A primeira da Maserati e a recuperação Porsche – ePrix Jakarta 2023

4 06 2023

Depois de uma pequena interrupção europeia a um calendário de 2023 particularmente internacional, a Fórmula E regressa a um país onde se estreou no ano passado: a Indonésia. A capital Jakarta recebeu desta vez uma ronda dupla, depois de ter estado como individual, no seu traçado que utiliza o subúrbio de Ancol.

O desenho do circuito citadino até nem segue os ângulos retos geralmente usados por outras pistas, caraterizada por uma longa reta da meta e secções mais sinuosas, como a das curvas 9-12 e 15, 16 e 17. Mitch Evans foi quem chegou ao país asiático como primeiro e único vencedor, tendo batido Jean-Éric Vergne e Edoardo Mortara para o fazer.

Os bastidores da organização do evento têm sido plenos em dificuldades, desde adiamentos devido à pandemia, cortes indevidos de árvores, fees pagas com valores demasiado elevadas, até várias porções do circuito terem sofrido desastres naturais (como ventos fortes a destruírem porções de bancada ou incêndios).

Nas semanas que antecederam o ePrix houve espaço para uma saída esperada e duas bem inesperadas: André Lotterer, com compromissos nas 24 Horas de Le Mans, foi temporariamente substituído na Andretti por David Beckmann; Jack Nicholls, comentador da categoria desde o seu início, viu o seu contrato terminado após uma investigação por “comportamento inapropriado” ter concluído a sua culpabilidade por incidentes ocorridos (Ben Edwards substituiu-o); e Oliver Rowland bateu com a porta na Mahindra e chegou a mútuo acordo para sair (Roberto Merhi substituiu-o).

Ronda 10 – ePrix de Jakarta (1) 2023

Fazendo uso de um traçado constantemente a levantar poeira, a Fórmula E assistiu no primeiro dos dois dias a uma prova quase pacata, considerando os usuais padrões de ultrapassagens e incidentes na categoria.

Os únicos abandonos acabaram por vir de ambos os Jaguar. Pela segunda vez este ano, Sam Bird calculou mal uma travagem e bateu em Mitch Evans, eliminando o neozelandês. Para piorar a sua situação dentro da equipa, o britânico ainda foi atrás do prejuízo tentar caçar António Félix da Costa, mas no desespero de passar fechou a porta quando não devia a Robin Frijns e acabou no muro. O briefing pós-corrida não deve ter sido fácil…

Falando em Félix da Costa, o português até fez uma boa prova de recuperação de 15º até 8º, mas já começam a ser muitas corridas em que o Porsche parte de demasiado atrás na grelha. Isto quando o colega Pascal Wehrlein continua a terminar consistentemente na frente.

Nesta corrida, aliás, foi o vencedor do ePrix, tendo conseguido ultrapassar Jake Dennis e Maximilian Günther na primeira metade da prova e na segunda defendeu-se das investidas de Dennis. Günther e o outro Maserati de Edoardo Mortara têm finalmente conseguido fazer a sua temporada verdadeiramente arrancar com pontos mais constantes (à semelhança da outra marca do grupo Stellantis, a DS Penske em 4º e 5º).

Destaque ainda para a maneira hábil como Nick Cassidy conseguiu evitar um despiste, somando pontos importantes para se manter na frente do campeonato; para Robin Frijns que conseguiu colocar a ABT nos pontos; e para a recuperação de 20º a 10º do McLaren de Jake Hughes.

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Qualificação: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Wehrlein \ 4. Vergne \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Günther \ 4. Vandoorne \ 5. Vergne \ 6. Mortara \ 7. Cassidy \ 8. Félix da Costa \ 9. Frijns \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)

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Ronda 11 – ePrix de Jakarta (2) 2023

No segundo dia de ação na Indonésia, Günther aprendeu com as lições que a derrota do dia anterior lhe tinha dado. O piloto da Maserati voltou a bater a concorrência em qualificação, mas, desta vez, soube segurar os ataques de Dennis (que ainda conseguiu liderar após um período de Attack Mode) para dar à equipa italiana a sua primeira vitória na categoria (apesar de já ter ganho antes como Venturi).

O mau dia anterior de Sam Bird acabou por ter um novo capítulo no domingo, com o britânico a nem sequer partir devido a problemas mecânicos. Outro piloto que também não terá gostado nem um pouco do fim-de-semana foi Nick Cassidy, que até tinha feito bem para se manter fora de sarilhos no sábado mas perdeu a asa da frente num rival no domingo.

Tendo-se qualificado em 10º e 12º, a Nissan surpreendeu na corrida com recuperações até ao 4º e 5º lugar, numa altura em que parece inverter de forma com a cliente McLaren (que tem tido cada vez mais dificuldade em chegar aos pontos).

A Porsche concluiu um fim-de-semana positivo com 6º e 7º, ainda que Félix da Costa tenha que melhorar as suas performances em qualificação se quer almejar a algo mais do que segundo piloto de Wehrlein no que ainda falta deste ano, enquanto que Mortara garantiu uma pontuação dupla para a Maserati e Sébastien Buemi evitou que a Envision saísse sem pontos do dia.

Vale a pena ressalvar que a DS Penske pareceu perder todo e qualquer ritmo na segunda metade da prova, tendo que lutar com tudo para ainda garantir dois pontos com Vandoorne.

Os resultados de Jakarta recolocaram a Porsche no comando de ambos os campeonatos.

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Qualificação: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Evans \ 4. Mortara \ 5. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Günther \ 2. Dennis \ 3. Evans \ 4. Fenestraz \ 5. Nato \ 6. Wehrlein \ 7. Félix da Costa \ 8. Mortara \ 9. Vandoorne \ 10. Buemi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (134) \ 2. Dennis (133) \ 3. Cassidy (128) \ 4. Evans (109) \ 5. Vergne (97) —– 1. Porsche (212) \ 2. Envision (190) \ 3. Jaguar (171) \ 4. Andretti (156) \ 5. DS Penske (139)

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Corrida anterior: ePrix Mónaco 2023
Corrida seguinte: ePrix Portland 2023

ePrix Jakarta anterior: 2022

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Fontes:
Deadline \ Jack Nicholls com contrato terminado
Grande Prêmio \ Oliver Rowland substituído por Roberto Merhi





Segunda seguida para Cassidy – ePrix Mónaco 2023

7 05 2023

É difícil explicar com a devida importância aquilo que a Fórmula E passar a usar a extensão total do circuito de Monte-Carlo representou para o prestígio da categoria durante o fim-de-semana da corrida e para o seu futuro. Longe vão os tempos em que a FE era ridicularizada por “nem sequer” conseguir cumprir o traçado inteiro do Mónaco. A presença dos monolugares elétricos no mesmo traçado que os F1 dissipou essa nuvem.

