quando arriscou em demasia numa manobra de ultrapassagem. Destaque ainda para a forma como Nico Müller se qualificou e classificou em 7º, permitindo à ABT abrir a conta do ano (antes mesmo da fornecedora de propulsores, a Mahindra).

—–

Qualificação: 1. Rownlad \ 2. Günther \ 3. Mortara \ 4. Sette Câmara \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Günther \ 2. Rowland \ 3. Dennis \ 4. Félix da Costa \ 5. Wehrlein \ 6. Nato \ 7. Müller \ 8. Cassidy \ 9. Frijns \ 10. Sette Câmara (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (63) \ 2. Cassidy (61) \ 3. Rowland (54) \ 4. Dennis (53) \ 5. Günther (48) —– 1. Jaguar (100) \ 2. Porsche (83) \ 3. Andretti (70) \ 4. Nissan (62) \ 5. DS Penske (57)

—–

Corrida anterior: ePrix São Paulo 2024
Corrida seguinte: ePrix Misano 2024

—–

Fontes:
FE \ Nissan junta-se à Gen 4
Grande Prêmio \ Porsche e ABT não se entendem
Motorsport BR \ Lola e Yamaha juntam-se em 2025
Racing Circuits \ Tóquio





Título de construtores no colo da Red Bull – GP Japão 2023

24 09 2023

Existe uma enorme quantidade de corridas decisivas de campeonatos do mundo decididas no GP do Japão. Em muitos casos, devido ao facto de historicamente a corrida ser a derradeira do campeonato. Não é o caso hoje em dia, uma vez que o país tem estado cada vez mais afastado do fim do ano (sendo que em 2024 passará para o princípio do ano, pela primeira vez).

Não que isso tenha levado Suzuka a deixar de ser palco de decisões de título. Sebastian Vettel venceu o seu 2º título mundial no traçado em 2011, assim como Max Verstappen em 2022 (ainda que de forma confusa, devido à FIA). Suzuka não tem o exclusivo de decisões de título em território japonês. Fuji foi durante dois períodos de dois anos o traçado do GP.

Pista extremamente fluída e do agrado da quase totalidade dos pilotos, Suzuka possui um primeiro sector composto de vários “S”, uma passagem debaixo de uma ponte, uma curva de média velocidade chamada “Spoon” e uma curva de alta velocidade (130R). Entre estas atrações e a presença da Honda na grelha, estamos num momento de grande segurança quanto ao futuro do país na F1.

Depois de uma chuva intensa ter aniquilado quaisquer hipóteses de uma corrida normal em 2022, haviam grandes expectativas quanto a uma correção dessa situação. Ou, pelo menos, de um carro que não fosse Red Bull cruzar a linha em primeiro.

Ronda 16 – Grande Prémio do Japão 2023

Só que nem todos os desejos se concretizam. Uma semana depois da Red Bull ter errado por completo a afinação do GP de Singapura, Max Verstappen voltou a estar intocável em território japonês. Foi pole position e a liderança de todas as voltas da prova e a volta mais rápida, sempre por uma margem significativa sobre o rival mais próximo (que foi quase sempre um McLaren).

A Red Bull conseguiu assim sair do país do Extremo Oriente com o título de construtores em mão, ainda que Sergio Pérez não tenha contribuído muito com a sua performance. O mexicano partiu de 5º, parou na primeira volta para os pneus duros, passou um carro atrás do Safety Car a entrar nas boxes (penalização de 5 segundos) antes de eliminar Kevin Magnussen por impaciência (outra penalização). De modo a evitar uma penalização na grelha no Qatar, foi mandado de volta para a pista após o abandono para servir a penalização de 5 segundos. Conseguiu nesse tempo bloquear o caminho a Lando Norris. Um desastre de fim-de-semana…

Norris liderou o assalto do atualizado McLaren, tendo mostrado alguma satisfação com ter estado perto o suficiente de Verstappen para impedir o holandês de parar para usar pneus novos no assalto à volta mais rápida. O britânico terminou uns expressivos 15 segundos na frente do colega Oscar Piastri (que renovou contrato até 2026), depois de ter ficado atrás do australiano em qualificação.

O duplo pódio deixou as rivais mais diretas bem preocupadas, com Ferrari e Mercedes meramente frustradas (George Russell especialmente, devido a ter que deixar passar o colega de equipa quando queria fazer um comboio de DRS para se defender de Carlos Sainz [que até se divertiu a notar que “roubaram o meu truque”]).

Não foram os únicos frustrados. A Aston Martin continua a ver o seu ritmo desaparecer, com vislumbres do velho Fernando Alonso a criticar a estratégia durante a prova e com um Lance Stroll cada vez mais apático quanto à sua falta de ritmo (aumentando o coro de vozes que o quer fora da F1). E, ainda, a Alpine, que fechou os lugares pontuáveis com um Pierre Gasly furioso de ter tido que deixar passar Esteban Ocon.

A AlphaTauri ainda conseguiu colocar o herói da casa (Yuki Tsunoda) no Top 10 de qualificação, mas falhou a sua prova com um 11º e 12º postos. Tsunoda recebeu a informação de que continuará com a equipa em 2024, ao lado de Daniel Ricciardo, mas a maneira como tem sido derrotado por um Liam Lawson que está (para já) desempregado no próximo ano.

Logan Sargeant eliminou Guanyu Zhou de corrida e destruiu o carro em qualificação, pelo que está em sério risco de ver Lawson tornar-se cada vez mais interessante para a Williams.

