Pesadelo para a Ferrari – GP França 2022

25 07 2022

À chegada a Paul Ricard este ano, o paddock de Fórmula 1 sabe que existem grandes probabilidades de estarem a assistir à última prova francesa num futuro próximo. Mesmo com 2 vencedores de Grande Prémios franceses em pista, uma equipa nacional e o apoio do Governo local, a França poderá ser ultrapassada pelas circunstâncias de uma FOM interessada em outros mercados. Ainda é incerto, uma vez que poderá ser a vizinha Bélgica quem está em maior perigo.

Um factor que poderia ajudar a uma eventual manutenção seria que o circuito fosse do agrado do paddock, o que está longe de ser verdade. Não só se trata de uma pista no meio de uma localidade secundária (com todos os efeitos negativos de mobilidade para os fãs que se podem imaginar), trata-se também de uma pista cuja principal finalidade é a realização de testes e não de corridas.

Assim, o circuito, na sua concepção atual, tem escapatórias sem qualquer gravilha e com diferentes cores que demonstram diferentes níveis de aderência para quem saia de pista. O resultado são erros de pilotos pouco castigados e vistas pouco esteticamente agradáveis para os fãs. Dificilmente os ingredientes para gerar petições de manutenção no calendário…

Paradoxalmente, o Grande Prémio foi apontado como uma das medidas do sucesso da temporada de 2021: em território Mercedes, a Red Bull conseguiu lutar pela vitória e triunfar; e foi uma corrida de grande entretenimento para os fãs.

Ronda 12 – Grande Prémio de França 2022

Com uma matemática de campeonato cada vez mais complicada para a Ferrari, fruto de vários erros estratégicos da equipa ao longo do ano, esperava-se uma continuação das duas vitórias consecutivas das provas anteriores. Em vez disso, o campeonato poderá ter apertado uma derradeira e dramática vez.

Dado que o segundo piloto da equipa, Carlos Sainz, vinha com uma penalização por troca de componentes de motor da Áustria, a equipa executou de forma brilhante um plano para dar o cone de ar no Q3 a Charles Leclerc, que valeu ao último a pole position. Para domingo via-se de forma clara uma estratégia de plano A (longe dos risíveis plano E que às vezes a equipa italiana utiliza), com Sainz a recuperar bem da última linha da grelha e Leclerc a segurar de forma competente a pressão de Max Verstappen.

Quando o Red Bull parou, foi-se toda a boa sorte da equipa para a corrida. Leclerc bateu sozinho na liderança, um erro que (nas palavras do próprio) que se o fizer o campeonato será merecidamente, tal foi o amadorismo. Isto provocou um Safety Car, de péssimo timing para Sainz. A começar nos pneus duros, isto significava que ou o espanhol fazia duas paragens ou que sofreria até ao fim nos médios. Até aqui a Ferrari falhou, lançando-o no pitlane demasiado cedo e dando-lhe 5 segundos de penalização. Depois chegou uma luta bem conseguida de Sainz contra George Russell e Sergio Pérez pelo pódio, arruinada pela decisão Ferrari de o parar.

Um fim-de-semana de pesadelo para a Scuderia.

Sem o rival pela frente, Verstappen dominou a seu bel-prazer o resto da prova, com o colega Pérez a ficar muito para trás, numa altura em que se acredita que o desenvolvimento da Red Bull voltou a pender para o estilo de condução de Verstappen. A Mercedes, com grandes esperanças em encurtar a distância para a frente, viu-se novamente em terra de ninguém. Apesar disso, os alemães fizeram o primeiro pódio duplo do ano, com Hamilton em 2º e Russell em 3º com uma ultrapassagem oportunista sobre Pérez durante o VSC.

McLaren e Alpine seguiram-se, com ambos os pilotos nos pontos, numa altura em que as equipas se digladiam pelo 4º lugar do mundial de construtores. Nesta prova foi a Alpine que levou a melhor, com Fernando Alonso na frente (que chegou a deixar aproximar Lando Norris só para queimar os pneus do britânico). Tudo isto deixou apenas um lugar pontuável, que acabou nas mãos de um competente Lance Stroll, que precisou de se defender forte e feio do colega Sebastian Vettel.

