Segunda seguida para Cassidy – ePrix Mónaco 2023

7 05 2023

É difícil explicar com a devida importância aquilo que a Fórmula E passar a usar a extensão total do circuito de Monte-Carlo representou para o prestígio da categoria durante o fim-de-semana da corrida e para o seu futuro. Longe vão os tempos em que a FE era ridicularizada por “nem sequer” conseguir cumprir o traçado inteiro do Mónaco. A presença dos monolugares elétricos no mesmo traçado que os F1 dissipou essa nuvem.

Quase sem alterações desde o seu início em 1929, o GP do Mónaco possui, ainda que seja discutível os seus méritos, o Grade 1 da FIA a nível de segurança e, mais importantemente, quase não sofreu alterações desde a primeira prova nas ruas do Principado. O facto de barreiras TecPro e de pneus serem agora aquilo que ladeia a pista, ao invés de fardos de feno é uma importante mudança, no entanto.

Com uma importante parcela da aderência dos seus carros a provir de meios mecânicos e não aerodinâmicos, a FE conseguiu fazer do Mónaco um reduto de ultrapassagens de fazer inveja a qualquer outra categoria, para além de o vencedor do ePrix merecer muitas vezes o devido destaque no review da temporada (ou não tivesse sido a única vitória do campeão Vandoorne em 2022).

De perfil sinuoso, lento e sem retas que façam uma linha reta, o Mónaco na sua versão atual tem sido um dos grandes destaques do ano para a categoria.

Ronda 9 – ePrix do Mónaco 2023

Com uma certa inevitabilidade, dadas as médias de pontuação das últimas rondas, as marcas equipadas com motores Porsche foram ultrapassadas no campeonato pelas que utilizam unidades motrizes da Jaguar, ainda para mais através da marca cliente (Envision).

A Porsche tem-se mostrado incapaz de se qualificar em posições decentes em tempos recentes, o que, mesmo com bom ritmo de corrida, tem levado Pascal Wehrlein e António Félix da Costa a terem que se imiscuir nas complexas dinâmicas das lutas de meio da tabela. Em Monte-Carlo, o primeiro ainda conseguiu salvar um ponto enquanto que Félix da Costa teve que parar com um furo a meio da corrida.

Isto, misturado com uma consistência incrível de Nick Cassidy (desde a Índia que não sai do Top 5), fez com que a liderança do campeonato mudasse de mãos. Cassidy tem sabido acertar em cheio com o timing de quando passar para a frente da corrida e de como segurar os ataques dos rivais. O neozelandês voltou a ser brilhante em ambas as tarefas, voltando a vencer uma dobradinha de neozelandeses ao aguentar os avanços de Mitch Evans. Foi também, mais relevantemente, uma dobradinha de motores Jaguar.

Jake Dennis mostrou que a Andretti ainda poderá ter uma palavra a dizer, aguentando o lugar final do pódio, seguido dos dois primeiros de qualificação (Sacha Fenestraz e Jake Hughes) que voltaram a não ter ritmo de corrida suficiente para fazer frente aos mais rápidos. Fenestraz até tinha feito pole position originalmente, mas excedeu o limite de consumo de energia e entregou esses louros a Hughes.

Dan Ticktum chegou em 6º para dar à NIO o seu melhor resultado em prova desde os tempos de Nelson Piquet Jr, numa corrida tão cheia de momentos quanto o desbocado Ticktum parece geralmente ter. O britânico chegou a estar à frente da corrida, para além de também ter perdido a paciência perto do fim e ter acertado no carro que circulava à sua frente, perdendo parte da asa dianteira e apanhando Maximilian Günther de surpresa com gravidade suficiente para o alemão ter provocado o Safety Car.

Outro alemão que provocou SC foi André Lotterer logo no início, ao passo que pilotos como Jean-Éric Vergne souberam manter-se fora de sarilhos para ascender de 22º até 7º. O seu colega Stoffel Vandoorne terminou em 9º, e Sébastien Buemi assegurou o lugar que faltava nos pontos, em 8º.

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Qualificação: 1. Hughes \ 2. Fenestraz \ 3. Nato \ 4. Günther \ 5. Ticktum (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Dennis \ 4. Fenestraz \ 5. Hughes \ 6. Ticktum \ 7. Vergne \ 8. Buemi \ 9. Vandoorne \ 10. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Cassidy (121) \ 2. Wehrlein (101) \ 3. Dennis (96) \ 4. Evans (94) \ 5. Vergne (87) —– 1. Envision (182) \ 2. Porsche (169) \ 3. Jaguar (156) \ 4. Andretti (119) \ 5. DS Penske (115)

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Na Alemanha só vencem neozelandeses – ePrix Berlim 2023

23 04 2023

O Aeroporto de Tempelhof já tem um lugar reservado na História do mundo, como palco da famosa ponte aérea que os norte-americanos estabeleceram em Berlim durante a Guerra Fria, mas nos últimos anos tem-se transformado num dos mais conhecidos palcos da Fórmula E, com direito a decisões de título, provas caóticas e um traçado desafiante.

Utilizado pela primeira vez em 2015, o circuito foi alterado substancialmente a partir da sua segunda edição para a configuração atual (que até já foi corrida em sentido inverso). No seu total são 2,250 km de extensão e 10 curvas que os pilotos têm que negociar, com a vantagem de que têm os muros substancialmente mais longe do que nas outras provas da FE. As desvantagens são a falta de aderência e elevado consumo de pneus do traçado abrasivo.

Como ronda dupla novamente, Berlim surge no calendário como primeira prova europeia do ano e um mês após o ePrix de São Paulo (devido a alguns cancelamentos de última hora). Antes das provas de 2023, 3 pilotos partilhavam o maior número de vitórias (2): Sébastien Buemi, Lucas di Grassi e António Félix da Costa.

Ronda 7 – ePrix de Berlim (1) 2023

A qualificação para a primeira prova alemã trouxe duas caras bem familiares para o duelo final: Sébastien Buemi e Sam Bird competiram para no final ser Buemi quem levou a melhor (tornando-se o recordista absoluto da Fórmula E).

Na partida para a corrida, no entanto, foi Dan Ticktum quem surpreendeu toda a gente ao partir de 4º cheio de vontade, passando Buemi por fora na longa primeira curva para colocar a NIO na frente. Com a sucessão de Attack Modes acabaria por perder essa liderança, mas quando a prova ia a meio ainda estava em competição. Até que se esqueceu de verificar o exterior de uma curva onde Stoffel Vandoorne já se encontrava. O resultado foi que ambos terminaram aí os seus dias, ficando a discutir acesamente na berma da estrada.

Isto gerou um período de Safety Car, que viu os dois Jaguar e Buemi disputarem a vitória após o recomeço. Buemi, que também utilizava propulsores da Jaguar, ainda continuou a fazer o seu melhor para segurar um potencial primeiro triunfo com a Envision, mas acabou por sucumbir a um ataque bem temporizado de Mitch Evans. A última volta não ajudou: Sam Bird roubou o 2º posto de forma limpa e Maximilian Günther roubou de forma aparatosa o 3º.

O resultado final foi uma dobradinha bem saborosa para a Jaguar e um primeiro pódio para a Maserati, que deve ter deixado a antiga Venturi bem aliviada (até porque Edoardo Mortara também pontuou). Pascal Wehrlein ainda conseguiu limitar os estragos, enquanto que Nick Cassidy chegou em 5º, para mais um bom resultado conjunto da Envision em 2023.

António Félix da Costa partiu de 19º mas, a 8 voltas do fim, já tinha recuperado até ao 4º posto quando uma travagem completamente falhada por Jake Dennis atirou o homem da Andretti em cheio contra o Porsche do português e lhe terminou a prova.

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Qualificação: 1. Buemi \ 2. Bird \ 3. Vandoorne \ 4. Ticktum \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Günther \ 4. Buemi \ 5. Cassidy \ 6. Wehrlein \ 7. Vergne \ 8. Lotterer \ 9. Mortara \ 10. Rowland (Ver melhores momentos)

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Ronda 8 – ePrix de Berlim (2) 2023

Com piso molhado até ao final de qualificação, a segunda prova de Berlim trouxe como surpresa o facto de a ABT ter conseguido fechar a primeira linha da grelha para o ePrix, com o experiente Robin Frijns a vencer o colega de equipa Nico Müller na final. O tempo seco, no entanto, acabou por significar que os monolugares alemães começaram a cair ao longo da prova até que apenas Müller conseguiu pontos em 9º.

Fazendo uso do ritmo do seu Envision, acabou por ser Nick Cassidy quem conseguiu vencer em Berlim, depois de reclamações bem sonoras no rádio contra Buemi durante a qualificação. O neozelandês (mais uma triunfar na Alemanha em 2023) terminou na frente de alguém que precisava de compensar a sua terrível primeira prova: Jake Dennis.

A completar o pódio chegou Jean-Éric Vergne da DS Penske, que parece estar a ganhar embalo para o seu ritmo dos anos recentes Techeetah. Evans voltou a somar pontos importantes para se aproximar da luta pelo título, enquanto que os Porsche voltaram a fazer uma pontuação dupla em território caseiro.

A Maserati conseguiu pontuar pela segunda prova seguida, cortesia de Günther, enquanto que Ticktum compensou um pouco o disparate de sábado ao amealhar o último lugar pontuável de domingo.

De destacar ainda a interrupção momentânea da partida devido a protestantes que entraram em pista e tentaram interromper os procedimentos, apesar de terem sido corridos do traçado com alguma rapidez pelos seguranças. Os protestantes pelo clima conseguiram a proeza de interromper um evento de veículos elétricos que se orgulha do seu estatuto carbon neutral

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Qualificação: 1. Frijns \ 2. Müller \ 3. Buemi \ 4. Vergne \ 5. Evans (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Vergne \ 4. Evans \ 5. Félix da Costa \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Müller \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (100) \ 2. Cassidy (96) \ 3. Vergne (81) \ 4. Dennis (80) \ 5. Evans (76) —– 1. Porsche (168) \ 2. Envision (153) \ 3. Jaguar (138) \ 4. DS Penske (107) \ 5. Andretti (103)

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Vergne segura tudo e todos – ePrix Hiderabade 2023

11 02 2023

O desejo da Fórmula E competir em território indiano é já antigo. Tendo uma equipa “da casa” integrada no campeonato desde a primeira hora (Mahindra), o facto de o ePrix de Putrajaya apenas ter aguentado durante dois anos levou a que os organizadores da categoria tenham começado a procurar alternativas na Índia.

