Domínio dos domínios – GP China 2024

21 04 2024

De 2004 a 2011, a Fórmula 1 empreendeu um projeto de agressiva expansão para o mercado asiático. O primeiro capítulo foi a chegada do Bahrain e da China à categoria por motivos significativamente diferentes. A entrada no mercado chinês simbolizava a entrada na economia com o mais rápido crescimento no mundo à época e a F1 planeava encher as bancadas com os seus fãs, a ponto de estas estarem preparadas para uma capacidade simultânea de 200 mil pessoas.

A pista assumiu uma forma interessante, com uma primeira curva longa e desafiante, uma reta oposta extremamente longa (uma marca característica dos circuitos de Hermann Tilke daí para a frente) e vários pontos em que ultrapassagens eram possíveis, além de ter como objetivo uma semelhança parcial vista de cima ao símbulo “shang” da escrita chinesa. O paddock também era diferente, com cada equipa a ter um edifício à volta de um lago ao estilo do jardim Yuyan em Shanghai.

Ainda houve uma procura extensiva por pilotos locais para atrair a multidão, mas apenas em 2022 é que se processou a estreia de Guanyu Zhou. Precisamente durante a ausência prolongada pós-Covid do circuito do calendário. Em 2024, pela primeira vez desde 2019, o GP da China está de regresso. Restava ver se será possível atrair multidões, quando várias bancadas à volta da Curva 13 desde 2012 tiveram que ser convertidas em cartazes publicitários, tais eram as dificuldades em enchê-las de pessoas.

Na semana antes do GP, Fernando Alonso anunciou a sua renovação com a Aston Martin até ao final de 2026 (que fecha a possível ida para a Red Bull e que o vê regressar a uma cooperação com a Honda), enquanto que a Andretti, mesmo rejeitada pela FOM, continua a sua preparação (ampliaram a sua fábrica de Silverstone, num claro braço de ferro para forçar a entrada em 2025…).

Ronda 5 – Grande Prémio da China 2024

Com o primeiro sprint do ano a ocorrer contra a vontade dos pilotos, que alertaram para o perfil escorregadio do circuito depois de ter sido reasfaltado durante a sua ausência do calendário, a chuva que na sexta-feira caiu sobre Shanghai não ajudou a que se tivessem tirado grandes conclusões no único treino livre do GP (como ficou provado pela forma como Lance Stroll colocou o seu Aston Martin na frente).

Para a qualificação do sprint até foi possível ver alguma normalidade. No Q1 a Alpine e Williams ficaram pelo caminho juntamente com Yuki Tsunoda, ao passo que no Q2 a grande maioria dos pilotos acabou por não conseguir fazer uma segunda tentativa porque a chuva finalmente caiu. A surpresa principal acabou por ser os dois Kick Sauber presentes no Q3.

Max Verstappen (Red Bull) nunca conseguiu colocar-se no ritmo certo, o que abriu a oportunidade aos rivais para aproveitarem. Charles Leclerc (Ferrari) perdeu o controlo numa tentativa, mas sem evitar erros maiores, enquanto que Verstappen e Lando Norris (McLaren) viram-se a braços com voltas eliminadas. Norris em particular foi fantástico, fazendo pole por 1,2 segundos sobre Lewis Hamilton (Mercedes), apesar de uma ligeira confusão com uma eliminação de volta (depois revertida).

A prova começou com uma partida excelente de Hamilton, que se colocou por dentro na primeira curva. Norris, desapontantemente, não percebeu a armadilha e inevitavelmente terminou na escapatória, caíndo para 7º. Daí em diante Hamilton liderou Fernando Alonso (Aston Martin) e Verstappen, até que o Red Bull atinou e passou ambos sem dificuldade.

Daí em diante calhou a Alonso fornecer o entretenimento, com o espanhol a segurar a quase totalidade da corrida um comboio de Carlos Sainz (Ferrari), Sergio Pérez (Red Bull) e Leclerc. A uma volta do fim, Sainz tentou a ultrapassagem mais musculada, Alonso retribuiu a agressividade e os espanhóis ficaram tão focados um no outro que se tocaram e permitiram a passagem de Pérez e Leclerc (Alonso abandonou).

Algumas horas depois, na “verdadeira” qualificação, o tempo já não ajudou a apimentar a ação em pista, pelo que foi Verstappen quem facilmente assumiu a pole position com a “agravante” para o resto das equipas de que foi Pérez, no outro Red Bull, quem foi o rival mais próximo. Alonso, a querer recuperar-se da sessão anterior, foi quem mais brilhou ao pôr-se em 3º (mesmo com duas décimas de segundo perdidas no primeiro setor).