—–

Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Piastri \ 3. Norris \ 4. Leclerc \ 5. Pérez (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Norris \ 3. Piastri \ 4. Leclerc \ 5. Hamilton \ 6. Sainz \ 7. Russell \ 8. Alonso \ 9. Ocon \ 10. Gasly (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (400) \ 2. Pérez (223) \ 3. Hamilton (190) \ 4. Alonso (174) \ 5. Sainz (150) —– 1. Red Bull (623) \ 2. Mercedes (305) \ 3. Ferrari (285) \ 4. Aston Martin (221) \ 5. McLaren (172)

—–

Corrida anterior: GP Singapura 2023
Corrida seguinte: GP Qatar 2023

GP Japão anterior: 2022
GP Japão seguinte: 2024

—–

Fontes:
ESPN \ McLaren estende contrato com Piastri até 2026
F1 \ AlphaTauri anuncia Ricciardo e Tsunoda para 2024





Bicampeão Verstappen e patética FIA – GP Japão 2022

9 10 2022

É difícil identificar pessoas menos felizes com a ausência do GP do Japão do calendário durante os últimos dois anos que os responsáveis da Honda. Donos do circuito de Suzuka, os japoneses estavam desejosos de mostrar a boa forma que agora possuíam na aliança com a Red Bull no último ano de cooperação. Só que os adiamentos por motivos pandémicos goraram as celebrações. E neste ano de domínio Red Bull já os logos da Honda não fazem parte dos carros, apesar das unidades continuarem a ser produzidas no Japão…

Primeira (e durante muito tempo única) prova de F1 no continente asiático, o GP do Japão tinha vindo a correr ininterruptamente desde 1976 até 2019. A esmagadora maioria das provas foram no circuito de Suzuka, com a exceção de 4 realizadas no de Fuji (propriedade da Toyota) em 1976-77 e 2007-08.

Suzuka tornou-se num dos mais míticos circuitos do automobilismo mundial, palco de decisões de títulos disputados até ao último momento e com um traçado capaz de rivalizar com qualquer outro (com a particularidade de ser o único com um formato de figura de 8). Secções como os “S” do primeiro setor, a Curva Spoon ou a 130R tornaram-se nomes icónicos para pilotos ao redor do mundo.

Também se tornou um local de lembrança, com o falecimento mais recente de um piloto de F1 durante o GP de 2014 (Jules Bianchi). Desde 2014 apenas a Mercedes triunfou no Japão, com Lewis Hamilton a ter 4 vitórias mas Valtteri Bottas a ser o vencedor mais recente (2019).

A Red Bull apresentou-se em Suzuka com o nome “Honda” de regresso aos seus monolugares, mas também com algumas dúvidas. Com a suspeita acerca da maneira como poderá ter excedido o teto orçamental nos últimos dois anos, o paddock deveria ter tido novidades na quarta-feira mas a FIA adiou o seu próprio prazo. Mercedes e Ferrari uniram forças e pressionam medidas punitivas desportivas (Hamilton insinuou que mesmo gastos de 300 mil dólares poderiam ter-lhe dado o título) numa altura em que a Red Bull insiste nada ter feito de errado (assume-se que será uma questão de quanto foi alocado ao departamento de motores).

O fim-de-semana também trouxe novidades para 2023, com a confirmação da ida de Pierre Gasly para a Alpine em substituição de Alonso, com o seu lugar na AlphaTauri a ser tomado pelo júnior Mercedes Nyck de Vries.

Ronda 18 – Grande Prémio do Japão 2022

Há muito poucas maneiras de sair de Suzuka que não incluam uma opinião completamente desfavorável da atuação da FIA ao longo dos últimos 12 meses.

Os casos e ocorrências têm-se multiplicado e no Japão explodiram. Primeiro foi a confusão com a prolongada interrupção da prova (mais de 2 horas) após um começo conturbado e chuva intensa. Em teoria, e os próprios comentadores assim acreditavam, o facto de apenas um pouco menos de 30 voltas ser possível de cumprir deveria significar que não seria atribuída a totalidade dos pontos. Mas não. Por razões que só a FIA saberá, e o texto não levava a crer, isso era apenas em casos que a prova fosse cancelada antes de termo (para espanto da totalidade do paddock).

Tudo isto significou que o vencedor (que dominou de ponta a ponta) Max Verstappen chegou ao final da prova a acreditar que ainda teria que esperar duas semanas para ser coroado bicampeão. E assim permaneceu durante largos minutos até chegar a notícia de que não só seriam pontos totais, como também que Charles Leclerc fora penalizado em 5 segundos. Leclerc tinha passado a prova a defender-se de Sergio Pérez e cortou a chicane de forma abusiva na última volta, o que lhe valeu a penalização.

Em segundo lugar foi o próprio facto de que Verstappen a cruzar a linha não foi filmado pela câmara principal, porque não haviam certezas de se de facto se tratava da volta final…

E ainda, o pior “pecado” da FIA: em Suzuka, local do falecimento de Jules Bianchi, a presença de um tractor em pista quando circulavam carros com alguma velocidade. Tudo ocorreu no início da corrida, quando Carlos Sainz e Alexander Albon estavam parados em pista. Pierre Gasly, que tivera que trocar de asa da frente, tentava apanhar o pelotão quando passou numa secção rápida da pista e se deparou com um tractor em pista. A FIA já tentou culpar o francês de ir demasiado rápido mas as críticas de outros pilotos já forçaram a organização a informar que irá investigar o incidente.

Tudo isto numa altura em que ainda se espera o resultado da investigação sobre alegadas quebras do tecto orçamental por duas equipas…

Logo atrás dos homens do pódio chegou Esteban Ocon, que esteve a defender-se de Lewis Hamilton a prova inteira e conseguiu um ótimo resultado que, com a ajuda do 7º lugar de Fernando Alonso, elevou a Alpine para a frente da McLaren novamente. Os britânicos temporizaram mal as paragens para pneus intermédios e tiveram que se contentar com um único ponto de Lando Norris.

Sebastian Vettel esteve a disputar o seu último GP do Japão e esteve no seu melhor. Em qualificação arrastou o seu Aston Martin até ao Q3, e em corrida recuperou de um contacto inicial com Alonso graças a uma paragem nas boxes bem temporizada para regressar aos pontos, onde se manteve em 6º num photo finish contra Alonso.

