Red Bull Showrun Lisboa 2023

25 06 2023

Cerca de 100 mil pessoas agruparam-se na zona de Belém em Lisboa para assistir à primeira edição do Showrun da Red Bull, com a principal atração a ser a presença de David Coulthard ao volante do Red Bull RB7 com que Sebastian Vettel venceu o campeonato de pilotos de F1 em 2011.

Debaixo de um Sol forte e com muito calor, vários espectadores (inclusive o autor deste post) dirigiram-se para bancadas o mais cedo possível de maneira a conseguir lugar com vista para a “pista”, que não era mais do que uma reta improvisada de 1 km na Avenida da Índia.

Apesar dos apelos constantes da apresentadora Carolina Patrocínio (“hidratem-se”) era difícil de o fazer, considerando que para ir buscar água era necessário abandonar sem poder voltar ao lugar. A tal ponto que enquanto os pilotos passavam ao lado de desfilantes das Marchas de Lisboa no início do programa, o público misturava pedidos de “vamos aos carros” com “dêem-nos água”…

A ação em pista compensou.

Areas Gibieza fez manobras acrobáticas numa mota KTM, os irmãos Hountondji (os Red Bull Driftbrothers) fizeram duelos de drift (muito impressionantes ao vivo, um pouco menos quando visto num ecrã) e Coulthard fez o motor Renault V8 rugir em diversas passagens.

Ficou no ar a ideia de a capital portuguesa voltar a repetir a experiência.

Coulthard com a bandeira portuguesa. Fonte: Sapo
Coulthard e o RB7. Fonte: Sapo
Gibieza e os Hountondji com o comboio de Lisboa no fundo. Fonte: Sapo
Coulthard e o Padrão dos Descobrimentos. Fonte: Sapo
Um RB19 escondido. Fonte: David Pedro
Fonte: David Pedro
Fonte: Mário Pedro

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Fonte:
Sapo \ F1 em Lisboa





Sargeant, ao ataque!

2 01 2022

Há uma importante distinção a fazer nas categorias de base da FIA entre os pilotos que não atingem resultados por falta de capacidade e falta de dinheiro.

Sem capacidades não há dinheiro que valha, ainda que muitos cheguem mais longe do que alguma vez o deveriam ter feito. Já para aqueles a quem falta dinheiro, as academias de pilotos podem dar uma mão. Mas nem sempre. Por vezes uma nacionalidade interessante basta para assegurar a entrada.

Logan Sargeant trilha um caminho que a maior parte dos pilotos dos EUA não trilham: fez as categorias de base europeias. F4 Britânica. Fórmula Renault Eurocup. Fórmula 3. O primeiro ano de F3 na Carlin foi difícil, mas chamou a atenção da poderosa Prema. Sargeant lutou pelo título e até à última prova. Um acidente deixou-o em 3º. Era o momento de ascender à Fórmula 2, mas o orçamento era incomportável.

Mais um talento escapava. Mas a Charouz, última classificada da F3 em 2020, ofereceu uma vaga para 2021. Sargeant elevou os checos a alturas nunca antes sonhadas. 1 vitória e 4 pódios. 5º lugar nos construtores.

Em Outubro chegou o anúncio de que a Williams, liberta do fardo das suas dívidas e não tendo que assinar endinheirados, o contratara para o seu programa de jovens. Dois meses depois, a Carlin, terrível na F3 e ótima na F2, anunciou o americano para um dos seus carros de F2. Com um ano de atraso, chega a oportunidade de Sargeant na F2 para 2022.

Na Williams, e com o novo teto orçamental da F1, espera-se que a equipa possa perder a necessidade dos milhões de Nicholas Latifi. Se isso acontecer, Sargeant tem a nacionalidade de um país onde o interesse por F1 explode a olhos vistos e o talento para ter uma ótima temporada de F2.

Há 12 meses Sargeant era arrastado para fora do caminho da F1. Hoje, depende exclusivamente de si para se colocar na posição certa.

Ao ataque!





Michel Vaillant Vol. 1-5

14 02 2021

Nos últimos meses, e numa tentativa de tentar reativar as minhas capacidades com a língua francesa, decidi fazer uma leitura completa de todos os livros de banda desenhada Michel Vaillant no seu original, até por nunca os ter lido todos nem por ordem.

A série, escrita originalmente por Jean Graton, foca-se na família francesa Vaillant. Os Vaillant estão envolvidos em automobilismo, como pilotos e como dirigentes da marca Vaillant (apresentada como uma espécie de Ferrari de França), e os livros relatam as aventuras deles nas várias corridas em que se envolvem.