A escolha recaiu sobre Hiderabade, mais especificamente à volta do Complexo do Secretariado e através do Parque Lumbini, nas margens de um lago artificial (o Hussain Sagar). As discussões já teriam andado sérias entre a cidade e a FE antes do princípio do período agudo da pandemia, mas atrasaram por esse mesmo motivo. A confirmação da adição ao calendário chegou nos meses finais de 2022.

Idealizado pela mesma empresa que já desenhara o circuito do Abu Dhabi (Driven International), o circuito inicialmente tinha tido dois projetos, mas os pilotos que guiaram em simuladores o preterido tinham-no descrito como tendo um “formato de dildo” (Norman Nato). A sua rejeição não surpreendeu, quando anunciada.

A pista já recebeu um evento da Indian Racing League, sendo previstas provas da Fórmula Regional Indiana e a F4 Indiana.

Ronda 4 – ePrix de Hiderabade 2023

Ainda nem tinham os treinos livres começado na sexta-feira e ja haviam problemas a apontar em relação à organização da prova inaugural de Hiderabade. Com base na insatisfação entre o público e a polícia local, carros de estrada e transeuntes ultrapassaram as barreiras da pista e circulavam no traçado meros momentos antes de ser suposto estarem monolugares a correr.

Mesmo dentro do paddock houve algumas chatices, com a FIA a não ter gostado da proximidade de pessoas às barreiras e a ter que fazer uso de segurança adicional.

Em qualificação também houve direito a peculiaridades, com os limites de pista a serem excedidos com frequência nos quartos-de-final. Num deles reverteu um resultado a favor de Jean-Éric Vergne. No outro penalizou ambos e deixou o francês a fazer uma meia-final sozinho…

A pole, num duelo eletrizante entre Mitch Evans e Vergne, deu vitória ao homem da Jaguar.

Na partida, Evans conseguiu segurar a sua liderança e iniciou aquilo que prometia ser um duelo de prova inteira com Vergne e os dois Envision, mas as coisas rapidamente se complicaram quando Sam Bird não ponderou bem uma ultrapassagem e eliminou ambos os carros da Jaguar quando estavam em posições cimeiras. A equipa cliente Envision aproveitou a forma dos britânicos para lutar pela vitória.

Vitória que acabaria por não escapar a Vergne, que soube gerir com incrível precisão os seus consumos de energia e segurar Nick Cassidy (e a maioria do pelotão, diga-se de passagem, que no final da prova já circulava em fila nariz com asa) para dar à parceria DS Penske a sua primeira vitória, apesar de ainda faltar um certo ritmo ao carro americano.

Os Envision teriam ficado donos do resto das posições do pódio, não fosse uma penalização a Sébastien Buemi. O beneficiado com o 3º lugar foi António Félix da Costa (a completar a prova número 100 na categoria), que admitiu ter beneficiado da confusão para obter o seu resultado.

Foram muitos abandonos ao longo da corrida, chegando a haver Safety Car para abandono de Jake Hughes. O resultado disto foi o melhor resultado em alguns anos da NIO 333 (5º posto para Sergio Sette Câmara) e ótimas posições nos pontos para a Mahindra (6º de Oliver Rowland) e Nissan (7º de Norman Nato).

A Maserati continua a demonstrar algumas dificuldades, enquanto que a McLaren teve o seu primeiro fim-de-semana negativo desde que entrou na Fórmula E.

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Qualificação: 1. Evans \ 2. Vergne \ 3. Buemi \ 4. Fenestraz \ 5. Günther (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Vergne \ 2. Cassidy \ 3. Félix da Costa \ 4. Wehrlein \ 5. Sette Câmara \ 6. Rowland \ 7. Nato \ 8. Vandoorne \ 9. Lotterer \ 10. Mortara (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (80) \ 2. Dennis (62) \ 3. Vergne (31) \ 4. Buemi (31) \ 5. Cassidy (28) —– 1. Porsche (101) \ 2. Andretti (78) \ 3. Envision (59) \ 4. McLaren (53) \ 5. Jaguar (42)

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Fontes:
Racing Circuits \ Hiderabade
Sportstar \ Trânsito em pista





Os imparáveis Dennis e Wehrlein – ePrix Diriyah 2023

28 01 2023

Fora da etapa de abertura do campeonato pela primeira vez em dois anos, não foi necessário esperar muito após a primeira ronda para que a etapa saudita da época fizesse a sua aparição como ronda dupla. Localizada em Diriyah, nas redondezas da capital Riade, a pista foi a primeira prova noturna da história da FE a partir de 2021, conferindo-lhe um talismã de atração.

Circuito desafiante e com amplas possibilidades de ultrapassagem, Diriyah tem sido utilizado pela Arábia Saudita como parte da sua estratégia de limpeza de imagem internacional através do desporto. Aliás, também presente na grelha de partida a partir desta temporada está a McLaren com o patrocínio da Neom (projeto turístico saudita), como prova deste investimento.

Em termos de ação em pista, esta processa-se num circuito com 2,5 km e 21 curvas, que atravessa uma área com património mundial da UNESCO e que por isso contou com cuidados especiais na idealização do projeto. Alterações adicionais foram introduzidas em 2018.

Sam Bird permanece como o maior vencedor da história deste ePrix (com duas), sendo que os mais recentes vencedores antes da prova eram Nyck de Vries e Edoardo Mortara. Kelvin van der Linde assumiu o lugar de Robin Frijns na ABT Cupra, uma vez que o holandês ainda está a recuperar do seu pulso partido da primeira ronda.

Ronda 2 – ePrix de Diriyah (1) 2023

Numa sexta-feira, e logo com grandes dificuldades para os fãs e assistir ao vivo, verificou-se mais uma vez uma performance absolutamente genial dos carros equipados com motores da Porsche. Jake Dennis (Andretti) e Pascal Wehrlein (Porsche) não chegaram aos quartos de final da qualificação por uma mistura de fatores, mas a maneira incrível como foram ultrapassando a concorrência durante a prova significou que ambos voltaram a terminar entre os dois primeiros (mas agora por ordem inversa, com Wehrlein a triunfar).

O outro Porsche de António Félix da Costa acabou por ser uma das vítimas inocentes de uma travagem brusca de Mitch Evans, ficando sem a asa dianteira e tendo que parar nas boxes.

O pole Sébastien Buemi conseguiu puxar o seu Envision até ao topo da qualificação, mas acabou por não conseguir deixar escapar à justa o pódio, perdendo o 3º lugar para o Jaguar de Sam Bird. Jake Hughes, que Buemi derrotou na final, caiu ainda mais baixo para 8º (atrás do colega McLaren René Rast em 5º).

Já Dan Ticktum, que brilhou nos treinos e qualificação, acabou por não conseguir manter o seu NIO 333 nos pontos, suspeitando-se que a performance de longo curso dos chineses ainda deixa muito a desejar.

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Qualificação: 1. Buemi \ 2. Hughes \ 3. Bird \ 4. Ticktum \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Bird \ 4. Buemi \ 5. Rast \ 6. Cassidy \ 7. Vergne \ 8. Hughes \ 9. Lotterer \ 10. Evans (Ver melhores momentos)

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Ronda 3 – ePrix de Diriyah (2) 2023

Se a primeira prova de Diriyah tinha trazido uma recuperação de grande nível de Wehrlein e Dennis, a segunda trouxe precisamente a mesmíssima coisa. As unidades motrizes da Porsche somam assim três dobradinhas consecutivas e os dois pilotos prosseguem o seu distanciamento face aos rivais na luta pelo título.

Sam Bird quase que repetiu o pódio de sexta-feira, mas acabou por se quedar por 4º, logo atrás do primeiro pódio da McLaren cortesia de Rast. Já o outro McLaren teve um dia bem mais interessante: Hughes colocou o seu carro em 1º lugar na qualificação, acabando por perder a liderança face à concorrência ao longo da prova antes de perder energia a caminho da reta, perdendo algumas posições extra e inadvertidamente atrasando o Jaguar de Evans (literalmente, preso atrás dele).

Buemi prosseguiu a sua melhoria de forma de 2023, acabando com o seu Envision / Jaguar mesmo na frente do Jaguar de Evans e do Nissan (a sua antiga equipa) de Sasha Fenestraz.

A Maserati conseguiu abrir a sua conta de 2023 finalmente, através de Edoardo Mortara e a NIO 333 fez o mesmo com Dan Ticktum. Já Félix da Costa qualificou-se em 17º e ainda recuperou 6 posições, terminando mesmo à beira de pontos.

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Qualificação: 1. Hughes \ 2. Evans \ 3. Rast \ 4. Buemi \ 5. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Rast \ 4. Bird \ 5. Hughes \ 6. Buemi \ 7. Evans \ 8. Fenestraz \ 9. Mortara \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (68) \ 2. Dennis (62) \ 3. Buemi (31) \ 4. Bird (28) \ 5. Hughes (27) —– 1. Andretti (76) \ 2. Porsche (74) \ 3. McLaren (53) \ 4. Envision (41) \ 5. Jaguar (39)

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ePrix Diriyah anterior: 2022





Muitas incógnitas na Gen 3 da Fórmula E

7 01 2023

Já são três temporadas consecutivas em que as temporadas de Fórmula E, que deveriam incluir dois anos do calendário, incluem apenas um único ano. A pandemia provocou o caos na logística da categoria elétrica e os estragos ainda se notam na idealização do calendário. Ainda não foi este ano que se viu a temporada 2022/23. O que deve ter sido motivo para grandes festejos, dado o nascimento difícil dos novos carros de FE, os Gen 3.

Uma sessão de pré-temporada em Valência nem sempre revela demasiado, uma vez que se trata de um tipo de circuito que os monolugares raramente enfrentam durante a temporada. Desta vez, no entanto, serviu para dar um alerta geral às equipas: a fiabilidade dos novos modelos está pelas ruas da amargura…

Para além das preocupações gerais com quantos carros conseguirão de facto chegar ao fim da prova da Cidade do México, os pilotos têm reportado que a potência extra e menor peso não se estão a traduzir em ganhos significativos de performance (para já) e, mais grave, já ocorreram alguns incidentes em pista de impactos fortes (para grande irritação de pilotos como Sébastien Buemi).

Nem tudo são más notícias. Estruturas novas entrarão em ação este ano, com apoios oficiais de construtoras automóveis, as credenciais verdes da categoria não param de subir, há duplas de pilotos extremamente interessantes, e uma margem de progressão potencialmente grande no que toca a desbloquear o potencial dos novos monolugares (e dos novos pneus Hankook).

A Mercedes saiu e agora?

Costuma ser incomum ver um piloto de automobilismo abandonar a categoria no ano a seguir a conquistar o título, mas ainda mais incomum é que uma equipa inteira abandone a competição como bicampeã em título.