Quase sem alterações desde o seu início em 1929, o GP do Mónaco possui, ainda que seja discutível os seus méritos, o Grade 1 da FIA a nível de segurança e, mais importantemente, quase não sofreu alterações desde a primeira prova nas ruas do Principado. O facto de barreiras TecPro e de pneus serem agora aquilo que ladeia a pista, ao invés de fardos de feno é uma importante mudança, no entanto.

Com uma importante parcela da aderência dos seus carros a provir de meios mecânicos e não aerodinâmicos, a FE conseguiu fazer do Mónaco um reduto de ultrapassagens de fazer inveja a qualquer outra categoria, para além de o vencedor do ePrix merecer muitas vezes o devido destaque no review da temporada (ou não tivesse sido a única vitória do campeão Vandoorne em 2022).

De perfil sinuoso, lento e sem retas que façam uma linha reta, o Mónaco na sua versão atual tem sido um dos grandes destaques do ano para a categoria.

Ronda 9 – ePrix do Mónaco 2023

Com uma certa inevitabilidade, dadas as médias de pontuação das últimas rondas, as marcas equipadas com motores Porsche foram ultrapassadas no campeonato pelas que utilizam unidades motrizes da Jaguar, ainda para mais através da marca cliente (Envision).

A Porsche tem-se mostrado incapaz de se qualificar em posições decentes em tempos recentes, o que, mesmo com bom ritmo de corrida, tem levado Pascal Wehrlein e António Félix da Costa a terem que se imiscuir nas complexas dinâmicas das lutas de meio da tabela. Em Monte-Carlo, o primeiro ainda conseguiu salvar um ponto enquanto que Félix da Costa teve que parar com um furo a meio da corrida.

Isto, misturado com uma consistência incrível de Nick Cassidy (desde a Índia que não sai do Top 5), fez com que a liderança do campeonato mudasse de mãos. Cassidy tem sabido acertar em cheio com o timing de quando passar para a frente da corrida e de como segurar os ataques dos rivais. O neozelandês voltou a ser brilhante em ambas as tarefas, voltando a vencer uma dobradinha de neozelandeses ao aguentar os avanços de Mitch Evans. Foi também, mais relevantemente, uma dobradinha de motores Jaguar.

Jake Dennis mostrou que a Andretti ainda poderá ter uma palavra a dizer, aguentando o lugar final do pódio, seguido dos dois primeiros de qualificação (Sacha Fenestraz e Jake Hughes) que voltaram a não ter ritmo de corrida suficiente para fazer frente aos mais rápidos. Fenestraz até tinha feito pole position originalmente, mas excedeu o limite de consumo de energia e entregou esses louros a Hughes.

Dan Ticktum chegou em 6º para dar à NIO o seu melhor resultado em prova desde os tempos de Nelson Piquet Jr, numa corrida tão cheia de momentos quanto o desbocado Ticktum parece geralmente ter. O britânico chegou a estar à frente da corrida, para além de também ter perdido a paciência perto do fim e ter acertado no carro que circulava à sua frente, perdendo parte da asa dianteira e apanhando Maximilian Günther de surpresa com gravidade suficiente para o alemão ter provocado o Safety Car.

Outro alemão que provocou SC foi André Lotterer logo no início, ao passo que pilotos como Jean-Éric Vergne souberam manter-se fora de sarilhos para ascender de 22º até 7º. O seu colega Stoffel Vandoorne terminou em 9º, e Sébastien Buemi assegurou o lugar que faltava nos pontos, em 8º.

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Qualificação: 1. Hughes \ 2. Fenestraz \ 3. Nato \ 4. Günther \ 5. Ticktum (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Evans \ 3. Dennis \ 4. Fenestraz \ 5. Hughes \ 6. Ticktum \ 7. Vergne \ 8. Buemi \ 9. Vandoorne \ 10. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Cassidy (121) \ 2. Wehrlein (101) \ 3. Dennis (96) \ 4. Evans (94) \ 5. Vergne (87) —– 1. Envision (182) \ 2. Porsche (169) \ 3. Jaguar (156) \ 4. Andretti (119) \ 5. DS Penske (115)

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ePrix Mónaco anterior: 2022





Na Alemanha só vencem neozelandeses – ePrix Berlim 2023

23 04 2023

O Aeroporto de Tempelhof já tem um lugar reservado na História do mundo, como palco da famosa ponte aérea que os norte-americanos estabeleceram em Berlim durante a Guerra Fria, mas nos últimos anos tem-se transformado num dos mais conhecidos palcos da Fórmula E, com direito a decisões de título, provas caóticas e um traçado desafiante.

Utilizado pela primeira vez em 2015, o circuito foi alterado substancialmente a partir da sua segunda edição para a configuração atual (que até já foi corrida em sentido inverso). No seu total são 2,250 km de extensão e 10 curvas que os pilotos têm que negociar, com a vantagem de que têm os muros substancialmente mais longe do que nas outras provas da FE. As desvantagens são a falta de aderência e elevado consumo de pneus do traçado abrasivo.

Como ronda dupla novamente, Berlim surge no calendário como primeira prova europeia do ano e um mês após o ePrix de São Paulo (devido a alguns cancelamentos de última hora). Antes das provas de 2023, 3 pilotos partilhavam o maior número de vitórias (2): Sébastien Buemi, Lucas di Grassi e António Félix da Costa.

Ronda 7 – ePrix de Berlim (1) 2023

A qualificação para a primeira prova alemã trouxe duas caras bem familiares para o duelo final: Sébastien Buemi e Sam Bird competiram para no final ser Buemi quem levou a melhor (tornando-se o recordista absoluto da Fórmula E).

Na partida para a corrida, no entanto, foi Dan Ticktum quem surpreendeu toda a gente ao partir de 4º cheio de vontade, passando Buemi por fora na longa primeira curva para colocar a NIO na frente. Com a sucessão de Attack Modes acabaria por perder essa liderança, mas quando a prova ia a meio ainda estava em competição. Até que se esqueceu de verificar o exterior de uma curva onde Stoffel Vandoorne já se encontrava. O resultado foi que ambos terminaram aí os seus dias, ficando a discutir acesamente na berma da estrada.

Isto gerou um período de Safety Car, que viu os dois Jaguar e Buemi disputarem a vitória após o recomeço. Buemi, que também utilizava propulsores da Jaguar, ainda continuou a fazer o seu melhor para segurar um potencial primeiro triunfo com a Envision, mas acabou por sucumbir a um ataque bem temporizado de Mitch Evans. A última volta não ajudou: Sam Bird roubou o 2º posto de forma limpa e Maximilian Günther roubou de forma aparatosa o 3º.

