Na elaboração de uma tabela de performances de qualquer categoria de automobilismo que não seja de marca única há espaço para grandes doses de subjetividade. É possível criar agumentos para combater esta tendência, no entanto. A elaboração de uma lista de performance por equipa e a de que pilotos deram mais do que os carros teriam para dar costuma ser um bom ponto de partida. Só que a Fórmula E de 2021 criou várias condicionantes que complicam estas contas.
Vários pole position de 2021 fizeram boas voltas, claro, mas a participação na sessão de Super Pole estar muitas vezes representada por pilotos fora do Top 10 do campeonato leva a que seja por vezes mais impressionante chegar à Super Pole começando no Grupo 1 de qualificação, que o 1º lugar em si… Similarmente, recuperações em corrida até aos últimos lugares dos pontos de alguns pilotos tiveram um sabor de vitória que vencedores de ponta a ponta não pareceram conseguir.
Isto não quer dizer que a temporada tenha sido uma que conseguisse fugir por completo a classificação.
Jaguar e Mercedes pareciam, desde os testes de pré-temporada, como as grandes favoritas e os dois primeiros lugares conquistados no campeonato refletiram-no. Ambas as estruturas, com dois pilotos de grande categoria, venceram provas em 2021 e sempre que ficavam a zeros em alguma prova recuperavam na prova seguinte. No extremo oposto, a NIO e a Dragon Penske voltaram a penar nas posições finais da grelha com frequência (apesar de ambas parecerem estar a tomar medidas, e da NIO já se ter comprometido com a geração 3 de carros).
Apesar das grandes estruturas terem com frequência chegado ao topo, isto não pareceu ser o único factor de relevância. A Nissan dirigida pela DAMS, estrutura com títulos nas 3 primeiras temporadas da Fórmula E, caiu a pique em comparação com o ano passado para a ante-penúltima posição do mundial e o seu líder Sébastien Buemi pareceu incapaz de ser competitivo. Enquanto isso a privada Venturi, fez um caminho inverso ao conseguir 2 triunfos e a colocação de Edoardo Mortara na luta pelo título sem ter um motor próprio (foi cliente da Mercedes) na reorganização levada a cabo nos últimos anos por Susie Wolff (agora com Jérôme d’Ambrosio também na chefia).
Pelo meio houve espaço para campanhas competitivas de BMW e Audi no último ano de participação, ainda que os motores da primeira continuem a equipar a equipa para o próximo ano (sob o nome da Andretti). A Porsche passou ao lado da sua primeira vitória por um erro burocrático que lhe saiu caro enquanto a Virgin continuou a fazer muito com bem menos que as rivais.
Com o objetivo de dar maior visibilidade a cada estrutura, com um sistema de qualificação que permitisse às equipas pequenas terem o seu momento para brilhar, a Fórmula E conseguiu ter 13 pilotos com possibilidade de título na última corrida mas viu o seu nome queimado como nunca antes, fruto de momentos como a retirada de energia exagerada no primeiro e-Prix de Valência, e mesmo algumas equipas questionaram abertamente a sensatez dos dirigentes da categoria. O abandono das marcas alemãs mostrou que nem tudo é risonho para o futuro da Fórmula E. A pandemia criou também um calendário flutuante a uma categoria dependente das corrida citadinas.
Ainda assim, não faltou espaço a excelentes exibições do grid. Vejamos abaixo quem mais talento espalhou pelas pistas.
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1 – Stoffel Vandoorne

