Campos com nova dobradinha – Testes F2

26 04 2024

A pausa após a Austrália foi longa, mas antes do regresso dos carros de Fórmula 2 aos circuitos de F1 a categoria optou por copiar a sua congénere F3 e colocar-se em Barcelona para 3 dias de testes dos seus monolugares.

Se os testes da semana passada da F3 já tinham sido uma excelente representação dos talentos dos pilotos da Campos, a F2 trouxe mais da mesma situação nesta semana, com ambos os carros da equipa espanhola a liderarem dois dos dias de testes (e a conseguirem mesmo fazer uma dobradinha no último deles).

Isack Hadjar ficou com o papel de piloto mais rápido dos testes, seguido de Pepe Martí, o que terá agradado significativamente à Red Bull.

Sem chuva os tempos foram melhorando a cada dia, com o líder do campeonato (o Rodin de Zane Maloney) a posicionar-se em posições mais modestas (entre 6º e 11º ao longo dos dias) e o 3º lugar dos três dias a pertencer sempre a um MP (Dennis Hauger e Franco Colapinto). Gabriel Bortoleto (Invicta) foi o mais rápido no primeiro dia, só que a equipa teve grandes dificuldades nos dias finais ao ficar nas duas últimas posições.

A Van Amersfoort tinha feito o mesmo no segundo dia, mas soube recuperar-se para o último dia. Já Paul Aron (Hitech) e os ART produziram tempos interessantes, enquanto Richard Verschhor foi o ponta de lança da Trident nestes testes.

A ART foi a estrutura foi a equipa com mais quilómetros percorridos, seguida da Invicta e da Prema.

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Dia 1 – Resultado: 1. Bortoleto (1m25s143) \ 2. Crawford (1m25s182) \ 3. Hauger (1m25s372) \ 4. Maini (1m25s486) \ 5. Verschoor (1m25s702)

Dia 2 – Resultado: 1. Martí (1m23s681) \ 2. Martins (1m23s841) \ 3. Hauger (1m23s862) \ 4. Hadjar (1m23s881) \ 5. Aron (1m23s940)

Dia 3 – Resultado: 1. Hadjar (1m23s139) \ 2. Martí (1m23s549) \ 3. Colapinto (1m23s698) \ 4. Martins (1m23s853) \ 5. Bearman (1m23s894)

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Resultado Global

#EquipaTempoVoltas
1Campos1m23s139Hadjar416
2MP1m23s698Colapinto390
3ART1m23s841Martins496
4Prema1m23s894Bearman467
5Trident1m23s905Verschoor389
6Hitech1m23s940Aron441
7Rodin1m24s027Maloney424
8PHM1m24s242Dürksen394
9Invicta1m24s284Maini479
10Van Amersfoort1m24s435Villagómez445
11DAMS1m24s540Crawford442
Barcelona 23-25 Abril 2024




2023, Lado B – GP Bahrain 2024

2 03 2024

Depois de já ter colocado os fãs a ver uma corrida no sábado, com os sprints e com o próprio GP de Las Vegas em 2023, a Fórmula 1, de forma a conseguir adaptar o seu calendário a 24 corridas, teve que começar mais cedo que o usual, pelo que os GPs do Bahrain e Arábia Saudita tiveram que conseguir a proeza de serem realizados cedo e não colidir com o Ramadão. O resultado foi a antecipação de todas as sessões em um dia.

No caso específico do Bahrain, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento de pilotos, o país começou a construção do autódromo de Sakhir em 2002, sediando o primeiro Grande Prémio do Bahrain em 2004 vencido por Michael Schumacher. A pista, como era usual na época, foi projetada por Hermann Tilke e ficou conhecida pelas enormes escapatórias que tinham a vantagem de manter a areia do deserto fora do traçado.

Com a ação em pista a processar-se agora sob holofotes (desde 2014) em vez do Sol escaldante, o circuito de Sakhir possui boas infraestruturas, retas amplas e pontos de ultrapassagem claros, curvas desafiantes e muitos outros ingredientes que tornam esta uma das paragens favoritas do paddock, mesmo com o “peso extra” que provas da zona costumam atrair.

A notícia da ilibação de Christian Horner do caso de assédio foi Sol de pouca dura: menos de 24 horas depois alguém enviou a todos os jornalistas, chefes de equipa, FOM e FIA um link para um Drive com, alegadamente, as mensagens investigadas, tornando quase insustentável a posição do líder da Red Bull. Ainda para mais com comentários laterais de Mohammed ben Sulayem e Jos Verstappen que insinuam fortemente que deveria dar lugar a outra pessoa.

Ronda 1 – Grande Prémio do Bahrain 2024

A cada nova sessão de treinos livres que ocorria no Bahrain, mais interessantes se tornavam as expectativas para a primeira sessão de qualificação do ano. A ausência de um Red Bull na frente em qualquer um dos treinos ainda podia ser atribuído a uma eventual poupança dos austríacos, mas a verdade é que pelo menos em ritmo de qualificação tornou-se claro que os rivais não estavam tão longe quanto o temido.

No Q1 apenas um segundo separava a primeira e última linhas da grelha, sendo que a última linha era inteiramente composta pela Alpine. Os franceses viram os seus piores medos em relação ao seu novo conceito de monolugar confirmarem-se, ainda que Esteban Ocon tenha mostrado o seu lado mais compreensivo e tenha tentado dar ânimo pela rádio à sua equipa.

A natureza próxima da luta pela pole position significou que vários pilotos, como Lando Norris (McLaren) se queixaram de ter estado perto da primeira linha. Ainda assim, só Charles Leclerc (Ferrari) se poderá queixar com razão, uma vez que tinha feito um tempo no Q2 que lhe teria dado a pole. Como não conseguiu, viu Max Verstappen (Red Bull) ficar com o 1º lugar da grelha, sendo seguido pelo Mercedes de George Russell.

A Kick Sauber juntou-se à Alpine como eliminada no Q1, ao passo que Nico Hülkenberg mostrou que a Haas não perdeu o seu ritmo de qualificação ao chegar ao Q3 (e que as previsões mais pessimistas de ritmo não se confirmaram) às custas do Aston Martin de Lance Stroll.

Para o sábado de corrida havia no ar a esperança de que o pole, tal como na F2 e F3, não partisse bem ou, se partisse bem, não tivesse ritmo de corrida exagerado. Nenhuma das duas sucedeu. Verstappen segurou a liderança e não saiu dela uma única volta, acabando confortavelmente na frente de uma corrida que até atrás de si pareceu sempre ter pouca história.

Pérez acabou por concluir uma dobradinha previsível, enquanto que os Ferrari e Russell lutaram pelo derradeiro lugar do pódio, prevalecendo Sainz com uma agressividade notável que lhe valeu a distinção de Piloto do Dia, contra um Leclerc a cometer vários erros e um Russell que não conseguiu evitar mostrar que ainda falta algo à Mercedes.

A McLaren somou pontos confortavelmente, intercalada por Hamilton e na frente dos dois Aston Martin, numa representação perfeitamente clara das forças da categoria (ainda para mais quando, pela primeira vez na história, todos os pilotos terminaram a primeira corrida do ano). A Kick Sauber foi quem mais se aproximou dos pontos (com um 11º lugar), mas o caos foi mesmo com os RB: Yuki Tsunoda detestou dar posição no final a Daniel Ricciardo e até quase bateram na volta de desaceleração devido a uma infantilidade do japonês.

Valtteri Bottas quase teve que abandonar com dificuldades na mudança de pneu e Logan Sargeant pareceu ter um problema no novo volante da Williams, que quase o levou a ficar sem travões por completo.

No geral, observámos uma simples repetição de 2023: gira o disco e toca o mesmo.

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Russell \ 4. Sainz \ 5. Pérez (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Sainz \ 4. Leclerc \ 5. Russell \ 6. Norris \ 7. Hamilton \ 8. Piastri \ 9. Alonso \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (26) \ 2. Pérez (18) \ 3. Sainz (15) \ 4. Leclerc (12) \ 5. Russell (10) —– 1. Red Bull (44) \ 2. Ferrari (27) \ 3. Mercedes (16) \ 4. McLaren (12) \ 5. Aston Martin (3)

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Corrida anterior: GP Abu Dhabi 2023
Corrida seguinte: GP Arábia Saudita 2024

GP Bahrain anterior: 2023

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Fórmula 2 (Rondas 1-2) \ Dupla vitória para Maloney

Neste princípio de ano para a Fórmula 2, até a sessão de qualificação atraiu mais interesse do que o usual. A penúltima tentativa dos vários pilotos acabou por garantir melhores voltas que a última, sendo nesta que Kush Maini e Gabriel Bortoleto bloquearam a primeira linha da grelha de partida. Isto transformou-se numa pole de Bortoleto quando Maini foi desqualificado por ter um dos elementos exteriores do chão do carro abaixo do mínimo exigido.

Nas contas da pole inversa, Taylor Barnard (PHM) foi a grande figura. O britânico foi dos únicos a melhorar na derradeira tentativa, e logo para 10º que lhe garantia partir primeiro para o sprint. A posterior retirada de Maini deixou-o antes em 2º e “salvou” Jak Crawford (DAMS) do seu 11º posto original.