A Haas ainda arriscou não parar com Mick Schumacher mas tratou-se da estratégia errada. Nicholas Latifi tomou a decisão certa de parar bem cedo (ao contrário dos treinos livres em que curvou na curva errada, embaraçosamente) e conseguiu os seus primeiros pontos do ano.

—–

Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Sainz \ 4. Pérez \ 5. Ocon (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Leclerc \ 4. Ocon \ 5. Hamilton \ 6. Vettel \ 7. Alonso \ 8. Russell \ 9. Latifi \ 10. Norris (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (366) \ 2. Pérez (253) \ 3. Leclerc (252) \ 4. Russell (207) \ 5. Sainz (202) —– 1. Red Bull (619) \ 2. Ferrari (454) \ 3. Mercedes (387) \ 4. Alpine (143) \ 5. McLaren (130)

—–

Corrida anterior: GP Singapura 2022
Corrida seguinte: GP EUA 2022

GP Japão seguinte: 2023

—–

Fontes:
Autosport \ Tecto Orçamental
F1 \ de Vries na AlphaTauri em 2023
Racing Circuits \ Suzuka
Sky Sports \ Gasly na Alpine em 2023





Que pistas visitará a F1 brevemente?

22 06 2022

Há muito que não faz sentido na universo da Fórmula 1, mas poucas coisas conseguem bater o facto de os Grande Prémios do Azerbaijão e Canadá serem em fins-de-semana consecutivos.

Sempre focada na sua imagem pública de neutralidade carbónica e de saúde mental, a categoria sujeita os seus trabalhadores a estarem envolvidos num processo de transporte de equipamento de 8 924 km em apenas dois dias. Faria muito mais sentido emparelhar o Canadá com a prova de Miami, por exemplo, mas os canadianos têm a sua semana de Junho bem definida devido ao início da época dos festivais de Verão.

Este sempre foi o grande problema de definir o calendário. Ainda este ano houve uma troca de palavras azeda entre alguns pilotos e os promotores do GP da Austrália sobre posição da prova australiana “sozinha”…

Quem está confirmado

Falando nos australianos, estes parecem estar com alguma vontade de recuperar o posto de corrida de abertura (que perderam com a pandemia), mas estão a esbarrar com a vontade das próprias equipas, que preferem o novo sistema de pré-temporada e prova inaugural no Bahrain (que por sua vez faz mais sentido em emparelhamento com outra prova do Médio Oriente, neste caso a Arábia Saudita no novo circuito de Qiddiya). Os timings do Ramadão em 2023, no entanto, estão a complicar o planeamento.

Resta a Melbourne aceitar a conjugação com o GP da China, por exemplo, caso o país asiático alguma vez aceite regressar ao calendário. Com a política “Zero Covid” a ter consequências preocupantes no país, não é claro que aconteça.

A ausência de GP da Rússia até foi bastante prestável para a inclusão do futuro GP de Las Vegas, que será realizado na reta final do calendário num plano provisório para uma ronda tripla norte-americana de Austin, Las Vegas e México (assumindo que a útlima sempre consegue a renovação). Isto não é particularmente desejado, pelo que uma solução de recurso era Austin estar antes junto a Miami no início de 2023 (porque, novamente, o Canadá não se mexe).

A última corrida do ano será o suspeito do costume, Abu Dhabi, que talvez faça par com o regressado Qatar (desta vez com corrida num circuito citadino em Doha, em vez de Losail) em vez da pouco natural dupla com o Brasil (que prosseguirá com o seu novo título de GP de São Paulo).

As outras duas provas asiáticas são os GPs do Japão e Singapura, que há mais de uma década fazem par e que geralmente renovam contrato sem qualquer problema.

Além dos EUA, outro país que garantiu mais de uma corrida por ano foi a Itália que vê o GP de Itália em Monza e o GP da Emilia Romagna em Imola a assinarem contratos de longo prazo com a categoria.

No resto da Europa, uma série de confirmações: Espanha (que até esteve em perigo, mas aproveitou a boleia da popularidade de Alonso e Sainz), que pondera acabar com a terrível chicane final da volta; o “obrigatório” Reino Unido; a Áustria (propriedade da campeã Red Bull); o Azerbaijão (pelo potencial de confusão completa permanente); a Hungria, com o seu caos à chuva sempre à espreita; e a Holanda, que deverá durar enquanto Verstappen durar na grelha.

América \ Brasil, Canadá, EUA (Austin), EUA (Miami) e EUA (Las Vegas)

Ásia Oriental \ China, Japão e Singapura

Europa \ Áustria, Azerbaijão, Espanha, Holanda, Hungria, Itália (Imola), Itália (Monza) e Reino Unido

Médio Oriente \ Abu Dhabi, Arábia Saudita, Bahrain e Qatar

Oceânia \ Austrália

GPs de 2022 sem confirmação para 2023

Tudo isto traz-nos até ao número 21. São 21 corridas confirmadas para 2023 quando o calendário apenas permite um máximo de 23 e sobram ainda 4 provas. Bem, mais ou menos.

O GP do México tem sido um sucesso de bilheteiras, com um ótimo ambiente e a aproveitar muito bem a popularidade de Sergio Pérez, agora num carro de uma equipa da frente. Parece quase inevitável a confirmação da pista para 2023.

Isto deixa três cães a um osso: Bélgica, França e Mónaco. Se o circuito de Paul Ricard não deixaria muitas saudades à maioria dos fãs, devido ao seu perfil de pista de testes com escapatórias (demasiado) amplas, o mesmo não pode ser dito de Monte-Carlo e Spa-Francorchamps.

Ambas são provas históricas e que figuram entre as favoritas dos fãs. Qualquer uma que fique de fora pode ser motivo de embaraço para a F1. Spa fez obras ainda este ano para melhorar a sua segurança, o que deixa o Mónaco e algumas das suas exigências menos razoáveis (ausência de pagamento de taxa de corrida, ter patrocinadores próprios opostos aos da F1,…) numa posição preclitante. Ou seria, não fosse o líder do campeonato Charles Leclerc ser monegasco…

Se a China acabar por não realizar a sua corrida, poderemos ser poupados de escolher entre um dos dois.