Colocar como melhor piloto da temporada alguém que não venceu o seu colega de equipa pode parecer sacrilégio, mas a verdade é que, num ano decidido por margens curtíssimas, Stoffel Vandoorne teve múltiplas ocasiões em que deveria ter somado uma enormidade de pontos apenas para sofrer desventuras sem nunca ter um dedo de culpa. Quando não tinha nada no caminho, o belga mostrou porque a Mercedes o escolheu para liderar o assalto à Fórmula E desde os tempos da HWA.
Em Diriyah recuperou 7 posições para somar pontos no primeiro e-Prix, enquanto que no segundo foi impedido de se qualificar por os comissários terem obrigado os carros com motores Mercedes a provarem serem seguros depois de uma falha nos treinos livres. Uma pole em Roma foi anulada por André Lotterer, que o eliminou de prova e foi penalizado, e por Lucas di Grassi, do qual se teve de desviar contra o muro, mas na segunda corrida dominou a corrida para relançar o seu campeonato. Seguiu-se Valência em que fez pole novamente, só que teve de partir de último devido à Mercedes ter identificado mal os seus pneus. Com uma abordagem conservadora de energia, Vandoorne foi dos poucos a chegar ao fim da corrida e logo com um 3º lugar. O colega Nyck de Vries venceu, mas quem sabe o que seria possível fazer partindo da sua verdadeira posição de largada…
A 9 pontos da liderança do campeonato, Vandoorne começou a sofrer com ter que participar do primeiro grupo de qualificação. Isto levou a resultados quase nulos no Mónaco, Puebla e Nova Iorque. Liberto das amarras do Top 6 do campeonato, Vandoorne conseguiu voltar a brilhar em Londres. Depois de um 7º lugar na primeira corrida, o belga fez pole para a segunda e seguia nos lugares do pódio quando Oliver Rowland se acidentou contra ele, acabando com a prova de ambos. Foi o suficiente para acabar com as aspirações de título.
Na prova final, Vandoorne mostrou mais uma vez a sua classe. Com a missão de ajudar a Mercedes a conseguir ambos os títulos, o piloto fez (mais uma) pole e poderia ter ganho não fosse ter atrasado por várias voltas a ativação do seu Attack Mode. O motivo tornou-se óbvio quando o ativou: saiu mesmo em frente ao colega Nyck de Vries, dando-lhe o cone de ar durante o período normal do holandês em prova para que este subisse as posições necessárias ao seu título mundial. Mesmo com estas condicionantes acabou no pódio e a apenas 17 pontos de de Vries.
Que possa vir a ser preterido face a de Vries para um lugar na Fórmula 1 em 2022 por ter terminado atrás no campeonato devido a todos estes factores é mais um dos grandes azares de Vandoorne, num ano em que esteve irrepreensível.
2 – António Félix da Costa

Tal como o líder desta lista, António Félix da Costa teve uma temporada quase tão marcada pelos pontos que perdeu sem culpa própria como pelos seus pontos altos. A grande diferença entre ambos foi o equipamento à sua disposição (mesmo com a atualização após a primeira prova, o Techeetah nunca chegou a ter ritmo para fazer frente às equipas líderes numa luta de igual para igual), alguns erros mais que Vandoorne e nunca ter conseguido cooperar com Jean-Éric Vergne da mesma maneira que Vandoorne com de Vries (o temperamento de Vergne é também diferente do novo campeão).
A vitória em Monte-Carlo naquele que foi o melhor e-Prix do ano, contra a concorrência ferrenha de Mitch Evans e Robin Frijns, com direito a uma ultrapassagem na última volta por fora na chicane do porto contra Evans, foi o momento mais impecável do português em todo o ano. Foi um triunfo conseguido logo após Valência, onde liderou a primeira corrida inteira até a controvérsia da retirada de energia por parte dos comissários o deixar sem meio de locomoção na última volta.
Daí para a frente o piloto passou a temporada inteira a poucos pontos dos sucessivos líderes do campeonato, o que significou qualificar-se no temido Grupo 1. Isto ajuda a explicar a sucessão de lugares pontuáveis baixos (mas consistentes) que obteve daí para a frente em que geralmente tinha de recuperar vários lugares para os conseguir e onde se incluiu mais um pódio (Nova Iorque). Também se incluíram várias ocasiões em que foi eliminado pela concorrência em incidentes em que os rivais foram penalizados pelas manobras (por exemplo, André Lotterer em Londres ou Lucas di Grassi em Berlim, mesmo na fase crítica do ano).
O piloto, que também competiu com sucesso em endurance e Stock Car Brasil neste ano, bateu pela segunda vez em duas temporadas o bem cotado Vergne, um marco significativo. No entanto, a incerteza à volta da Techeetah, o relacionamento tenso com Vergne (tocaram-se em Diriyah e houve ordens de equipa em Berlim) e a alegada insatisfação com não ter sido chamado à aventura do grupo DS em Le Mans para 2022 deixam dúvidas sobre o futuro do português na categoria.
3 – Mitch Evans