No início do sprint, estes dois pilotos tiveram sortes bem distintas. Barnard abandonou logo no princípio, enquanto que Crawford, apesar de não ter garantido o triunfo, garantiu um importante 2º lugar. A vitória pertenceu Zane Maloney (Rodin), que saiu de 8º e foi um autêntico furacão a abrir caminho entre os seus rivais até chegar ao 1º posto (fazendo caminho inverso ao de Zak O’Sullivan da ART que perdeu posições).

A Campos fez boa figura com os seus dois jovens Red Bull, ao passo que Joshua Dürksen (PHM) não conseguiu partir e Amaury Cordeel (Hitech) abandonou logo no início devido a toque de Rafael Villagómez (Van Amersfoort), causando um Safety Car Virtual.

Já na feature, promovido a líder, Bortoleto perdeu duas posições até à primeira curva e depois cometeu um erro primário ao eliminar Isack Hadjar (Campos) de prova, o que lhe valeram 10 segundos de penaliação (que ainda assim, lhe permitiram terminar 5º). Maloney partiu muito bem de 3º, assumiu a dianteira e venceu a corrida (aproveitamento total na primeira ronda dupla do ano).

Depois do Safety Car para o incidente Bortoleto-Hadjar (que ainda envolveu Fittipaldi), houve ainda espaço a uma prova bem interessante, com um pequeno desentendimento a entrar nas boxes para Cordeel e Bearman, Ritomo Miyata (Rodin) a mostrar serviço na estreia e para Crawford a perder o motor nas boxes brevemente.

Um segundo SC (para falha eletrónica de Victor Martins) trouxe no seu recomeço oportunidades para vários pilotos: para Paul Aron (Hitech) realizar várias ultrapassagens; para Maini fazer meia dúzia de importantes pontos; e para Andrea Kimi Antonelli conseguir mostrar garra num fim-de-semana para esquecer da Prema.

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Qualificação: 1. Bortoleto \ 2. Hadjar \ 3. Maloney \ … \ 8. Martins \ 9. Barnard \ 10. Crawford

Resultado (Sprint): 1. Maloney \ 2. Crawford \ 3. Martí \ 4. Hadjar \ 5. Aron \ 6. Bortoleto \ 7. O’Sullivan \ 8. Hauger (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Maloney \ 2. Martí \ 3. Aron \ 4. O’Sullivan \ 5. Bortoleto \ 6. Colapinto \ 7. Maini \ 8. Hauger \ 9. Miyata \ 10. Antonelli (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Maloney (36) \ 2. Martí (24) \ 3. Aron (19) \ 4. Bortoleto (15) \ 5. O’Sullivan (14) —– 1. Rodin (38) \ 2. Campos (29) \ 3. Invicta (21) \ 4. Hitech (19) \ 5. ART (14)

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Corrida anterior: Abu Dhabi 2023 \ Rondas 25-26
Corrida seguinte: Arábia Saudita 2024 \ Rondas 3-4

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Fórmula 3 (Rondas 1-2) \ Browning vence a primeira feature do ano

Com uma grande expectativa relativamente ao que os pilotos da Prema seriam capazes neste campeonato, o ano começou sem desiludir. Dino Beganovic e Gabriele Minì lutaram pela pole position com o “intruso” Luke Browning (Hitech), saindo Beganovic como vencedor deste duelo particular. Para o sprint, a grelha inversa trouxe uma primeira linha ART, com Laurens van Hopen seguido de Nikola Tsolov.

Na partido do sprint, Tsolov passou o colega van Hoepen e a partir daí uma luta morna começou a desenvolver-se (com a equipa ART a avisar para van Hoepen ser inteligente quando este acusou o colega de o empurrar). Max Esterson (Jenzer) procurou não perder o contacto com os líderes mas acabou inevitavelmente ultrapassado por Arvid Lindblad (Prema) e Leonardo Fornaroli (Trident), que se juntaram aos dois líderes numa disputa pela vitória.

De forma limpa, Lindblad assumiu a liderança e fugiu dos ataques de DRS, deixando van Hopen, Fornaroli e Tsolov para se entenderem sozinhos. O resultado foi uma vitória do jovem da Red Bull, seguido por van Hoepen e Fornaroli. Já Esterson acabou a prova a defender-se com coragem dos ataques de um inteligente Minì (por 4 milésimas na linha).

Beganovic furou logo nas voltas iniciais, acabando a sua prova, enquanto que Tommy Smith (Van Amersfoort) arriscou demasiado e arruinou a sua prova e a de Matías Zagazeta (Jenzer).

Na feature, já com os olhos de mais espectadores em cima, Beganovic não conseguiu partir bem, levando a que fosse Browning a assumir a liderança. A partir daí o britânico até segurou a vitória até ao fim (assumindo a liderança do campeonato), mas não sem um grande susto devido ao barulho de motor estranho que começou a escapar do seu monolugar (uma peça ligeiramente solta no escape, mas sem gravidade).

Assim, não foi possível nem a Christian Mansell (ART) nem a Tim Tramnitz (MP) ameaçarem verdadeiramente a sua vitória, contentando-se com completar o pódio. Destaque ainda para Oliver Goethe (Campos), que conseguiu subir de 17º até ao posto pontuável final.

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Qualificação: 1. Beganovic \ 2. Browning \ 3. Minì \ … \ 10. Esterson \ 11. Tsolov \ 12. van Hoepen

Resultado (Sprint): 1. Lindblad \ 2. van Hoepen \ 3. Fornaroli \ 4. Tsolov \ 5. Tramnitz \ 6. Esterson \ 7. Minì \ 8. Boya \ 9. Goethe \ 10. Meguetounif (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Browning \ 2. Mansell \ 3. Tramnitz \ 4. Meguetounif \ 5. Ramos \ 6. Minì \ 7. Fornaroli \ 8. Lindblad \ 9. Dunne \ 10. Goethe (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Browning (25) \ 2. Tramnitz (21) \ 3. Mansell (18) \ 4. Fornaroli (15) \ 5. Lindblad (14) —– 1. Trident (38) \ 2. ART (35) \ 3. Prema (28) \ 4. Hitech (25) \ 5. MP (23)

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Corrida anterior: Itália 2023 Rondas 17-18
Corrida seguinte: Austrália 2024 \ Rondas 1-2

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Fontes:
The Times \ Horner ilibado em investigação





A prometida aproximação à Red Bull passará do papel?

27 02 2024

Há um clima de instabilidade no ar neste início de temporada. Não a nível de ação em pista, onde provavelmente teremos o mesmo domínio que em 2023. Mas de bastidores, muito tem acontecido. A recusa da FOM na entrada da Andretti como nova equipa (e mais especificamente os motivos que apontou para essa recusa) é apenas mais um capítulo de uma capitalização extrema do desporto pela FOM e de uma crescente tensão FIA-FOM.

As renovações dos circuitos de Suzuka e Silverstone em contratos longos foram bem recebidas, mas a assinatura de um circuito citadino em Madrid fez levantar o sobrolho de muitos fãs, cansados de ver mais e mais circuitos sem grande personalidade entrar no calendário (enquanto que locais como Alemanha, França e Malásia continuam fora).

Depois há ainda a investigação a Christian Horner por alegado comportamento inapropriado, longe de ser levada levianamente. A Ford já insistiu por transparência, uma vez que colaborará com a equipa a partir de 2026. Horner é o mais antigo chefe de equipa ativo, por larga margem, e uma potencial saída teria um enorme impacto numa Red Bull campeã do mundo (e pelo potencial de posteriores saídas, como a do projetista Adrian Newey).

De 7º a 10º, quem foge do pelotão inferior

Um fosso bastante visível foi estabelecido em 2023 entre as 4 equipas pior classificadas e as restantes 6. Fugir desta espiral é fundamental para todas, mas há uma estrutura que já sabemos que não deverá fugir: a Haas.

Fundada com o propósito explícito de promover a manufactura da marca americana Haas, Gene Haas há muito que vinha sendo acusado de não investir apropriadamente na F1. Agora que passaram 2 anos das novas regras em que a equipa apostou, o saldo foi um 8º e um 10º lugares. Absolutamente insuficiente e razão para o americano ter corrido com o líder Guenther Steiner. Ayao Komatsu tomou o lugar, mas já ficou claro que será um ano penoso, tarde demais para mudar de trajetória a curto prazo. Assim, Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen terão que lutar com o VF-24 este ano, na insegurança de saber que provavelmente um deles terá que dar lugar a Oliver Bearman no final do ano.

Mais à frente, depois de anos com duas “Alfas” na grelha, 2024 vê ambas mudar de nome. A Alfa Romeo regressou à sua forma Sauber durante os próximos dois anos até ser Audi (ou será Kick Sauber, ou Stake, ou…) e apostou fortemente num desenho de monolugar agressivo para dar um salto competitivo. Guanyu Zhou até terminou 3º no último dia de testes, mas é incerto qual o ritmo verdadeiro da nova estrutura. Valtteri Bottas também terá um ano importante, tentando convencer o paddock de que tem o que é necessário para chegar até aos próximos regulamentos.