América \ México

Europa \ Bélgica, França e Mónaco

Quem está de fora à espreita

Uma vez esgotada a lista de países que mais realisticamente podem integrar o calendário da F1, resta-nos uma breve espreita aos improváveis.

De entre estes vale a pena destacar a Alemanha regressar ao calendário. Com 2 pilotos do país envolvidos (se bem que Vettel já disse que acha improvável voltar a correr no seu país até ao final de carreira), a Mercedes bem instalada e as possíveis entradas de Audi e Porsche, parece certo que haverão pressões de bastidores para um acordo de longa duração para o Hockenheim (Nürburgring parece pouco provável).

Portugal e Turquia, dois países que regressaram após grandes ausências para 2020 e 2021, têm continuado o seu esforço de bastidores para um regresso a tempo inteiro (ou pelo menos no sistema de rotatividade já mencionado pela FOM). O espaço, no entanto, não abunda, e deverão ser simples substitutos de recurso para rondas canceladas.

Por último, como reporta Joe Saward, há que referir os exemplos de um possível regresso à África do Sul para fazer frente às críticas sobre a ausência do continente africano (quer numa Kyalami melhorada, quer num circuito citadino na Cidade do Cabo) e de um projeto em desenvolvimento na Colômbia para um rotativo GP das Caraíbas (que poderia passar a outras localizações na área, como o GP da Europa) de modo a ajudar a emparelhar com o GP do Brasil (por exemplo).

África \ África do Sul

América \ Colômbia

Europa \ Alemanha, Portugal, Turquia

—–

Fontes:
F1 Destinations \ Las Vegas
Joe Saward \ Atualizações ao calendário
Motorsport \ Agrupamento de corridas pela FOM





Pedro de la Rosa em 2006 – Flash

30 05 2021

Há poucas tarefas mais ingratas numa equipa de Fórmula 1 que a de um piloto de testes. Longe dos holofotes da ribalta dos Grande Prémios, estes pilotos faziam, até há alguns anos atrás, mais quilómetros em testes privadios que os pilotos oficiais faziam nos fins-de-semana de prova. Em 2005, por exemplo, Luca Badoer cumpriu 25 308 km pela Ferrari em testes enquanto que Michael Schumacher fez 24 455 em soma de testes e dos 19 GP da temporada. Claro que dificilmente alguém, numa anállise fria da carreira de Badoer, seria tentado a invejar a tarefa de passar uma década a fazer o trabalho duro pelo qual outros tomariam crédito.

Desde 2010, com a proibição da esmagadora maioria dos testes durante a temporada, que os benefícios da função se desvaneceram, com as suas tarefas a resumirem-se essencialmente a passarem horas a fio à frente dos ecrãs dos cada vez mais sofisticados simuladores das equipas. Isto reduziu também a margem de manobra em termos de progressão de carreira que esta função representava dos anos 80 até ao final dos 2000s, quando era comum alguns pilotos sacrificarem um ano de piloto oficial numa equipa mais fraca por um de testes numa construtora de topo, de modo a obterem conhecimentos detalhados que lhes permitissem ser mais apetecíveis no ano seguinte.

Um dos maiores exemplos desta prática foi o do espanhol Pedro de la Rosa, conhecido na categoria pelos seus anos de trabalho de bastidores ao serviço da McLaren no período 2003-09. O que distinguiu de la Rosa dos seus contemporâneos com tarefas de testagem acabou por ser a sua personalidade querida pela maioria dos fãs e o talento, que levou muitos a recordarem com alguma tristeza o facto de o espanhol (principal piloto do país na sua época, até à estreia de Fernando Alonso na F1) nunca ter tido um lugar em Grande Prémios nos seus melhores anos de carreira.

Habitual comentador para a televisão espanhola e constantemente convidado por equipas de automobilismo para cumprir o papel de consultor, dado o seu vasto conhecimento do comportamento intrínseco do comportamento de monolugares de competição, Pedro de la Rosa conseguiu participar em 104 Grande Prémios, apesar da sua fama de piloto de testes, e deixou memórias nas equipas da categoria por onde passou (incluíndo um recorde de F1 que perdura até aos dias de hoje).

Dos pontos na estreia até aos numerosos testes com a McLaren

O início do percurso de Pedro de la Rosa no automobilismo foi diferente ao da maioria dos seus colegas de profissão futuros. Em vez de começar a correr em karts, de la Rosa tinha um pai que se preocupava com as condições de segurança (ou falta delas) nos campeonatos de karting e, por isso, começou por competir em campeonatos de carros telecomandados de todo-o-terreno. E foi excelente aos seus comandos. Com 3 títulos domésticos entre 1983 e 1985 e 2 europeus em 1984 e 1985 e um vice-campeonato no primeiro campeonato mundial de 1986, de la Rosa finalmente pôde competir em karts em 1988. A partir daí foi sempre a vencer com títulos Fórmula Fiat (1989) e Fórmula Renault espanholas (1990) e Fórmula Renault britânica (1992).

Já o salto para a Fórmula 3 Britânica foi mais complicado, marcado por dificuldades financeiras e resultados menos estonteantes. Sem maneira de continuar a sua carreira na Europa, o piloto tomou a decisão que se revelaria como a mais acertada da carreira: mudou-se para o Japão. Logo no primeiro ano de Fórmula 3 Japonesa (1995) foi campeão, com direito a um 3º lugar no Grande Prémio de Macau, ao serviço da famosa TOM’S que o colocou no ano seguinte no campeonato de GT.

Correndo em duas categorias ao mesmo tempo (nos GT e na Fórmula Nippon, atualmente Super Formula), de la Rosa teve o seu ano de explosão em 1997, quando venceu ambos os títulos e deixou uma excelente impressão nas suas equipas como alguém capaz de elaborar setups fenomenais e com uma ótima análise de telemetria. Ambas as caraterísticas abriram-lhe a porta da Fórmula 1, passando 1998 como piloto de testes da Jordan.