Depois de uma temporada em que estivera com grandes hipóteses de conquistar o título até as 6 rondas de Berlim lhe estragarem os planos, Mitch Evans teve que abordar 2021 como um ano definitivo no que tocava às suas aspirações na Fórmula E e na Jaguar. Depois de uma sequência de colegas de equipa que não fizeram muito para ameaçar o seu estatuto na equipa, Evans viu a situação alterar-se com a contratação de Sam Bird. Bird mostrou ao que vinha logo na primeira etapa ao manter o seu recorde de único piloto a vencer em todos os anos da categoria.
Por isso Evans teve que subir de forma para conseguir competir. Respeitando ordens da equipa para não entrar em disputa com Bird em Roma de modo a assegurar um pódio duplo, Evans acabaria por fazer uso da consistência para se colocar a 4 pontos da liderança do campeonato após esse fim-de-semana. Depois das confusões de Valência, o piloto brilhou no Mónaco numa emocionante disputa por posição com Félix da Costa em que chegou a ultrapassar o campeão em título por fora na subida de Beau Rivage.
Percebendo rapidamente que a chave do campeonato de 2021 seria conseguir todos os pequenos pontos possíveis, Evans conseguiu pontos nas duas provas de Puebla e parecia ir acumular muitos mais em Nova Iorque quando um pequeno toque no muro lhe arruinou uma prova em que estivera a fazer o trabalho duro de segurar o pelotão para permitir ao Jaguar líder escapar-se com a vitória. Em território caseiro da Jaguar na prova seguinte, o piloto redimir-se-ia ao passar Robin Frijns para o último lugar do pódio. Voltando a ter a oportunidade de segurar um comboio gigante de carros em Berlim, Evans não falhou e voltou a chegar em 3º. Posição essa da qual também partiu para a corrida final do ano, a uns pequenos pontos do título e com todos os adversários atrás.
Apenas uma falha mecânica lhe estragou a hipótese de triunfar, provocando-lhe dores “físicas e psicológicas” depois de ser eliminado por Mortara enquanto estava imobilizado. Ainda assim, ficou na frente do novo colega de equipa (ele somou 2 triunfos mas Evans conseguiu 5 pódios, o maior número do grid) e viu o seu vínculo à equipa renovado, no melhor desempenho de sempre da Jaguar na Fórmula E. Com as bases lançadas, Evans é um dos mais sérios candidatos ao título no último ano da Geração 2 da categoria.
4 – Nyck de Vries

Pode parecer um golpe baixo colocar o campeão do mundo apenas no 4º lugar de performances do ano, mas na verdade não há nada de errado com a performance de Nyck de Vries em 2021. O piloto apenas contou com uma pequena dose de sorte em momentos-chave para o fazer, sorte essa que faltou a muitos outros.
De Vries começou o ano com uma vitória magistral, antes de o percalço da Mercedes na segunda prova de Diriyah o atirar para as últimas posições da grelha (de onde ainda conseguiu chegar em 9º). Dois acidentes em Roma queimaram-no um pouco, sendo que se no primeiro não teve culpa (estava a tentar evitar dois pilotos que perderam o controlo) no segundo já foi quem o causou (atirando Rowland e Bird para fora). Em Valência a situação melhorou, tendo perseguindo Félix da Costa durante a corrida inteira e beneficiando da situação estranha com a energia do português para conseguir o segundo triunfo do ano.
Nos 6 primeiros do campeonato durante o ano quase todo, foram várias as vezes que daí para a frente o piloto da Mercedes teve que partir dos últimos lugares na grelha, conseguindo apenas 2 pontos nas 6 provas seguintes. Só que os adversários tropeçavam uns nos outros, e o holandês manteve-se sempre com margem para que uma recuperação perfeita no final do ano o beneficiasse. E assim foi. Duas brilhantes provas em Londres, onde soube conjugar velocidade com uma excelente gestão de risco, deram-lhe dois 2º lugares que o catapultaram de volta para a liderança do campeonato.
Com pilotos como Evans, Mortara e Dennis de fora da última corrida, de Vries foi subindo posições até estar confortavelmente nos pontos, apesar de algumas manobras arriscadas contra carros que não estavam na luta pelo título (inexplicavelmente, de Vries mostrou-se indignado com estes na conferência de imprensa), o que lhe valeu o suficiente para conseguir o primeiro título mundial de Fórmula E. Que ou o deixará em boa posição para 2022 na categoria, ou o colocará no caminho da Fórmula 1.
5 – Jake Dennis