O resultado final foi uma dobradinha bem saborosa para a Jaguar e um primeiro pódio para a Maserati, que deve ter deixado a antiga Venturi bem aliviada (até porque Edoardo Mortara também pontuou). Pascal Wehrlein ainda conseguiu limitar os estragos, enquanto que Nick Cassidy chegou em 5º, para mais um bom resultado conjunto da Envision em 2023.

António Félix da Costa partiu de 19º mas, a 8 voltas do fim, já tinha recuperado até ao 4º posto quando uma travagem completamente falhada por Jake Dennis atirou o homem da Andretti em cheio contra o Porsche do português e lhe terminou a prova.

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Qualificação: 1. Buemi \ 2. Bird \ 3. Vandoorne \ 4. Ticktum \ 5. Dennis (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Bird \ 3. Günther \ 4. Buemi \ 5. Cassidy \ 6. Wehrlein \ 7. Vergne \ 8. Lotterer \ 9. Mortara \ 10. Rowland (Ver melhores momentos)

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Ronda 8 – ePrix de Berlim (2) 2023

Com piso molhado até ao final de qualificação, a segunda prova de Berlim trouxe como surpresa o facto de a ABT ter conseguido fechar a primeira linha da grelha para o ePrix, com o experiente Robin Frijns a vencer o colega de equipa Nico Müller na final. O tempo seco, no entanto, acabou por significar que os monolugares alemães começaram a cair ao longo da prova até que apenas Müller conseguiu pontos em 9º.

Fazendo uso do ritmo do seu Envision, acabou por ser Nick Cassidy quem conseguiu vencer em Berlim, depois de reclamações bem sonoras no rádio contra Buemi durante a qualificação. O neozelandês (mais uma triunfar na Alemanha em 2023) terminou na frente de alguém que precisava de compensar a sua terrível primeira prova: Jake Dennis.

A completar o pódio chegou Jean-Éric Vergne da DS Penske, que parece estar a ganhar embalo para o seu ritmo dos anos recentes Techeetah. Evans voltou a somar pontos importantes para se aproximar da luta pelo título, enquanto que os Porsche voltaram a fazer uma pontuação dupla em território caseiro.

A Maserati conseguiu pontuar pela segunda prova seguida, cortesia de Günther, enquanto que Ticktum compensou um pouco o disparate de sábado ao amealhar o último lugar pontuável de domingo.

De destacar ainda a interrupção momentânea da partida devido a protestantes que entraram em pista e tentaram interromper os procedimentos, apesar de terem sido corridos do traçado com alguma rapidez pelos seguranças. Os protestantes pelo clima conseguiram a proeza de interromper um evento de veículos elétricos que se orgulha do seu estatuto carbon neutral

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Qualificação: 1. Frijns \ 2. Müller \ 3. Buemi \ 4. Vergne \ 5. Evans (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. Dennis \ 3. Vergne \ 4. Evans \ 5. Félix da Costa \ 6. Günther \ 7. Wehrlein \ 8. Vandoorne \ 9. Müller \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (100) \ 2. Cassidy (96) \ 3. Vergne (81) \ 4. Dennis (80) \ 5. Evans (76) —– 1. Porsche (168) \ 2. Envision (153) \ 3. Jaguar (138) \ 4. DS Penske (107) \ 5. Andretti (103)

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Trio Jaguar limpa pódio – ePrix São Paulo 2023

26 03 2023

Continuando esta sequência de vários países estreantes no calendário, o Brasil recebeu pela primeira vez uma ronda da Fórmula E, num processo que vinha sendo adiado ao longo dos últimos anos. O local escolhido, depois de se ter ponderado um projeto de um circuito mais permanente, foi nas ruas de São Paulo. Especificamente, no mesmo local que já recebera entre 2010 e 2013 a IndyCar.

Não existe muito em comum entre os dois projetos, para além de ambos usarem secções do Sambódromo (que confere a possibilidade de ter à partida 30 mil lugares sentados) e da Reta de Marte (na direção oposta). Isto não é necessariamente mau, uma vez que problemas de aderência caracterizaram a passagem da IndyCar por terras brasileiras, apesar das várias tentativas de o atenuar com pequenas modificações.

A nova pista da categoria elétrica terá (para os padrões da FE) longas retas que permitirão deixar as novas unidades motrizes atingirem as suas velocidades máximas, e ainda diversas chicanes para criar pontos de ultrapassagem e de regeneração de energia.

Esta foi a primeira de 5 provas contratadas, com a possibilidade de uma extensão de 5 anos adicionais se tudo correr pelo melhor.

Ronda 6 – ePrix de São Paulo 2023

As longas retas da meta de São Paulo até proporcionaram momentos de ultrapassagem ao longo da corrida, mas também significaram ter de ver algo que poucos terão apreciado: um jogo constante de não querer liderar até aos momentos finais.

Aniversariante e pole position de São Paulo, o campeão em título, Stoffel Vandoorne, acabou por ser o grande sacrificado, com muito maior consumo de energia que os rivais (apesar de várias tentativas de se deixar ficar para trás na reta da meta, em que os rivais também desaceleraram). Isto ajuda a explicar a perda de 5 posições do piloto da DS Penske, até atrás do colega de equipa (Jean-Éric Vergne) que tinha começado em 7º.

O 2º classificado da qualificação não teve muito melhor sorte. António Félix da Costa estava com um excelente ritmo ao longo de todo o dia, mas acabou por não conseguir maximizar um dia de azar para os rivais do campeonato devido a um erro próprio nas voltas finais que o fez perder tempo valioso para um eventual ataque aos líderes. Ainda assim, conseguiu uma pequena aproximação ao topo do campeonato (o colega da Porsche, Pascal Wehrlein).

Nenhum destes maus dias se compara aos da Maserati e Nissan. Os primeiros tinham conseguido colocar ambos os carros no Top 10 da qualificação, mas viram Edoardo Mortara envolver-se no caos do início de prova (com direito a Safety Car) e viram Maximilian Günther ser o seu “eu” mais errático a caminho de 0 pontos no Brasil. Já Nissan viu a sua dupla abandonar logo nas voltas iniciais.

A quem o dia correu muitíssimo bem foi a quem tinha unidades motrizes da Jaguar nos seus monolugares. Não só os dois carros Jaguar se colocaram no Top 5, como também Mitch Evans e Sam Bird souberam gerir da melhor forma os seus ritmos ao longo da prova. O primeiro triunfou ao segurar um ataque feroz de Nick Cassidy (da Envision, também com motores Jaguar), o segundo passou as derradeiras voltas a atacar Cassidy, garantindo o 3º posto.

Destaque ainda para o ponto somado por Sébastien Buemi, a continuação do trabalho competente da McLaren no seu primeiro ano na categoria, e para o regresso ao ativo dos monolugares operados pela Mahindra, depois do susto da não-participação na Cidade do Cabo.