Sendo preterido face ao experiente Heinz-Harald Frentzen para substituir Ralf Schumacher na equipa, de la Rosa acabaria por não querer passar mais um ano na estrutura a testar, passando-se para a Arrows em 1999. Tornando-se um dos poucos pilotos da história da F1 a pontuar logo na corrida de estreia (com um 6º lugar no GP da Austrália), o piloto passou um ano frustrante na equipa do final da tabela com 11 abandonos em 16 provas e o ponto da primeira prova a ser o única do ano inteiro para a estrutura. Enquanto isso a Jordan conseguiu 2 vitórias e no final do ano abriu uma vaga com a saída de Damon Hill, que já não estava em posição de aproveitar.

Tendo batido Toranosuke Takagi em 1999, de la Rosa viu Jos Verstappen somar mais pontos que ele num 2000 que correu um pouco melhor à equipa britânica. Voltando a piloto de testes para 2001 com a Prost, o piloto só teve de esperar 4 corridas até estar de volta aos comandos de um F1 em fins-de-semana de Grande Prémio. Numa troca direta entre a Prost e a Jaguar com Luciano Burti, de la Rosa passou a ser o segundo piloto da Jaguar ao lado de Eddie Irvine. À semelhança dos anos na Arrows, o espanhol teve de se debater com um carro do meio da tabela com que conseguiu pontuar em duas ocasiões. Uma equipa com sonhos de vitórias mas com um apoio deficiente da casa-mãe da Ford, a Jaguar revelaria ser uma decepção da qual o piloto saiu no final de 2002.

A partir daí começou um papel que manteria durante vários anos: piloto de testes da histórica McLaren. O primeiro ano de cooperação com a equipa seria muito produtivo para o piloto, pelo menos internamente. Tendo começado a temporada com um carro do ano anterior ligeiramente melhorado, a equipa venceu as duas primeiras provas do ano e começou a lutar pelo título. Isto tornou a tarefa de ter o carro novo, o MP4-18, preparado ainda mais importante. Só que o carro tornou-se um dos mais problemáticos projetos da história da F1. Imprevisível a ponto de ser perigoso, o McLaren viu os pilotos titulares fartarem-se dele. Isto deixou de la Rosa com a tarefa quase solitária de trabalhar com a equipa para o preparar, que o espanhol aceitou com entusiasmo. Acumulando milhares de quilómetros durante 2003, o piloto foi o que mais se adaptou ao carro (que não chegaria a participar em GPs nesse ano) e conquistou a confiança da equipa nas suas habilidades técnicas.

Em 2004 o ano foi mais complicado para a equipa britânica, mas isto trouxe-lhe a vantagem de poder testar em fins-de-semana de Grande Prémio para 2005 (por ter terminado abaixo de 4º lugar dos construtores).

Assim, de la Rosa testou em GP em 2005 e o MP4-20 conseguiu lutar pelo título. Com o bónus para de la Rosa de que a lesão de Juan-Pablo Montoya o deixou fora de combate (e de o outro piloto de testes, Alexander Wurz, não ter um assento preparado) para o GP do Bahrain, no qual o espanhol voltou a competir. O piloto conseguiu qualificar-se na frente do colega, Kimi Räikkönen, e terminou num competente 5º lugar com direita à volta mais rápida da corrida (que continua a ser um recorde de pista, já que nem os modernos F1 a conseguiram bater ainda).

2006

Continuando o seu percurso no banco de testes da McLaren, de la Rosa voltou a estar afastado dos Grande Prémios, com a mesma regra que lhe tinha permitido estar envolvido nas sextas-feiras a afastá-lo devido à boa temporada 2005 da equipa.

Só que o ano teria outros planos para manter Pedro de la Rosa ocupado.

Nunca se adaptando inteiramente à estrutura da McLaren, derrotado em toda a linha por Räikkönen e com rumores sobre o seu verdadeiro comprometimento a circularem, Juan-Pablo Montoya e Ron Dennis (histórico chefe da equipa) finalmente chegaram ao limite um com o outro depois de Montoya ter provocado um incidente com 4 carros que os eliminou a todos no GP dos EUA. Com o colombiano despedido com efeito imediato e Wurz agora a ser piloto de testes da Williams, a equipa chamou de la Rosa para o resto da temporada.

Claro que não foi assim que a situação lhe foi anunciada no momento. Para grande frustração do piloto espanhol, Ron Dennis limitou-se a chegar a acordos corrida a corrida com ele. Ou seja, de la Rosa estava permanentemente a ter que mostrar o que valia para ainda ter o volante na prova seguinte.

O motivo para esta hesitação da equipa foi simples. A temporada de GP2 iria terminar várias corridas antes da de F1, e a equipa tinha um piloto do programa de jovens a brilhar. A ideia de o colocar à prova num dos F1 antes da temporada terminar para melhor avaliar quem acompanharia Fernando Alonso (já contratado à Renault desde final de 2005) em 2007. O jovem? Lewis Hamilton.

No primeiro Grande Prémio de volta aos monolugares, de la Rosa terminou nos pontos no GP de França. Depois veio o abandono por problemas mecânicos na Alemanha, até que veio o fim-de-semana de Budapeste que acabou por comprar mais tempo de piloto oficial ao espanhol.

Com a McLaren invulgarmente rápida (num ano em que não haviam vencido corridas), de la Rosa qualificou-se em 5º lugar, atrás de Räikkönen que fez pole. Marcada pela chuva, a prova acabaria por ser um teste da resistência de carros e pilotos. Alonso foi atirado para fora com uma roda mal apertada, Schumacher levou pneus intermédios demasiado longe e perdeu posições, Räikkönen desconcentrou-se e bateu num Toro Rosso que dobrava (mesma à frente do colega de equipa). De mãos firmes e concentração de aço, Pedro de la Rosa conquistou o primeiro pódio da sua carreira, terminando a prova em 2º lugar atrás do novo vencedor de Fórmula 1, Jenson Button.