A outra “Alfa”, a AlphaTauri, conseguiu a proeza de se ter tornado mais insípida. Passou a ser RB, que não só a confunde com a Red Bull principal, como ainda lhe retira todo o espírito Minardi que ainda detinha. Isto misturado com uma partilha reforçada de peças com a Red Bull até lhe parece ter trazido um nível de performance interessante, mas que já levou as outras 8 estruturas a pressionar para uma venda. No entretanto, resta ver quanta aproximação aos pontos terá a equipa de Yuki Tsunoda e Daniel Ricciardo (sendo que o derrotado deste duelo interno deverá sair da F1 pela porta pequena).

Por último, a Williams até contou com desenvolvimentos interessantes, mas já apanhou o seu primeiro grande choque ao aperceber-se que todos deram um passo em frente também. Já nem falando de ter sido a única que não chegou a tocar nas 300 voltas completadas na pré-temporada. Ainda assim, se Logan Sargeant estiver mais perto de Alexander Albon poderá ter uma plausível hipótese de segurar o seu 7º posto nos construtores.

O momento das grandes decisões para Alpine e Mercedes

Quem não fez em 2023 parte do grupo das estruturas em dificuldades, mas que promete poder ser (pelo menos no início do ano) é a Alpine. Os franceses mudaram praticamente tudo no seu carro, mas o resultado dos testes, apesar da boa fiabilidade, tem sido extremamente preocupante, a ponto de ambos os carros não saírem do Q1 ser uma possibilidade bastante razoável.

Esteban Ocon já mostrou o seu jeito para o desenrascanço, mencionando que tecnicamente ainda é um jovem Mercedes. Resta ver como será a paciência de Pierre Gasly.

A vaga a que Ocon se autocandidatou foi precisamente na Mercedes, em que a saída de Lewis Hamilton já anunciada para 2025 vai condicionar por inteiro o mercado de pilotos. Apesar da mudança de conceito radical já em curso, e que até pareceu prometer uma pequena reaproximação aos líderes, a Mercedes vai viver um ano de olhos postos no futuro. George Russell será o novo líder absoluto, mas resta ver que género de colega de equipa o acompanhará. Se mostrar serviço este ano, Russell pode comandar Brackley como Norris ou Leclerc já comandam as suas atuais equipas. Se não mostrar… Um Alonso poderá levar o volante a seu lado.

Temos ou não aproximação à Red Bull?

Aston Martin e McLaren, com os seus motores Mercedes, fizeram uma pré-temporada pacata. Mas preocupam a Mercedes oficial. Isto porque foram cumprindo o seu programa sem qualquer problema e pareciam imensamente satisfeitas no final.

A McLaren quer continuar a ser a mais direta perseguidora da Red Bull e já fechou por completo o seu lineup para os próximos anos, aguentando para o longo prazo os préstimos de Lando Norris e Oscar Piastri. Já a Aston Martin tem uma âncora sob a forma de Lance Stroll, mas também um talento enorme sob a forma de Fernando Alonso (que está em ano final de contrato e com inúmeras possibilidades pela frente) e a promessa de que compreendeu bem os caminhos errados de desenvolvimento de 2023.

Se ambas conseguirem provar que serem estruturas clientes não as impossibilita de voos mais altos, poderão realmente conseguir pregar sustos valentes às estruturas cimeiras.

Começando pela primeira dessas, a Ferrari está claramente a apostar forte para o seu futuro. A contratação milionário de Lewis Hamilton para ao lado do talentoso Charles Leclerc é uma declaração formal de ambições elevadas. O facto de ter definido o seu carro como 95% novo também ajuda a embalar os ânimos para um bom 2024, assim como ter ficado líder do segundo e terceiro dias.

Mas isto foi com um asterisco bem grande. A Red Bull.

Os austríacos poderiam ter sentido a pressão de ganhos decrescentes por terem acertado com o seu conceito de carro. Mas como o RB20 trocaram as voltas aos rivais: mudaram de conceito, para algo ainda mais arrojado (e hilariantemente parecido com o conceito “falhado” da Mercedes). Adrian Newey criou um modelo arriscado que já viu Max Verstappen fazê-lo voar (e Sergio Pérez pelo menos planar), mesmo, alegamente, sem puxar a sério por ele.

Apenas uma quebra interna, como é a investigação Horner, poderá fazer a equipa temer algo das rivais. Ou, pelo menos, assim parece.

Destaque ainda para a redução da demora de ativação de DRS de 2 para 1 volta, a atribuição de mais uma unidade de potência por ano às equipas (já perto do início do ano, o que levou as marcas a apostarem em durabilidade que agora não precisarão por completo, permitindo correr os motores mais fortes), e ainda a modificação do fim-de-semana de sprints para algo um pouco mais lógico.

F2 – Novo monolugar em ano de pressão máximo para Antonelli

Já é tradicional haverem queixas sobre a falta de progressão da F2 para a F1, e o facto de pela primeira vez na história não ter havido rotatividade na F1 não augurava nada de bom. Mas a F2 está em mudança. Um novo monolugar, mais adaptado às regras pós-2022 da categoria principal, com prometidas melhorias de ultrapassagens é um bom princípio e tem um efeito secundário bem interessante: o efeito experiência dos pilotos a entrar nos seus terceiros e quartos anos de categoria é diminuído.

Os estreantes estão, assim, com grandes hipóteses de conseguir fazer o impensável e evitar que pilotos favoritos como Victor Martins ou Oliver Bearman sejam os únicos candidatos ao título. O que traz um elemento adicional de pressão a alguém que já chega cheia dela: Andrea Kimi Antonelli. O italiano é apontado com possibilidades da vaga F1 de Hamilton na Mercedes, mas terá que mostrar serviços rapidamente na F2, quanto já tem a desvantagem de a Mercedes o ter feito saltar a F3. Se já houve maiores expectativas num piloto, talvez apenas a Verstappen…

Estreantes como Gabriel Bortoleto e Pepe Martí também terão uma chance bem jeitosa para mostrar serviço, inseridos que estão agora em equipas Junior de estruturas oficiais de F1. Só que segundos anos como Jak Crawford, Zane Maloney, Franco Colapinto ou Isack Hadjar também terão uma palavra a dizer.

Vem aí um entusiasmante ano de F2…

F3 – Duelo privado Prema ou algo mais?

Geralmente composta exclusivamente de caos total, a Fórmula 3 não deve fugir à regra em 2024. Vários jovens deram o salto para a categoria logo acima, mas dois permanecerem e são pilotos Prema: Dino Beganovic e Gabriele Minì (das academias Ferrari e Alpine, respetivamente). O título é quase certo de pertencer a um deles, sendo que o terceiro piloto (Arvid Lindblad) terá que lutar muito por não passar despercebido.

Mas há vida para além deste duelo. A sempre presente Trident não tem filiados de academias, mas tem talento sob a forma de Leonardo Fornaroli, Sami Meguetounif e Santiago Ramos. A MP corre com dois jovens Red Bull de bom gabarito (Tim Tramnitz e Kacper Sztuka). Luke Browning, uma das grandes surpresas de 2023, corre pela Hitech com possibilidades interessantes no seu futuro, agora com a academia Williams.

Mais atrás ainda, chegou uma ART com um 2023 para esquecer e deserta de se provar novamente, provando que não é apenas nas equipas teoricamente cimeiras que a luta ficará restrita.

Resta ver o que sairá deste caos vagamente organizado.





Maloney e Browning em grande – Testes F2/F3

14 02 2024

A escassas semanas do início de temporada de Fórmulas 1, 2 e 3, as duas categorias júniores finalmente tiveram direito à sua pré-temporada numa temporada em que a Fórmula 2 estreia um monolugar totalmente novo e poderá finalmente diminuir a vantagens de pilotos experientes, e em que a Fórmula 3 promete ser tão imprevisível quanto sempre.

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Fórmula 2

Com um monolugar completamente novo (de proporções de asa traseira particularmente invulgares, dado ser um novo conceito em teste para facilitar ultrapassagens), a Fórmula 2 e as suas equipas precisavam desesperadamente de acumular quilómetros. O deserto do Bahrain sempre teve a vantagem de ter piso seco disponível, mas no primeiro dia um dilúvio decidiu abater-se sobre a pista, reduzindo drasticamente os tempos de todos (e aumentando os valores na tabela de tempos).

Assim, coube a Dennis Hauger colocar-se na frente ao final de um dia reduzido no seu MP, seguido de Zane Maloney no seu Rodin e de Victor Martins com o número 1 da ART. Maloney acabaria por ser o grande protagonista dos testes, tendo liderado os dois dias seguintes.

Seria de pensar que o tempo seco do Dia 2 daria alguma quilometragem aos pilotos, mas Rafael Villagómez começou logo a provocar bandeira vermelha com uma saída de pista. O resto da manhã acabaria por ser calminha, com a tarde a ser para o topo da tabela de tempos a ir sendo melhorado pouco a pouco. No final, foi o mencionado Maloney quem acabou na frente, com Jak Crawford (DAMS e Aston Martin) em 2º e Enzo Fittipaldi (Van Amersfoort e Red Bull) em 3º.

Estes tempos acabariam por ser, para vários pilotos, os melhores do conjunto dos dias.