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Qualificação: 1. Vandoorne \ 2. Félix da Costa \ 3. Evans \ 4. Mortara \ 5. Bird (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Evans \ 2. Cassidy \ 3. Bird \ 4. Félix da Costa \ 5. Vergne \ 6. Vandoorne \ 7. Wehrlein \ 8. Hughes \ 9. Rast \ 10. Buemi (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (86) \ 2. Dennis (62) \ 3. Cassidy (61) \ 4. Vergne (60) \ 5. Félix da Costa (58) —– 1. Porsche (144) \ 2. Envision (103) \ 3. Jaguar (83) \ 4. DS Penske (82) \ 5. Andretti (80)

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ePrix São Paulo seguinte: 2024

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Fontes:
Racing Circuits \ São Paulo





No meio do caos, dá Félix da Costa – ePrix Cidade do Cabo 2023

27 02 2023

Já há algum tempo que as categorias do automobilismo têm compreendido a incongruência de se apelidarem de campeonatos mundiais sem que passem pelo continente africano. Como país com melhores índices económicos e de desenvolvimento humano em África, a África do Sul é geralmente a responsável pela organização destes eventos, só que tanto a nível de F1 como de FE tem demorado a conseguir oficializar um acordo. Acordo que a torna a sucessora de Marrocos como prova africana da categoria.

A estreia do país na Fórmula E foi feita num circuito citadino na Cidade do Cabo, que passará pelos distritos de Green Point e Waterfront a velocidades que o tornaram um dos circuitos com maior média de velocidade na temporada (e uma das melhores oportunidades para os novos monolugares “esticarem as pernas”).

Com a Montanha da Mesa a fazer de fundo para a ação, os pilotos iriam competir ao longo dos 2,74 km e 12 curvas para ver quem conseguiria triunfar num traçado com menos chicanes que o usual para os padrões da Fórmula E.

Ronda 5 – ePrix da Cidade do Cabo 2023

Quando aparece qualquer classificação de uma corrida em que apenas terminam 13 dos 22 carros inscritos, compreende-se que o caos foi garantido.

O primeiro percalço foi logo antes do início das sessões oficiais, com a Mahindra a anunciar que tinha detetado uma flexão pouco natural e muito perigosa na suspensão traseira dos 4 carros (os oficiais e os ABT), o que forçou a equipa a terminar precocemente a sua participação no fim-de-semana (e a fazer Lucas di Grassi pela primeira vez faltar a uma prova).

Juntando a isto incidentes vários ao longo da prova, que começou logo na primeira volta a provocar estragos, e percebe-se um pouco melhor como António Félix da Costa conseguiu ascender do seu 11º lugar na partida até à vitória final. Não totalmente por motivos alheios, uma vez que o português fez uso pleno da boa forma do seu Porsche para ir passando adversários um a um, culminando numa excelente ultrapassagem sobre o antigo colega de equipa da DS (Jean-Éric Vergne).

Com Pascal Wehrlein e Jake Dennis mais uma vez em sarilhos, isto significou que Félix da Costa e Vergne se aproximaram dos outros dois como os mais diretos perseguidores na corrida do título.

Nick Cassidy e Sébastien Buemi terminaram em 3º e 5º, respetivamente, para provar que as unidades da Jaguar são competitivas apesar das dificuldades da equipa oficial, e a McLaren fez o mesmo em relação à Nissan (que apesar de ter feito uma inesperada pole position com Sacha Fenestraz acabou por sair da Cidade do Cabo com apenas 4 pontos.

Melhor, ainda assim, que a Maserati, que viu Maximilian Günther desperdiçar uma oportunidade de ouro para bons pontos com uma cambada de erros pouco vistosos que o levaram a partir a direção do carro contra o muro. A equipa italiana permanece com apenas 3 pontos neste campeonato.

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Qualificação: 1. Fenestraz \ 2. Günther \ 3. Cassidy \ 4. Evans \ 5. Vergne (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Félix da Costa \ 2. Vergne \ 3. Cassidy \ 4. Rast \ 5. Buemi \ 6. Ticktum \ 7. Vandoorne \ 8. Nato \ 9. Lotterer \ 10. Hughes (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (80) \ 2. Dennis (62) \ 3. Vergne (50) \ 4. Félix da Costa (46) \ 5. Cassidy (43) —– 1. Porsche (126) \ 2. Venturi (84) \ 3. Andretti (80) \ 4. McLaren (66) \ 5. DS Penske (61)

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Fontes:
The Race \ Mahindra retira carros





Vergne segura tudo e todos – ePrix Hiderabade 2023

11 02 2023

O desejo da Fórmula E competir em território indiano é já antigo. Tendo uma equipa “da casa” integrada no campeonato desde a primeira hora (Mahindra), o facto de o ePrix de Putrajaya apenas ter aguentado durante dois anos levou a que os organizadores da categoria tenham começado a procurar alternativas na Índia.

A escolha recaiu sobre Hiderabade, mais especificamente à volta do Complexo do Secretariado e através do Parque Lumbini, nas margens de um lago artificial (o Hussain Sagar). As discussões já teriam andado sérias entre a cidade e a FE antes do princípio do período agudo da pandemia, mas atrasaram por esse mesmo motivo. A confirmação da adição ao calendário chegou nos meses finais de 2022.

Idealizado pela mesma empresa que já desenhara o circuito do Abu Dhabi (Driven International), o circuito inicialmente tinha tido dois projetos, mas os pilotos que guiaram em simuladores o preterido tinham-no descrito como tendo um “formato de dildo” (Norman Nato). A sua rejeição não surpreendeu, quando anunciada.

A pista já recebeu um evento da Indian Racing League, sendo previstas provas da Fórmula Regional Indiana e a F4 Indiana.

Ronda 4 – ePrix de Hiderabade 2023

Ainda nem tinham os treinos livres começado na sexta-feira e ja haviam problemas a apontar em relação à organização da prova inaugural de Hiderabade. Com base na insatisfação entre o público e a polícia local, carros de estrada e transeuntes ultrapassaram as barreiras da pista e circulavam no traçado meros momentos antes de ser suposto estarem monolugares a correr.

Mesmo dentro do paddock houve algumas chatices, com a FIA a não ter gostado da proximidade de pessoas às barreiras e a ter que fazer uso de segurança adicional.

Em qualificação também houve direito a peculiaridades, com os limites de pista a serem excedidos com frequência nos quartos-de-final. Num deles reverteu um resultado a favor de Jean-Éric Vergne. No outro penalizou ambos e deixou o francês a fazer uma meia-final sozinho…

A pole, num duelo eletrizante entre Mitch Evans e Vergne, deu vitória ao homem da Jaguar.