A estrutura da equipa alemã não saiu propriamente por vontade própria, tendo que ceder o seu espaço na grelha por vontade da casa-mãe de Estugarda. Os seus dois pilotos sumiram-se (o campeão de 2022, Vandoorne, para a DS Penske e o campeão de 2021, de Vries, para a F1), mas Ian James, o chefe da equipa, pareceu decidido a não ter o mesmo fim que a Audi na FE. Negociando com a McLaren e o projeto Neom (da Arábia Saudita), James conseguiu transformar-se numa equipa cliente (os propuslores foram contratados à Nissan) e conseguiu os serviços de pilotos como René Rast e Jake Hughes para solidificar o projeto.

A recompensa por estes esforços é que a McLaren se apresentou como uma das equipas que mais impressionaram na curta sessão de testes de Valência, andando pelos lugares da frente e com uma quilometragem de fazer inveja às outras equipas. Resta ver como lidarão com não terem a vantagem das melhores unidades de potência ao seu serviço.

Como se comportarão os dragões, tridentes e estreantes?

Não é só a McLaren a aparecer de cara lavada em 2023.

Aparecendo como equipa privada que incomoda as de fábrica ao longo dos últimos anos, foram poucas as pessoas que não tenham ficado com uma forte expectativa de ver o que a antiga Venturi conseguiria fazer nesta transformação para estrutura oficial da Maserati (grupo Stellantis). A avaliar pelos testes de Dezembro, há razões de sobra para as rivais se preocuparem. Os italianos não só contaram com o sempre excepcional Edoardo Mortara no seu nível habitual, como ainda viram Maximilian Günther a mostrar que a sua forma no ano passado na Nissan não era motivo para preocupação.

Outra estrutura que parece não ter perdido nada com as mudanças foi a “vizinha” da Stellantis, a DS. Campeã durante 2 anos com a Techeetah, a marca francesa mudou-se para a Dragon Penske do fundo da grelha para a formar uma DS Penske que conseguiu atrair dois campeões de Fórmula E: Jean-Éric Vergne e o atual campeão, Stoffel Vandoorne. Quase nada da antiga equipa americana parece sobrar, resultando numa pré-temporada bem conseguida.

Finalmente, depois de um ano fora de competição, a ABT decidiu regressar à categoria elétrica do zero. Habituada a ser a estrutura oficial da Audi, a equipa alemã teve de se contentar desta vez em ser uma mera cliente da Mahindra, ainda que até neste ponto já tenham os olhos no futuro: a Cupra (Seat) será patrocinadora e possivelmente uma eventual fornecedora de motores. Aos comandos dos ABT andarão o consistente Robin Frijns e a incógnita Nico Müller.

Jaguar e Porsche tentam o salto definitivo

Não deixa de ser curioso que a Jaguar continue a vários níveis com a imagem de ainda não se ter juntado ao grupo das grandes estruturas da Fórmula E, quando já são alguns anos consecutivos a vencer provas na categoria e dois em que tem lutado pelo título. Das poucas equipas que não alteraram quase nada na sua estrutura para 2023, a marca britânica espera dar o passo final. Para isso conta com o piloto com mais vitórias de 2022, Mitch Evans, e espera contar com o Sam Bird confiante que esteve desaparecido nos últimos doze meses.

Pela primeira vez contarão com uma equipa cliente nas suas fileiras, tendo assinado com a Envision (depois de um longo relacionamento destes com a Audi). A Envision tem perdido algum do seu brilho de equipa da frente em anos recentes, assim como a sua ótima dupla Bird-Frijns. Mas nem tudo são más notícias: Nick Cassidy continua na equipa com que triunfou no ano passado, e o campeão Sébastien Buemi mudou de ares para recuperar a sua forma.

Já os motivos pelos quais a Porsche ainda não foi considerada uma equipa da frente não são difíceis de descortinar. Habituada a entrar numa competição e não demorar quase tempo nenhum até vencer, a Porsche apenas venceu pela primeira vez em 2022 e depois caiu de forma. Com os novos regulamentos deste ano, os alemães contam ajudar Pascal Wehrlein e o novo recruta António Félix da Costa a lutar pelos lugares cimeiros.

André Lotterer, que tinha até ao ano passado integrado a equipa, optou por se juntar a Jake Dennis na Andretti (fornecida agora pela Porsche). Os americanos têm conseguido lidar bem com a passagem de equipa oficial para equipa cliente, de tal forma que provaram a sua mais-valia para a Porsche. O que deixa no ar a ideia, conseguirão eles assumir o papel de estragar a festa à equipa principal (à semelhança da Venturi com a Mercedes).

A fugir ao fundo

Sendo verdade que as performances das novas unidades motrizes da Nissan não poderão ser questionadas, uma vez que a McLaren tem feito boa figura nos testes, perduram muitas dúvidas quanto à estrutura da equipa principal dos japoneses (principalmente desde que a DAMS abandonou os comandos ao grupo Renault). Quebrando por completo com o caminho que vinha a ser trilhado desde o início, a equipa apostou numa dupla completamente diferente para 2023, com Norman Nato (que já mostrou flashes de velocidade na categoria) e Sacha Fenestraz (que se estreará a tempo inteiro na FE, depois de ter mostrado muito valor nas categorias de promoção japonesas).

As capacidades de ambos os pilotos não estão em questão para este ano, já a habilidade de ambos para fazer ressuscitar o projeto Nissan na Fórmula E poderá ser mais complexo.

Quem não deverá contar com preocupações neste quesito é a Mahindra, que assinou com o campeão Lucas di Grassi no seu ataque às novas regras (onde se juntará à contratação do ano passado, Oliver Rowland). A equipa indiana tem procurado (com ocasional sucesso) ser produtora dos seus próprios motores de forma a ameaçar as grandes construtoras e tem vindo a aumentar as suas aspirações (como se vê pelo fornecimento à ABT). Resta ver se terão orçamento para aguentar estes desejos.

Tendo em conta tudo isto, parece difícil que não seja a NIO 333 a mais séria candidata ao fundo da grelha. A “prata da casa” que era Oliver Turvey não continuou a sua presença, mantendo-se antes Dan Ticktum (que terá internamente somado alguns pontos ao longo de 2022) com a adição de Sérgio Sette Câmara. Apesar de a qualidade de ambos não ser questionável, no contexto da Fórmula E não mostraram ainda o suficiente para poderem ser considerados pilotos de topo. Juntando a isto os baixos quilómetros acumulados em Dezembro, parece difícil que a equipa ambicione muito mais do que tem vindo a conseguir.

A nova cara da Fórmula E

Já é tradição que uma temporada de Fórmula E só esteja verdadeiramente definida quando a última corrida se avizinha, e 2023 traz mais do mesmo. As adições da Cidade do Cabo e Hiderabade tiveram os seus traçados oficiais por oficializar até menos de um mês de se realizarem as suas provas. As diversas tentativas de realizar provas em território chinês continuam a redundar em fracasso devido às políticas Covid do Governo do país. As provas de Nova Ioque tiveram que ser substituídas por uma ronda em Toronto devido a expansões nos terminais do ferry.

O resultado é um calendário com 16 em vez de 18 corridas como originalmente projetado, mas com ainda mais rondas duplas que as que idealmente gostariam.

Restando ainda ver os efeitos práticos dos novos monolugares na primeira prova do ano, sabemos já a nova imagem da Fórmula E num sentido literal, com o novo logotipo apresentado no final de 2022, que simboliza muitas das mudanças que a categoria tem feito para se legitimar (e cujo principal expoente é o fim do Fan Boost).

Para 2023, as incógnitas são muitas. Veremos quem sairá por cima na próxima semana na Cidade do México.





O que sabemos da Fórmula E 2022/23

11 05 2022

Enquanto a sua temporada atual continua a fazer uso da Geração 2 de monolugares elétricos, a Fórmula E prepara o grande passo que a sua Geração 3 representará para o futuro da categoria. Especificamente, com uma apresentação nos dias antes do e-Prix do Mónaco.

Em termos simples, a nova geração trará melhorias a nível de: potência, com um motor elétrico de 350 kW (e regeneração a mais do dobro, com 600 kW); peso e tamanho, com menos 60 kg no total e redução de 15 cm de comprimento (e 7 cm de largura); carregamento rápido das baterias, que se acredita ser 4 vezes superior aos carregadores de mercado; e pneus de materiais reciclados, com o novo fornecedor Hankook.

Em termos mais completos:

Gen 1Gen 2Gen 3
Comprimento5,32 m5,16 m5,016 m
Largura1,78 m1,77 m1,70 m
Peso (com piloto)920 kg900 kg840 kg
Potência200 kW250 kW350 kW
Regeneração100 kW250 kW600 kW
Velocidade máxima225 km/h280 km/h322 km/h
TraçãoTraseiraTraseiraDianteira e Traseira

O Gen 3 já completou mais de 5600 km de testes, incluíndo testes das equipas ao novo carro numa data a anunciar.

Quem é quem

Os abandonos de Audi, BMW e Mercedes abriram a porta a um fenómeno pouco usual na FE: o aumento da quantidade de equipas clientes.

As equipas serão 12 (a Abt anunciou o seu regresso depois de ter saído com a Audi em 2021) e parece que de entre as marcas automóveis envolvidas nenhuma fornecerá mais do que 2 estruturas ao mesmo tempo.

O abandono da Mercedes parece ir levar a uma aquisição da estrutura da parte da McLaren, que por sua vez terá alegadamente já garantido o fornecimento de propulsores da Nissan. A marca japonese já garantiu também a continuação da sua equipa de fábrica, agora completamente adquirida à DAMS.

Envision e Andretti, que ficarão sem os seus fornecedores atuais no final deste ano, já asseguraram a sua presença como equipas cliente para 2023, chegando a acordos com Jaguar e Porsche, respetivamente (no último caso ainda falta confirmação). Qualquer uma das duas marcas automóveis também já garantiram a presença das suas equipas de fábrica, também.

A novata Maserati já chegou a acordo com a Venturi (atual cliente da Mercedes) para 2023, com uma situação mais parecida à da DS e Techeetah atualmente. Falando na Techeetah, a DS já tratou de esclarecer que terminará o seu envolvimento com a equipa chinesa (muito por culpa das constantes dúvidas sobre a sua saúde financeira) para se aliar à pouco competitiva Dragon Penske (que parará de fabricar os próprios motores). A Techeetah permanece sem planos claros para o futuro.

Por último, a Mahindra e a NIO continuarão a produzir unidades para si próprias e sem clientes.