O dia final foi igualmente dinâmico, com ação menos interrompida que antes e com o alinhamento de algumas equipas a tornar-se mais claro. Maloney e Crawford voltaram a liderar, mas desta vez seguidos do colega do segundo: Ritomo Miyata (um piloto japonês com percurso de carreira extremamente interessante).

No resultado final de todos os dias, a Rodin, DAMS e Van Amersfoort foram as estruturas mais rápidas em circulação no emirado. A Prema ficou, preocupantemente, em último lugar, mas acumulou quilómetros com facilidade, pelo que deve não entrar em pânico já.

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Dia 1 – Resultado: 1. Hauger (1m53s175) \ 2. Maloney (1m53s351) \ 3. Martins (1m53s367) \ 4. Antonelli (1m53s511) \ 5. Crawford (1m53s865)

Dia 2 – Resultado: 1. Maloney (1m41s501) \ 2. Crawford (1m41s626) \ 3. Fittipaldi (1m41s735) \ 4. Hadjar (1m41s921) \ 5. Maini (1m41s982)

Dia 3 – Resultado: 1. Maloney (1m42s468) \ 2. Crawford (1m42s661) \ 3. Miyata (1m42s684) \ 4. Hadjar (1m42s712) \ 5. Fittipaldi (1m42s808)

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Resultado Global

#EquipaTempoVoltas
1Rodin1m41s501Maloney321
2DAMS1m41s626Crawford252
3Van Amersfoort1m41s735Fittipaldi282
4Campos1m41s921Hadjar271
5Invicta1m41s982Maini317
6ART1m42s162O’Sullivan308
7MP1m42s313Colapinto296
8Trident1m42s435Verschoor229
9Hitech1m42s659Cordeel327
10PHM1m42s793Barnard272
11Prema1m43s607Antonelli307
Bahrain 11-13 Fevereiro 2024

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Fórmula 3

Sem voltas corridas desde a decisão do título em Monza há largos meses, a Fórmula 3 também viu o seu primeiro dia afetado pela chuva, mas mesmo assim ainda conseguiu chegar a tempos finais muito mais em linha com os dos restantes dias que a F2.

No primeiro dia foi Noel León quem liderou para a Van Amersfoort, só que a ordem do resto do dia tornou óbvio que não era assim tão representativo. Bandeiras vermelhas para Sebastián Montoya e Piotr Wiśnicki terminaram o dia.

A manhã do segundo dia viu todos os monolugares aproveitarem cada segundo desde o primeiro momento, ao ataque. No entanto, foi mesmo no final do dia que os vários pilotos foram estabelecendo sectores roxos. Luke Browning liderou por margem mínima sobre Alex Dunne e Charlie Wurz, com Mari Boya em 4º e Tim Tramnitz em 5º.

Já com várias perturbações no Dia 3, os pilotos continuaram a melhorar os seus tempos, mas o líder foi mais uma vez o mesmo: o Hitech de Luke Browning. Desta vez seguiram-se (a alguma distância) Nikola Tsolov e Max Esterson, ainda que o líder do primeiro dia, León também se tenha conseguido colocar em 5º.

Em termos de resultados globais, a Hitech saiu na frente seguida de Van Amersfoort e Campos, com as desilusões principais a serem Rodin e PHM (principalmente a Rodin, que tinha saído líder na F2). A maior quilometragem ficou com a Trident e a menor com a Campos.

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Dia 1 – Resultado: 1. León (1m46s657) \ 2. Goethe (1m46s672) \ 3. Tramnitz (1m46s828) \ 4. Ramos (1m46s934) \ 5. Minì (1m46s942)

Dia 2 – Resultado: 1. Browning (1m46s819) \ 2. Dunne (1m46s885) \ 3. Wurz (1m46s963) \ 4. Boya (1m46s964) \ 5. Tramnitz (1m46s976)

Dia 3 – Resultado: 1. Browning (1m46s566) \ 2. Tsolov (1m46s825) \ 3. Esterson (1m46s836) \ 4. Stenshorne (1m46s979) \ 5. León (1m47s196)

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Resultado Global

#EquipaTempoVoltas
1Hitech1m46s566Browning430
2Van Amersfoort1m46s657León455
3Campos1m46s672Goethe367
4ART1m46s825Tsolov446
5MP1m46s828Tramnitz458
6Jenzer1m46s836Esterson426
7Trident1m46s934Ramos511
8Prema1m46s942Minì426
9PHM1m47s122Bedrin396
10Rodin1m47s668Voisin427
Bahrain 11-13 Fevereiro 2024





Top 5 – Fórmula 2 em 2023

21 12 2023

Há um facto que tem vindo a afetar mais e mais a Fórmula 2: nos últimos 3 anos o campeão não conseguiu passar diretamente para a Fórmula 1. Mick Schumacher foi o último e Oscar Piastri até conseguiu estrear um ano depois, mas Felipe Drugovich não parece estar com grandes hipóteses e Théo Pourchaire provavelmente passará pelo mesmo em 2024 e além.

Uma certa tendência para a “crueldade” com os estreantes tem-se vindo a refletir em campeões nas suas terceiras temporadas na categoria, o que geralmente falha em impressionar as equipas de F1. Mas o facto de o título ter estado a ser disputado entre dois pilotos com pouco gravitas por detrás do nome não ajudou. Pourchaire já tinha sido vice-campeão em 2022 e o título era um requisito mínimo. Vesti vinha de campanhas menos impressionantes e apenas o título contra o rival o poderia ter ajudado, o que não sucedeu.

Isto deixou os pilotos mais para trás a recolherem as sobras, ficando as equipas de F1 à espera de ver o que eles farão em 2024.

Isto não impediu que o ano tenha sido interessante, com um título renhido e várias peças do xadrez a movimentarem-se para um ataque completo em 2024. Boschung finalmente não continuará na categoria (depois de 7 [!] anos nela), Hauger continua não mostrar nem perto do ritmo que lhe permitiu ser campeão de F3, a PHM Charouz ficou a zeros num campeonato de transição,…

Mas quem foram os protagonistas de 2023?

1 – Théo Pourchaire

Muito se torceu o nariz à permanência de Théo Pourchaire na Fórmula 2 para 2023, quando tinha já realizado duas competentes temporadas (5º em 2021 e 2º em 2022). O francês pareceu acreditar que, não se tendo aberto espaço para entrar na F1 em 2023, a melhor solução para manter viva a ambição seria o título de F2. Isto contra uma nova leva de talentos, desertos de conseguir a oportunidade.

A aventura começou muito bem, com pole position no Bahrain por mais de 7 décimas de segundo, uma recuperação até 5º no sprint com volta mais rápida, e com vitória indiscutível na primeira feature do ano. Mas os adversários apanharam o ritmo rapidamente. Sem pontos em Jeddah, já só conseguiu 2º e 3º postos nas provas seguintes. Não voltaria a vencer o resto do ano.

O motivo para merecer esta classificação e o título? Fazendo uso da sua experiência, o francês simplesmente recusou-se a entrar numa espiral negativa e acumulou um total de 10 pódios e 19 corridas nos pontos, contrastando com as várias vitórias do rival Vesti (que geralmente eram seguidas de duas ou três provas fora dos pontos).

Com o uso de uma consistência notável, Pourchaire conseguiu o almejado título. O seu problema foi a escolha da Sauber por manter Guanyu Zhou na F1, o que o deixa sem lugar para onde ir em 2024.

2 – Oliver Bearman

Mesmo sem um título de Fórmula 3 conquistado, poucos pilotos carregam o peso das expectativas do paddock de forma tão significativa quanto Oliver Bearman. Com apenas 17 anos no início da temporada, Bearman chegou à F2 com o cartão de visita de ter ficado bem perto de poder ter sido campeão na estreia de F3 e de contar com o apoio da Ferrari. Na sua primeira temporada de F2 foi o melhor estreante, acabando em 6º no campeonato.

Os primeiros Grande Prémios não foram diferentes dos de qualquer outro estreante (mesmo os bons) com diversas provas fora dos lugares pontuáveis, com exceção de Oscar Piastri. Mas depois chegou Baku e o britânico mostrou ao que vinha: fez pole position, venceu o sprint apesar do grid inverso, e no dia seguinte dominou a seu bel-prazer a feature. Foi o único a vencer de forma dupla em 2023.

Foi difícil repetir este pico, até porque a F2 tem-se tornado notoriamente difícil para os pilotos que ainda não se habituaram ao seu monolugar, mas não impossível. Bearman venceu duas vezes adicionais (e ambas em features), além de 2 pole position extra.

Demasiado baixo nos lugares dos pontos nas outras provas (mas muitas vezes presente), Bearman nunca foi candidato ao título em 2023. Mas com um ano de experiência e permanecendo na Prema, o piloto é um dos favoritos para 2024 depois de uma excelente estreia.

3 – Jack Doohan

Com o oficioso título de melhor piloto de 2022 na sua estreia de Fórmula 2 (e infinitamente mais impressionante que o Dennis Hauger, que lhe “roubou” o título de Fórmula 3 em 2021), Jack Doohan tinha altas expectativas sobre os seus ombros para 2023. Permaneceu com a menos competitiva Virtuosi, mas ia ter a equipa a trabalhar completamente para si.