Na partida, Evans conseguiu segurar a sua liderança e iniciou aquilo que prometia ser um duelo de prova inteira com Vergne e os dois Envision, mas as coisas rapidamente se complicaram quando Sam Bird não ponderou bem uma ultrapassagem e eliminou ambos os carros da Jaguar quando estavam em posições cimeiras. A equipa cliente Envision aproveitou a forma dos britânicos para lutar pela vitória.

Vitória que acabaria por não escapar a Vergne, que soube gerir com incrível precisão os seus consumos de energia e segurar Nick Cassidy (e a maioria do pelotão, diga-se de passagem, que no final da prova já circulava em fila nariz com asa) para dar à parceria DS Penske a sua primeira vitória, apesar de ainda faltar um certo ritmo ao carro americano.

Os Envision teriam ficado donos do resto das posições do pódio, não fosse uma penalização a Sébastien Buemi. O beneficiado com o 3º lugar foi António Félix da Costa (a completar a prova número 100 na categoria), que admitiu ter beneficiado da confusão para obter o seu resultado.

Foram muitos abandonos ao longo da corrida, chegando a haver Safety Car para abandono de Jake Hughes. O resultado disto foi o melhor resultado em alguns anos da NIO 333 (5º posto para Sergio Sette Câmara) e ótimas posições nos pontos para a Mahindra (6º de Oliver Rowland) e Nissan (7º de Norman Nato).

A Maserati continua a demonstrar algumas dificuldades, enquanto que a McLaren teve o seu primeiro fim-de-semana negativo desde que entrou na Fórmula E.

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Qualificação: 1. Evans \ 2. Vergne \ 3. Buemi \ 4. Fenestraz \ 5. Günther (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Vergne \ 2. Cassidy \ 3. Félix da Costa \ 4. Wehrlein \ 5. Sette Câmara \ 6. Rowland \ 7. Nato \ 8. Vandoorne \ 9. Lotterer \ 10. Mortara (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (80) \ 2. Dennis (62) \ 3. Vergne (31) \ 4. Buemi (31) \ 5. Cassidy (28) —– 1. Porsche (101) \ 2. Andretti (78) \ 3. Envision (59) \ 4. McLaren (53) \ 5. Jaguar (42)

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Fontes:
Racing Circuits \ Hiderabade
Sportstar \ Trânsito em pista





Os imparáveis Dennis e Wehrlein – ePrix Diriyah 2023

28 01 2023

Fora da etapa de abertura do campeonato pela primeira vez em dois anos, não foi necessário esperar muito após a primeira ronda para que a etapa saudita da época fizesse a sua aparição como ronda dupla. Localizada em Diriyah, nas redondezas da capital Riade, a pista foi a primeira prova noturna da história da FE a partir de 2021, conferindo-lhe um talismã de atração.

Circuito desafiante e com amplas possibilidades de ultrapassagem, Diriyah tem sido utilizado pela Arábia Saudita como parte da sua estratégia de limpeza de imagem internacional através do desporto. Aliás, também presente na grelha de partida a partir desta temporada está a McLaren com o patrocínio da Neom (projeto turístico saudita), como prova deste investimento.

Em termos de ação em pista, esta processa-se num circuito com 2,5 km e 21 curvas, que atravessa uma área com património mundial da UNESCO e que por isso contou com cuidados especiais na idealização do projeto. Alterações adicionais foram introduzidas em 2018.

Sam Bird permanece como o maior vencedor da história deste ePrix (com duas), sendo que os mais recentes vencedores antes da prova eram Nyck de Vries e Edoardo Mortara. Kelvin van der Linde assumiu o lugar de Robin Frijns na ABT Cupra, uma vez que o holandês ainda está a recuperar do seu pulso partido da primeira ronda.

Ronda 2 – ePrix de Diriyah (1) 2023

Numa sexta-feira, e logo com grandes dificuldades para os fãs e assistir ao vivo, verificou-se mais uma vez uma performance absolutamente genial dos carros equipados com motores da Porsche. Jake Dennis (Andretti) e Pascal Wehrlein (Porsche) não chegaram aos quartos de final da qualificação por uma mistura de fatores, mas a maneira incrível como foram ultrapassando a concorrência durante a prova significou que ambos voltaram a terminar entre os dois primeiros (mas agora por ordem inversa, com Wehrlein a triunfar).

O outro Porsche de António Félix da Costa acabou por ser uma das vítimas inocentes de uma travagem brusca de Mitch Evans, ficando sem a asa dianteira e tendo que parar nas boxes.

O pole Sébastien Buemi conseguiu puxar o seu Envision até ao topo da qualificação, mas acabou por não conseguir deixar escapar à justa o pódio, perdendo o 3º lugar para o Jaguar de Sam Bird. Jake Hughes, que Buemi derrotou na final, caiu ainda mais baixo para 8º (atrás do colega McLaren René Rast em 5º).

Já Dan Ticktum, que brilhou nos treinos e qualificação, acabou por não conseguir manter o seu NIO 333 nos pontos, suspeitando-se que a performance de longo curso dos chineses ainda deixa muito a desejar.

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Qualificação: 1. Buemi \ 2. Hughes \ 3. Bird \ 4. Ticktum \ 5. Rast (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Bird \ 4. Buemi \ 5. Rast \ 6. Cassidy \ 7. Vergne \ 8. Hughes \ 9. Lotterer \ 10. Evans (Ver melhores momentos)

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Ronda 3 – ePrix de Diriyah (2) 2023

Se a primeira prova de Diriyah tinha trazido uma recuperação de grande nível de Wehrlein e Dennis, a segunda trouxe precisamente a mesmíssima coisa. As unidades motrizes da Porsche somam assim três dobradinhas consecutivas e os dois pilotos prosseguem o seu distanciamento face aos rivais na luta pelo título.

Sam Bird quase que repetiu o pódio de sexta-feira, mas acabou por se quedar por 4º, logo atrás do primeiro pódio da McLaren cortesia de Rast. Já o outro McLaren teve um dia bem mais interessante: Hughes colocou o seu carro em 1º lugar na qualificação, acabando por perder a liderança face à concorrência ao longo da prova antes de perder energia a caminho da reta, perdendo algumas posições extra e inadvertidamente atrasando o Jaguar de Evans (literalmente, preso atrás dele).

Buemi prosseguiu a sua melhoria de forma de 2023, acabando com o seu Envision / Jaguar mesmo na frente do Jaguar de Evans e do Nissan (a sua antiga equipa) de Sasha Fenestraz.

A Maserati conseguiu abrir a sua conta de 2023 finalmente, através de Edoardo Mortara e a NIO 333 fez o mesmo com Dan Ticktum. Já Félix da Costa qualificou-se em 17º e ainda recuperou 6 posições, terminando mesmo à beira de pontos.