Pilotando o McLaren até à última corrida do ano (com mais 3 lugares pontuáveis), de la Rosa acabaria por ser preterido face a Hamilton por um lugar em 2007. O piloto refere-se com frequência ao primeiro teste conjunto com Hamilton para explicar que entendeu perfeitamente o porquê de ser preterido, com o adversário a entrar no ritmo quase de imediato. “Nós estamos tramados” terá pensado de la Rosa, referindo-se aos problemas que Hamilton daria ao grid nos anos vindouros.

O Spygate e as oportunidades de regressar a titular

2007 prometia ser um ano relativamente pacato de piloto de testes e a ajudar a televisão espanhola com os seus comentários, mas mais uma vez o mundo tinha outros planos. Abalada por uma acusação de espionagem à Ferrari, a McLaren seria também afetada por um ambiente de cortar à faca entre Alonso e Hamilton, que lutaram pelo título. Alegadamente, seria o núcleo espanhol responsável por entregar à FIA provas da espionagem que traria a desclassificação da equipa do campeonato e uma multa de 100 milhões de dólares.

O piloto continuou mais 2 anos a testar pela equipa, depois de rumores da estreia da equipa Prodrive (apoiada pela McLaren) com de la Rosa e Gary Paffett (o outro piloto de testes da equipa) não se terem concretizado, e foi eleito líder da GPDA (Grand Prix Driver’s Association) até 2010.

Em 2010 e no meio de uma crise global que afetou fortemente as equipas, de la Rosa aceitou o convite de Peter Sauber para integrar a equipa (que voltaria a ser independente) em Grande Prémios ao lado do rápido jovem Kamui Kobayashi. Participando em 14 das 19 corridas, de la Rosa ainda fez um 7º lugar no GP da Hungria, mas ao ser batido por Kobayashi convincentemente perdeu o lugar antes do final do ano.

Passando os meses finais de 2010 a treinar com a Pirelli (para o regresso da fornecedora de pneus no ano seguinte), reingressou na equipa de testes da McLaren em 2011. No final desse ano, comunicou a Ron Dennis que seria piloto da HRT em 2012. O inglês informou-o de que achava a decisão um disparate.

Vítimas da guerra FIA-FOTA de 2009, as 3 equipas estreantes de 2010 tinha ingressado na F1 com orçamentos demasiado baixos para fazer algo que não disputar os últimas lugares. Uma delas, a HRT, possuía sede em Espanha e tentara de la Rosa com uma proposta que envolveria alguns anos de pilotagem seguidos do papel de chefe de equipa.

2012 provou ser um ano difícil, com 4 17º lugares a serem o melhor que a pior estrutura do calendário conseguiu fazer. No final do ano, a equipa terminou a sua atividade por falta de fundos. Perguntado sobre a experiência na equipa, de la Rosa expressa ter sido uma decisão de que não se arrepende, citando a quantidade de mecânicos e engenheiros de pista espanhóis que ganharam tempo na F1 com a experiência, sendo posteriormente contratados por outras equipas do paddock.

Tendo passado os dois anos seguintes como piloto de testes da Ferrari (por influência do amigo Fernando Alonso), de la Rosa tornou-se depois consultor da equipa Techeetah na Fórmula E, onde as suas capacidades técnicas foram referidas como fulcrais para a boa adaptação da estrutura às unidades motrizes da fornecedora Renault (sendo que a equipa venceria o título durante a estadia do espanhol).

Para além de ajudar Alonso na formação da sua escola de karting (FA Racing), o espanhol também dirige a escola de condução (e equipa) Drivex, sendo frequente vê-lo colocar-se ao volante (com 50 anos) para se testar contra os jovens pilotos de agora.

Legado

Recentemente aparecido na entrevista pós-qualificação do Grande Prémio de Espanha, trocando gracejos justamente com Lewis Hamilton sobre o tempo de ambos na McLaren, Pedro de la Rosa acabou por certamente não fazer a carreira com que terá ambicionado mas a verdade é que conseguiu a rara proeza de merecer sempre elogios de quem consigo trabalhou.

Os anos iniciais em estruturas que estavam sem rumo, como a Arrows e a Jaguar, de la Rosa acabou por afinar as suas capacidades durante anos na McLaren. Na equipa britânica, o espanhol desenvolveu um bom trabalho sempre que se tornava necessário chegar-se à frente mas ficou a faltar uma verdadeira hipótese de fazer uma temporada completa, onde os resultados pudessem ser menos acompanhados de atenuantes. Quando a oportunidade chegou, já o piloto estava na sua fase descendente de carreira.

Conhecendo monolugares de competição como poucos pilotos vivos, de la Rosa continua a ser um consultor muito apetecível para equipas de automobilismo e os seus conselhos continuam a valer ouro para quem os pede, num dos raros casos em que um ótimo piloto se mistura com uma personalidade prestável. O único pódio no Hungaroring não faz jus ao homem que começou a correr com um comando na mão.

—–

“Flash” anterior: Dan Gurney em 1967
“Flash” seguinte: Peugeot em 1998

—–

Fontes:
– ASSELBERGHS, Denis. Best of 2005 Tiago Monteiro. (2005). Apach.
Beyond the Grid \ Pedro de la Rosa
Formula Scout \ Pedro de la Rosa at 50, an under the radar motorsport icon
Race Fans \ Pedro de la Rosa
Wikipedia \ Pedro de la Rosa





O medo

31 01 2021

Não tenho a certeza de quando foi a primeira vez que senti medo a ver uma corrida. Em que esperei apreensivamente até uma câmara mostrar o piloto a mexer-se no cockpit. Mas sei que está lá. Se antes via o símbolo de bandeira amarela nos gráficos da FOM e imaginava o que isso significaria para a corrida, agora dou por mim a pensar “o que se passou?” até que a transmissão mostre.

