Killer instinct

16 11 2011

“Killer instinct”, para quem não sabe, é o que os ingleses chamam àquela chama que as pessoas têm para atacar, nunca desistir, sempre. E é aquilo que à uns meses Mark Webber disse que as mulheres não tinham para o automobilismo. Já é uma opinião comum entre alguns pilotos de que as mulheres simplesmente não conseguem ser competitivas no mundo dos automóveis. Discordo.

Honestamente não vou nessa conversa, nem da da questão da força. Há direcção assistida (o Trulli reclama quando não há), e agressividade é uma coisa que não é ditada pelo sexo. E há alguns exemplos de mulheres que têm conseguido afirmar-se, como a Danica Patrick, que é razoavelmente competitiva na IndyCar (ainda que vá mudar para a NASCAR), ou a Bia Figueiredo que tem subido nos escalões nos monolugares na América (e venceu uma das provas do Desafio das Estrelas, organizado por Felipe Massa).

Danica Patrick na sua vitória em Motegi.

Ainda que haja quem prefira ver as mulheres relegadas ao papel de “grid girls” no mundo automóvel, existem alguns que defendem o oposto como eu. Um deles é, curiosamente, Jeremy Clarkson, que embora seja bastante radical nas suas opiniões, consegue estar bastante certo nesta questão. Para além de uma crítica no programa Top Gear, escreveu à dois anos um artigo bastante interessante. Seguem-se as passagens mais interessantes:

“Em Agosto, eu e o chefe do Top Gear, Andy Wilman, fomos a Edimburgo dar uma conferência a membros dos media sobre porque o Top Gear continua a bater recordes na 14ª temporada (…). Decidimos fazer uma sessão de pergunta-resposta.

“E eis as perguntas: Porque não há uma mulher apresentadora? Porque é que só há mulheres bonitas na frente da audiência? Porque é que metade da audiência são mulheres? (…) Alguma vez a BBC vos pediu para colocarem uma apresentadora feminina?

“Haviam, na verdade, muitas perguntas sobre mulheres. Tantas que nem tiveram tempo de nos chatear com o aquecimento global.

“O problema é que os executivos de TV puseram na cabeça que se um apresentador é loiro de olhos azuis e heterrosexual, o outro tem que ser uma negra islâmica lésbica. Giz e queijo, dizem eles funciona. E nós temos ganho prémios com o Top Gear durante seis anos com queijo e queijo. Isto confunde-os. (…)

“Ao contrário de furiosas feministas eu não faço distinções entre homens e mulheres. Excepto na cama, onde convém mesmo ver as diferenças.

“O pior condutor do mundo é o director de estúdio do Top Gear. Ponham-no num aeródromo com um carro e ele vai-lhe bater. Eu sei. Já o vi fazê-lo. (…) E ele tem um escroto.

“Vicki Butler-Henderson, por outro lado, não tem um escroto. Vocês conhecem-na como apresentadora do Fifth Gear. (…) Eu estava num Aston Martin DBS e ela um Ferrari California. Tínhamos grande parte de Silverstone para brincar. Eu devia ter-lhe dado uma tareia. Tinha mais 4 cilindros, mais um milhão de cavalos, e mais dois testículos. Mas eu não consegui. Nem me consegui aproximar.

“Ela conseguia por o grande e branco Fezza para as curvas e aguentá-lo nos deslizes mais gloriosos, enquanto eu estava a gritar na relva, a apontar para o lado errado. (…)

“E graças a Vicki, nós sabemos que há mulheres que conduzem bem. Sabemos também que muitas se interessam por carros. E que milhões delas vêem a F1, por outras razões que não terem um fraquinho pelo Mark Webber.”

Clarkson refere-se a Vicki Butler-Henderson que ainda hoje apresenta o Fifth Gear com Tiff Needell e Jonny Smith (foi-se o Jason Plato). No último programa guiou o novo Ferrari 458 Italia Spider (descapotável). Vejam o vídeo e digam-me, honestamente, se acham que lhe falta algum killer instinct…