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Qualificação: 1. Hughes \ 2. Evans \ 3. Rast \ 4. Buemi \ 5. Wehrlein (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Wehrlein \ 2. Dennis \ 3. Rast \ 4. Bird \ 5. Hughes \ 6. Buemi \ 7. Evans \ 8. Fenestraz \ 9. Mortara \ 10. Ticktum (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Wehrlein (68) \ 2. Dennis (62) \ 3. Buemi (31) \ 4. Bird (28) \ 5. Hughes (27) —– 1. Andretti (76) \ 2. Porsche (74) \ 3. McLaren (53) \ 4. Envision (41) \ 5. Jaguar (39)

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Corrida anterior: ePrix Cidade do México 2023
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ePrix Diriyah anterior: 2022
ePrix Diriyah seguinte: 2024





Dennis abre a conta – ePrix Cidade do México 2023

15 01 2023

Aos poucos a Fórmula E começa a voltar a antecipar o seu início de temporada. Este ano coube à Cidade do México a honra de abrir a temporada, depois de nos últimos antes ter sido em terras sauditas. A pista utilizada foi a que tem sido invariavelmente usada pelo México desde a sua entrada na categoria, com secções apertadas a serem misturadas com o Autódromo Hermanos Rodríguez.

O autódromo da capital deriva o seu nome dos irmãos piloto do país, que faleceram em pista e foram os mais bem-sucedidos mexicanos no automobilismo até Sergio Pérez, e que em 1993 recebeu obras extensivas que permitiram o regresso de corridas de renome mundial ao território mexicano.

Tradicionalmente a altitude elevada da capital mexicana traduz-se em maiores velocidades de ponta dos carros, uma vez que a menor resistência do ar faz a sua parte. Isto acaba por dificultar um pouco as ultrapassagens, se bem que a Fórmula E raramente necessite de motivos extra para apimentar provas, tendo já visto Lucas di Grassi vencer uma prova na aceleração para a última curva em 2018-19 quando Pascal Wehrlein perdeu a energia.

Ronda 1 – ePrix da Cidade do México 2023

Era difícil perder a oportunidade de saber como se alinharia a nova ordem da Fórmula E, mas a qualificação do evento da Cidade do México trouxe uma cara bem familiar ao topo. Lucas di Grassi, em estreia pela Mahindra, autor de várias pole positions antes de 2023, retomou o seu lugar no topo da grelha de partida ao vencer o Andretti de Jake Dennis na final da qualificação. Infelizmente para o brasileiro, segurar os adversários em corrida foi bem mais difícil.

Dennis fez uso da boa forma da sua equipa e da sua fornecedora de motores (a Porsche, que teve os seus 4 carros no Top 10 ao longo de todo o fim-de-semana) para superar di Grassi em pista e fugir na frente da prova. O britânico tem andado em ascendente nos últimos anos e conseguiu controlar os avanços de Pascal Wehrlein pelo pelotão com uma aparente facilidade.

Wehrlein recuperou de 6º a 2º ao longo da prova, tal como o outro Porsche de António Félix da Costa que subiu de 9º a 7º. André Lotterer, no segundo Andretti, também esteve em grande nível durante o sábado, chegando a aplicar uma consistente e implacável pressão sobre o McLaren de Jake Hughes que lhe deu o 4º lugar nas voltas finais.

Não que Hughes tenha deixado algo a desejar. Em estreia na categoria, o inglês pareceu exausto após a prova, mas mostrou o melhor que a McLaren tem para dar na FE na sua primeira corrida de sempre na categoria, segurando pilotos bem mais experientes como Sébastien Buemi ou Félix da Costa.

A Envision conseguiu ficar mesmo à frente da equipa principal (a Jaguar), com Buemi e o colega de equipa (Nick Cassidy) a sobreporem-se ao Jaguar principal de Mitch Evans. Com o último lugar pontuável ficou o DS Penske do campeão em título, Stoffel Vandoorne, demonstrando que não chega o apoio da DS para elevar a diminuta estrutura ao topo da tabela. Também a Maserati sofreu no circuito mexicano para atingir performances ao nível das de 2022.

Marcada por diversos momentos de Safety Car, a corrida começou logo com um devido a um acidente entre Robin Frijns e Norman Nato. Frijns abandonou no local e Nato arrastou-se até às boxes para abandonar. O impacto não parecera demasiado forte, mas Frijns infelizmente partiu o seu pulso com gravidade suficiente para necessitar de cirurgia corretiva.

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Qualificação: 1. di Grassi \ 2. Dennis \ 3. Hughes \ 4. Lotterer \ 5. Ticktum (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Dennis \ 2. Wehrlein \ 3. di Grassi \ 4. Lotterer \ 5. Hughes \ 6. Buemi \ 7. Félix da Costa \ 8. Evans \ 9. Cassidy \ 10. Vandoorne (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Dennis (26) \ 2. Wehrlein (18) \ 3. di Grassi (18) \ 4. Lotterer (12) \ 5. Hughes (10) —– 1. Andretti (38) \ 2. Porsche (24) \ 3. Mahindra (18) \ 4. McLaren (10) \ 5. Envision (10)

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ePrix Cidade do México anterior: 2022

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Fonte:
FE \ Frijns parte pulso





Muitas incógnitas na Gen 3 da Fórmula E

7 01 2023

Já são três temporadas consecutivas em que as temporadas de Fórmula E, que deveriam incluir dois anos do calendário, incluem apenas um único ano. A pandemia provocou o caos na logística da categoria elétrica e os estragos ainda se notam na idealização do calendário. Ainda não foi este ano que se viu a temporada 2022/23. O que deve ter sido motivo para grandes festejos, dado o nascimento difícil dos novos carros de FE, os Gen 3.

Uma sessão de pré-temporada em Valência nem sempre revela demasiado, uma vez que se trata de um tipo de circuito que os monolugares raramente enfrentam durante a temporada. Desta vez, no entanto, serviu para dar um alerta geral às equipas: a fiabilidade dos novos modelos está pelas ruas da amargura…

Para além das preocupações gerais com quantos carros conseguirão de facto chegar ao fim da prova da Cidade do México, os pilotos têm reportado que a potência extra e menor peso não se estão a traduzir em ganhos significativos de performance (para já) e, mais grave, já ocorreram alguns incidentes em pista de impactos fortes (para grande irritação de pilotos como Sébastien Buemi).

Nem tudo são más notícias. Estruturas novas entrarão em ação este ano, com apoios oficiais de construtoras automóveis, as credenciais verdes da categoria não param de subir, há duplas de pilotos extremamente interessantes, e uma margem de progressão potencialmente grande no que toca a desbloquear o potencial dos novos monolugares (e dos novos pneus Hankook).

A Mercedes saiu e agora?

Costuma ser incomum ver um piloto de automobilismo abandonar a categoria no ano a seguir a conquistar o título, mas ainda mais incomum é que uma equipa inteira abandone a competição como bicampeã em título.