Também me recordo de não o sentir. De ver a suspensão do McLaren de Kimi Räikkönen rebentar na última volta do Grande Prémio da Europa de 2005 e estar apenas preocupado com o que isso significaria para o campeonato. Ou de assumir ser natural que Robert Kubica escapasse ileso a um impacto frontal a mais de 200 km/h no Grande Prémio do Canadá de 2008. Normalíssimo. Mortes na F1 eram coisa do passado, já nenhuma ocorria havia pelo menos 15 anos.

O ano de 2011 foi a primeira vez que lidei com o lado negro do automobilismo mais cedo que o esperado. Primeiro o mesmo Kubica, acidentado num rally que fazia durante a pré-temporada de Fórmula 1 e com péssimas perspetivas de alguma vez conseguir regressar aos comandos de um F1. Mas não ficou por aí.

A 16 de Outubro de 2011 a IndyCar corria a sua prova final em Las Vegas. À partida, o ex-campeão da categoria, Dan Wheldon, era entrevistado via rádio durante a volta de aquecimento. “Isto vai ser um espetáculo,” disse Wheldon, “uma excelente maneira de terminar a temporada”. Minutos depois, o inglês envolveu-se num acidente enorme de 15 carros e sofreu dois impactos distintos na cabeça quando foi contra a vedação, sucumbindo aos ferimentos.

Nunca tinha visto uma prova de IndyCar antes. A única razão que estava a ver era porque o canal SportTV estava disponível grátis durante aquele mês, e tinha aproveitado. Fiquei acordado até tarde para saber como ficara Wheldon, e vi as 3 voltas de honra feitas a baixa velocidade em homenagem ao piloto. Ainda com o canal aberto nem pensei duas vezes antes de ver a prova de MotoGP da Malásia a 23 de Outubro. Acordei cedo e vi que a prova já tinha começado. Mas estava parada. A mota Marco Simoncelli tinha perdido tração na Curva 11 e o italiano foi colhido por dois outros pilotos, que não o conseguiram evitar. Ferimentos na cabeça e tórax acabaram por levar ao seu falecimento também.

Convenci-me que as motas e as ovais eram perigosíssimas, que era preciso ser doido varrido para arriscar de tal maneira em categorias insanas. Mas no final de contas, cortar o ar a 300 à hora protegido por uns centímetros de fibra de carbono à volta do corpo é sempre um exercício de loucura. É só uma questão de tudo o que puder correr mal, correr. Apesar das excelentes inovações que estreiam a cada ano de automobilismo para proteger os pilotos.

Até que chegou o Grande Prémio do Japão de 2014, cujos acontecimentos trouxeram a tragédia à categoria principal do automobilismo. Com o temporal de Suzuka a ter provocado o despiste de Adrian Sutil na curva Dunlop, um tractor-grua entrou em pista para o remover. Quando Jules Bianchi se despistou no mesmo local na volta seguinte, teve a infelicidade de ter essa mesma grua no caminho em vez da barreira de pneus. As lesões cerebrais provocadas pelo acidente levaram ao francês a sucumbir passados 9 meses em Julho de 2015.

A morte visitava a Fórmula 1 pela primeira vez em 21 anos. Não dava para continuar a negar que a F1 não era o porto 100% seguro que acreditei ter-se tornado após os desenvlvimentos com a morte de Senna.

O acidente de Bianchi impulsionou a que finalmente fosse implementado o uso do Halo, a estrutura de titânio que atualmente protege a cabeça dos pilotos e que durante vários anos não foi colocada por motivos estéticos.

Lembro-me de estar de férias em 2019, a evitar qualquer informação de F1 quando recebi uma mensagem sucinta do meu pai. “Morreu um piloto de Fórmula 2…” Liguei-me à internet e procurei. Tinha sido outro piloto francês, Anthoine Hubert. Recordo-me de ter pensado “o Hubert não”, e de logo a seguir ter sentido alguma vergonha pelo pensamento. Como se na eventualidade de ser um piloto menos talentoso a situação fosse melhor.

Por todas estas razões, ao estar sentado a ver o Grande Prémio do Bahrain em 2020, lembro-me de ver a explosão de fogo do incidente de Romain Grosjean ao vivo e ter simplesmente dito “não” várias vezes. Não exaltado, simplesmente consternado. Sabia exatamente o que significava um acidente daqueles. O medo estava lá. A sobrevivência de, por coincidência, mais um francês estava dependente de pura sorte. Finalmente, com agonizante lentidão, apareceram as imagens de Grosjean atordoado mas consciente, no banco traseiro do carro médico.

As queimaduras graves nas mãos do piloto e um tornozelo torcido foram as sequelas da batida. As imagens são ainda difícieis de ver. Para a sobrevivência de Grosjean estava-se perante um caso de sorte aliada a inovação. Foi a sorte de Grosjean ter permanecido consciente durante o incidente para saltar do Haas assim que pôde. Foi a inovação do Halo que evitou que a cabeça do piloto colidisse com a barreira, e a dos desenvolvimentos dos fatos de competição que permitiu que o fogo não provocasse estragos piores ao corpo dele.

A reação que se ouviu dos pilotos por rádio no momento do acidente mostra alguns que percebem de imediato a gravidade do que aconteceu: Räikkönen estava de voz sumida, de forma pouco característica; Kvyat passou de reclamar por Grosjean ter colidido consigo para um quase pânico (“por favor, digam-me que ele está bem…”); e Leclerc, mais do que qualquer outro piloto, ficou aterrado.

É que Leclerc, apesar da sua juventude, já aprendeu todos os dissabores da categoria. Jules Bianchi era o seu padrinho. Anthoine Hubert, um amigo pessoal. No primeiro ano do Halo na F1, uma roda do carro de Fernando Alonso não o atingiu na cabeça graças à inovação. Leclerc sabe exatamente o custo que o automobilismo pode ter. Aprendeu a conviver lado a lado com o medo.