Marca AutomóvelEquipas
DSDragon Penske
JaguarJaguar
Envision
MahindraMahindra
MaseratiVenturi
NIONIO
NissanNissan
McLaren?
PorschePorsche
Andretti?
?Abt
Techeetah

A dança das cadeiras

Neste quesito ainda se sabe muito pouco, uma vez que, ao contrário da Fórmula 1, as equipas de Fórmula E gostam de anunciar os seus planos neste campo já bem depois de ter terminado a temporada anterior.

Só que, pouco caracteristicamente, até se sabe alguma coisa sobre o que aí vem na categoria.

Na Jaguar a dupla atual de Mitch Evans e Sam Bird já está confirmada para 2022/23, enquanto que na futura DS Dragon Penske a dupla de pilotos será de Jean-Éric Vergne (fiel ao grupo DS, até por integrar a equipa Peugeot em Le Mans) e Stoffel Vandoorne (que “foge” da futura compra McLaren à Mercedes). O outro piloto Mercedes, Nyck de Vries, poderá estar de saída da categoria para o WEC (Toyota).

A Porsche (neste caso ainda sem confirmação, mesmo oficiosa) deverá anunciar no Verão a manutenção de Pascal Wehrlein e a substituição de André Lotterer por António Félix da Costa. Félix da Costa não terá gostado de ficar de fora do programa Le Mans da Peugeot, deixando assim a Techeetah sem pilotos nem fornecedor de motores para 2022/23…

Os e-Prix

Como se sabe, a Fórmula E nunca foi muito boa a apresentar com antecedência o seu calendário de competição e este ano não é uma exceção.

Provavelmente, os dirigentes da categoria já ficarão felizes se conseguirem correr nas pistas que anunciarem oficialmente, algo que não tem sido possível nos dois últimos anos (marcados por rondas duplas e e-Prix cancelados).

Ainda assim, alguns circuitos têm já contratos. Alguns já são “prata da casa”, tal como Diriyah e Roma; outros vão regressar depois de uma ausência, tal como Paris; e outros são inteiramente novos, tal como São Paulo, Hiderabade, Cidade do Cabo ou Vancouver.

Todos estes são os que têm contrato, se bem que provas como o Mónaco, México, Nova Iorque ou Londres deverão marcar presença novamente com toda a certeza.

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Fontes:
Autosport \ Especificações Gen 3
The Race \ Especificações Gen 3
The Race \ Movimentações de pilotos





Evans com tudo – e-Prix Roma 2022

11 04 2022

O cancelamento das provas de Março da Fórmula E criou um espaço de quase dois meses entre ePrix, finalmente terminado com a corrida de Roma (que passou a dupla ronda para manter o número de ePrix total da temporada).

A primeira ronda europeia do ano é bastante popular entre os pilotos e mudou bastante as zonas da cidade por onde passa em 2021, de modo a poder perturbar menos o trânsito local (e com o espaço ao público a não ser tão importante como na estreia de 2018). O Obelisco di Marconi é um dos elementos centrais à volta dos quais o circuito corre com ondulações, elevações e superfícies diferentes.

As provas italianas chegaram numa altura em que o campeonato permanece tão imprevisível como sempre, com 3 vencedores diferentes em 3 e-Prix diferentes. Os vencedores de 2021, Stoffel Vandoorne e Jean-Éric Vergne, chegaram a território italiano sem terem ainda triunfado em 2022.

Mesmo antes do primeiro dos e-Prix surgiu também a notícia de acordo firmado entre Venturi e Maserati, para que a primeira passe a ser a equipa de fábrica dos italianos a partir de 2023. Integrante do grupo Stellantis, a Maserati assegura o seu futuro tal como a outra marca do grupo, a DS. Esta parece pouco disposta a continuar com a Techeetah e um acordo com a Dragon Penske foi alcançado.

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Ronda 4 – e-Prix de Roma (1) 2022

Os quase dois meses de paragem fizeram bem à Jaguar. A equipa britânica não tinha começado o campeonato deste ano exatamente com o pé direito, por isso quando ambos os carros falharam à justa a entrada nas eliminatórias de qualificação parecia uma continuação disso.

Nada mais longe da verdade. Mitch Evans partiu de 9º e passou a sua corrida entretido a fazer ultrapassagem atrás de ultrapassagem, culminando com uma manobra em Attack Mode em que atingiu a liderança e nunca mais a largou. Terminou com mais de 5 segundos de avanço sobre o pelotão e com mais 2% de energia restante que quase todos. Imparável. Até o colega de equipa Sam Bird se safou, fazendo um caminho semelhante de 13º a 5º.

A Mercedes quase ocupara a primeira linha da grelha, mas acabou com uma fraca consolação, com o abandono do campeão em título Nyck de Vries e com o pole position Stoffel Vandoorne sempre imiscuído na disputa da frente, mas sem nada melhor no final que o lugar mais baixo do pódio. Entre Vandoorne e Evans ficou o Envision de Robin Frijns, que passou o dia a arreliar os pilotos à sua volta, que possuíam material bem melhor.

Os DS Techeetah pareceram andar perto mas com falta de uma pitada de performance extra. A meio da corrida Jean-Éric Vergne e António Félix da Costa começaram a afundar (o último com a ajuda de toques agressivos como o de Jake Dennis, que foi penalizado), mas acabariam por recuperar posições suficientes para um resultado conjunto aceitável de 4º e 6º.

Destaque ainda para os preciosos pontos somados por Edoardo Mortara e Pascal Wehrlein para os seus campeonatos, e para o engarrafamento provocado quando Oliver Rowland sofreu um toque e ficou parado em pista no início da prova (com direito a Safety Car).

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Qualificação: 1. Vandoorne \ 2. Frijns \ 3. de Vries \ 4. Félix da Costa \ 5. Vergne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Frijns \ 3. Vandoorne \ 4. Vergne \ 5. Bird \ 6. Félix da Costa \ 7. Mortara \ 8. Wehrlein \ 9. Cassidy \ 10. Lotterer (Ver melhores momentos)

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Ronda 5 – e-Prix de Roma (2) 2022

Não foi precisa uma recuperação tão grande quanto a de sábado para que Mitch Evans terminasse mais um e-Prix de Roma com a vitória. O neo-zelandês, com apenas 1 ponto nas 3 provas anteriores, acumulou 50 na capital italiana. Evans arrastou até o mais tarde possível a utilização do seu Attack Mode (apenas um de 7 minutos nesta ronda) e quando finalmente o accionou fugiu com facilidade na liderança. Se a Jaguar conseguir manter este ritmo nas outras provas, poderá ser um dos favoritos.

O pole Vergne voltou a brilhar no segundo dia, com manobras bem calculadas e uma velocidade nata, apesar de se ter mostrado frustrado pela maneira como os SC estavam permanentemente a mudar a estratégia de energia “a cada curva”. A liderança do campeonato, sem ainda ter triunfado, parece uma boa recompensa. Foi seguido pelo sempre regular Frijns no pódio, que continua a provar que não são precisas vitórias na FE desde que se seja consistentemente rápido.

A Porsche fez uma pontuação dupla, que os ajuda a manterem a disputa pelo título aceso, mas foi a pontuação dupla da NIO que mais impressionou, por já não ocorrer desde 2016, e por incluir o estreante Dan Ticktum ao experiente Oliver Turvey.

Claro que foi possível graças à chuva de penalizações que ocorreram por uma variedade de incidentes, como por exemplo as penalizações de tempo de Nyck de Vries e António Félix da Costa, em manobras que foram claramente acima do que deviam.

Destaque ainda para a boa temporada de Vandoorne, sempre a postos para colher todas as oportunidades que lhe possam vir, para a maneira como Bird acabou com uma boa corrida de recuperação de Nick Cassidy, e para 2 pontos colhidos por Buemi para a Nissan.

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Qualificação: 1. Vergne \ 2. Dennis \ 3. Lotterer \ 4. Evans \ 5. Mortara (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Vergne \ 3. Frijns \ 4. Lotterer \ 5. Vandoorne \ 6. Wehrlein \ 7. Turvey \ 8. di Grassi \ 9. Buemi \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Vergne (60) \ 2. Frijns (58) \ 3. Vandoorne (56) \ 4. Evans (51) \ 5. Mortara (49) —– 1. Mercedes (94) \ 2. Porsche (85) \ 3. DS Techeetah (80) \ 4. Venturi (78) \ 5. Jaguar (73)

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Corrida anterior: e-Prix Cidade do México 2022
Corrida seguinte: e-Prix Mónaco 2022

e-Prix Roma anterior: 2021

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Fontes:
EVO India \ Acordo Maserati-Venturi
Grande Prêmio \ Acordo DS-Dragon Penske





Grandes esperanças no último ano da Geração 2 da Fórmula E

22 01 2022

O último ano foi de sentimentos muito mistos para a Fórmula E.

Houve uma corrida bem problemática em Valência que a categoria procurou diminuir até compreender os danos de imagem provocados. O modelo de negócios da categoria, baseado em trazer o desporto até ao público das cidades foi afetado severamente com a impossibilidade de concentrar pessoas em plena pandemia. Audi, BMW e Mercedes anunciaram o seu abandono.

Mas também houve um campeão novo sob a forma de Nyck de Vries no seu Mercedes, um triunfo bastante popular. Também ocorreu um dos melhores e mais bem-disputados e-Prix de sempre no traçado completo do Mónaco, expondo o quanto os carros de F1 são maus em promover ultrapassagens. E houve inscrição provisória da McLaren na categoria, evitando que a grelha seja composta de 22 carros por mais do que um ano.

Alejandro Agag está, portanto, a liderar uma categoria de automobilismo que enfrenta uma encruzilhada. Os custos baixos até aqui promovidos tinham vindo a aumentar as marcas envolvidas mas agora começaram a voltar-se contra a Fórmula E: foram conseguidos às custas de baixar o desenvolvimento tecnológico, algo que levou à saída da Mercedes (apesar de Agag dizer que não entendeu). E nem estavam a funcionar. A escalada de custos estava a deixar equipas para trás e levou ao recente anúncio de que um tecto orçamental de 13 milhões de euros a partir de 2023.

Esta disposição de corrigir erros tem sido o grande trunfo da categoria de Agag. O muito criticado sistema de qualificação vai ser mudado para este ano, com um novo sistema de eliminatórias. O caos de Valência será evitado no futuro com as novas normas sobre quando retirar energia durante Safety Cars. Adapabilidade é a palavra-chave para a Fórmula E, e é o que os tem levado a sobreviver até aqui, contra as expectativas de muitos.