Por a primeira obra ser de 1959, Graton consegue mostrar os primórdios de várias competições da sua época, não com os olhos nostálgicos de hoje mas com a mente de alguém que nos mostra o automobilismo do seu tempo tal como o via.

Por curiosidade, deixo aqui minhas impressões dos primeiros 5 livros.

Volume 1 – O Grande Desafio (1959) [Jean Graton]

O primeiro volume da série Michel Vaillant é um dos melhores de toda a sua sequência. Um jovem Michel (não que as personagens envelheçam, dado que Graton utiliza o conceito de intemporalidade para as personagens) decide competir no “Grande Desafio”, uma mistura de temporada de F1 com corridas de endurance.

Traça uma brilhante distinção entre o tom jovial e despreocupado do automobilismo da época e os momentos sérios de perigo de vida. Apresenta o rival e futuro melhor amigo de Michel Vaillant, o americano Steve Warson e Agnes, a mulher de Jean-Pierre (irmão de Michel).

Classificação: 5 / 5

Volume 2 – O Piloto sem Rosto (1960) [Jean Graton]

Os primeiros esboços daquilo que se virá a tornar a personalidade dos livros Michel Vaillant são visívis neste livro. O mistério do “piloto X” (não estragarei a surpresa) e a presença de Steve Warson ao volante de um Vaillant pela primeira vez, por exemplo.

Fiquei muito curioso sobre a equipa russa mencionada, a Zvezda. Claramente, parece um rascunho daquilo que mais tarde será aplicado na equipa Leader, rivais da Vaillant. No entanto, não me recordo de ter ouvido falar sobre a Zvezda e estou curioso de como mais tarde terá impacto na história.

Classificação: 4 / 5

Volume 3 – O Circuito do Medo (1961) [Jean Graton]

Não há muito a dizer sobre este livro em particular. Parece sofrer do facto de Graton já não ter tanta certeza assim sobre como prosseguir a história. Acaba por ser demasiado similar ao primeiro livro da sequência.

Também não é ajudado, da minha perspetiva, em ignorar por completo a questão da equipa russa, possivelmente por o autor ter decidido não lhe dar continuidade de todo. Acabei este com alguma preocupação pelos seguintes.

Classificação: 3 / 5

Volume 4 – A Estrada da Noite (1962) [Jean Graton]

Este livro tenta corajosamente criar histórias novas no universo Vaillant, o que me deixa com alguma pena de o classificar tão baixo.

Trata-se de uma aventura que envolve condutores de camiões. Tem um enredo sólido que funciona bem, mas a ausência de desporto automóvel acaba por lhe retirar a sensação de uma história Michel Vaillant.

Existe também um distinto conservadorismo dos anos 60 nos relacionamentos entre homens e mulheres, que acaba por chamar a atenção por maus motivos.

Classificação: 3 / 5

Volume 5 – O 13 está na Partida (1963) [Jean Graton]

O ambiente dos anos 60 é tão notório ao folhear este livro. O modo como Michel conhece a sua futura mulher (Françoise) é estranho considerando que a chama de miúda (ela é adolescente aqui).

As momentos menos bem conseguidos da série parecem acontecer quando Michel é tratado como um ser humano puro e este é um deles. O enredo segue um caminho incrivelmente similar ao futuro “Por David” (o que é um elogio, pois trata-se de um dos melhores livros da sequência), o que me apanhou de surpresa. O início também tem um fio condutor no qual a história “Miragem” mais tarde se baseará.

Parece ter as sementes de um brilhante história, mas falta-lhe qualquer coisa para brilhante.

Classificação: 3 / 5





1 Ano

16 10 2012

Faz exatamente hoje um ano desde que a IndyCar registou a sua última fatalidade em Las Vegas. Dan Wheldon pode já não estar entre nós, mas a sua memória dificilmente será apagada, pois o inglês representou para a categoria de monopostos americana, o mesmo que Senna representou para F1 nos anos 90. Um despertar para os problemas de segurança.

Rubens Barrichello, por exemplo, que já experimentou ambas as categorias, afirmou este ano que a F1 muito dificilmente aceitaria algumas das pistas em que os americanos correm por questões de segurança. Na altura houve quem acreditasse ser mais uma das muitas provas de falta de empenho na Indy, e se é parcialmente verdade, também é verdade que ele tem razão, tanto para o bem (o asfalto esburacado da Indy) como para o mal (dificilmente Bernie aceitaria Sonoma).

Enfim, fica aqui a lembrança de Dan Wheldon, que tragicamente perdeu a vida à um ano. Rest In Peace, mate.