Max Verstappen, igualmente jovem e igualmente rápido, não percebeu nada ainda. Quando na conferência de imprensa do Bahrain lhe perguntaram sobre como os pilotos conseguiram voltar aos carros após o acidente de Grosjean, insinuou que qualquer piloto que expressasse dúvidas deveria ser despedido na hora. A bravata do holandês é a de alguém que não sabe ainda o que é o medo do automobilismo, por não ter ainda apanhado sustos. Mas aprenderá. Infelizmente.

No automobilismo todos aprendem o medo e como conviver com ele, mais tarde ou mais cedo.





A consagração

9 10 2011

No último GP, Jake Humphrey comentou na BBC que Singapura seria o local ideal para Sebastian Vettel vencer o seu segundo título mundial. Na altura discordei, e torci para que Seb esperasse mais duas semanas, e fazer naquele que, na minha opinião, seria o melhor local: Suzuka. Vettel vinha para a pista japonesa sabendo que precisava de apenas 1 ponto para chegar ao bi-campeonato, mas em vez de ser cauteloso, o alemão atacou sempre (como comprovou a pole de ontem).

Se olharem com atenção, está ali um bi-campeão mundial...

Talvez até tenha estado um pouco agressivo demais, como se viu na largada, quando empurrou Jenson Button para a relva. Tudo bem, não lhe chegou a tocar, mas foi apenas porque Button travou quando percebeu o que Sebastian se preparava para fazer. E, depois de reflexão, nada de penalizações… Aqui confesso que achei bastante injusto, já que os comissários parecem dar tratamento especial aos da frente. Se comete uma infracção é para ser punido, não é para ser só avisado (como Schumacher em Monza) ou sem nada a acontecer…

Detalhe também para o fato de que na entrevista de Christian Horner à BBC após a corrida, o dirigente da Red Bull tentava defender o seu piloto dizendo que “deixou espaço suficiente”, para levar a resposta ácida de Eddie Jordan, “podes-me dizer onde ele tinha espaço suficiente? Ele está na relva…”. Jordan tem os seus defeitos, mas ninguém o pode acusar de não dizer o que pensa!

Com que então não sabia ganhar no seco...

E, já agora, visto que estava a ficar esquecido: Jenson Button venceu… O britânico conteve-se depois do desentendimento com Vettel, poupando pneus, o que lhe viria a ser útil mais tarde, liderando uma boa parte da corrida, e mesmo quando Alonso e Vettel ameaçaram a liderança, ele conseguiu responder e aguentar a pressão. Para variar, o seu companheiro de equipa voltou a fazer tudo mal. Hamilton tentou forçar o andamento no início, danificando os pneus, e depois tocou em Massa (outra vez…), a caminho de um fraco 5º lugar…

A Mercedes parecia ter bom ritmo em Suzuka, com Schumacher a chegar ao 7º lugar, e Rosberg a recuperar da última fila até ao 10º. Na Sauber foi quase o oposto da qualificação: enquanto Pérez brilhou, Kobayashi teve vários problemas e falhou os pontos depois de brilhar no Sábado… Enquanto isso, na Renault Petrov voltou a pontuar, com Senna a não conseguir acompanhar o russo. Por último, destaque para o fato de que os Lotus conseguiram terminar na volta dos vencedores, mostrando a evolução da equipa de Tony Fernandes, que poderá chegar ao pelotão intermediário para o ano.

Veja os resultados completos.





Bestial ou besta: DRS

24 05 2011

Quando a FIA anunciou a implementação do DRS para a temporada de 2011, muitos foram os críticos do sistema que facilita as ultrapassagens, com Mark Webber a afirmar mesmo, que “isto não é a Play Station”. Confesso concordar com o australiano, já que o fascínio pela ultrapassagem advém não apenas desta, mas também na sua preparação.

Quer isto dizer que, não é totalmente verdadeira a ideia de que o que o público quer são ultrapassagens. É mais do que isso. Vem-me à mente o GP do Japão de 2005: começando de 17º, Kimi Raikkonen estava a fazer a corrida da sua vida. O finlandês tivera problemas com a chuva na qualificação, mas na corrida conseguiu passar adversário após adversário, até chegar ao segundo posto, a partir do qual, a 8 voltas do fim, iniciou a perseguição ao líder Fisichella (Renault). A perseguição do “Iceman” foi uma das mais incríveis exibições de sempre da F1, e na primeira curva da última volta, Kimi conseguiu suplantar “Fisico” para vencer uma das melhores corridas da sua carreira.

Perceberam o contexto? Sem tirar mérito à ultrapassagem, que foi simplesmente incrível, aquilo que começou a “colar” as pessoas ao ecrã foi o início da perseguição. A FIA parece não o ter percebido, recusando-se a retirar o DRS do GP do Mónaco, e colocando duas áreas para o dispositivo para Montreal e Valência.

Para começar, e ao contrário de muitos, creio que as melhores utilizações do DRS foram na Austrália e na Espanha. Certo, foram provas com o menor número de ultrapassagens, mas foram as de maior tensão. A perseguição de Button a Massa em Melbourne impediu-me de me mexer um milímetro no meu sofá. E a de Hamilton a Vettel teve o mesmo efeito, já que estava com a expectativa de ver se Lewis conseguiria fazer a manobra (mais por ser um McLaren, do que por ser o piloto, mas isso já é outro tema…).

A FIA parece não ter compreendido o que está por trás de uma ultrapassagem...

Porque aquilo que o DRS deve fazer não é fazer ultrapassagens acontecer imediatamente. O que deve verdadeiramente suceder é uma pequena ajuda ao piloto que persegue, o que foi visto em Melbourne e Montmeló. Já em Istambul, por exemplo, nada disso acontecia, e os pilotos passavam com toda a facilidade!

Creio que a FIA se esquece daquilo que realmente importa, com as sucessivas artificialidades que coloca nas provas.

Uma coisa é certa, como disse o Renan do Couto no Podium GP, na qualificação será interessante de ver qual o piloto que se arriscará a perder um pouco de aderência nas curvas rápidas, de modo a obter uma pequena margem de vantagem, que poderá ser fundamental no fim…