Com a nova Geração de carros a estrear em 2023, 2022 trará um último desafio para a bem-sucedida Gen2. Mas determinar a ordem de rodagem pode não ser tão simples como parece.

Vini, vidi, vici: e agora, Mercedes?

O trajeto da Mercedes no campeonato de Fórmula E assemelha-se a um conjunto de linhas-guia para a formação perfeita de uma equipa campeã na categoria. Os alemães passaram um ano (2018-19) sob a capa de estrutura não-oficial com a HWA Racelab antes de colocarem a estrela de três pontas no ano seguinte e vencerem a sua primeira corrida. Na segunda temporada seguiu-se o título mundial do ano passado. E agora o abandono da competição para final deste ano.

A casa-mãe justificou o fim do envolvimento com os ganhos de conhecimento cada vez mais limitados da Fórmula E devido aos limites de tecnologia aplicados de modo a manter os custos baixos (mesmo assim estima-se que as equipas de topo estejam a gastar entre 55 e 65 milhões de euros por ano), referindo que a Fórmula 1 lhes é mais apetecível nesse quesito (algo que Alejandro Agag não terá gostado de ouvir).

2022 será, portanto, um ano em que não só os membros da equipa procurarão manter os títulos de pilotos e equipas conquistados, como também de chegar a um acordo para a manutenção no grid num futuro próximo. No último quesito, tem corrido o rumor de que a equipa de Brackley possa chegar a um acordo de fornecimento de motores com a Jaguar.

Com a mesma dupla de pilotos, a Mercedes terminou os testes de pré-temporada entre as primeiras classificadas com direito à maior quilometragem de todos. Stoffel Vandoorne estará determinado em provar que foi apenas o azar que o travou em 2021 e Nyck de Vries em provar que não foi campeão só pela hecatombe de Valência (tendo-se mostrado muito defensivo no podcast do The Race sobre o assunto).

Jaguar e Techeetah em busca de vingança

Derrotadas por margens mínimas no ano passado, a Jaguar e a Techeetah apresentam-se a combate este ano com o intuito de corrigir os erros anteriores.

Para a tri-campeã Techeetah será um ano para recuperar a iniciativa, tendo operado em 2021 com um carro que os seus dois pilotos não acreditaram estar ao nível das duas rivais principais (a prova é que ficaram em 3º) e dúvidas permanentes sobre o futuro dos donos da estrutura. As unidades de potência da DS serão fundamentais para Jean-Éric Vergne e António Félix da Costa, bem rápidos nos testes, restando ver como a instável dinâmica dos dois funcionará. Félix da Costa não terá apreciado o que sentiu ser um snub do grupo Stellantis sobre uma participação sua em Le Mans. Já Vergne estará determinado em não permitir uma terceira derrota interna consecutiva para o colega.

Na Jaguar há uma sensação de oportunidade perdida, depois do melhor ano da equipa na categoria. No entanto, há vários fatores mitigantes que os entusiasmam para este ano.

A contratação de Sam Bird deu à equipa um rival à altura de Mitch Evans, com os dois a cooperarem de forma relativamente harmoniosa em 2021. Os regulamentos estáveis para o novo ano e um segundo ano de parceria entre ambos só poderão dar alento aos britânicos para finalmente atingirem a glória máxima de uma fórmula a que pertencem desde 2016.

Nissan e Porsche, quando acordam os gigantes adormecidos?

Se é verdade que as equipas de construtoras automóveis têm vindo a dominar os lugares cimeiros da grelha, a verdade é que há dois que deixaram algo a desejar em 2021.

Nissan e Porsche têm historiais muito diferentes na categoria elétrica, mas algo comum que não gostariam de ter: 0 vitórias.

No caso da Porsche houve doses generosas de azar à mistura. O e-Prix de Puebla devia ter dado a Pascal Wehrlein e à equipa alemã a sua primeira vitória mas uma desclassificação por razões que não influenciaram a performance foi um golpe cruel. A equipa acabaria o campeonato atrás até das privadas Virgin e Venturi, muito por culpa de um ano terrível de André Lotterer. O segundo piloto da equipa envolveu-se em constantes incidentes quando 2021 pedia consistência em pontuar.

A manutenção da mesma dupla de pilotos foi a justa recompensa de Wehrlein mas uma bóia salva-vidas para Lotterer. Um recuperar do segundo será de enorme influência nos resultados da marca, até porque os tempos da pré-temporada não foram terríveis.

O comprometimento da Porsche com a categoria também parece sólido: intensificaram-se os rumores de que poderão fornecer a Andretti para a Geração 3, inclusive.

Já a Nissan, operada pela DAMS, tem vindo a entrar numa estranha espiral de queda de performance. O melhor piloto da estrutura, Oliver Rowland, abandonou por sentir não estar a ser levado a sério. O seu substituto, Maximilian Günther é uma boa escolha (desde que saiba temperar os excessos que o caracterizaram na BMW).

Contra os japoneses jogam dois fatores: Sébastien Buemi e o ritmo do novo motor. Buemi, campeão de FE e de WEC, passou um ano humilhante em 2021, batido em toda a linha por pilotos que tinha a obrigação de estar equiparado. Se não recuperar em 2022, nem o carro o deverá ajudar: Valência pareceu mostrar que a Nissan está em antepenúltima em performance pura…

Número de “privados” aumenta

A saída de cena de Audi e BMW não foi acompanhada por todas as estruturas. A Envision (ex-Virgin) continuará no ano final da Geração 2 com propulsores da Audi, enquanto que a Andretti fará o mesmo com a BMW. A julgar pelos testes de pré-temporada poderemos ver ambas as estruturas com mais dificuldades sem o apoio oficial, ainda que tenham mantido os seus pilotos de 2021 (exceção para Oliver Askew, novo na Andretti).

Robin Frijns (Envision) e Jake Dennis (Andretti) fizeram grandes temporadas no ano passado e será interessante ver o que conseguirão fazer neste ano, possivelmente com um olho em estruturas melhores para 2023. Já Nick Cassidy terá que ser mais consistente para manter o seu espaço na Envision.

A privada mais perigosa, no entanto, deverá ser a Venturi. Com energia Mercedes, Susie Wolff a CEO, o vice-campeão em título na forma de Edoardo Mortara e o campeão de 2016-17 Lucas di Grassi a procurar refúgio pós-Audi. São argumentos de muito peso para um ano em que nada mudou “a sério” na categoria, e terem sido a única equipa a descer aos 1m25s7 foi uma boa demonstração da força que esta Venturi poderá ter nas circunstâncias certas. Com um Mortara sempre capaz de fazer mais do que o equipamento em mãos e di Grassi a não querer ser batido pelo novo colega, é difícil que não estejam reunidas as condições certas.

Quem continua a não parecer ter as estrelas alinhadas para mais uma temporada são as duas equipas do final da grelha, Dragon/Penske e NIO. No que toca à equipa de Jay Penske o que parece faltar é uma direção clara. A manutenção de Sérgio Sette Câmara parece acertada mas resta ver que motivação terá Antonio Giovinazzi no seu exílio da F1 e que género de potência estará o próprio motor a debitar.

Na NIO o sempre competente Oliver Turvey (um de 3 Olivers na grelha) carimbou o passe para mais um ano de competição e receberá a companhia do mercurial Dan Ticktum, vindo da Fórmula 2 (o inglês demonstrou alguma dificuldade em ganhar velocidade nos testes). Os orçamentos mais baixos da FE (10 milhões de euros) não estarão a ajudar a sair do buraco de performance (ou falta dela).

Por último vale a pena referir a Mahindra, geralmente capaz do melhor e do pior, que misturou a ótima decisão de assinar com o rápido Oliver Rowland e a terrível decisão de ficar com o mais lento dos dois Alexander de 2021 (Sims em vez de Lynn). Mas em 2021 houve direito a vitória da equipa de Dilbagh Gill, e nunca é inteligente descontar de consideração os carros indianos.

Menos rondas duplas, mais países?

O rascunho do calendário original da Fórmula E estava cheio de boas intenções. Havia provas na África do Sul, um regresso à China e a Marrocos, e uma quantidade muito mais pequena de rondas duplas (utilizadas para disfarçar a ausência de vários e-Prix). Só que a realidade teve a ideia de atirar com esse calendário pelos ares.

A África do Sul foi o local de chegada da nova variante de Covid-19, enquanto que Marrocos e China não quiseram eventos da dimensão da categoria. Pelo menos não enquanto os números de infetados estiverem como presentemente estão. Assim, foi necessário que Roma e Berlim fossem provas duplas novamente, e a FE ficou com um espaço de 2 meses sem corridas entre Fevereiro e Abril. Para já. Resta ver se não serão necessárias mais adaptações.

Nem tudo são más notícias. Desta vez os e-Prix começarão em Janeiro, ao contrário do que ocorreu em 2021. A Cidade do México está de volta. A Indonésia, a Coreia do Sul e Vancouver têm estreias planeadas para o final do ano e são algumas das mais antecipadas pelos pilotos. Um acordo foi obtido para a continuação do Mónaco em anos consecutivos.

Assim, ainda há potencial para 16 corridas entusiasmantes em 2022.

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Fontes:
The Race \ Budgets FE
The Race \ Porsche e Andretti
The Race \ Tecto orçamental





Top 10 da Fórmula E 2021

22 08 2021

Na elaboração de uma tabela de performances de qualquer categoria de automobilismo que não seja de marca única há espaço para grandes doses de subjetividade. É possível criar agumentos para combater esta tendência, no entanto. A elaboração de uma lista de performance por equipa e a de que pilotos deram mais do que os carros teriam para dar costuma ser um bom ponto de partida. Só que a Fórmula E de 2021 criou várias condicionantes que complicam estas contas.

Vários pole position de 2021 fizeram boas voltas, claro, mas a participação na sessão de Super Pole estar muitas vezes representada por pilotos fora do Top 10 do campeonato leva a que seja por vezes mais impressionante chegar à Super Pole começando no Grupo 1 de qualificação, que o 1º lugar em si… Similarmente, recuperações em corrida até aos últimos lugares dos pontos de alguns pilotos tiveram um sabor de vitória que vencedores de ponta a ponta não pareceram conseguir.

Isto não quer dizer que a temporada tenha sido uma que conseguisse fugir por completo a classificação.

Jaguar e Mercedes pareciam, desde os testes de pré-temporada, como as grandes favoritas e os dois primeiros lugares conquistados no campeonato refletiram-no. Ambas as estruturas, com dois pilotos de grande categoria, venceram provas em 2021 e sempre que ficavam a zeros em alguma prova recuperavam na prova seguinte. No extremo oposto, a NIO e a Dragon Penske voltaram a penar nas posições finais da grelha com frequência (apesar de ambas parecerem estar a tomar medidas, e da NIO já se ter comprometido com a geração 3 de carros).