De resto, a AlphaTauri continua sem se encontrar na temporada de 2022, enquanto que Alfa Romeo e Haas tiveram fins-de-semana para esquecer.

—–

Qualificação: 1. Leclerc \ 2. Verstappen \ 3. Pérez \ 4. Hamilton \ 5. Norris (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Hamilton \ 3. Russell \ 4. Pérez \ 5. Sainz \ 6. Alonso \ 7. Norris \ 8. Ocon \ 9. Ricciardo \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (233) \ 2. Leclerc (170) \ 3. Pérez (163) \ 4. Sainz (144) \ 5. Russell (143) —– 1. Red Bull (396) \ 2. Ferrari (314) \ 3. Mercedes (270) \ 4. Alpine (93) \ 5. McLaren (89)

—–

Corrida anterior: GP Áustria 2022
Corrida seguinte: GP Hungria 2022

GP França anterior: 2021

—–

Fórmula 2 (Rondas 17-18) \ Jovens Red Bull fazem o pleno

Com alguma inconsistência ao longo desta temporada, nada pode ser apontado de errado a Liam Lawson no seu progresso na prova sprint. Tendo sido passado à partida por Marcus Armstrong, o neozelandês repassou o rival e lançou-se numa outra excelente manobra sobre Jehan Daruvala para assumir uma liderança que não voltou a largar. Já estes dois adversários acabaram a desentender-se na reta Mistral, se bem que Daruvala ainda conseguiu chegar em 2º lugar enquanto que Armstrong se envolveu em cada vez mais incidentes e caiu na classificação.

Num desses incidentes foi considerado vítima inocente, o que levou a direção de prova a penalizar Théo Pourchaire. O piloto da casa perdeu o seu pódio e, mais importante, pontos para o Felipe Drugovich.

Já para o feature quem sofreu sem culpa foi Logan Sargeant. Tendo-se estabelecido em provas recentes como o mais direto perseguidor de Drugovich, o americano confirmou as suas aspirações com uma pole, mas viu o motor morrer numa paragem nas boxes que o atirou para fora da corrida quando disputava a liderança.

A luta pelo triunfo acabou entre Ayumu Iwasa e Jack Doohan no início (com uma grande partida de Doohan), mas foi Iwasa quem se sobrepôs na disputa e começou a fugir na liderança o seu primeiro triunfo de F2. Pourchaire emendou o estrago do dia anterior e voltou ao 2º lugar do campeonato, enquanto que o outro ART de Frederik Vesti brilhou com 3º lugar na qualificação e no feature depois de zero voltas em treinos livres…

Excelentes notícias novamente para Drugovich: o brasileiro viu a sua liderança aumentar em ambas as provas, tendo percebido que pontuar e não errar são os seus melhores trunfos nesta altura do campeonato.

—–

Qualificação: 1. Sargeant \ 2. Iwasa \ 3. Vesti \ … \ 8. Armstrong \ 9. Lawson \ 10. Daruvala

Resultado (Sprint): 1. Lawson \ 2. Daruvala \ 3. Drugovich \ 4. Doohan \ 5. Vesti \ 6. Iwasa \ 7. Pourchaire \ 8. Sargeant (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Iwasa \ 2. Pourchaire \ 3. Vesti \ 4. Drugovich \ 5. Doohan \ 6. Lawson \ 7. Daruvala \ 8. Novalak \ 9. Nissany \ 10. Fittipaldi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Drugovich (173) \ 2. Pourchaire (134) \ 3. Sargeant (118) \ 4. Daruvala (94) \ 5. Lawson (79) —– 1. ART (209) \ 2. MP (199) \ 3. Carlin (197) \ 4. Prema (161) \ 5. Hitech (136)

—–

Corrida anterior: Áustria 2022 \ Rondas 15-16
Corrida seguinte: Hungria 2022 \ Rondas 19-20





Que pistas visitará a F1 brevemente?

22 06 2022

Há muito que não faz sentido na universo da Fórmula 1, mas poucas coisas conseguem bater o facto de os Grande Prémios do Azerbaijão e Canadá serem em fins-de-semana consecutivos.