O resultado deste esforço? Misto.

Começou demasiado mal o ano para se conseguir impôr na luta pelo título (6 provas sem pontos das primeiras 10, com nenhuma das pontuações a ser uma vitória), dando sempre a impressão de que por muito que se aproximasse da luta já ia com demasiado atraso. Ainda assim, quando triunfou fê-lo em 3 provas feature (2 delas de pole), uma circunstância que lhe dá grande crédito, assim como o crescendo que foi fazendo ao longo do ano.

Com o caos na sua academia de F1 (Alpine), pedia-se uma melhor compreensão da excelente posição em que estava para aplicar pressão nos franceses em escolhê-lo quando a dupla Gasly-Ocon inevitavelmente implodir. Em vez disso, voltou a dar a impressão de um piloto muito rápido que parece demorar a ganhar ritmo. É duvidoso que tenha algo a ganhar com uma terceira temporada de F2, mas é inegável que foi um dos protagonistas de 2023.

4 – Frederik Vesti

Com 2 anos de Fórmula 3 e no segundo ano de Fórmula 2, Frederik Vesti chegou a 2023 com o estatuto de único piloto da academia Mercedes ainda no segundo degrau da escada de competição até à F1. Ao serviço da Prema, depois de 2 anos de ART, Vesti ia ter ao seu dispor um carro competitivo e a experiência acumulada de um ano. Contra si tinha o facto de que, em posição semelhante em 2021 na F3, tinha falhado na hora H.

Em 2023 o resultado foi igualmente misto, justificando o porquê de o vice-campeão estar apenas 4º nesta lista. O dinamarquês venceu 6 corridas contra 1 de Pourchaire, mas, crucialmente, 4 delas foram sprint. Nem se pode dizer que tenha começado assim tão mal o ano, para justificar a distância para o rival. Foram 3 vitórias nas primeiras 12 provas, com uma delas a ser uma feature em Monte-Carlo.

A verdadeira diferença entre os dois principais candidatos ao título foi a inteligência tática de compreender bem quais os momentos para atacar e quais os de esperar por melhores oportunidades sem arriscar. Nalguns casos sem culpa própria, resultando em parte do seu atraso, mas noutros o piloto poderia ter tido uma melhor compreensão especialmente com carros fora das contas do título.

Merece, no entanto, muito crédito pela forma como atacou até ao último momento em Abu Dhabi, ainda que a vaga na F1 o tenha iludido.

5 – Kush Maini

Olhando para o percurso competitivo de Kush Maini antes da sua estreia na F2 em 2023, era difícil de prever o ótimo ano que o indiano se preparava para ter. Com o melhor resultado da sua carreira antes a ter sido um vice-campeonato de Fórmula 3 Britânica, Maini tinha tido um ano algo anónimo na Fórmula 3 em 2022 quando surpreendeu quase todos ao dar o salto para a F2 com a sua pior equipa, a Campos.

O objetivo dele certamente tirou inspiração em Felipe Drugovich, que tinha sido igualmente anónimo na F3 antes de ser bem-sucedido na F2. E foi precisamente isso que, numa menor escala, sucedeu. Aproveitando as primeiras provas de um Campos em forma, Maini foi pontuando com frequência, chegando a fazer um pódio no seu terceiro fim-de-semana. Foram 8 pontuações em 10 tentativas no início do ano.

Daí para a frente tornou-se mais difícil, com o seu monolugar a perder competitividade para outras equipas, mas o piloto soube manter-se em grande nível, com frequência a andar em lugares acima do que devia e pontuando mais que o ultra experiente colega Ralph Boschung.

Para o próximo ano junta-se à “nova” Virtuosi, onde será interessante ver se continuará o ascendente.





Encaixando as peças – GP Abu Dhabi 2023

26 11 2023

O entusiasmo que Abu Dhabi consegue provocar no pública da Fórmula 1 tem uma correlação extremamente direta com se ainda existe um título para decidir na ronda final. Pista de poucas ultrapassagens, Yas Marina consegue produzir corridas tensas no melhor sentido da palavra quando há muito em jogo (2010, 2016, 2021) mas conseguem produzir níveis enormes de sono quando nada está em disputa.

Construído de raiz para receber a categoria de automobilismo, o emirado dos EAU gastou uma enormidade de dinheiro para se tornar um dos circuitos mais bem apetrechados e seguros do calendário (e outra enormidade estimado em 70 milhões de euros em pagamentos anuais à FOM). Só que a configuração da pista nunca entusiasmou ninguém. O problema teve uma solução parcial em 2021, quando certas secções lentas foram alteradas para secções de média velocidade.

Com um título mais que decidido, a Fórmula 2 teve que dar o seu contributo para que no Médio Oriente ainda houvesse um título em discussão.

Ainda assim, vale a pena referir que o complexo é descrito como extremamente prazeroso para fãs ao vivo: uma prova que começa à tarde e acaba de noite, o Ferrari World com a mais rápida montanha russa do mundo ao lado, ótimo catering e vários hotéis de grande qualidade (um deles por cima da pista).

Ronda 22 – Grande Prémio de Abu Dhabi 2023

Inesperadamente, a chegada aos Emirados trouxe vários pontos de interesse longe do campeonato de equipas. Ferrari e Mercedes tinham muito poucos pontos entre si, a McLaren e Aston Martin ainda tinham contas a ajustar pelo 4º lugar do campeonato e o 7º posto da Williams poderia facilmente ser tomado de assalto pelas rivais abaixo.

Em termos de luta pela vitória… não existiu luta. Max Verstappen fez pole e no início da corrida fugiu na frente (até porque Charles Leclerc foi demasiado simpático nas suas tentativas de ultrapassagem), dando-se até ao luxo de oferecer prioridade na ida às boxes a Sergio Pérez. No final, nem cansado parecia quando venceu (estabelecendo um novo recorde de 19).

Atrás chegou Pérez, que recuperou de 9º para 2º, mas que perdeu o pódio devido a um incidente perfeitamente evitável com Lando Norris (que lhe valeu 5 segundos de penalização). Mesmo assim, Leclerc ainda tentou ajudar, deixando-o passar para tentar garantir que o mexicano terminava com vantagem suficiente para terminar na frente de George Russell (e dar o 2º nos construtores à Ferrari). Uma manobra inteligente mas insuficiente, ficando a Mercedes com o 2º posto no campeonato.

Parte da razão para a proximidade da classificação final teve a ver com um baixo 9º posto de Lewis Hamilton, com direito a uma luta agressiva com Fernando Alonso (que voltou a fazer os seus muito “modestos” comentários sobre o assunto. A boa performance do espanhol não conseguiu evitar que a Aston perdesse em toda a linha para os McLaren (em 5º e 6º), que por sua vez anunciou ter renovado contrato de fornecimento de motores com a Mercedes até 2030.

Atrás de Alonso chegou um impressionante Yuki Tsunoda, que conseguiu preocupar momentaneamente a Williams quanto ao 7º lugar nos construtores. O japonês lutou contra rivais melhor equipados para somar 4 pontos e dar um belo presente a Franz Tost na última prova como líder da AlphaTauri.

A corrida em si foi tão pouco movimentada que os comentadores (David Coulthard e Jolyon Palmer) passaram a maior parte do tempo a falar sobre como faziam o seu coast and lift quando pilotavam F1.

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Piastri \ 4. Russell \ 5. Norris (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Leclerc \ 3. Russell \ 4. Pérez \ 5. Norris \ 6. Piastri \ 7. Alonso \ 8. Tsunoda \ 9. Hamilton \ 10. Stroll (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (575) \ 2. Pérez (285) \ 3. Hamilton (234) \ 4. Alonso (206) \ 5. Leclerc (206) —– 1. Red Bull (860) \ 2. Mercedes (409) \ 3. Ferrari (406) \ 4. McLaren (302) \ 5. Aston Martin (280)

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Corrida anterior: GP Las Vegas 2023
Corrida seguinte: GP Bahrain 2024

GP Abu Dhabi anterior: 2022

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Fórmula 2 (Rondas 25-26) \ Pourchaire campeão na última ronda

A gigante pausa entre a penúltima e última provas da Fórmula 2 acabou por gerar a sua habitual mini-dança de cadeiras, com alguns pilotos que se tinham destacado na Fórmula 3 a estrearem-se na categoria imediatamente acima. Foram os casos de Franco Colapinto na MP, no lugar de Jehan Daruvala, e de Paul Aron na Trident, no lugar de Clément Novalak.

Ayumu Iwasa ainda tinha chegado ao Médio Oriente ainda com uma muito remota possibilidade de título mas rapidamente perdeu-a, deixando Théo Pourchaire e Frederik Vesti numa luta privada. Vesti qualificou-se mal, mas isso até o deixou em 2º para a partida do sprint. Aí o piloto fez questão de receber a informação de que não havia nada a perder na luta pela vitória. O pole inverso, Enzo Fittipaldi, até disse o mesmo, só que Vesti estava com uma velocidade diabólica e conseguiu assumir a dianteira.

