Rápido, desafiante, histórico e, desde as suas remodelações de 2010-11, moderno, o circuito de Silverstone é um dos grandes fins-de-semana de Grande Prémio da Fórmula 1 em qualquer temporada. A proximidade das fábricas de várias equipas (a Aston Martin literalmente está a 15 minutos), um conjunto de fãs entusiásticos (especialmente desde o segundo título de Lewis Hamilton) e o palco original da primeira corrida oficial de F1: tudo ajuda.
Parte da longevidade de Silverstone deve-se à sua necessidade constante de reinvenção, fruto das pressões dos dirigentes da F1 que ao longo das décadas foram ameaçando o circuito das Midlands britânicas com a saída do calendário em detrimento de locais como Donington ou Brands Hatch. O melhor argumento de Silverstone sempre foi possuir melhores instalações, passando de simples aeródromo adaptado a circuito de categoria mundial no decorrer dos anos.
Com curvas tão conhecidas quanto o próprio nome (Copse, Becketts, Chapel, Abbey,…), a pista tem sido dominada em anos recentes por Lewis Hamilton, homem da casa, o que lhe valeu ter-se tornado o único piloto com uma secção de pista com o seu nome (a Reta Hamilton).
Nos últimos dois anos, os 3 GPs realizados foram de plenas emoções: em 2020, houve direito a uma vitória em 3 rodas para Hamilton e uma magistral para Max Verstappen; em 2021, com a disputa pelo título bem aceso, ambos os referidos chocaram na Copse, num dos momentos mais fortes do ano.
Os dias antes da corrida foram de múltiplas declarações de condenação de racismo depois de dois incidentes: em primeiro lugar, as declarações com conotação racista de Nelson Piquet a Lewis Hamilton num podcast de Novembro passado; em segundo lugar, as de Jüri Vips num livestream. No primeiro caso, Piquet pediu desculpas (mas ainda a defender não ter tido intenção) mas foi banido do paddock. No segundo caso, Vips foi expulso do programa da Red Bull mas manteve o lugar na Hitech na Fórmula 2 (ainda que a categoria pareça não ter ficado satisfeita com a decisão).
Ronda 10 – Grande Prémio do Reino Unido 2022
Com uma Mercedes confiante na eficácia das suas novas atualizações e resultados de treinos livres promissores, havia uma grande expectativa de ver se os alemães de facto haviam encurtado a distância para as duas equipas da frente. Em qualificação, pareceu ser o caso. Se bem que era difícil de ter a certeza: a chuva que se abateu sobre Silverstone tornou difícil fazer grandes leituras.
Não muito crente de que havia feito uma boa volta, Carlos Sainz ficou totalmente surpreso pela primeira pole position da carreira. A ajudá-lo estava um despiste ligeiro do colega de equipa Ferrari (Charles Leclerc) e de um Max Verstappen que não conseguiu evitar algumas perdas de controlo (e com o público britânico a brindá-lo com vaias e cânticos de “Lewis” devido à tensão do campeonato de 2021…).
A Mercedes acabou logo atrás, nem as grandes habilidades de chuva dos seus pilotos a evitarem ficar atrás dos 4 da frente. Quem aproveitou para brilhar no Q3 foram Guanyu Zhou, que vem numa sequência de 3 qualificações na frente do colega da Alfa Romeo, e Nicholas Latifi, que aproveitou o intensificar de chuva no Q2 para bater concorrência mais rápida (dando uma dor de cabeça à Williams, já que corria com o carro antigo e bateu colega no carro novo).
Haas e Aston Martin terminaram o seu sábado logo no Q1, para infelicidade de ambas.
Domingo já não trouxe chuva para os procedimentos, mas trouxe muitos abandonos. Tudo começou logo na partida, em que a única verdadeira ação em pista foi a ultrapassagem de Verstappen a Sainz porque a bandeira vermelha foi accionada quase imediatamente: Pierre Gasly foi espremido entre George Russell e Guanyu Zhou, mandando o primeiro contra o segundo que se virou ao contrário e foi de arrojo até à zona próxima ao público.