Sempre focada na sua imagem pública de neutralidade carbónica e de saúde mental, a categoria sujeita os seus trabalhadores a estarem envolvidos num processo de transporte de equipamento de 8 924 km em apenas dois dias. Faria muito mais sentido emparelhar o Canadá com a prova de Miami, por exemplo, mas os canadianos têm a sua semana de Junho bem definida devido ao início da época dos festivais de Verão.

Este sempre foi o grande problema de definir o calendário. Ainda este ano houve uma troca de palavras azeda entre alguns pilotos e os promotores do GP da Austrália sobre posição da prova australiana “sozinha”…

Quem está confirmado

Falando nos australianos, estes parecem estar com alguma vontade de recuperar o posto de corrida de abertura (que perderam com a pandemia), mas estão a esbarrar com a vontade das próprias equipas, que preferem o novo sistema de pré-temporada e prova inaugural no Bahrain (que por sua vez faz mais sentido em emparelhamento com outra prova do Médio Oriente, neste caso a Arábia Saudita no novo circuito de Qiddiya). Os timings do Ramadão em 2023, no entanto, estão a complicar o planeamento.

Resta a Melbourne aceitar a conjugação com o GP da China, por exemplo, caso o país asiático alguma vez aceite regressar ao calendário. Com a política “Zero Covid” a ter consequências preocupantes no país, não é claro que aconteça.

A ausência de GP da Rússia até foi bastante prestável para a inclusão do futuro GP de Las Vegas, que será realizado na reta final do calendário num plano provisório para uma ronda tripla norte-americana de Austin, Las Vegas e México (assumindo que a útlima sempre consegue a renovação). Isto não é particularmente desejado, pelo que uma solução de recurso era Austin estar antes junto a Miami no início de 2023 (porque, novamente, o Canadá não se mexe).

A última corrida do ano será o suspeito do costume, Abu Dhabi, que talvez faça par com o regressado Qatar (desta vez com corrida num circuito citadino em Doha, em vez de Losail) em vez da pouco natural dupla com o Brasil (que prosseguirá com o seu novo título de GP de São Paulo).

As outras duas provas asiáticas são os GPs do Japão e Singapura, que há mais de uma década fazem par e que geralmente renovam contrato sem qualquer problema.

Além dos EUA, outro país que garantiu mais de uma corrida por ano foi a Itália que vê o GP de Itália em Monza e o GP da Emilia Romagna em Imola a assinarem contratos de longo prazo com a categoria.

No resto da Europa, uma série de confirmações: Espanha (que até esteve em perigo, mas aproveitou a boleia da popularidade de Alonso e Sainz), que pondera acabar com a terrível chicane final da volta; o “obrigatório” Reino Unido; a Áustria (propriedade da campeã Red Bull); o Azerbaijão (pelo potencial de confusão completa permanente); a Hungria, com o seu caos à chuva sempre à espreita; e a Holanda, que deverá durar enquanto Verstappen durar na grelha.

América \ Brasil, Canadá, EUA (Austin), EUA (Miami) e EUA (Las Vegas)

Ásia Oriental \ China, Japão e Singapura

Europa \ Áustria, Azerbaijão, Espanha, Holanda, Hungria, Itália (Imola), Itália (Monza) e Reino Unido

Médio Oriente \ Abu Dhabi, Arábia Saudita, Bahrain e Qatar

Oceânia \ Austrália

GPs de 2022 sem confirmação para 2023

Tudo isto traz-nos até ao número 21. São 21 corridas confirmadas para 2023 quando o calendário apenas permite um máximo de 23 e sobram ainda 4 provas. Bem, mais ou menos.

O GP do México tem sido um sucesso de bilheteiras, com um ótimo ambiente e a aproveitar muito bem a popularidade de Sergio Pérez, agora num carro de uma equipa da frente. Parece quase inevitável a confirmação da pista para 2023.