Apesar das grandes estruturas terem com frequência chegado ao topo, isto não pareceu ser o único factor de relevância. A Nissan dirigida pela DAMS, estrutura com títulos nas 3 primeiras temporadas da Fórmula E, caiu a pique em comparação com o ano passado para a ante-penúltima posição do mundial e o seu líder Sébastien Buemi pareceu incapaz de ser competitivo. Enquanto isso a privada Venturi, fez um caminho inverso ao conseguir 2 triunfos e a colocação de Edoardo Mortara na luta pelo título sem ter um motor próprio (foi cliente da Mercedes) na reorganização levada a cabo nos últimos anos por Susie Wolff (agora com Jérôme d’Ambrosio também na chefia).

Pelo meio houve espaço para campanhas competitivas de BMW e Audi no último ano de participação, ainda que os motores da primeira continuem a equipar a equipa para o próximo ano (sob o nome da Andretti). A Porsche passou ao lado da sua primeira vitória por um erro burocrático que lhe saiu caro enquanto a Virgin continuou a fazer muito com bem menos que as rivais.

Com o objetivo de dar maior visibilidade a cada estrutura, com um sistema de qualificação que permitisse às equipas pequenas terem o seu momento para brilhar, a Fórmula E conseguiu ter 13 pilotos com possibilidade de título na última corrida mas viu o seu nome queimado como nunca antes, fruto de momentos como a retirada de energia exagerada no primeiro e-Prix de Valência, e mesmo algumas equipas questionaram abertamente a sensatez dos dirigentes da categoria. O abandono das marcas alemãs mostrou que nem tudo é risonho para o futuro da Fórmula E. A pandemia criou também um calendário flutuante a uma categoria dependente das corrida citadinas.

Ainda assim, não faltou espaço a excelentes exibições do grid. Vejamos abaixo quem mais talento espalhou pelas pistas.

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1 – Stoffel Vandoorne

Colocar como melhor piloto da temporada alguém que não venceu o seu colega de equipa pode parecer sacrilégio, mas a verdade é que, num ano decidido por margens curtíssimas, Stoffel Vandoorne teve múltiplas ocasiões em que deveria ter somado uma enormidade de pontos apenas para sofrer desventuras sem nunca ter um dedo de culpa. Quando não tinha nada no caminho, o belga mostrou porque a Mercedes o escolheu para liderar o assalto à Fórmula E desde os tempos da HWA.

Em Diriyah recuperou 7 posições para somar pontos no primeiro e-Prix, enquanto que no segundo foi impedido de se qualificar por os comissários terem obrigado os carros com motores Mercedes a provarem serem seguros depois de uma falha nos treinos livres. Uma pole em Roma foi anulada por André Lotterer, que o eliminou de prova e foi penalizado, e por Lucas di Grassi, do qual se teve de desviar contra o muro, mas na segunda corrida dominou a corrida para relançar o seu campeonato. Seguiu-se Valência em que fez pole novamente, só que teve de partir de último devido à Mercedes ter identificado mal os seus pneus. Com uma abordagem conservadora de energia, Vandoorne foi dos poucos a chegar ao fim da corrida e logo com um 3º lugar. O colega Nyck de Vries venceu, mas quem sabe o que seria possível fazer partindo da sua verdadeira posição de largada…

A 9 pontos da liderança do campeonato, Vandoorne começou a sofrer com ter que participar do primeiro grupo de qualificação. Isto levou a resultados quase nulos no Mónaco, Puebla e Nova Iorque. Liberto das amarras do Top 6 do campeonato, Vandoorne conseguiu voltar a brilhar em Londres. Depois de um 7º lugar na primeira corrida, o belga fez pole para a segunda e seguia nos lugares do pódio quando Oliver Rowland se acidentou contra ele, acabando com a prova de ambos. Foi o suficiente para acabar com as aspirações de título.

Na prova final, Vandoorne mostrou mais uma vez a sua classe. Com a missão de ajudar a Mercedes a conseguir ambos os títulos, o piloto fez (mais uma) pole e poderia ter ganho não fosse ter atrasado por várias voltas a ativação do seu Attack Mode. O motivo tornou-se óbvio quando o ativou: saiu mesmo em frente ao colega Nyck de Vries, dando-lhe o cone de ar durante o período normal do holandês em prova para que este subisse as posições necessárias ao seu título mundial. Mesmo com estas condicionantes acabou no pódio e a apenas 17 pontos de de Vries.

Que possa vir a ser preterido face a de Vries para um lugar na Fórmula 1 em 2022 por ter terminado atrás no campeonato devido a todos estes factores é mais um dos grandes azares de Vandoorne, num ano em que esteve irrepreensível.

2 – António Félix da Costa

Tal como o líder desta lista, António Félix da Costa teve uma temporada quase tão marcada pelos pontos que perdeu sem culpa própria como pelos seus pontos altos. A grande diferença entre ambos foi o equipamento à sua disposição (mesmo com a atualização após a primeira prova, o Techeetah nunca chegou a ter ritmo para fazer frente às equipas líderes numa luta de igual para igual), alguns erros mais que Vandoorne e nunca ter conseguido cooperar com Jean-Éric Vergne da mesma maneira que Vandoorne com de Vries (o temperamento de Vergne é também diferente do novo campeão).

A vitória em Monte-Carlo naquele que foi o melhor e-Prix do ano, contra a concorrência ferrenha de Mitch Evans e Robin Frijns, com direito a uma ultrapassagem na última volta por fora na chicane do porto contra Evans, foi o momento mais impecável do português em todo o ano. Foi um triunfo conseguido logo após Valência, onde liderou a primeira corrida inteira até a controvérsia da retirada de energia por parte dos comissários o deixar sem meio de locomoção na última volta.

Daí para a frente o piloto passou a temporada inteira a poucos pontos dos sucessivos líderes do campeonato, o que significou qualificar-se no temido Grupo 1. Isto ajuda a explicar a sucessão de lugares pontuáveis baixos (mas consistentes) que obteve daí para a frente em que geralmente tinha de recuperar vários lugares para os conseguir e onde se incluiu mais um pódio (Nova Iorque). Também se incluíram várias ocasiões em que foi eliminado pela concorrência em incidentes em que os rivais foram penalizados pelas manobras (por exemplo, André Lotterer em Londres ou Lucas di Grassi em Berlim, mesmo na fase crítica do ano).

O piloto, que também competiu com sucesso em endurance e Stock Car Brasil neste ano, bateu pela segunda vez em duas temporadas o bem cotado Vergne, um marco significativo. No entanto, a incerteza à volta da Techeetah, o relacionamento tenso com Vergne (tocaram-se em Diriyah e houve ordens de equipa em Berlim) e a alegada insatisfação com não ter sido chamado à aventura do grupo DS em Le Mans para 2022 deixam dúvidas sobre o futuro do português na categoria.

3 – Mitch Evans

Depois de uma temporada em que estivera com grandes hipóteses de conquistar o título até as 6 rondas de Berlim lhe estragarem os planos, Mitch Evans teve que abordar 2021 como um ano definitivo no que tocava às suas aspirações na Fórmula E e na Jaguar. Depois de uma sequência de colegas de equipa que não fizeram muito para ameaçar o seu estatuto na equipa, Evans viu a situação alterar-se com a contratação de Sam Bird. Bird mostrou ao que vinha logo na primeira etapa ao manter o seu recorde de único piloto a vencer em todos os anos da categoria.

Por isso Evans teve que subir de forma para conseguir competir. Respeitando ordens da equipa para não entrar em disputa com Bird em Roma de modo a assegurar um pódio duplo, Evans acabaria por fazer uso da consistência para se colocar a 4 pontos da liderança do campeonato após esse fim-de-semana. Depois das confusões de Valência, o piloto brilhou no Mónaco numa emocionante disputa por posição com Félix da Costa em que chegou a ultrapassar o campeão em título por fora na subida de Beau Rivage.

Percebendo rapidamente que a chave do campeonato de 2021 seria conseguir todos os pequenos pontos possíveis, Evans conseguiu pontos nas duas provas de Puebla e parecia ir acumular muitos mais em Nova Iorque quando um pequeno toque no muro lhe arruinou uma prova em que estivera a fazer o trabalho duro de segurar o pelotão para permitir ao Jaguar líder escapar-se com a vitória. Em território caseiro da Jaguar na prova seguinte, o piloto redimir-se-ia ao passar Robin Frijns para o último lugar do pódio. Voltando a ter a oportunidade de segurar um comboio gigante de carros em Berlim, Evans não falhou e voltou a chegar em 3º. Posição essa da qual também partiu para a corrida final do ano, a uns pequenos pontos do título e com todos os adversários atrás.

Apenas uma falha mecânica lhe estragou a hipótese de triunfar, provocando-lhe dores “físicas e psicológicas” depois de ser eliminado por Mortara enquanto estava imobilizado. Ainda assim, ficou na frente do novo colega de equipa (ele somou 2 triunfos mas Evans conseguiu 5 pódios, o maior número do grid) e viu o seu vínculo à equipa renovado, no melhor desempenho de sempre da Jaguar na Fórmula E. Com as bases lançadas, Evans é um dos mais sérios candidatos ao título no último ano da Geração 2 da categoria.

4 – Nyck de Vries

Pode parecer um golpe baixo colocar o campeão do mundo apenas no 4º lugar de performances do ano, mas na verdade não há nada de errado com a performance de Nyck de Vries em 2021. O piloto apenas contou com uma pequena dose de sorte em momentos-chave para o fazer, sorte essa que faltou a muitos outros.

De Vries começou o ano com uma vitória magistral, antes de o percalço da Mercedes na segunda prova de Diriyah o atirar para as últimas posições da grelha (de onde ainda conseguiu chegar em 9º). Dois acidentes em Roma queimaram-no um pouco, sendo que se no primeiro não teve culpa (estava a tentar evitar dois pilotos que perderam o controlo) no segundo já foi quem o causou (atirando Rowland e Bird para fora). Em Valência a situação melhorou, tendo perseguindo Félix da Costa durante a corrida inteira e beneficiando da situação estranha com a energia do português para conseguir o segundo triunfo do ano.

Nos 6 primeiros do campeonato durante o ano quase todo, foram várias as vezes que daí para a frente o piloto da Mercedes teve que partir dos últimos lugares na grelha, conseguindo apenas 2 pontos nas 6 provas seguintes. Só que os adversários tropeçavam uns nos outros, e o holandês manteve-se sempre com margem para que uma recuperação perfeita no final do ano o beneficiasse. E assim foi. Duas brilhantes provas em Londres, onde soube conjugar velocidade com uma excelente gestão de risco, deram-lhe dois 2º lugares que o catapultaram de volta para a liderança do campeonato.