Vitória sprint para Vesti deixou-o com possibilidade (remota) de ainda ser campeão, numa prova em que Pourchaire também recuperou um bocadinho até aos pontos inferiores.

Na manhã de domingo foi a vez de Jack Doohan brilhar (depois de já ter sido pole position na sexta-feira. O australiano venceu e ascendeu a 3º no campeonato, mostrando que se tivesse conseguido ser mais regular ainda poderia ter aspirado a mais. Resta ver se continuará na categoria para mais um ataque na 3ª tentativa ou não.

Atrás, Vesti e Pourchaire foram recuperando em estratégias distintas, culminando com ambos a lutarem agressivamente (mas de forma justa) pelo 5º posto durante várias voltas. Com pneus mais frescos Vesti passou e até se envolveu num incidente com Zane Maloney, mas sem consequências. 3º lugar para Vesti e título de F2 para Pourchaire. Nenhum dos dois, para já, conseguirá ascender à F1.

O título de F2 regressou à ART.

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Qualificação: 1. Doohan \ 2. Martins \ 3. Vesti \ … \ 8. Hadjar \ 9. Vesti \ 10. Fittipaldi

Resultado (Sprint): 1. Vesti \ 2. Fittipaldi \ 3. Verschoor \ 4. Hauger \ 5. Hadjar \ 6. Doohan \ 7. Pourchaire \ 8. Iwasa (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Doohan \ 2. Martins \ 3. Vesti \ 4. Iwasa \ 5. Pourchaire \ 6. Leclerc \ 7. Hauger \ 8. Hadjar \ 9. Maini \ 10. Crawford (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Pourchaire (203) \ 2. Vesti (192) \ 3. Doohan (168) \ 4. Iwasa (165) \ 5. Martins (150) —– 1. ART (353) \ 2. Prema (322) \ 3. Rodin Carlin (220) \ 4. DAMS (214) \ 5. Virtuosi (176)

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Corrida anterior: Itália 2023 \ Rondas 23-24
Corrida seguinte: Bahrain 2024 \ Rondas 1-2





Top 5 – Fórmula 3 em 2023

10 09 2023

Sempre foi tarefa quase impossível entender o alinhamento das forças de qualquer temporada de Fórmula 3 que se avizinha, mas em anos recentes há certos padrões que se desenharam: ser estreante, desde que numa das grandes estruturas, não é nenhum impedimento para triunfar; quem tenta uma segunda temporada na categoria tem que aniquilar a concorrência ou ver-se escurraçado para a obscuridade do automobilismo.

Assim, qualquer um dos pilotos da Prema (Zak O’Sullivan, Dino Beganovic e Paul Aron) pode estar satisfeito com o seu ano, enquanto que a avaliação nas outras equipas é mais mista.

Na Trident, o campeão Gabriel Bortoleto “secou” o terreno à sua volta, deixando Oliver Goethe e Leonardo Fornaroli em maus lençóis, e colocou as várias academias em competição para ver quem o consegue prender para 2024. Já a ART viu aquele que deveria ter sido o seu ponta de lança (Grégoire Saucy) voltar a falhar no seu segundo ano, culminando num 8º lugar no campeonato de equipas.

Quem assumiu esse 3º posto foi a MP, que fez de Franco Colapinto o seu líder (ainda que tenha havido alguma inconstância) e viu o estreante Mari Boya e o regressado Jonny Edgar ganharem ímpeto ao longo do ano. Já na Hitech Gabriele Minì está mesmo a pedir para ser integrado novamente para uma segunda tentativa no campeonato, já que 2 vitórias provaram a sua velocidade mas faltou consistência a um nível elementar.

Mais atrás os destaques foram Pepe Martí e Taylor Barnard que arrastaram, respetivamente, a Campos e a Jenzer para terrenos em que quase não andaram em anos recentes, com direito a vitórias e, no caso de Martí, andar imiscuído na luta pelo título.

A nova Charouz, agora sob gestão PHM, conseguiu evitar o último lugar do campeonato (cortesia de um 7º lugar de Sophia Flörsch) às custas de uma Carlin que precisa mesmo de dar ímpeto verdadeiro à sua operação de F3 que não consegue, nem pouco mais ou menos, o ritmo da sua “irmã” de F2.

1 – Gabriel Bortoleto

Pode parecer uma simples formalidade colocar o campeão de final de ano como o mais completo piloto do ano, mas a verdade é que Gabriel Bortoleto esteve vários patamares acima da concorrência.

Campeão brasileiro de karts e vice-campeão mundial também, o brasileiro esteve nos dois últimos anos a deambular por categorias de promoção na Europa, tendo-se estreado na Fórmula 3 este ano. O seu cartão de visita foi ter vencido as duas primeiras corridas feature do ano com direito a pole position na segunda. Depois, enquanto os rivais tropeçaram uns nos outros e em adversidades várias, Bortoleto pontuou com regularidade (15 em 18 possíveis, com 13 delas consecutivas).

Não houve caminho para mais vitórias durante o ano mas 4 pódios adicionais foram sendo somados ao longo do ano, com o piloto igualmente forte em sprints e features para surpresa de muitos. O título acabou por chegar na última qualificação do ano, mas havia no ar uma certa inevitabilidade desde meio do ano.

Mais impressionante ainda foi ter conseguido tudo sem pertencer a uma academia de equipas de F1.

2 – Pepe Martí

Espanhol que fala inglês com um sotaque incrivelmente britânico, Pepe Martí não estaria debaixo dos holofotes de todos quando a temporada começou. 3º na F4 Espanhola em 2021 e vice-campeão de Fórmula Regional Ásia em 2022, o piloto tinha já competido pela Campos na F3 em 2022, com apenas 2 pontos. Tendo em conta que se mantinha na diminuta equipa para 2023, não se esperavam grandes resultados.

Mas Martí tinha outros planos. Logo no primeiro sprint do ano veio a vitória. Nas primeiras 12 corridas do ano só falhou os pontos numa única. Nova vitória no sprint do Mónaco. Depois, a consagração, com a primeira vitória em feature com volta mais rápida e pole position (e ainda por cima, em território caseiro em Barcelona). Quando Martí terminou 3º na feature de Silverstone, já só estava a 36 pontos de Bortoleto, como rival mais próximo.

Mais significativamente, eclipsava os colegas da Campos, sendo responsável por 60% dos pontos da estrutura.

Só o final do campeonato deixou a desejar. Em 6 provas, apenas conseguiu um 6º e um 9º, com 3 abandonos. Um deles foi na Bélgica, quando voltou para a pista de forma perigosa e terminou a sua prova e a de um rival sem culpa.

Mas demonstrou o suficiente para ser integrado agora na academia de jovens da Red Bull, o que lhe liberta o caminho para ascender à Fórmula 2.

3 – Taylor Barnard

É difícil de definir quão impressionante foi Taylor Barnard durante este ano, mesmo que ter terminado em 10º lugar no campeonato pareça distante. Só que o britânico estava ao serviço da Jenzer, equipa suíça que tem sofrido para se destacar no meio da tabela da F2, tendo em 2023 realizado a sua melhor temporada de sempre com 108 pontos (dois terços dos quais foram de Barnard).

Com vários títulos nacionais de karts, Barnard tornou-se um dos protegidos de Nico Rosberg, depois de ter guiado dois anos para o campeão de F1 na sua equipa do europeu de karting (com um vice-campeonato). Seguiram-se vice-campeonatos de F4 Alemã e Fórmula Regional Médio Oriente, antes de estrear este ano na F3.

Pela diminuta Jenzer, Barnard pontuou pela primeira vez em Melbourne e conseguiu não sair dos pontos durante 5 provas. Após um interregno, o britânico fez uma sequência diabólica no fim do ano, com 3 pódios em 4 provas, incluíndo a sua primeira vitória numa prova caótica na feature de Spa-Francorchamps, quando a Jenzer colocou os seus 3 carros entre os 4 primeiros.

Com um upgrade de carro para 2024, tem sérias possibilidades de conseguir fazer um ataque ao título e de conseguir atrair uma academia F1 para apoiar a sua carreira.

4 – Zak O’Sullivan

Após a última prova do campeonato em Monza, Zak O’Sullivan deverá certamente ter-se perguntado onde teria falhado a sua caça ao título. Acabado de entrar na academia Williams em 2023, O’Sullivan tinha como missão, na sua segunda temporada de F3, de vencer o título até por pertencer à poderosa Prema. Mas não foi possível, tendo que se contentar com o vice-campeonato.

Há muito que admirar no ano do britânico, tendo obtido 4 vitórias ao longo da sua temporada (2 em sprint, 2 em feature) e lançado as bases para um ano bastante impressionante. Só que, tal como Martí, pareceu ter-se encolhido na Hora H que foram as 8 corridas finais do ano. Foram 6 provas fora do Top 10 nesse período, com a consolação a serem duas features em que esteve brilhante: no Hungaroring fez pole, volta mais rápida e venceu; em Monza, quando tinha tudo em jogo, terminou 2º, sempre ao ataque pela vitória.

A presença de James Vowles nos festejos do piloto na prova final mostram que a fé da Williams não foi de todo abalada pelo ano realizado, sendo agora com grande expectativa que se aguarda ver onde será integrado na F2 de 2024.