Isto deixa três cães a um osso: Bélgica, França e Mónaco. Se o circuito de Paul Ricard não deixaria muitas saudades à maioria dos fãs, devido ao seu perfil de pista de testes com escapatórias (demasiado) amplas, o mesmo não pode ser dito de Monte-Carlo e Spa-Francorchamps.

Ambas são provas históricas e que figuram entre as favoritas dos fãs. Qualquer uma que fique de fora pode ser motivo de embaraço para a F1. Spa fez obras ainda este ano para melhorar a sua segurança, o que deixa o Mónaco e algumas das suas exigências menos razoáveis (ausência de pagamento de taxa de corrida, ter patrocinadores próprios opostos aos da F1,…) numa posição preclitante. Ou seria, não fosse o líder do campeonato Charles Leclerc ser monegasco…

Se a China acabar por não realizar a sua corrida, poderemos ser poupados de escolher entre um dos dois.

América \ México

Europa \ Bélgica, França e Mónaco

Quem está de fora à espreita

Uma vez esgotada a lista de países que mais realisticamente podem integrar o calendário da F1, resta-nos uma breve espreita aos improváveis.

De entre estes vale a pena destacar a Alemanha regressar ao calendário. Com 2 pilotos do país envolvidos (se bem que Vettel já disse que acha improvável voltar a correr no seu país até ao final de carreira), a Mercedes bem instalada e as possíveis entradas de Audi e Porsche, parece certo que haverão pressões de bastidores para um acordo de longa duração para o Hockenheim (Nürburgring parece pouco provável).

Portugal e Turquia, dois países que regressaram após grandes ausências para 2020 e 2021, têm continuado o seu esforço de bastidores para um regresso a tempo inteiro (ou pelo menos no sistema de rotatividade já mencionado pela FOM). O espaço, no entanto, não abunda, e deverão ser simples substitutos de recurso para rondas canceladas.

Por último, como reporta Joe Saward, há que referir os exemplos de um possível regresso à África do Sul para fazer frente às críticas sobre a ausência do continente africano (quer numa Kyalami melhorada, quer num circuito citadino na Cidade do Cabo) e de um projeto em desenvolvimento na Colômbia para um rotativo GP das Caraíbas (que poderia passar a outras localizações na área, como o GP da Europa) de modo a ajudar a emparelhar com o GP do Brasil (por exemplo).

África \ África do Sul

América \ Colômbia

Europa \ Alemanha, Portugal, Turquia

—–

Fontes:
F1 Destinations \ Las Vegas
Joe Saward \ Atualizações ao calendário
Motorsport \ Agrupamento de corridas pela FOM





Desforra tática da Red Bull – GP França 2021

20 06 2021

Sem corrida de Fórmula 1 durante 10 anos, a França corrigiu esta situação em 2018, com o reformulado circuito de Paul Ricard. Não se tratava do mesmo traçado que tinha recebido a F1 entre 1970 e 1990, por vezes em regime de alternância (com Dijon e Charade), mas sim de uma versão com pequenas modificações a nível de traçado e grandes alterações a nível das escapatórias: em vez de gravilha, o circuito adoptou um sistema de asfalto abrasivo nas amplas escapatórias (quanto mais um piloto sai de pista, mais o asfalto o abranda) e de barreiras com tecnologia TecPro. Ambas as inovações foram adoptadas em menor grau por vários circuitos mundiais e valeram-lhe um prémio de excelência em segurança por parte da FIA em 2007.

O caráter perdoador do circuito fizeram da pista um anfitrião muito popular para equipas mas não para pilotos, resultando em que o circuito recebesse muitos testes (a Toyota montou estaminé na pista aquando das suas aventuras na F1) mas poucas corridas. Não é por acaso que o atual nome oficial do traçado é “Paul Ricard High Tech Test Track”. Mesmo na altura da sua fundação, num projeto de um industrialista francês em 1970 chamado (surpresa) Paul Ricard, o circuito fazia questão de publicitar o seu título oficioso de circuito com melhores infraestruturas.

Isto não impediu que fosse no traçado que Elio de Angelis perdesse a vida ao volante de um Brabham em 1986, ainda que a ausência de meios médicos apropriados em testes tenha contribuído mais para o falecimento do que qualquer defeito de desenho do Paul Ricard. Só que ao final dos anos 90 a pista acabou por perder o Grande Prémio de França para Magny Cours.