A preocupação com Zhou foi grande, mas felizmente o chinês não sofreu sequelas do seu acidente (tendo Russell saltado do seu carro, que poderia ainda ter continuado em pista, para verificar o estado do outro piloto). No entanto, as imagens da maneira como a tomada de ar acima da cabeça de Zhou cedeu (tendo sido, sempre ele, o halo a salvar a cabeça do piloto) são motivo de grande preocupação.
Tudo isto permitiu evitar um potencial desastre mais à frente: protestantes que estavam a planear invadir a pista durante a prova fizeram-no, mas a prova já estava em ritmo reduzido por bandeira vermelha. Ainda assim, conseguiram chegar a colocar 4 membros deitados na pista, e Esteban Ocon (um dos que se arrastou até às boxes com danos) chegou a passar perto). A polícia alertara antes da prova para o risco, tendo sido incapaz de impedir os imbecis de fazerem a ação perigosa para a sua saúde e, mais importante, a dos pilotos.
Ocon juntou-se a Yuki Tsunoda (que mais tarde provocou o abandono do colega de equipa) e Sebastian Vettel à lista de pilotos que aproveitaram a bandeira vermelha para reparar estragos. Alexander Albon não conseguiu continuar, tendo ido (tal como Zhou) ao centro médico para verificações depois de vários embates em muros e outros pilotos (sem culpa e sem ferimentos).
Sem um único setor completo, o grid voltou à forma original e na segunda partida Sainz foi muito agressivo na sua defesa de posição, impedindo a passagem de Verstappen. Mais atrás Leclerc e Pérez ficaram com danos na asa da frente (Leclerc teve-os a corrida toda, Pérez mudou a asa), condicionando as suas provas. Sainz não durou mais que 10 voltas na frente, com um erro antes da reta do Hangar a deixá-lo em 2º. Foi aqui que começou o terrível dia de estratégia da Ferrari, que não percebeu que Sainz estava a atrasar Leclerc e deixou a situação arrastar-se de tal forma que Hamilton começou a apanhá-los no seu Mercedes.
A sorte dos italianos foi que Verstappen pisou detritos e danificou gravemente o carro, tendo tido que passar a prova a lutar com o próprio carro e a ter que se defender com unhas e dentes dos ataques de Mick Schumacher para terminar em 7º.
De volta à frente os Ferrari começavam a ter problemas em lidar com a velocidade de Hamilton e optaram por parar Sainz, que mais uma vez ficou a tapar o caminho a Leclerc (depois da paragem deste). Finalmente, a Scuderia exigiu a troca de posições, aceite por Sainz. Só que depois chegou o abandono de Ocon (problemas mecânicos) e o Safety Car. A equipa não parou Leclerc e parou Sainz. Todos os outros carros copiaram Sainz, deixando Leclerc quase indefeso na frente.
A Ferrari ainda tentou pedir a Sainz para segurar o pelotão para o colega, mas o espanhol entendeu que seria uma decisão desastrosa. Implorando ser-lhe permitido passar, Sainz levou a sua pela frente, passando o colega e fugindo na liderança para vencer um Grande Prémio pela primeira vez. Leclerc deu o seu melhor para fugir aos velozes Hamilton e Pérez, chegando a repassar o primeiro por fora na Copse. Mas não dava para segurar, e ambos acabaram à sua frente. Apesar do bom resultado para a época, Hamilton parecia desapontado de ter deixado fugir a vitória caseira (que teria sido a primeira do ano).
Fernando Alonso e Lando Norris fizeram provas de grande nível para ficar em 5º e 6º, enquanto que Vettel teve sorte no timing do SC para parar e manter a sua posição nos pontos (tendo partido de 17º), dividindo os dois Haas (bem felizes pelo resultado conjunto, especialmente Schumacher com os seus primeiros pontos de sempre na F1).
Destaque ainda para a tentativa valorosa de Nicholas Latifi em manter a Williams nos pontos, que no final provou não ser possível.