Contratado para uma equipa que logo a seguir anunciou que estaria na sua última temporada na categoria, Jake Dennis viu-se numa das mais ingratas posições para um estreante: estava obrigado a mostrar serviço imediatamente, sob pena de terminar a sua aventura na Fórmula E. Nos primeiros dois e-Prix, o britânico não marcou um único ponto. Alguma da culpa era da BMW, que chegou a estar sem pontos no último lugar do campeonato.
Tudo mudou a partir da segunda corrida de Valência. Somando uma importante pole position, o piloto da BMW i Andretti foi forçado a passar uma corrida inteira a defender-se do Mahindra de Alex Lynn ao mesmo tempo que não podia perder de vista a gestão de energia da sua bateria. Dennis triunfou assim pela primeira vez, com uma condução matura. Dois 5º lugares seguiram-se no México, o que o atirou para a frente do colega de equipa Maximilian Günther (rápido mas impetuoso demais), e depois chegou o fim-de-semana caseiro em Londres.
Novamente em luta com Lynn, Dennis teve que fazer ele mesmo de perseguidor desta vez. Acabou por ter mais sucesso que o rival havia tido em Espanha, ultrapassando o Mahindra para voltar a vencer e colocou-se em definitivo na luta pelo título na sua primeira temporada na categoria. A renovação com a Andretti acabou por ser uma mera formalidade, antes da ronda final de Berlim. Na capital alemã o piloto voltou a mostrar a sua consistência pós-Valência ao integrar o comboio da luta pelo pódio.
Na derradeira prova, e tendo visto Mitch Evans e Edoardo Mortara eliminados na primeira volta, Dennis estava mais alto na classificação do que qualquer um dos rivais ao título e tinha tudo para dar um sério desafio a Nyck de Vries. Um bloquear do eixo traseiro na primeira curva acabaria por atirá-lo para o muro e terminar a sua prova, sendo visto fora do carro sem querer acreditar no que lhe acontecera.
Uma coisa é certa, ao contrário do início do ano em que ninguém sabia bem quem era (como o próprio descreveu), Dennis vai para 2022 como um nome sério para a disputa do título se a Andretti conseguir manter a sua forma agora que já não terá o apoio de fábrica da BMW.
6 – Lucas di Grassi

Há poucas estatísticas da Fórmula E em que Lucas di Grassi não apareça como um dos melhores. Presente desde o primeiro momento na categoria, o líder da aventura da Audi na categoria fazia questão de fechar a temporada final dos alemães com chave de ouro. Tendo somado duas vitórias e conseguido ficar na luta pelo título até à última corrida, pode-se dizer que cumpriu a missão.
Houve espaço para ótimas performances de recuperação (Diriyah), ótimas performances interrompidas por problemas mecânicos (Roma), ótimas performances deitadas abaixo por atitudes matreiras em relação ao Safety Car (Londres) e performances menos conseguidas que terminaram com o brasileiro a provocar o abandono de outros (Puebla com Nyck de Vries e Berlim com António Félix da Costa). Mas também houve espaço para dias em que tudo correu de feição, como nas primeiras provas de Puebla e Berlim, e para aproveitamento de todas as pequenas oportunidades de pontuar que surgissem.
Ainda sem confirmação sobre o seu lugar no grid para 2022, di Grassi mostrou-se interessado em continuar numa categoria em que, excentricidades à parte, é um dos elementos-chave, restando ainda ver com que equipa escolherá alinhar. Até porque à partida não faltarão ofertas a um dos pilotos que mais se tem colocado na posição de embaixador da Fórmula E.
7 – Edoardo Mortara

A descrição mais sucinta da temporada de 2021 de Edoardo Mortara é de que acumulou tantos pontos no ano como nos dois anteriores juntos. Isto demonstrou não só a habilidade do suíço ao volante, mas também a evolução da pequena Venturi desde a “tomada de posse” de Susie Wolff e a correspondente aliança com a Mercedes.
Logo a abrir a temporada, Mortara ficou em 2º lugar com brilhantes ultrapassagens sobre Mitch Evans e Pascal Wehrlein, ambos com carros de fábrica. Por norma teria sido o momento alto da temporada, não fosse um incrível fim-de-semana de Puebla em que fez dois pódios, o segundo dos quais foi uma vitória em que precisou de segurar outro homem em alta no México (Wehrlein). No final desse e-Prix, o piloto estava na liderança do campeonato e a sua própria equipa tratou de deitar água na fervura ao recordar à imprensa de que os rivais estavam muito melhor financiados para um ataque ao título.
A verdade é que Mortara não passou mesmo nada longe do sonho. Uma perseguição de faca nos dentes a Lucas di Grassi na penúltima corrida quase lhe deu um novo triunfo e poderia ter feito muito mais na corrida seguinte se o Jaguar de Evans não tivesse falhado a partida de tal maneira que o Venturi se acidentou contra ele. Foi um de dois incidentes dolorosos (literalmente) para o piloto, depois de também ter falhado a segunda prova de Diriyah devido a uma falha grave do sistema de travagem da Mercedes.
Sem estes dois momentos poderíamos muito bem estar a contar uma história muito diferente da que 2021 acabou por contar, mas uma coisa já se sabia antes desta época: Mortara está há muito a merecer uma promoção para uma equipa de topo.
8 – Pascal Wehrlein