A recuperação do GP em 2018 acabou por não ser a ideal. Para além de uma prova sem grandes movimentos, o circuito teve ainda que lidar com críticas quanto às suas entradas e saídas das boxes, consideradas como perigosas, bem como com as escapatórias coloridas que deixaram espectadores sem grande espetáculo visual e pilotos com pouco castigo caso abusassem dos limites de pista. Para 2019 o Paul Ricard puxou a saída das boxes mais para diante, permitindo que os carros em pista vissem antecipadamente quem saía das boxes, e a entrada, para a penúltima curva, mas a prova voltou a não ser entusiasmante.

Forçada a não ter prova em 2020 devido à pandemia, a pista regressou ao calendário este ano na expectativa de uma corrida que silencie os críticos. Um número reduzido de fãs já ajudará, uma vez que os acessos por estrada à pista não são ideais. Fãs esses que poderão festejar a continuação de Esteban Ocon no grid nos próximos anos, uma vez que o piloto renovou contrato com a Alpine até 2024. A boa forma do início deste ano, misturada com um desejo da equipa de Enstone em ter mais estabilidade a nível do pilotos, ajudou mas complicou a situação dos pilotos jovens da marca na F2 e F3 que são “quase demasiados” como Laurent Rossi disse recentemente. Com a boa forma de Guanyu Zhou e Oscar Piastri torna-se uirgente que a Renault chegue a acordos com uma Sauber ou Williams, sob pena dos dois ficarem sem lugares.

Durante as duas semanas que separaram o GP de França do Azerbaijão intensificaram-se também os rumores da ida de George Russell para a Mercedes em 2022 (algumas fontes diziam que poderia ser anunciado no GP do Reino Unido), bem como do potencialmente substituído Valtteri Bottas rumar à estrutura da Sauber. Quem também tem motivos para preocupação é Daniel Ricciardo caso não suba de ritmo: Patricio O’Ward da McLaren na IndyCar voltou a vencer e lidera o campeonato, com um teste com um F1 em Dezembro no Abu Dhabi…

A Pirelli também anunciou os resultados da sua investigação às falhas de pneus em Baku, sem ser específica. Os italianos rejeitaram a sua própria tese de que as equipas pudessem ter desrespeitado parâmetros ou que os carros tivessem pisado detritos, usando longos parágrafos do statement para, essencialmente, dizerem ter sido uma falha de pneu sem o quererem dizer explicitamente.

—–

Ronda 7 – Grande Prémio de França 2021

Com nuvens bem escuras a permanecerem sobre o circuito de Paul Ricard durante toda a corrida, o espectro de um Grande Prémio à chuva nunca andou longe da realidade. Com os céus a segurarem o dilúvio, não houve circunstâncias atenuantes para o novo capítulo do duelo Red Bull – Mercedes.

O primeiro treino livre ainda fazia parecer que a marca alemã estaria de regresso à sua forma habitual, com um 1º e 2º lugares, mas na sessão logo a seguir Max Verstappen soube colocar o RB16B no topo da tabela. A qualificação viria a confirmar este equilíbrio de forças. Verstappen conseguiu a sua segunda pole position do ano, com os dois Mercedes e o colega Sergio Pérez logo atrás.

A partida da corrida acabaria por se desenrolar com um momento de subviragem para Verstappen na primeira curva, que fez o holandês sair largo, que o colocou atrás de Lewis Hamilton. Daí em diante ambos (juntamente com o outro Mercedes de Valtteri Bottas) fugiram do resto do pelotão, raramente separados por mais de 1 segundo. A certa altura, e procurando surpreender a Red Bull, a Mercedes parou Bottas para colocar os pneus duros. A Red Bull reagiu na volta seguinte e conseguiu evitar a ultrapassagem. Coube então a Hamilton parar para evitar ser surpreendido mas Verstappen conseguiu fazer o que Bottas não conseguira: foi rapidíssimo na volta fulcral e saiu lado a lado com o campeão do mundo em título, fazendo uma ótima ultrapassagem.