Com pilotos como Evans, Mortara e Dennis de fora da última corrida, de Vries foi subindo posições até estar confortavelmente nos pontos, apesar de algumas manobras arriscadas contra carros que não estavam na luta pelo título (inexplicavelmente, de Vries mostrou-se indignado com estes na conferência de imprensa), o que lhe valeu o suficiente para conseguir o primeiro título mundial de Fórmula E. Que ou o deixará em boa posição para 2022 na categoria, ou o colocará no caminho da Fórmula 1.

5 – Jake Dennis

Contratado para uma equipa que logo a seguir anunciou que estaria na sua última temporada na categoria, Jake Dennis viu-se numa das mais ingratas posições para um estreante: estava obrigado a mostrar serviço imediatamente, sob pena de terminar a sua aventura na Fórmula E. Nos primeiros dois e-Prix, o britânico não marcou um único ponto. Alguma da culpa era da BMW, que chegou a estar sem pontos no último lugar do campeonato.

Tudo mudou a partir da segunda corrida de Valência. Somando uma importante pole position, o piloto da BMW i Andretti foi forçado a passar uma corrida inteira a defender-se do Mahindra de Alex Lynn ao mesmo tempo que não podia perder de vista a gestão de energia da sua bateria. Dennis triunfou assim pela primeira vez, com uma condução matura. Dois 5º lugares seguiram-se no México, o que o atirou para a frente do colega de equipa Maximilian Günther (rápido mas impetuoso demais), e depois chegou o fim-de-semana caseiro em Londres.

Novamente em luta com Lynn, Dennis teve que fazer ele mesmo de perseguidor desta vez. Acabou por ter mais sucesso que o rival havia tido em Espanha, ultrapassando o Mahindra para voltar a vencer e colocou-se em definitivo na luta pelo título na sua primeira temporada na categoria. A renovação com a Andretti acabou por ser uma mera formalidade, antes da ronda final de Berlim. Na capital alemã o piloto voltou a mostrar a sua consistência pós-Valência ao integrar o comboio da luta pelo pódio.

Na derradeira prova, e tendo visto Mitch Evans e Edoardo Mortara eliminados na primeira volta, Dennis estava mais alto na classificação do que qualquer um dos rivais ao título e tinha tudo para dar um sério desafio a Nyck de Vries. Um bloquear do eixo traseiro na primeira curva acabaria por atirá-lo para o muro e terminar a sua prova, sendo visto fora do carro sem querer acreditar no que lhe acontecera.

Uma coisa é certa, ao contrário do início do ano em que ninguém sabia bem quem era (como o próprio descreveu), Dennis vai para 2022 como um nome sério para a disputa do título se a Andretti conseguir manter a sua forma agora que já não terá o apoio de fábrica da BMW.

6 – Lucas di Grassi

Há poucas estatísticas da Fórmula E em que Lucas di Grassi não apareça como um dos melhores. Presente desde o primeiro momento na categoria, o líder da aventura da Audi na categoria fazia questão de fechar a temporada final dos alemães com chave de ouro. Tendo somado duas vitórias e conseguido ficar na luta pelo título até à última corrida, pode-se dizer que cumpriu a missão.

Houve espaço para ótimas performances de recuperação (Diriyah), ótimas performances interrompidas por problemas mecânicos (Roma), ótimas performances deitadas abaixo por atitudes matreiras em relação ao Safety Car (Londres) e performances menos conseguidas que terminaram com o brasileiro a provocar o abandono de outros (Puebla com Nyck de Vries e Berlim com António Félix da Costa). Mas também houve espaço para dias em que tudo correu de feição, como nas primeiras provas de Puebla e Berlim, e para aproveitamento de todas as pequenas oportunidades de pontuar que surgissem.

Ainda sem confirmação sobre o seu lugar no grid para 2022, di Grassi mostrou-se interessado em continuar numa categoria em que, excentricidades à parte, é um dos elementos-chave, restando ainda ver com que equipa escolherá alinhar. Até porque à partida não faltarão ofertas a um dos pilotos que mais se tem colocado na posição de embaixador da Fórmula E.

7 – Edoardo Mortara

A descrição mais sucinta da temporada de 2021 de Edoardo Mortara é de que acumulou tantos pontos no ano como nos dois anteriores juntos. Isto demonstrou não só a habilidade do suíço ao volante, mas também a evolução da pequena Venturi desde a “tomada de posse” de Susie Wolff e a correspondente aliança com a Mercedes.

Logo a abrir a temporada, Mortara ficou em 2º lugar com brilhantes ultrapassagens sobre Mitch Evans e Pascal Wehrlein, ambos com carros de fábrica. Por norma teria sido o momento alto da temporada, não fosse um incrível fim-de-semana de Puebla em que fez dois pódios, o segundo dos quais foi uma vitória em que precisou de segurar outro homem em alta no México (Wehrlein). No final desse e-Prix, o piloto estava na liderança do campeonato e a sua própria equipa tratou de deitar água na fervura ao recordar à imprensa de que os rivais estavam muito melhor financiados para um ataque ao título.

A verdade é que Mortara não passou mesmo nada longe do sonho. Uma perseguição de faca nos dentes a Lucas di Grassi na penúltima corrida quase lhe deu um novo triunfo e poderia ter feito muito mais na corrida seguinte se o Jaguar de Evans não tivesse falhado a partida de tal maneira que o Venturi se acidentou contra ele. Foi um de dois incidentes dolorosos (literalmente) para o piloto, depois de também ter falhado a segunda prova de Diriyah devido a uma falha grave do sistema de travagem da Mercedes.

Sem estes dois momentos poderíamos muito bem estar a contar uma história muito diferente da que 2021 acabou por contar, mas uma coisa já se sabia antes desta época: Mortara está há muito a merecer uma promoção para uma equipa de topo.

8 – Pascal Wehrlein

A chegada de Pascal Wehrlein à Porsche foi recebida com entusiasmo moderado. O talento do alemão, que chegou há um par de anos a ser cotado como candidato aos Mercedes de F1, nunca esteve em causa. Só que já se acumulam as saídas menos que pacíficas das equipas pelas quais passa. A Mercedes obrigara-o a perder as primeiras provas ao serviço da Mahindra em 2018 (por ainda estar até 31 Dezembro sob contrato) e a própria Mahindra “largou” o piloto a meio de 2019/20, pelo que restava ver como correria a adaptação à Porsche.

Único piloto a somar pontos nas 4 primeiras corridas do ano, Wehrlein foi dos mais consistentes pontuadores de todo o ano, mesmo com a cruel desclassificação de Puebla. Líder durante toda essa prova (e tendo feito pole), o alemão foi desclassificado por uma burocracia relacionada com a alocação de pneus. Na prova seguinte voltou a mostrar um ritmo diabólico para chegar no 2º lugar. Que também acabaria “roubado” por uma penalização por irregularidades no uso do Fan Boost… Foram muitos pontos, que teriam mudado em muito a opinião do paddock sobre a sua temporada.

Beneficiário da comparação com o colega de equipa experiente André Lotterer, que decidiu implodir-se nesta temporada, Wehrlein marcou pontos em 5 das 7 etapas seguintes, num ano em que a Porsche evoluiu para uma estrutura mais competente. Para 2022 a dupla dos alemães será a mesma, uma recompensa de que Wehrlein quererá fazer uso para uma campanha ainda melhor.

9 – Oliver Rowland

Promovido à condição de líder de equipa pela inexplicavelmente má performance do campeão Sébastien Buemi, Oliver Rowland conseguiu com frequência pôr o Nissan em posições que não merecia estar. A inversão de papéis não pareceu ter sido inteiramente compreendida pela equipa. Tendo já sido a segunda escolha 3 anos antes face a Alexander Albon, Rowland não gostou de descobrir ao longo do ano que a Nissan não parecia disposta a aceitar a sua nova importância e acabou por trocar a estrutura pela Mahindra para 2022 (tinha-se já estreado na Fórmula E pelos indianos).

Isto não se pareceu refletir em performances menos bem conseguidas em pista. Enquanto que Buemi apenas pontuou por 3 vezes, o britânico fez 2 pódios. Que poderiam ter sido facilmente 3, caso Nick Cassidy não tivesse eliminado o homem da Nissan em Roma quando Rowland estava num dos seus melhores fins-de-semana. No total foram quase 4 vezes mais pontos somados na temporada que Buemi, a maior diferença do pelotão.

Com uma eficácia brutal durante o ano inteiro, houve espaço para grandes momentos de superação do material à disposição, como por exemplo com o 6º lugar do Mónaco ou o 4º lugar de Valência. De malas prontas para a aventura na Mahindra, uma coisa é certa: a Nissan sentirá grandes saudades do valoroso piloto originalmente contratado para ser a segunda figura.

10 – Robin Frijns

Tendo perdido o seu piloto estrela e não tendo conseguido, pela primeira vez na história da categoria, uma vitória na temporada, pode-se mesmo assim dizer que a Virgin fez uma performance bem-sucedida durante o ano. Promovido à condição de líder de equipa com a saída de Sam Bird, Robin Frijns teve que assumir as aspirações da equipa que utiliza os motores da Audi, até porque o colega de equipa era um estreante. E nessas funções o holandês fez um excelente trabalho.

Para além da ausência de triunfos, também os pódios foram poucos (apenas 2 em Diriyah e Mónaco, o último conseguido com uma ultrapassagem na linha de chegada sobre Mitch Evans). O verdadeiro trunfo de Frijns foi a maneira como acumulou colocações entre os 6 primeiros nas corridas, principalmente em e-Prix em que teve que começar de 15º para baixo, algo que ,devido à sua posição no Grupo 1 de qualificação, sucedeu com frequência. O 5º lugar na prova de Nova Iorque, por exemplo, foi conseguido a começar de uma posição similar à de Félix da Costa mas enquanto o português estagnou fora dos pontos, Frijns subiu com maestria.

A ausência de performance pura acabaria por tramar o piloto na segunda metade do ano, forçando-o a aproveitar as migalhas que pudesse encontrar. Frijns raramente arriscou mais do que devia durante o ano e tomou as suas oportunidades, garantindo uma renovação para mais um ano e mantendo a esperança de título acesa até aos derradeiros momentos. A forma da Virgin para 2022 pode ser incerta, com o fornecedor de motor de saída, mas o valor do holandês como um dos melhores do grid é inquestionável.