5 – Franco Colapinto

Tendo estreado na F3 com um currículo que incluía Le Mans Series Europeia e um título de F4 Espanhola, Franco Colapinto tinha feito suficiente para vencer com um Van Amersfoort e ser incluído na academia Williams. O que se poderia esperar numa segunda temporada com um MP mais competitivo? Aparentemente, nada de radicalmente diferente.

Não que se possa ser demasiado crítico. O argentino foi o primeiro piloto da equipa neerlandesa e venceu por duas vezes, mas, crucialmente, foram sprints. Dos 5 pódios deste ano, 4 foram em sprint. Mas também pontuou em 14 das 18 provas e teve diversas provas em que esteve em excelente nível. Este entre os mais impressionantes do ano, só lhe pareceu mesmo ter dado o derradeiro passo em frente que Victor Martins conseguiu dar em 2022, por exemplo.

Ter abandonado a última corrida do ano por contacto quando ainda discutia o vice-campeonato não foi ideal.

O 4º lugar no campeonato deixa-o claramente com todas as condições para avançar para a F2, restando ver como será a sua adaptação quando comparada com a que O’Sullivan será capaz de fazer.





No limite para Verstappen e Alonso – GP Mónaco 2023

28 05 2023

Foi um processo demorado, mas o Principado do Mónaco conseguiu a sua renovação de contrato depois de negociações bem prolongadas, mantendo a segunda corrida mais antiga do calendário da Fórmula 1 segura até 2025.

Muito joga contra e a favor do Mónaco em tempos recentes. O Grade 1 de segurança da FIA, à medida que os carros têm vindo a tornarem-se mais velozes, parece cada vez mais uma piada quando adaptado a um traçado que quase não mudou desde a criação nos anos 20 (com barreiras metálicas a substituírem o anterior feno ou mesmo por vezes absolutamente nada).

A natureza travada da pista, e a consequente ausência de ultrapassagens nos domingos, têm gerado bastantes críticas relativa à sua utilização, ainda que os até os seus piores detratores concedam que poucas coisas na F1 conseguem igualar o entusiasmo gerado por uma sessão de qualificação no circuito (quando os pilotos são obrigados a negociar muros bem próximos a velocidades estonteantes).

Originalmente prevista como a 7ª prova do calendário, o Mónaco assumiu a 6ª devido ao cancelamento de última hora do GP da Emilia Romagna. Chuvas fortíssimas na região causaram cheias devastadoras que, não só afetaram as condições da pista como a população, levando a categoria a optar por não realizar a prova quando as equipas já estavam na pista (com Imola a receber a garantia de que terá o contrato estendido em 1 ano).

O cancelamento deu algumas dores de cabeça às equipas que planeavam usar a primeira prova europeia como local de estreia de novos pacotes de atualizações, uma vez que testá-las no Mónaco seria sempre de eficácia duvidosa. Não que isso tenha impedido a Mercedes, a estrutura que mais radicalmente alterou o seu projeto (especialmente nos sidepods).

Entre provas foi também anunciada a confirmação de um rumor de longa data: a Aston Martin e a Honda vão passar a estar em cooperação a partir de 2026, com os japoneses a fornecerem os britânicos. A Honda consegue assim uma equipa para se manter na F1, depois de ter “largado” a Red Bull, e a Aston Martin consegue tornar-se uma equipa de fábrica, algo que Martin Whitmarsh descreveu como a peça final do puzzle a encaixar no projeto.

Ronda 6 – Grande Prémio do Mónaco 2023

É difícil dizer quem passou mais tempo a operar no limite das capacidades dos seus carros: Max Verstappen ou Fernando Alonso.

Parece simples dizer que foi Verstappen. O piloto da Red Bull teve que lidar com uma concorrência extremamente próxima em comparação com o usual e respondeu de forma habilidosa, sempre no limite. Quando entrou no terceiro sector da sua volta de qualificação final tinha a pole position a 2 décimas de segundo. Quando a volta terminou acabou 1 décima na frente, com 3 incidentes diferentes em que roçou o muro. A definição de andar no limite.

Em corrida fez mais do mesmo, tendo que se manter sempre num ritmo elevado para segurar a liderança e de esticar para bem lá do desejável o primeiro stint em pneus médios até poder transitar para os intermédios quando a chuva caiu.

E Alonso? Teve que fazer uma tarefa muito semelhante, mas com a desvantagem de um Aston Martin que ainda não é um rival ao nível Red Bull, e com uma idade bem superior. O espanhol foi o único a não ser completamente pulverizado por Verstappen e, se tivesse tido a sorte de a Aston não ter errado ao trocar de duros para médios (em vez de intermédios) poderia ter chegado ao fim para quebrar o seu jejum de vitórias.

O menor falado sobre os colegas de equipa, melhor. Sergio Pérez destruiu a lateral esquerda do seu carro no Q1, tendo que partir de último (momento a partir do qual o fim-de-semana estava efetivamente terminado) e viu o seu carro ser levantado pelas gruas (dando aos rivais uma excelente panorâmica do chão desenhado por Adrian Newey); e Lance Stroll não saiu do Q2 quando o colega quase fez pole, ia perdendo peças logo na primeira volta, fez várias manobras suicidas e terminou a prova de fora depois de aquaplanar contra os muros.

Entre os destaques, a Alpine mostrou bom ritmo de corrida para se consolidar como 5ª força do campeonato, com Esteban Ocon em grande nível a ponto de conseguir consolidar uma posição no pódio contra concorrentes com carros bem melhores. Concorrentes como a Mercedes, que ainda não conseguiu perceber se os updates que fez surtiram o efeito desejado (Lewis Hamilton ainda considerou o carro como extremamente difícil de conduzir, quase sendo eliminado no Q2); ou como a Ferrari, que continua a misturar erros estratégicos com mau andamento (Charles Leclerc não foi avisado de que se devia desviar de Lando Norris e perdeu 3 lugares por bloqueá-lo em qualificação, e Carlos Sainz ficou furioso com uma ordem de paragem que achou tê-lo roubado da hipótese de atacar Ocon).

Coube à McLaren ser a única intrusa no Top 10, com Norris e Oscar Piastri a fazerem ótimas ultrapassagens sobre Yuki Tsunoda e roubar-lhe os pontos finais (com linguagem bem colorida do japonês pela rádio).

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Alonso \ 3. Ocon \ 4. Sainz \ 5. Hamilton (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Alonso \ 3. Ocon \ 4. Hamilton \ 5. Russell \ 6. Leclerc \ 7. Gasly \ 8. Sainz \ 9. Norris \ 10. Piastri (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (144) \ 2. Pérez (105) \ 3. Alonso (93) \ 4. Hamilton (69) \ 5. Russell (50) —– 1. Red Bull (249) \ 2. Aston Martin (120) \ 3. Mercedes (119) \ 4. Ferrari (90) \ 5. Alpine (35)

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Corrida anterior: GP Miami 2023
Corrida seguinte: GP Espanha 2023

GP Mónaco anterior: 2022

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Fórmula 2 (Rondas 9-10) \ Vesti assume o ataque ao título

Depois de uma ronda de testes em Barcelona, a Fórmula 2 voltou a rodar, desta vez em Monte-Carlo.

Na sua primeira prova, Ayumu Iwasa voltou a demonstrar porque está a ser considerado como potencial futuro piloto da AlphaTauri. O japonês partiu da frente para o sprint e acabou por não largar a liderança em mais nenhuma ocasião durante a prova, sabendo gerir de forma brilhante um recomeço após Safety Car, partindo tão cedo que depressa tinha já 3 segundos de vantagem sobre o 2º classificado (Jehan Daruvala). Jak Crawford completou o pódio.

Já na segunda prova, foi protagonista o pole Frederik Vesti. Com performances boas, mas pouco notáveis nos dois últimos anos (em F3 e F2), o dinamarquês da academia Mercedes sabe que 2023 é o ano de mostrar a Toto Wolff que merece um lugar na F1 e tem aumentado o seu nível. No Mónaco foi gerindo os ataques de Théo Pourchaire com muita calma e venceu a feature, restando agora manter este nível daqui para a frente.

Pourchaire acabou a corrida a queixar-se de que era “simpático demais”, uma referência à maneira como o colega de equipa na ART, Victor Martins, o espremeu antes da primeira curva. Não que Martins tenha conseguido lucrar muito: o francês ignorou bandeiras amarelas no acidente terminal de Jack Doohan e quase atropelou um comissário, valendo-lhe um drive through que o deixou em 8º.

De destacar ainda a regularidade de Richard Verschoor e Kush Maini, que os tem catapultado para bons lugares, e para uma excelente recuperação de Dennis Hauger de 17º a 5º na prova feature.