Top 10 – Vitórias Menos Distribuídas (Parte 1/2)

13 10 2012

Uma das caraterísticas mais notórias quando se observam quando se vasculham os recordes da Fórmula 1 é a presença constante de um certo alemão. Pois é, 5 títulos em 10 anos de Ferrari também ajudam, mas Michael Schumacher não chegou à liderança das tabelas de quase todos os recordes da F1 sem talento.

Mas como me apetece fazer um Top 10, e não me apetece fazer a desfeita aos meus leitores de colocar o Schumacher na liderança de algo neste blog, decidi manter-me no tópico dos países no automobilismo como no post sobre a China. Lembrei-me de fazer dos países com mais vitórias, e daria Reino Unido no topo. Mas para o fazerem precisaram de 19 vencedores, enquanto o segundo classificado a Alemanha apenas “usou” 7, logo tem maior aproveitamento, por assim dizer. E foi aí que tive a ideia para o post.

Basicamente a ideia é a seguinte. Países que tenham tido 2 ou menos representantes com vitórias na F1. Como os malucos costumam ter sorte, depois de consultar um pouco o Stats F1 descobri que existem exatamente 10 países nessa condição… A ordem para os classificar é a média de vitórias por piloto.

10 – Venezuela

1 Vitória. 1 Vencedor. Média: 1

No último lugar da lista aparece a mais recente adesão ao grupo dos países vencedores. O país da América do Sul nunca foi exatamente rico em talento, e antes da entrada de Pastor Maldonado tinha o mesmo número de pilotos que a Índia. O seu melhor resultado anteriormente era um sexto lugar de Johnny Cecotto.

Mas os apoios de Hugo Chávez sob a forma da petrolífera PDVSA aos pilotos do seu país têm estado a fazer aparecer venezuelanos no automobilismo mundial como EJ Viso na IndyCar, Cecotto Jr. na GP2, e o responsável por colocar o país nesta lista, Pastor Maldonado.

O piloto da Williams conseguiu este ano acabar com o jejum de oito anos da equipa inglesa, e colocar a bandeira venezuelano no topo do pódio de Montmeló, depois de uma acirrada disputa com o bi-campeão Fernando Alonso, em que se comportou de maneira brilhante.

Claro que desde então só voltou a terminar nos pontos mais uma vez, mas se conseguir comportar-se nas restantes corridas como fez em Monza, acredito que terá mais potencial que Bruno Senna. O que tendo em conta a presença de Valtteri Bottas dava jeito, convenhamos…

9 – Polónia

1 Vitória. 1 Vencedor. Média: 1

É certo que o país da Europa Central tem as mesmas estatísticas que o 10º colocado desta lista, mas enquanto os venezuelanos podiam-se gabar de já ter tido alguém a representá-los, os polacos apenas tiveram um representante, portanto ainda bem que lhes calhou alguém como Robert Kubica.

Depois do fracasso de Jacques Villeneuve na BMW em 2006, coube ao jovem Kubica tomar o seu lugar para o GP da Hungria, onde impressionou bastante com o seu 7º lugar (que mais tarde seria retirado por motivos técnicos), e acabou o ano com um pódio no GP de Itália.

Depois de dar luta nos anos seguintes ao companheiro de equipa Nick Heidfeld, o polaco conquistaria o seu primeiro triunfo no GP do Canadá de 2008, aproveitando o falhanço cerebral de Hamilton, que levou pelo caminho Kimi Raikkonen. E poderia ter sido o início de algo ainda maior, não fosse a casmurrice de Mario Theissen em concentrar os esforços para 2009, ano desastrado para os alemães e que ditou o final da equipa.

O resto já se sabe. Desejamos todos um regresso rápido a Robert, que recentemente regressou ao volante, vencendo o Rali Ronde Gomitolo di Lana, e afirmou que o objetivo é regressar à F1 em 2014. Todos os fãs assim o esperam porque se há piloto que tem muito mais do que as estatísticas o aparentam é Kubica…

8 – México

2 Vitórias. 1 Vencedor. Média: 2

O GP do México teve ao longo da história da F1 16 edições (uma delas extra-campeonato) e todas foram realizadas num circuito originalmente chamado Magdalena Mixhuca, perto da capital. No entanto, apenas um ano após a sua abertura mudou a sua nomenclatura para Autódromo Hermanos Rodríguez. Os Schumacher podem ter sido os primeiros irmãos a fazerem dobradinha na F1, mas os irmãos mais famosos no automobilismo são os Rodríguez.

Entre ambos, o merecedor de maior destaque nesta lista é Pedro Rodríguez, o vencedor em questão. Ambos chegaram à notoriedade como motociclistas, com Pedro a vencer em 1953 e 1954. Fez a estreia em Le Mans com apenas 20 anos partilhando um Ferrari 250 Testa Rossa com o irmão Ricardo. Viria a vencer em 1968 ao volante de um Ford GT40 com Lucien Bianchi (tio-avô do atual líder das World Series).