A estrutura da equipa alemã não saiu propriamente por vontade própria, tendo que ceder o seu espaço na grelha por vontade da casa-mãe de Estugarda. Os seus dois pilotos sumiram-se (o campeão de 2022, Vandoorne, para a DS Penske e o campeão de 2021, de Vries, para a F1), mas Ian James, o chefe da equipa, pareceu decidido a não ter o mesmo fim que a Audi na FE. Negociando com a McLaren e o projeto Neom (da Arábia Saudita), James conseguiu transformar-se numa equipa cliente (os propuslores foram contratados à Nissan) e conseguiu os serviços de pilotos como René Rast e Jake Hughes para solidificar o projeto.

A recompensa por estes esforços é que a McLaren se apresentou como uma das equipas que mais impressionaram na curta sessão de testes de Valência, andando pelos lugares da frente e com uma quilometragem de fazer inveja às outras equipas. Resta ver como lidarão com não terem a vantagem das melhores unidades de potência ao seu serviço.

Como se comportarão os dragões, tridentes e estreantes?

Não é só a McLaren a aparecer de cara lavada em 2023.

Aparecendo como equipa privada que incomoda as de fábrica ao longo dos últimos anos, foram poucas as pessoas que não tenham ficado com uma forte expectativa de ver o que a antiga Venturi conseguiria fazer nesta transformação para estrutura oficial da Maserati (grupo Stellantis). A avaliar pelos testes de Dezembro, há razões de sobra para as rivais se preocuparem. Os italianos não só contaram com o sempre excepcional Edoardo Mortara no seu nível habitual, como ainda viram Maximilian Günther a mostrar que a sua forma no ano passado na Nissan não era motivo para preocupação.

Outra estrutura que parece não ter perdido nada com as mudanças foi a “vizinha” da Stellantis, a DS. Campeã durante 2 anos com a Techeetah, a marca francesa mudou-se para a Dragon Penske do fundo da grelha para a formar uma DS Penske que conseguiu atrair dois campeões de Fórmula E: Jean-Éric Vergne e o atual campeão, Stoffel Vandoorne. Quase nada da antiga equipa americana parece sobrar, resultando numa pré-temporada bem conseguida.

Finalmente, depois de um ano fora de competição, a ABT decidiu regressar à categoria elétrica do zero. Habituada a ser a estrutura oficial da Audi, a equipa alemã teve de se contentar desta vez em ser uma mera cliente da Mahindra, ainda que até neste ponto já tenham os olhos no futuro: a Cupra (Seat) será patrocinadora e possivelmente uma eventual fornecedora de motores. Aos comandos dos ABT andarão o consistente Robin Frijns e a incógnita Nico Müller.

Jaguar e Porsche tentam o salto definitivo

Não deixa de ser curioso que a Jaguar continue a vários níveis com a imagem de ainda não se ter juntado ao grupo das grandes estruturas da Fórmula E, quando já são alguns anos consecutivos a vencer provas na categoria e dois em que tem lutado pelo título. Das poucas equipas que não alteraram quase nada na sua estrutura para 2023, a marca britânica espera dar o passo final. Para isso conta com o piloto com mais vitórias de 2022, Mitch Evans, e espera contar com o Sam Bird confiante que esteve desaparecido nos últimos doze meses.

Pela primeira vez contarão com uma equipa cliente nas suas fileiras, tendo assinado com a Envision (depois de um longo relacionamento destes com a Audi). A Envision tem perdido algum do seu brilho de equipa da frente em anos recentes, assim como a sua ótima dupla Bird-Frijns. Mas nem tudo são más notícias: Nick Cassidy continua na equipa com que triunfou no ano passado, e o campeão Sébastien Buemi mudou de ares para recuperar a sua forma.

Já os motivos pelos quais a Porsche ainda não foi considerada uma equipa da frente não são difíceis de descortinar. Habituada a entrar numa competição e não demorar quase tempo nenhum até vencer, a Porsche apenas venceu pela primeira vez em 2022 e depois caiu de forma. Com os novos regulamentos deste ano, os alemães contam ajudar Pascal Wehrlein e o novo recruta António Félix da Costa a lutar pelos lugares cimeiros.

André Lotterer, que tinha até ao ano passado integrado a equipa, optou por se juntar a Jake Dennis na Andretti (fornecida agora pela Porsche). Os americanos têm conseguido lidar bem com a passagem de equipa oficial para equipa cliente, de tal forma que provaram a sua mais-valia para a Porsche. O que deixa no ar a ideia, conseguirão eles assumir o papel de estragar a festa à equipa principal (à semelhança da Venturi com a Mercedes).

A fugir ao fundo

Sendo verdade que as performances das novas unidades motrizes da Nissan não poderão ser questionadas, uma vez que a McLaren tem feito boa figura nos testes, perduram muitas dúvidas quanto à estrutura da equipa principal dos japoneses (principalmente desde que a DAMS abandonou os comandos ao grupo Renault). Quebrando por completo com o caminho que vinha a ser trilhado desde o início, a equipa apostou numa dupla completamente diferente para 2023, com Norman Nato (que já mostrou flashes de velocidade na categoria) e Sacha Fenestraz (que se estreará a tempo inteiro na FE, depois de ter mostrado muito valor nas categorias de promoção japonesas).

As capacidades de ambos os pilotos não estão em questão para este ano, já a habilidade de ambos para fazer ressuscitar o projeto Nissan na Fórmula E poderá ser mais complexo.

Quem não deverá contar com preocupações neste quesito é a Mahindra, que assinou com o campeão Lucas di Grassi no seu ataque às novas regras (onde se juntará à contratação do ano passado, Oliver Rowland). A equipa indiana tem procurado (com ocasional sucesso) ser produtora dos seus próprios motores de forma a ameaçar as grandes construtoras e tem vindo a aumentar as suas aspirações (como se vê pelo fornecimento à ABT). Resta ver se terão orçamento para aguentar estes desejos.

Tendo em conta tudo isto, parece difícil que não seja a NIO 333 a mais séria candidata ao fundo da grelha. A “prata da casa” que era Oliver Turvey não continuou a sua presença, mantendo-se antes Dan Ticktum (que terá internamente somado alguns pontos ao longo de 2022) com a adição de Sérgio Sette Câmara. Apesar de a qualidade de ambos não ser questionável, no contexto da Fórmula E não mostraram ainda o suficiente para poderem ser considerados pilotos de topo. Juntando a isto os baixos quilómetros acumulados em Dezembro, parece difícil que a equipa ambicione muito mais do que tem vindo a conseguir.