O momento tático seguinte foi decidir se a prova seria de uma paragem nas boxes ou duas. Mesmo correndo o risco de ter Bottas a fazer de tampão, a Red Bull fez o mesmo que os rivais lhes tinham feito no GP de Espanha: foi para a segunda paragem com Verstappen. A Mercedes optou por manter os carros fora, com Hamilton protegido por Bottas, mas não foi suficiente. Verstappen viu Pérez (que também fez uma paragem) abrir caminho, forçou um erro a Bottas para o passar e ultrapassou Hamilton a duas voltas do fim.

Para irritação da Mercedes, Pérez também conseguiu roubar o último lugar do pódio. Prova do ambiente tenso da Mercedes em 2021, Bottas fez questão de expressar com veemência por rádio a sua frustração por a equipa não ter aceite o seu feedback em como a estratégia de uma paragem era a errada. Os alemães, na prática, sacrificaram a corrida do finlandês para proteger Hamilton, uma prática cada vez menos aceite de ânimo leve por Bottas…

Atrás de ambas as estruturas a McLaren e a Ferrari fizeram um fim-de-semana inverso. A Ferrari brilhou em qualificação (com Carlos Sainz na frente de Charles Leclerc, depois de ter dito que o último era o melhor qualificador do grid), e esteve bem no primeiro turno nos pneus médios, mas assim que chegou o momento de colocar os pneus duros caíram que nem tordos, a ponto de Leclerc cair para o 16º lugar. Já na McLaren a qualificação menos conseguida foi compensado por um bom ritmo de corrida, com Daniel Ricciardo a finalmente mostrar uma boa combatividade nas cores da equipa, inclusive com o colega de equipa (ainda que Lando Norris tenha-se sobreposto ao australiano no final).

Pierre Gasly voltou a ser o líder de equipa que a AlphaTauri deseja, andando sempre colado à Ferrari e McLaren durante o fim-de-semana para somar importantes pontos. Franz Tost bem avisara que o francês era agora um dos melhores do pelotão. Certamente melhor que Yuki Tsunoda que voltou a terminar pela 3ª vez em 7 GP a sua qualificação no muro, desta vez para partir de último…

Vale a pena também destacar a ótima corrida dos Aston Martin, que voltaram a pontuar e novamente com Sebastian Vettel na frente, a boa recuperação de Fernando Alonso num carro que nunca pareceu muito à vontade na pista francesa, o importantíssimo 12º lugar de George Russell que recolocou a Williams na frente da Haas (com direito a ultrapassagem sobre Tsunoda), e o ambiente muito pouco amigável dos Haas após o incidente da corrida anterior (houve direito a um empurrão de Nikita Mazepin a Mick Schumacher, depois de já terem trocado declarações azedas antes da corrida).

—–

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Hamilton \ 3. Pérez \ 4. Bottas \ 5. Norris \ 6. Ricciardo \ 7. Gasly \ 8. Alonso \ 9. Vettel \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (131) \ 2. Hamilton (119) \ 3. Pérez (84) \ 4. Norris (76) \ 5. Bottas (59) —– 1. Red Bull (215) \ 2. Mercedes (178) \ 3. McLaren (110) \ 4. Ferrari (94) \ 5. AlphaTauri (45)

—–

Corrida anterior: GP Azerbaijão 2021
Corrida seguinte: GP Estíria 2021

—–

Fórmula 3 – Rondas 4-5-6

À chegada ao Paul Ricard as categorias de promoção tinham feito mais uma vítima de entre os pilotos com patrocínios marginais, neste caso com Pierre-Louis Chovet a perder o lugar na Jenzer. Apesar disso ainda alinhou na pista francesa ao substituir László Tóth na Campos, devido ao húngaro ter sido infetado com Covid-19.

Com os líderes do campeonato a qualificarem-se bem, o grid invertido da primeira corrida colocou Logan Sargeant e Calan Williams na liderança da prova. Ambos os pilotos ainda se aguentaram na frente da corrida até meio mas acabaram por começar a cair na classificação daí para a frente. Ayumu Iwasa ainda colocou a Hitech na liderança mas para o fazer ultrapassou Sargeant com todas as rodas fora de pista, pelo que foi penalizado.