Após a trágica morte do irmão nos treinos para o GP do México de 1962 chegou a considerar abandonar a competição, mas no ano seguinte fez a sua estreia na F1 na etapa dos EUA ao serviço da Lotus. Apesar das suas duas vitórias (África do Sul 1967 e Bélgica 1970) o mexicano tornou-se mais conhecido pelas suas prestações com a Porsche em Endurance.

Morreu a 11 de Julho de 1971 numa corrida Interserie em Norisring, e para além do autódromo em Novo México tem ainda o seu nome numa curva do autódromo de Daytona.

7 – Suíça

7 Vitórias. 2 Vencedores. Média: 4,5

Localizada na Europa Central, e estando rodeada de países como a Alemanha, a Itália, a Áustria e a França não deixa de ser curioso como a Suíça conseguiu a proeza de não se ver envolvida em nenhuma guerra desde 1815, quando foi restabelecida como estado independente. Mas existe uma guerra que os suíços têm feito ao longo dos tempos. A guerra contra o automobilismo…

Após o tragicamente famoso acidente nas 24 horas de Le Mans, em que o piloto Pierre Levegh e 83 espetadores morreram (para além de mais de uma centena de feridos), vários países, como a Suíça, a banirem o automobilismo no seu território. Só que ao contrário dos restantes, o país da Europa Central decidiu manter esta medida até aos nossos dias, levando a que o GP da Suíça se realizasse posteriormente em Dijon (França).

Mas num dos melhores exemplos práticos de “dá Deus nozes a quem não tem dentes”, os suíços deram a F1 dois vencedores de corridas, e um total de 7 vitórias, possuindo a honra de ser apenas um dos 21 países que já chegaram ao lugar mais alto do pódio, para além de terem uma das equipas mais tradicionais da categoria, a Sauber.

O primeiro a ter a honra foi Jo Siffert, mais conhecido por Seppi, quando venceu o GP do Reino Unido em 1968, aguentando Chris Amon durante uma boa parte da corrida em Brands Hatch. O segundo, e mais famoso, foi Clay Regazzoni, que pilotou por Ferrari e Williams, e se tornou mesmo vice-campeão mundial em 1974, perdendo para Emerson Fittipaldi.

6 – Bélgica

11 Vitórias. 2 Vencedores. Média: 5,5

O pequeno país não tem exatamente pouca tradição no automobilismo, sejamos honestos. O exemplo mais sonante, claro, é o atual piloto da Lotus, Jérôme d’Ambrosio. Não, mas se você pensava que eu estava a falar a sério, então aconselho-o a mudar de hobby…

O autódromo de Spa-Francorchamps pode até ser uma pista que muitos pilotos (nomeadamente Rubens Barrichello e Kimi Raikkonen) têm em conta como a melhor do mundo, mas a tradição belga vai mais além do que o circuito… e d’Ambrosio. Nomeadamente com dois vencedores de grandes prémios.

Em primeiro lugar, um homem que dispensa grandes introduções, Jacky Ickx. O belga é extremamente conhecido pela sua carreira de Endurance, onde conta com 6 vitórias nas míticas 24 horas de Le Mans, mas obteve resultados igualmente impressionantes na F1. Fez a estreia em Nurburgring 1967 num carro de F2 em que chegou a rodar em 5º, depois de na qualificação apenas ter sido batido por dois pilotos de F1 (Hulme e Clark). No mesmo ano conseguiu um ponto em Monza, e no ano seguinte aos comandos da Ferrari venceu o GP da França sob chuva intensa.

O resto da carreira foi impressionante, apesar da injustiça de nenhum título conquistado. Vice-campeão em 1969 e 1970, com 8 vitórias e 25 pódios.

Em segundo veio Thierry Boutsen, que depois de pagar 500 000 dólares por uma vaga na Arrows em 1983 (talvez não o melhor modo  de impressionar nesta lista), conseguiu uma vitória durante alguns momentos até de Angelis ter conseguido reverter a sua penalização. Depois de uma breve passagem pela Benetton, conseguiu a confiança de Sir Frank Williams em 1989 e 3 vitórias. No entanto acabaria por ser substituído por Nigel Mansell, e desde então nunca mais houve uma vitória belga.

Poderia quase dizer que sentia pena de um país cuja esperança é Jérôme d’Ambrosio, mas depois lembro-me que sou de um país cujo melhor resultado foi um terceiro lugar numa corrida de seis carros…