Tristes figuras – e-Prix Valência 2021

25 04 2021

Muito se especulou sobre o impacto na Fórmula E (e as suas provas citadinas) da pandemia. O calendário com diversos asteriscos até bem perto da data de realização da prova mostra esta incerteza. A solução para 2021 acabou por envolver a utilização desta prova em território espanhol, no circuito permanente de Ricardo Tormo. Ainda sem sequer um único carro rolar na pista de Valência já se ouviam vozes entre os chefes de equipa a recordar a organização da categoria que não queriam uma repetição desta escolha de circuito (neste caso, Susie Wolff da Venturi). Veremos se a sensibilidade da Fórmula E a este pedido será tanta quanto a da F1 à não-realização de GPs em 3 semanas seguidas (só em 2021 haverão 3 destes conjuntos)…

O circuito Ricardo Tormo, à partida, será mesmo um caso diferenciado. Para começar, trata-se de um circuito que a categoria está habituada a utilizar durante testes de pré-temporada, apesar de a Fórmula E ter informado as equipas de que um layout diferente ao usual seria escolhido para realizar o primeiro e-Prix de Valência (especificamente a inclusão de uma chicane apertada para ajudar na regeneração de energia).

A pista, de construção recente (1998), é especialmente habilitada para esta tarefa por ter várias configurações diferentes disponíveis para uso (incluindo sentido inverso). O circuito tem também a particularidade de ter uma estrutura de bancadas em que os fãs têm visibilidade sobre a totalidade do traçado, sendo que a capacidade vai até 120 mil espectadores. Não que fossem esperados números minimamente próximos para o e-Prix. A MotoGP tem tido o circuito no seu calendário desde a inauguração do traçado, mas o recorde de pista pertence a Nicolas Lapierre na ronda da temporada de 2006 da GP2 (quando era colega de equipa de Lewis Hamilton).

Alguns dias antes da prova foi também confirmado o aspeto do calendário até ao final do ano, que deixará de contar com as provas de Marraquexe e Santiago, com a inclusão de rondas duplas no México, EUA, Londres e Berlim. Isto atirará o final do campeonato para Agosto, tal como na temporada 2019/20.

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Ronda 5 – e-Prix de Valência (1) 2021

Confirmando aquilo que já se tinha visto nos testes de pré-temporada, a Techeetah e a BMW mostraram bom ritmo, o que as levou à Super Pole (com António Félix da Costa e Maximilian Günther, respetivamente). Só que a Mercedes teimou em dar mostras do seu ótimo ritmo, com Nyck de Vries e Stoffel Vandoorne a marcarem presença entre os 6 primeiros. No final acabou por ser um duelo Félix da Costa / Vandoorne, com primazia para o último. Até que chegou a notícia de um erro da Mercedes com os pneus do belga que levaram à sua eliminação da qualificação, dando a pole ao português.

Como se a tarefa dos pilotos não estivesse já dificultada o suficiente pelo traçado diferente do usual, a chuva veio para complicar os planos. Nas primeiras voltas André Lotterer começou logo por eliminar Sébastien Buemi numa manobra desajeitada que provocou o primeiro Safety Car. Assim que o Nissan foi removido de pista, a corrida recomeçou com Félix da Costa a saber fugir do pelotão, dado que de Vries, Günther e Alex Lynn se atrasavam em disputa pelo 2º lugar (numa prova em que os Mahindra mostraram competência). Entretanto, Vandoorne teve uma corrida de atrito com uma saída de pista mas ia ascendendo na tabela.

A segunda visita do novo SC da Mini veio por conta de um despiste de Günther quando circulava sozinho, enquanto que a terceira surgiu por conta de um desentendimento entre o Dragon de Sérgio Sette Câmara e o Jaguar de Mitch Evans. O terceiro SC pareceu comprometer aquela que era a luta pela liderança entre de Vries e da Costa, pois o primeiro ativara o segundo Attack Mode mesmo antes da entrada do Mini em pista.

Com o seu Attack Mode ainda por servir, Félix da Costa precisaria de conseguir abrir uma distância para o rival. E foi mesmo isso que conseguiu com uma jogada de mestre: usou o Fan Boost a que tinha direito na reta anterior ao ponto de ativação do Attack Mode para se distanciar e conseguiu segurar o piloto holandês atrás de si. Outro piloto com um grande momento foi Norman Nato, que ultrapassou de maneira brilhante por fora o Porsche de Pascal Wehrlein. Foi pouco depois que surgiu o incidente entre Lotterer e Edoardo Mortara (com Lotterer a completar a sua terrível prova e temporada, sendo o único piloto da categoria que ainda a zero pontos no campeonato na altura).

O último SC seria o mais marcante, reduzindo o resto da prova a uma completa insignificância.

Tal como sempre na Fórmula E dos últimos anos, os períodos do SC tiveram uma redução proporcional da energia disponível dos monolugares, de modo a evitar que os pilotos pudessem descontrair na gestão do armazenamento como nas primeiras temporadas. Só que desta vez correu tudo terrivelmente mal. O Techeetah líder cruzou a linha de chegada de bandeira verde com alguns segundos no relógio, o que significava serem precisas 2 voltas e não apenas 1 para terminar a corrida. Os estrategas da maioria dos pilotos não estava à espera e não se prevenira. O resultado foi o patético espetáculo de quase todos os carros, incluindo Félix da Costa mas excluindo de Vries, a pararem em pista sem energia na última volta.

Os resultados deixaram de importar, na prática. De Vries venceu e assumiu a liderança do campeonato, um Dragon ascendeu ao pódio e até o último à partida, Vandoorne, pôs o seu Mercedes em 3º (os alemães foram quase os únicos a calcular bem as percentagens).

A Fórmula E ainda tentou vender a mensagem de que imprevisibilidade era o mote da categoria nas suas redes sociais mas os fãs fizeram uma avaliação menos generosa: criticaram a artificialidade de toda a circunstância e os comissários por não se terem apercebido que estavam a retirar demasiada energia. Os comissários, seguindo o mote dos da F1, rejeitaram quaisquer críticas (com o argumento de que só daria para perceber o erro após o facto, o que não era estritamente verdade) e apontaram o dedo ao líder de prova na penúltima volta por não ter abrandado antes da linha de meta para se cumprir apenas uma volta final. Já Félix da Costa recordou que nunca teria conseguido abrandar o suficiente sem perigo e que isso poderia ter dado azo a uma redução de energia ainda maior.

A verdade é que mesmo que a FIA estivesse segura da sua razão, cometeu um enorme erro em não aplicar senso comum no final da prova. Detratores da categoria encheram-se de risos e até mesmo alguns fãs da Fórmula E ficaram furiosos com o enorme toque de amadorismo que a competição revelou na mais triste figura da sua existência.

Isto, aliado aos constantes Safety Car da prova que poderiam ter sido perfeitamente apenas Full Course Yellow (e não foram provavelmente para tentar evitar a fuga dos líderes do pelotão), voltou a tocar no calcanhar de Aquiles da categoria fundada por Alejandro Agag: imprevisibilidade com equipas equilibradas não é o mesmo que aleatoriedade de resultados. Esta corrida mostrou os perigos desta abordagem, com o nome da Fórmula E a ser motivo de chacota e com as palavras “farsa” e “patético” a aparecerem com frequência nas conversas sobre este fim-de-semana.

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Resultado: 1. de Vries \ 2. Müller \ 3. Vandoorne \ 4. Cassidy \ 5. Rast \ 6. Frijns \ 7. di Grassi \ 8. Dennis \ 9. Vergne (Ver melhores momentos)

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Ronda 6 – e-Prix de Valência (2) 2021

A prova de domingo, com a vantagem de ter sido realizada de piso seco, acabou por trazer condições mais próximas à normalidade no fim-de-semana espanhol. A começar pela normalização das péssimas qualificações dos pilotos do primeiro grupo, sendo que os 5 primeiros do campeonato não conseguiram mais alto que um 16º lugar na grelha.

Assim a Super Pole acabou por contar com clientes menos habituais, como os dois NIO (que previsivelmente foram perdendo posições em corrida) e a dupla Jake Dennis e Alex Lynn. O último passou uma corrida inteira em perseguição ao líder Dennis, tomando cedo a decisão de não passar o BMW do rival. A Mahindra tinha assim grandes hipóteses de tirar frutos da opção no final da prova, só que uma ultrapassagem mal calculada de Norman Nato (penalizado em 5 segundos) levou Lynn para o 6º lugar, donde conseguiu voltar ascender até ao 3º posto final.

Depois da sua terrível prova de sábado, André Lotterer soube manter-se fora de perigo durante o domingo, qualificando o Porsche em 2º e terminando na mesma posição em prova, conseguindo assim abrir a sua contagem de pontos desta temporada com um pódio à sexta corrida.

Mais atrás houve espaço a alguma confusão. Em primeiro lugar, António Félix da Costa e René Rast desentenderam-se na trapalhona curva lenta, resultando numa bandeira preta e branca ao português (que também foi atirado para a cauda do pelotão por uma infração relacionada com o Attack Mode). A outra “vítima” do dia foi Stoffel Vandoorne. O belga da Mercedes vinha fazer, novamente, uma ótima recuperação até aos pontos quando na mesma sequência de curvas acertou no muro interior, acabando com a sua suspensão dianteira.

Os grandes destaques da prova foram Dennis (pela maneira calma e inteligente como geriu o seu ritmo ao longa da prova, notável para um estreante), Oliver Turvey (por conseguir uns pontos no fraco NIO), Rast (que conseguiu nos minutos finais ganhar posições com estilo), Oliver Rowland (que começa a embaraçar o colega de equipa campeão na Nissan) e Jean-Éric Vergne (o francês aprendeu bem a necessidade de terminar nos pontos por poucos que sejam quando o carro não quer colaborar).

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Resultado: 1. Dennis \ 2. Wehrlein \ 3. Lynn \ 4. Rowland \ 5. Nato \ 6. Rast \ 7. Vergne \ 8. Turvey \ 9. Mortara \ 10. di Grassi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. de Vries (57) \ 2. Vandoorne (48) \ 3. Bird (43) \ 4. Frijns (43) \ 5. Evans (39) —– 1. Mercedes (105) \ 2. Jaguar (82) \ 3. Virgin (58) \ 4. DS Techeetah (57) \ 5. Audi (52)

Corrida anterior: e-Prix Roma 2021
Corrida seguinte: e-Prix Mónaco 2021

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Fontes:
Racing Circuits \ Ricardo Tormo
Times Live \ Venturi Formula E boss Wolff hopes Valencia is a one-off