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Qualificação: 1. Vesti \ 2. Martins \ 3. Pourchaire \ … \ 8. Daruvala \ 9. Iwasa \ 10. Hadjar

Resultado (Sprint): 1. Iwasa \ 2. Daruvala \ 3. Crawford \ 4. Verschoor \ 5. Maloney \ 6. Doohan \ 7. Martins \ 8. Pourchaire (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Vesti \ 2. Pourchaire \ 3. Maloney \ 4. Verschoor \ 5. Hauger \ 6. Maini \ 7. Staněk \ 8. Martins \ 9. Crawford \ 10. Iwasa (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Vesti (89) \ 2. Pourchaire (84) \ 3. Iwasa (69) \ 4. Maini (49) \ 5. Hauger (48) —– 1. Prema (130) \ 2. ART (108) \ 3. DAMS (103) \ 4. MP (88) \ 5. Campos (82)

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Corrida anterior: Azerbaijão 2023 \ Rondas 7-8
Corrida seguinte: Espanha 2023 \ Rondas 11-12

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Fórmula 3 (Rondas 5-6) \ Bortoleto segura liderança em dia de vitória de Minì

Quase sempre mais volátil até do que a Fórmula 3, a categoria até teve provas relativamente calmas para os seus próprios padrões.

No sprint coube a Pepe Martí dominar a seu bel-prazer, enquanto que no fim da tabela de pontuação Paul Aron teve que se defender com unhas e dentes para assegurar o último ponto contra os dois primeiros classificados da qualificação. Leonardo Fornaroli e Grégoire Saucy completaram o pódio.

Já o feature teve mais ação. Logo no início Oliver Gray tentou uma ultrapassagem sobre um colega da Carlin na Tabac, que acabou com este no muro. Sebastián Montoya impacientou-se de tal modo com uma tentativa de ultrapassagem a Caio Collet que lhe acertou na subida da colina e perdeu a asa dianteira. Depois, com alguma falta de desportivismo, cortou a chicane do porto para impedir os rivais o passassem antes da paragem nas boxes.

Na dianteira, coube a Minì vencer com alguma gestão das margens para Beganovic, tal como Aron teve que fazer para garantir um pódio face a Luke Browning.

Um 5º ou 6º lugar garantiram a Gabriel Bortoleto a manutenção da liderança do campeonato, seguido agora de Minì, Saucy, Beganovic e Aron.

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Qualificação: 1. Minì \ 2. Beganovic \ 3. Aron \ … \ 10. Fornaroli \ 11. Martí \ 12. Saucy

Resultado (Sprint): 1. Martí \ 2. Fornaroli \ 3. Saucy \ 4. Colapinto \ 5. Barnard \ 6. Bortoleto \ 7. Montoya \ 8. Browning \ 9. Collet \ 10. Aron (Ver melhores momentos)

Resultado (Feature): 1. Minì \ 2. Beganovic \ 3. Aron \ 4. Browning \ 5. Bortoleto \ 6. Colapinto \ 7. O’Sullivan \ 8. Barnard \ 9. Martí \ 10. Saucy (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Bortoleto (73) \ 2. Minì (56) \ 3. Saucy (47) \ 4. Beganovic (46) \ 5. Aron (38) —– 1. Trident (124) \ 2. Prema (110) \ 3. Hitech (102) \ 4. ART (54) \ 5. Campos (41)

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Corrida anterior: Austrália 2023 \ Rondas 3-4
Corrida seguinte: Espanha 2023 \ Rondas 7-8

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Fontes:
Sky Sports \ Atualizações Mercedes
The Independent \ Cancelamento de Imola
The Guardian \ Acordo Aston Martin – Honda





Doohan e Pourchaire no topo – Testes F2

16 05 2023

Com a próxima visita competitiva da Fórmula 2 a Barcelona a aproximar-se nas próximas semanas, a categoria antecipou a sua presença em algumas semanas de modo a fazer a sua primeira sessão de testes desde que a temporada começou no Bahrain.

O grande destaque dos 3 dias de ação em território espanhol foi Jack Doohan, que liderou os 2 primeiros. O piloto da Virtuosi soube encontrar 5 décimas de segundo no primeiro dia sobre o segundo classificado, enquanto que no dia seguinte esteve décima e meia na frente. O último dia deixou-o no fundo da tabela, mas com simulações de corrida e um nível bastante generoso de voltas completadas.

Nesse dia final foi Théo Pourchaire quem fez uso da sua experiência para liderar por umas incríveis 6 décimas de segundo sobre o outro ART (Victor Martins), depois de já ter sido 3º no segundo dia.

ART e Virtuosi acabaram assim no topo da tabela de tempos do conjunto dos dias, ainda que a ART tenha sido das que menos voltas completou. Na quilometragem foi a Campos quem fez menos, enquanto que a Van Amersfoort esteve no topo.

No fundo da tabela de tempos voltou a ficar a PHM Charouz, ainda que não muito distante da Trident e Hitech.

A Prema também teve um teste produtivo, com Frederik Vesti e Oliver Bearman a encontrarem ritmo com facilidade, ao passo que os DAMS foram ganhando balanço ao longo dos dias e os Rodin Carlin pareceram fazer o exato oposto.

Destaque ainda para uma caótica manhã de quinta-feira, que viu a chuva levar à presença de umas incríveis 5 bandeiras vermelhas (para além de ainda ter marcado presença no dia seguinte).

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Dia 1 – Resultado: 1. Doohan (1m24s177) \ 2. Bearman (1m24s624) \ 3. Vesti (1m24s742) \ 4. Fittipaldi (1m24s810) \ 5. Cordeel (1m24s904)

Dia 2 – Resultado: 1. Doohan (1m24s318) \ 2. Vesti (1m24s466) \ 3. Pourchaire (1m24s565) \ 4. Daruvala (1m24s722) \ 5. Martins (1m24s866)

Dia 3 – Resultado: 1. Pourchaire (1m23s943) \ 2. Martins (1m24s595) \ 3. Iwasa (1m24s762) \ 4. Leclerc (1m24s851) \ 5. Maini (1m25s050)

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Resultado Global

#EquipaTempoVoltas
1ART1m23s943Pourchaire363
2Virtuosi1m24s177Doohan440
3Prema1m24s466Vesti440
4MP1m24s722Daruvala381
5DAMS1m24s762Iwasa411
6Rodin Carlin1m24s872Fittipaldi423
7Campos1m24s943Maini336
8Van Amersfoort1m25s058Verschoor465
9Hitech1m25s244Hadjar381
10Trident1m25s246Novalak352
11PHM Charouz1m25s333Nissany430
Barcelona \ 10-12 Maio 2023




Trident e Jenzer dividem o topo da tabela – Testes F3

21 04 2023

Depois da semana de testes de Barcelona, a pista de Imola obteve o direito de receber os monolugares de Fórmula 3 para uma nova sessão de dois dias. O circuito italiano também será o próximo palco da F3 quando receber a ronda seguinte do campeonato em Maio.

Fórmula 3 – Dia 1

Com múltiplas simulações de qualificação durante a manhã, a tabela de tempos final acabou por ficar quase totalmente definida na tarde, ainda assim. Apesar disso, houve duas interrupções (com Jonny Edgar na gravilha e Hugh Barter na primeira curva) nesta fase, além de três adicionais da parte da tarde (Gabriel Bortoleto e Oliver Goethe; Leonardo Fornaroli na gravilha; Mari Boya na Curva 10).

O resultado foi que Nikita Bedrin liderou o dia com o tempo mais rápido para a Jenzer, seguido de Bortoleto no seu Trident.

Já fora do segundo 31, chegaram os rivais seguintes: Dino Beganovic em 3º, Gabriele Minì em 4º e Pepe Martí em 5º. O maior número de voltas do dia coube a Alejandro García com 74 voltas à volta de Imola.

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Resultado: 1. Bedrin (1m30s368) \ 2. Bortoleto (1m30s690) \ 3. Beganovic (1m31s111) \ 4. Minì (1m31s141) \ 5. Martí (1m31s166)

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Fórmula 3 – Dia 2

Apesar de um acidente de Oliver Goethe logo a abrir a sessão, o segundo dia de testes da F3 trouxe mais um duelo privado entre Bortoleto e Bedrin pelas duas primeiras posições. Desta vez coube ao brasileiro da Trident terminar na frente com um tempo muito parecido ao do russo da Jenzer no primeiro dia.

A maioria dos pilotos focaram-se em ritmo de corrida, nos momentos em que a rodagem não estava interrompida pelas paragens de bandeira vermelha constantes. Franco Colapinto conseguiu terminar em 3º, seguido de Taylor Barnard e Beganovic.

A ART terminou os dois dias como a equipa com mais voltas completadas (492), ao passo que a MP (que chegou a não ter um carro num dos dias) se ficou pelas 333 (a pior). A PHM Charouz voltou a terminar a alguma margem da penúltima classificada (também novamente a Rodin Carlin).

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Resultado: 1. Bortoleto (1m30s312) \ 2. Bedrin (1m30s416) \ 3. Colapinto (1m30s471) \ 4. Barnard (1m30s527) \ 5. Beganovic (1m30s547)

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Progresso Total

#EquipaTempoVoltas
1Trident1m30s312Bortoleto410
2Jenzer1m30s368Bedrin444
3MP1m30s471Colapinto333
4Prema1m30s547Beganovic430
5Campos1m30s596Martí412
6ART1m30s647Saucy492
7Hitech1m30s766Browning431
8Van Amersfoort1m30s791Collet413
9Rodin Carlin1m31s248Gray373
10PHM Charouz1m32s108Flörsch362
Imola \ 18-19 Abril 2023