O campeonato ficou assim relançado, até certo ponto, com alguma recuperação dos rivais de Verstappen, enquanto que os dois pilotos da Ferrari ficaram o mais próximos que alguma vez estiveram nesta temporada (e dificultando a tarefa da Ferrari para impôr ordens de equipa).
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Qualificação: 1. Sainz \ 2. Verstappen \ 3. Leclerc \ 4. Pérez \ 5. Hamilton (Ver melhores momentos)
Resultado: 1. Sainz \ 2. Pérez \ 3. Hamilton \ 4. Leclerc \ 5. Alonso \ 6. Norris \ 7. Verstappen \ 8. Schumacher \ 9. Vettel \ 10. Magnussen (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Verstappen (181) \ 2. Pérez (147) \ 3. Leclerc (138) \ 4. Sainz (127) \ 5. Russell (111) —– 1. Red Bull (328) \ 2. Ferrari (265) \ 3. Mercedes (204) \ 4. McLaren (73) \ 5. Alpine (67)
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Corrida anterior: GP Canadá 2022
Corrida seguinte: GP Áustria 2022
GP Reino Unido anterior: 2021
GP Reino Unido seguinte: 2023
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Fórmula 2 (Rondas 13-14) \ Sem rival claro, Drugovich vai fugindo
Sem Cordeel por pontos de suspensão, a van Amersfoort acabou a substituir o belga por David Beckmann (que já fora substituto na Charouz este ano) para o regresso da F2 à ação em pista.
Tendo herdado a chuva com que a F1 também teve que lidar, a Fórmula 2 viu a sua pista de Silverstone secar aos poucos, dando grandes dores de cabeça aos pilotos para evitarem que as temperaturas dos seus pneus disparassem.
Os melhores na tarefa foram Ayumu Iwasa e Felipe Drugovich. Iwasa chegou com alguma rapidez até ao 2º lugar, atrás de Jack Doohan, quando optou por manter a margem de 3 segundos para o australiano, fazendo o ataque final nas derradeiras voltas (obrigando Doohan a uma vigorosa gestão do ritmo, para a primeira vitória de F2). Já Drugovich deixou-se passar e caiu para 9º até meio da prova, altura em que libertou o ritmo e ultrapassou vários carros até ao 5º lugar final.
No extremo havia Jehan Daruvala, que não conseguiu converter a pole inversa para nada melhor que o último lugar pontuável.
No domingo já foi dia de um género de luta diferente, com Frederick Vesti a partir mal e a deixar a luta contra o pole Logan Sargeant nas mãos do colega de equipa da ART, Théo Pourchaire. Com Carlin e ART em grande nível e os seus pilotos bem equiparados, foi o americano quem triunfou pela primeira vez numa prova de F2.
Liam Lawson completou o pódio, seguido de perto pelo sempre regular Drugovich (que despachou Vesti no final da prova).
O momento da corrida foi mais atrás quando Roy Nissany saiu de pista e espremou com pouco desportivismo Dennis Hauger no seu regresso à pista. Hauger foi parar à relva, incapaz de travar o avanço do seu carro até à curva final, onde o seu Prema levantou voo na lomba e acertou no halo de Nissany. Mais uma vez, foi o halo a salvar a vida de um piloto.