A chegada de Pascal Wehrlein à Porsche foi recebida com entusiasmo moderado. O talento do alemão, que chegou há um par de anos a ser cotado como candidato aos Mercedes de F1, nunca esteve em causa. Só que já se acumulam as saídas menos que pacíficas das equipas pelas quais passa. A Mercedes obrigara-o a perder as primeiras provas ao serviço da Mahindra em 2018 (por ainda estar até 31 Dezembro sob contrato) e a própria Mahindra “largou” o piloto a meio de 2019/20, pelo que restava ver como correria a adaptação à Porsche.
Único piloto a somar pontos nas 4 primeiras corridas do ano, Wehrlein foi dos mais consistentes pontuadores de todo o ano, mesmo com a cruel desclassificação de Puebla. Líder durante toda essa prova (e tendo feito pole), o alemão foi desclassificado por uma burocracia relacionada com a alocação de pneus. Na prova seguinte voltou a mostrar um ritmo diabólico para chegar no 2º lugar. Que também acabaria “roubado” por uma penalização por irregularidades no uso do Fan Boost… Foram muitos pontos, que teriam mudado em muito a opinião do paddock sobre a sua temporada.
Beneficiário da comparação com o colega de equipa experiente André Lotterer, que decidiu implodir-se nesta temporada, Wehrlein marcou pontos em 5 das 7 etapas seguintes, num ano em que a Porsche evoluiu para uma estrutura mais competente. Para 2022 a dupla dos alemães será a mesma, uma recompensa de que Wehrlein quererá fazer uso para uma campanha ainda melhor.
9 – Oliver Rowland

Promovido à condição de líder de equipa pela inexplicavelmente má performance do campeão Sébastien Buemi, Oliver Rowland conseguiu com frequência pôr o Nissan em posições que não merecia estar. A inversão de papéis não pareceu ter sido inteiramente compreendida pela equipa. Tendo já sido a segunda escolha 3 anos antes face a Alexander Albon, Rowland não gostou de descobrir ao longo do ano que a Nissan não parecia disposta a aceitar a sua nova importância e acabou por trocar a estrutura pela Mahindra para 2022 (tinha-se já estreado na Fórmula E pelos indianos).
Isto não se pareceu refletir em performances menos bem conseguidas em pista. Enquanto que Buemi apenas pontuou por 3 vezes, o britânico fez 2 pódios. Que poderiam ter sido facilmente 3, caso Nick Cassidy não tivesse eliminado o homem da Nissan em Roma quando Rowland estava num dos seus melhores fins-de-semana. No total foram quase 4 vezes mais pontos somados na temporada que Buemi, a maior diferença do pelotão.
Com uma eficácia brutal durante o ano inteiro, houve espaço para grandes momentos de superação do material à disposição, como por exemplo com o 6º lugar do Mónaco ou o 4º lugar de Valência. De malas prontas para a aventura na Mahindra, uma coisa é certa: a Nissan sentirá grandes saudades do valoroso piloto originalmente contratado para ser a segunda figura.
10 – Robin Frijns

Tendo perdido o seu piloto estrela e não tendo conseguido, pela primeira vez na história da categoria, uma vitória na temporada, pode-se mesmo assim dizer que a Virgin fez uma performance bem-sucedida durante o ano. Promovido à condição de líder de equipa com a saída de Sam Bird, Robin Frijns teve que assumir as aspirações da equipa que utiliza os motores da Audi, até porque o colega de equipa era um estreante. E nessas funções o holandês fez um excelente trabalho.
Para além da ausência de triunfos, também os pódios foram poucos (apenas 2 em Diriyah e Mónaco, o último conseguido com uma ultrapassagem na linha de chegada sobre Mitch Evans). O verdadeiro trunfo de Frijns foi a maneira como acumulou colocações entre os 6 primeiros nas corridas, principalmente em e-Prix em que teve que começar de 15º para baixo, algo que ,devido à sua posição no Grupo 1 de qualificação, sucedeu com frequência. O 5º lugar na prova de Nova Iorque, por exemplo, foi conseguido a começar de uma posição similar à de Félix da Costa mas enquanto o português estagnou fora dos pontos, Frijns subiu com maestria.
A ausência de performance pura acabaria por tramar o piloto na segunda metade do ano, forçando-o a aproveitar as migalhas que pudesse encontrar. Frijns raramente arriscou mais do que devia durante o ano e tomou as suas oportunidades, garantindo uma renovação para mais um ano e mantendo a esperança de título acesa até aos derradeiros momentos. A forma da Virgin para 2022 pode ser incerta, com o fornecedor de motor de saída, mas o valor do holandês como um dos melhores do grid é inquestionável.