A nova cara da Fórmula E

Já é tradição que uma temporada de Fórmula E só esteja verdadeiramente definida quando a última corrida se avizinha, e 2023 traz mais do mesmo. As adições da Cidade do Cabo e Hiderabade tiveram os seus traçados oficiais por oficializar até menos de um mês de se realizarem as suas provas. As diversas tentativas de realizar provas em território chinês continuam a redundar em fracasso devido às políticas Covid do Governo do país. As provas de Nova Ioque tiveram que ser substituídas por uma ronda em Toronto devido a expansões nos terminais do ferry.

O resultado é um calendário com 16 em vez de 18 corridas como originalmente projetado, mas com ainda mais rondas duplas que as que idealmente gostariam.

Restando ainda ver os efeitos práticos dos novos monolugares na primeira prova do ano, sabemos já a nova imagem da Fórmula E num sentido literal, com o novo logotipo apresentado no final de 2022, que simboliza muitas das mudanças que a categoria tem feito para se legitimar (e cujo principal expoente é o fim do Fan Boost).

Para 2023, as incógnitas são muitas. Veremos quem sairá por cima na próxima semana na Cidade do México.





As primeiras do ano – e-Prix Nova Iorque 2022

18 07 2022

Local de paragem obrigatória no calendário da Fórmula E desde 2017 (com a exceção de 2020, devido à pandemia), o circuito de Brooklyn foi um dos compromissos entre proximidade à famosa cidade americana e um afastamento em relação ao caótico centro da cidade.

Com outras categorias como a F1 e a IndyCar interessadas em chegar a acordo com Nova Iorque, o facto de ter sido a FE a primeira a chegar a acordo com a cidade para organizar uma corrida foi um golpe publicitário significativo para uma categoria com meros anos de existência.

O maior vencedor em terras norte-americanas é Sam Bird, que triunfou na primeira edição (em ambas as provas) e na mais recente, sendo que Maximilian Günther foi outro piloto a triunfar no circuito em 2021. Tendo em conta as recentes sortes dos dois na temporada de 2022, qualquer teria repetido a façanha de bom grado…

Ronda 11 – e-Prix de Nova Iorque (1) 2022

Se há piloto que bem pode agradecer uma sorte enorme na etapa 11 da Fórmula E, esse piloto é Nick Cassidy. Nem sempre com a sorte do seu lado este ano, o neo-zelandês da Envision brilhou na pista de Nova Iorque e conseguiu suplantar rival após rival em qualificação para fazer a sua primeira pole position do ano.

Saíndo do primeiro lugar da grelha, o piloto viu o veloz candidato ao título Stoffel Vandoorne ser ultrapassado na partida por Lucas di Grassi e Sébastien Buemi, cujos monolugares, não sendo tão velozes quanto os Mercedes, serviram de tampão ao progresso de Vandoorne e protegeram a retaguarda de Cassidy. Como se este golpe de sorte não bastasse, Cassidy, quando a chuva caiu com toda a força no final, foi um dos vários acidentados mas beneficiou de uma bandeira vermelha (sem recomeço de corrida) para manter a sua vitória (a primeira da carreira).

Di Grassi acompanhou-o no pódio, sendo o mais elevado dos Venturi devido à má qualificação do mais eficaz colega de equipa, assim como o outro Envision de Robin Frijns, visivelmente descontente por já acumular dois anos de quase-vitórias para ver o companheiro ser quem triunfa.

De cabeça no campeonato, Vandoorne acumulou uma boa quantia de pontos, já que Jean-Éric Vergne e Mitch Evans não pontuaram (vítimas das chuvas inesperadas da qualificação).

Destaque ainda para o impressionante 5º lugar de Sébastien Buemi, que manteve o Nissan em posições mais elevadas que as que realmente merecia, e para uma corrida sem problemas (por uma vez) para o Porsche de Pascal Wehrlein.

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Qualificação: 1. Cassidy \ 2. Vandoorne \ 3. di Grassi \ 4. Wehrlein \ 5. Buemi (Ver melhores momentos)

Resultado: 1. Cassidy \ 2. di Grassi \ 3. Frijns \ 4. Vandoorne \ 5. Buemi \ 6. Wehrlein \ 7. Bird \ 8. de Vries \ 9. Mortara \ 10. Dennis (Ver melhores momentos)

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Ronda 12 – e-Prix de Nova Iorque (2) 2022

Com sorte abundante na primeira corrida em terras americanas, Cassidy sofreu a bom sofrer na segunda corrida. Tendo atingido o feito notável de obter uma segunda pole consecutiva, o piloto da Envision recebeu (enquanto dava uma entrevista com António Félix da Costa que derrotara na final) a notícia de que a substituição de componentes no seu carro após o acidente lhe custaria ter que partir de último.

Herdando esse primeiro lugar, Félix da Costa (que abandonara no sábado) agarrou a oportunidade com ambas as mãos e venceu quase de ponta a ponta. Para isso o homem da DS Techeetah beneficiou de ter Alexander Sims a servir de bloqueio para o rápido Stoffel Vandoorne logo atrás durante boa parte da prova. Mesmo com a pressão forte nas voltas finais, o português conseguiu segurar a posição e tornar-se o primeiro piloto da equipa a vencer em 2022. Irónico, considerando que é colega de equipa dele quem luta pelo título…

Os Dragon Penske ainda se tinham qualificado muito bem (ambos no Top 10) mas foram incapazes de segurar os carros mais rápidos e caíram para fora dos pontos. Já Mitch Evans fez uma ótiuma passagem por fora nas voltas finais sobre Sims (que anunciou antes do fim-de-semana que abandonará no próximo ano a categoria para se dedicar a endurance) para garantir o 3º lugar.

As últimas voltas também trouxeram abandonos para di Grassi, Vergne e Askew.

Com isto, Vandoorne recuperou a liderança do campeonato quando faltam apenas 4 corridas para o fim, enquanto que Vergne se afastou um pouco do comboio de perseguição ao belga composto por Mortara e Evans. Para Félix da Costa e Cassidy, chegaram as primeiras vitórias do ano. Nos construtores, Mercedes, Venturi e Techeetah estão bem coladas e com hipóteses quase iguais de chegar ao título.

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Qualificação: 1. Félix da Costa \ 2. Sims \ 3. Lotterer \ 4. Sette Câmara \ 5. Vandoorne

Resultado: 1. Félix da Costa \ 2. Vandoorne \ 3. Evans \ 4. Sims \ 5. Bird \ 6. Frijns \ 7. de Vries \ 8. Dennis \ 9. Lotterer \ 10. Mortara (Ver melhores momentos)

Campeonato: 1. Vandoorne (155) \ 2. Mortara (144) \ 3. Evans (139) \ 4. Vergne (128) \ 5. Frijns (104) —– 1. Mercedes (238) \ 2. Venturi (228) \ 3. DS Techeetah (228) \ 4. Jaguar (186) \ 5. Envision (151)

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