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Qualificação: 1. Sargeant \ 2. Vesti \ 3. Drugovich \ … \ 8. Vips \ 9. Fittipaldi \ 10. Daruvala
Resultado (Sprint): 1. Doohan \ 2. Iwasa \ 3. Fittipaldi \ 4. Pourchaire \ 5. Drugovich \ 6. Vesti \ 7. Sargeant \ 8. Daruvala (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Sargeant \ 2. Pourchaire \ 3. Lawson \ 4. Drugovich \ 5. Vesti \ 6. Vips \ 7. Daruvala \ 8. Armstrong \ 9. Doohan \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Drugovich (148) \ 2. Pourchaire (106) \ 3. Sargeant (88) \ 4. Daruvala (80) \ 5. Lawson (59) —– 1. MP (170) \ 2. ART (160) \ 3. Carlin (147) \ 4. Prema (135) \ 5. Hitech (118)
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Corrida anterior: Azerbaijão 2022 \ Rondas 11-12
Corrida seguinte: Áustria 2022 \ Rondas 15-16
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Fórmula 3 (Rondas 7-8) \ Hadjar e Leclerc caçam Martins
Depois de uma longa pausa que remontava ao GP de Espanha, a Fórmula 3 regressou em Silverstone com um pelotão alterado. Jonny Edgar estava de regresso à Trident, depois de uma ausência devido ao diagnóstico com doença de Crohn; enquanto que Alexander Smolyar teve problemas em conseguir o visto para a viagem, acabando substituído por Filip Ugran.
A sair de pole inversa para o sprint, Reece Ushijima viu a liderança desaparecer logo antes da primeira curva quando o “colega” da primeira linha da grelha, Victor Martins, o passou. Apesar da diferença de ritmo, Ushijima manteve o seu Van Amersfoort relativamente próximo do líder e apenas foi passado por um outro piloto, Isack Hadjar, o que lhe valeu o primeiro pódio de F3.
Hadjar esteve bem impressionante no seu Hitech, indo à caça do ART de Martins durante grande parte da prova, acabando por consumar a ultrapassagem nas voltas finais. Houve um alongar do protocolo de partida, devido a um problema de Brad Benavides, e um Safety Car para um incidente entre dois dos Charouz (László Tóth e Zdeněk Chovanec).
A sair da verdadeira pole para a feature, Zak O’Sullivan elevou o seu Carlin a posições pouco usuais em corrida. Apesar de nada ter conseguido fazer para segurar o Prema de Arthur Leclerc, o britânico defendeu-se com unhas e dentes de outro carro dos italianos (Oliver Bearman) com direito a uma saída de limites de pista para conseguir evitar contacto na chegada.
Leclerc recebeu um abraço do irmão e conseguiu com o seu triunfo (tendo que passar O’Sullivan duas vezes, devido à primeira ter sido no momento de ativação do Safety Car) aproximar-se de forma titânica do líder do campeonato, Martins, que teve um fim-de-semana menos bem conseguido (apesar da boa ultrapassagem sobre o regressado Edgar).
Mais para trás, Zane Maloney caiu na classificação devido ao contacto da primeira volta com um Prema, enquanto que os jovens da Red Bull, Hadjar e Crawford, levaram as suas lutas por posição para fora de pista.
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Qualificação: 1. O’Sullivan \ 2. Leclerc \ 3. Maloney \ … \ 10. Maini \ 11. Martins \ 12. Ushijima
Resultado (Sprint): 1. Hadjar \ 2. Martins \ 3. Ushijima \ 4. Maini \ 5. Frederick \ 6. Staněk \ 7. Maloney \ 8. Leclerc \ 9. Bearman \ 10. Crawford (Ver melhores momentos)
Resultado (Feature): 1. Leclerc \ 2. O’Sullivan \ 3. Bearman \ 4. Collet \ 5. Hadjar \ 6. Crawford \ 7. Martins \ 8. Edgar \ 9. Vidales \ 10. Ushijima (Ver melhores momentos)
Campeonato: 1. Martins (77) \ 2. Leclerc (71) \ 3. Hadjar (68) \ 4. Staněk (61) \ 5. Crawford (60) —– 1. Prema (175) \ 2. ART (113) \ 3. Hitech (90) \ 4. Trident (88) \ 5. MP (75)
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Corrida anterior: Espanha 2022 \ Rondas 5-6
Corrida seguinte: Áustria 2022 \ Rondas 9-10
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Fontes:
– Evening Standard \ Jüri Vips continua na Hitech
– Formula Scout \ Smolyar de fora
– Grande Prêmio \ Jonny Edgar de regresso
– Record \ Comentários de Nelson Piquet