A luta pela vitória ficou assim nas mãos de Alexandr Smolyar e Victor Martins. O último, guiando o seu MP Motorsport, fez um brilharete em casa ao saltar do 10º lugar para a liderança ao final da última volta mas o rival da ART soube aguardar a sua oportunidade para roubar a vitória na última volta. Atrás de ambos, Williams e Sargeant conseguiram segurar importantes 3º e 4º lugares, respetivamente. De regresso à equipa de jovens da Sauber, Juan Manuel Correa conseguiu o melhor resultado desde o regresso com o seu 6º posto.

Quem fez uma tarefa hercúlea foi Arthur Leclerc. Com o seu Prema a ter problemas técnicos na qualificação, o monegasco teve que partir de último e fazer uma corrida de recuperação. No total foram 18 lugares recuperados para chegar em 12º. A posição não lhe deu pontos mas deu-lhe a pole inversa para a segunda prova, que venceu com total autoridade. Ao seu lado poderia ter contado com ambos os colegas de equipa da Prema não fosse mais uma sensacional corrida de recuperação de Martins elevar o francês ao 3º posto.

Mais atrás Jak Crawford e Caio Collet deixaram os carros morrer na partida, enquanto que Jack Doohan, Clément Novalak e Smolyar voltaram a acumular importantes pontos para as suas aspirações de campeonato.

Quando o domingo chegou para a corrida feature a chuva forte também chegou. De pneus de chuva, o grid conseguiu a proeza de fazer a primeira volta sem incidentes. Na frente o homem da pole, Frederik Vesti, não partiu muito bem e foi ultrapassado por Dennis Hauger, passando a maior parte da prova sem ritmo para acompanhar Hauger e caindo para o 6º lugar. Hauger começou a fazer um ritmo diabólico na frente, chegando a estar 3 segundos na frente do 2º classificado, mas tudo mudou quando Jack Doohan assumiu esse lugar. A distância encurtou volta após volta e o australiano da Trident acabou por ter uma luta forte mas leal com o norueguês da Prema. Doohan venceu e assumiu o 3º lugar do campeonato, com Hauger em 2º a manter a liderança.

Mais atrás a dupla de jovens Alpine da MP Motorsport fez um bom resultado conjunto com Collet e Martins, enquanto os pilotos que lutarão pelo campeonato começam a ficar mais definidos pela sua consistência em somar pontos. Correa voltou a pontuar, conseguindo a proeza em duas das três provas de Paul Ricard no seu regresso após o terrível acidente de 2019.

—–

Resultado (Sprint 1): 1. Smolyar \ 2. Martins \ 3. Williams \ 4. Sargeant \ 5. Novalak \ 6. Correa \ 7. Doohan \ 8. Iwasa \ 9. Hauger \ 10. Caldwell (Ver melhores momentos)

Resultado (Sprint 2): 1. Leclerc \ 2. Hauger \ 3. Martins \ 4. Caldwell \ 5. Doohan \ 6. Novalak \ 7. Smolyar \ 8. Williams \ 9. Iwasa \ 10. Vesti (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Doohan \ 2. Hauger \ 3. Collet \ 4. Martins \ 5. Novalak \ 6. Vesti \ 7. Iwasa \ 8. Smolyar \ 9. Correa \ 10. Crawford (Ver melhores momentos)

—–

Campeonato: 1. Hauger (66) \ 2. Martins (60) \ 3. Doohan (58) \ 4. Novalak (49) \ 5. Caldwell (41) —– 1. Prema (122) \ 2. Trident (107) \ 3. MP Motorsport (95) \ 4. ART (81) \ 5. Hitech (19)

Corrida anterior: Espanha 2021 \ Rondas 1-2-3
Corrida seguinte: Áustria 2021 \ Rondas 7-8-9

—–

Fontes:
Planet F1 \ Russell e Mercedes
Race Fans \ Alpine: demasiados jovens
Racing Circuits \ Paul Ricard
The Race \ Explicações da Pirelli