A McLaren soube sobrepôr-se à Ferrari com ambos os carros, continuando a surpresa (principalmente dos próprios) em estar na frente dos italianos. No Q3 voltou-se a contar com a presença de um Kick Sauber (neste caso, Valtteri Bottas) e do sempre presente Nico Hülkenberg no seu Haas.

Sainz conseguiu manter-se em movimento depois de um despiste de média gravidade no Q2 (que chegou a ativar bandeira vermelha, e a fazer os comissários terem uma breve discussão sobre se o Ferrari tinha “parado” e podia continuar a sessão), a Alpine colocou ambos os monolugares no Q2 pela primeira vez em 2024, e Hamilton e Guanyu Zhou (Kick Sauber) ficaram no Q1 de forma surpreendente.

No dia da corrida ainda se viram céus nublados, mas a verdadeira história da corrida foi mais tática. Verstappen partiu da frente e evitou ser passado por Alonso (da forma que Pérez não evitou) e a partir daí pareceu ter sempre quantidades enormes de tempo em mão para fugir aos rivais. Primeiro foi Alonso quem serviu de tampão a Pérez, mas o verdadeiro buffer foi criado quando Bottas abandonou com problemas de motor e trouxe um Safety Car que permitiu a vários rivais da Red Bull parar sem perder tempo.

Norris e Leclerc foram os principais beneficiados ao mudar de pneus e sair na frente de Pérez, se bem que houve vários outros a fazê-lo. Alonso, por motivos inexplicáveis, optou por montar os pneus macios (em vez dos duros de todos os outros). De pneus frescos, o espanhol queimou um pouco a travagem no recomeço após o SC, fazendo um efeito dominó que culminou num desatento Stroll abalroar por completo o RB de Daniel Ricciardo, fazendo o australiano levantar e danificar o chão do carro. Juntando a isto o incidente entre Magnussen e Tsunoda (que fez o japonês abandonar), ficou-se com um novo SC em pista e ambos os RB fora de prova.

Penalizações para Stroll, Magnussen e Sargeant (Williams, por milimetricamente ter estado atrás num linha de SC) baralharam um pouco as contas para o último lugar pontuável, com Hülkenberg a somar mais um precioso ponto na frente de Ocon (Alpine), que quase terminou o jejum de pontos dos franceses com as atualizações de Shanghai.

Hamilton, muito insatisfeito nos pneus macios do princípio, recuperou exemplarmente até 9º perto do McLaren danificado de Piastri (que ainda danificou o chão no incidente Stroll-Ricciardo), enquanto que Alonso montou médios e lançou-se em várias ultrapassagens até terminar 7º. Na frente foi mais uma vitória para Verstappen, seguido de um Norris surpreso pelo bom ritmo da McLaren (e a conseguir ir controlando o Red Bull de Pérez à distância) e Pérez.

A Ferrari deixou bastante a desejar em ritmo de corrida, que ainda assim foi suficiente para terminarem na frente do Mercedes de Russell.

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Quali Sprint: 1. Norris \ 2. Hamilton \ 3. Alonso \ 4. Verstappen \ 5. Sainz (Ver melhores momentos)

Sprint: 1. Verstappen \ 2. Hamilton \ 3. Pérez \ 4. Leclerc \ 5. Sainz \ 6. Norris \ 7. Piastri \ 8. Russell (Ver melhores momentos)

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Qualificação: 1. Verstappen \ 2. Pérez \ 3. Alonso \ 4. Norris \ 5. Piastri (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Verstappen \ 2. Norris \ 3. Pérez \ 4. Leclerc \ 5. Sainz \ 6. Russell \ 7. Alonso \ 8. Piastri \ 9. Hamilton \ 10. Hülkenberg (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Verstappen (110) \ 2. Pérez (85) \ 3. Leclerc (76) \ 4. Sainz (69) \ 5. Norris (58) —– 1. Red Bull (195) \ 2. Ferrari (151) \ 3. McLaren (96) \ 4. Mercedes (52) \ 5. Aston Martin (40)

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Corrida anterior: GP Japão 2024
Corrida seguinte: GP Miami 2024

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Fontes:
GP Fans \ Andretti avança na mesma com fábrica
Motorsport \ Alonso renova com Aston Martin até 2026
Racing Circuits \ Shanghai


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